Adoração somente a Deus: há exageros no culto católico a Maria? – parte 2


O problema é que as vezes o ensinamento da igreja católica é diferente do que a gente ve na igreja , os fiéis e até o que os padres ensinam., Sobre esse assunto Uma coisa que eu fico meio assim é quando a pessoa diz que é "católico mariano". Meu Deus não foi Jesus que salvou? Maria não é serva de Jesus também? então que história de 'mariano'?

O ARTIGO SOBRE adoração a Deus e veneração a Nossa Senhora gerou especial repercussão, e já esperávamos que seria preciso dizer mais sobre o tema. De fato, a experiência, inclusive de vida, me permite conhecer os principais anseios de católicos e não católicos quanto aos assuntos relacionados à Doutrina. E digo que este tema específico, a meu ver, é quase que um "ponto cego" na prática pastoral da Igreja. Por conta deste, católicos mal formados e mal orientados se vão; outros resistem ou recusam-se a retornar a ela. Digo-o porque temos, de um lado, padres marianos que, sempre entusiasmados em exaltar a Rainha do Céu, também se esquecem sempre de dizer, por exemplo, que Maria é humana, que também ela foi salva por Cristo e/ou que, em que pese toda sua grandeza, ela é serva de Deus também. É isso o que nosso consulente quer ouvir, para se sentir seguro, e tudo isso é doutrina 100% católica, embora talvez (tenho que reconhecer) muitas vezes não pareça. O que é óbvio para alguns não é tão óbvio para todos, por muitos motivos.

Lembro-me, por exemplo, de um grande evento católico, num grande estádio de futebol em que um conhecido arcebispo de uma das principais capitais brasileiras (por motivos óbvios prefiro não citar nomes), em dado momento da pregação, deixou escapar: "Estamos aqui adorando esta imagem de Maria...". Evidente que foi um ato falho; creio piamente que ele queria dizer "venerar", "honrar", "homenagear" ou algo assim. Em todo o restante do discurso ele usou estes termos, corretamente. O fato, porém, é que aquela frase equivocada, perdida, passou, aparentemente desapercebida no meio de um longo pronunciamento. Mas terá mesmo passado totalmente desapercebida? O que sei é que haviam milhares de pessoas presentes, ouvindo, por um breve instante, uma heresia da boca de um Cardeal Arcebispo. Foi uma situação que me marcou, porque aconteceu exatamente na fase de minha vida em que eu vivia o meu momento de reconversão, de retorno à Casa do Pai, depois de ter me afastado e vagado por diversas denominações protestantes. E naquela frase um sucessor dos Apóstolos pareceu confirmar algo de que os pastores protestantes acusam, falsamente, a Igreja Católica...

Não foi nada. Como eu sempre fui de estudar, de ponderar e procurar a verdade com diligência, de imediato soube reconhecer que se tratara simplesmente disso, de um deslize, um equívoco, um termo infeliz mal colocado numa frase. Mas não deixou de ser uma situação absurda, tal erro primário saindo da boca de um pastor de almas supostamente preparadíssimo. Por que isso acontece? Porque, talvez, falte algum pudor, algum cuidado maior para se falar deste assunto, de parte dos católicos, e isso escandaliza muita gente.

Outra questão importante –, ainda que secundária para o que nos interessa aqui –, é que muitos dos nossos pastores também se esquecem, e com muita frequência, de dizer que só existe uma "Nossa Senhora" –, a Mãe de Jesus –, e que os títulos que lhe atribuímos são sempre secundários. Testemunhava um padre amigo que, em certo pequeno município de São Paulo, numa certa procissão de Sexta-Feira Santa promoveu-se o "encontro das Virgens", isto é, de duas imagens diferentes de Nossa Senhora (se bem me lembro uma de Nossa Senhora das Dores e outra da Alegria!). Ora, ainda que haja, dentro de um contexto próprio, alguma razão catequética para tanto, não se pode negar que esse tipo de coisa provoca confusão. Só há uma Virgem Maria de Nazaré, como podem se encontrar "duas Marias" numa procissão, como se se tratassem de "duas santas" diferentes?

Bem, sei que não são poucos que pensam que cada imagem de Nossa Senhora, sob determinado título, é uma santa diferente da outra. Via de regra são pessoas humildes e muito simples, e não sei até que ponto podemos acusá-las, porque é fato que pouco se explica, nas homilias e pregações públicas, a este respeito.

Todo o exposto até aqui é real e me parece importante. Igualmente é verdade que, de outro lado, temos aqueles que, preocupados com a pureza da Doutrina, receiam em se entregar a uma devoção mais profunda, de intimidade e proveitoso relacionamento com a nossa poderosa Mãe do Céu. Isto acontece especialmente com aqueles que vem do protestantismo.

Pois é... Quando digo "poderosa" Mãe do Céu, sei que já estou potencialmente provocando polêmica, certo Artur? Sim, sim, nós, católicos, sabemos bem que Maria não tem poder por ela mesma. Eu também poderia dizer "gloriosa Mãe de Cristo", e você gritaria que ela não tem glória, que toda glória pertence a Deus, que Deus não divide sua glória (como vimos no estudo anterior)...

O problema todo tem a ver com palavras e, principalmente, com o significado das palavras ou o significado que se atribui a elas. Maria é criatura, ainda que uma criatura soberbamente agraciada, e como tal não tem o poder de realizar milagres, por exemplo, ou curar alguém por ela própria. Entretanto, o poder que ela tem é o da intercessão. E o poder da intercessão da Mãe de Deus, meu irmão, este é um tremendo, imenso, avassalador poder. Se este aqui fosse um site destinado ao público adolescente, eu diria que é um poder maior do que qualquer superpoder; algo que humilharia o Superman, se ele existisse...

Este grande poder de Maria chegou a ser chamado "onipotência suplicante", e aí você vai se escandalizar de novo. Mas, como eu disse, é tudo uma questão de prestar atenção às palavras. Veja que não está a se afirmar que "Maria é onipotente"; fala-se, isto sim, em "onipotência (atenção) suplicante". Pois é, esta segunda palavrinha faz toda a diferença entre o que seria uma blasfêmia e uma afirmação plenamente consonante à Doutrina cristã de sempre. Diz-se onipotência suplicante, porque Maria consegue, obtêm de Cristo, suplicando –, por nós e pelo mundo pecador –, tudo.

"Tudo?", dirá você. Sim, eu respondo. Como assim? Se eu pedir a ela que me faça o homem mais rico do mundo, ela conseguiria isto por mim? Não, muito provavelmente isto ela não me daria por meio da sua intercessão. Ora, mas as suas súplicas a Deus, então, não são onipotentes? O problema aí é outro. Maria não obteria algo desse tipo porque, em primeiro lugar, ela não pediria isto a Deus. Simples assim. S. Tiago Apóstolo foi claríssimo ao falar sobre situações deste tipo em sua Epístola: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes com os vossos prazeres" (4,3).

As súplicas de Maria só são tão poderosas porque ela pede apenas aquilo que é conforme à Vontade de Deus, e ela só pede o que é conveniente porque vive no Céu em íntima Comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ela, que foi a mais obediente e mais conforme à Vontade do Pai dentre todas as criaturas, quando caminhava no mundo, agora, em Glória inacessível, está ainda mais perfeitamente alinhada àquilo que Deus quer, e o que Deus quer para nós é sempre o nosso bem maior. O nosso bem maior é a vida plena e eterna no Céu, portanto, pedidos fúteis ou que nos afastem deste bem maior não são feitos por Maria.

Assim, quanto se fala no "poder" de Maria ou nas "glórias" de Maria, é sempre dentro do contexto que acabamos de expor. Todo o poder vem de Deus; toda a glória vem de Deus. Quando alguém pede, por exemplo, uma cura a Maria, é sempre Deus Quem cura – e quantas curas os fiéis católicos obtêm por intermédio de Nossa Senhora! Se nos concentrarmos apenas em Lourdes, são muitíssimos os casos confirmados, com perícias e laudos médicos, sem contar aqueles (muitos!) que não chegam a ser estudados.

Logo, tem Maria poder por ela mesma? Não. Ela tem, isto sim, um poder de intercessão incomparável. Por isso é que, muitas vezes, padres e pregadores falam do "poder de Maria", das "glórias de Maria": é sempre o poder que Deus dá a ela, de obter grandes coisas por nós; as glórias incomparáveis que Deus dá a Maria, a mulher que Ele quis ter por Mãe.

Muito bem. Até aqui, creio que não há grandes dificuldades de compreensão. Mas os problemas recomeçam, novamente pelo mau uso que se faz das palavras. Lá vai algum padre piedoso, durante uma homilia, dizer que "Maria nos salva", e não esclarece o que está realmente dizendo com isso. Há até um cântico católico tradicional que diz, no refrão: "Doce coração de Maria, sede a nossa salvação"... "Oh! Está vendo? Só Jesus salva! Isto é idolatria! Heresia! Blasfêmia!", dirá Artur.

Nada disso. Quando você diz "Só Jesus salva", todo católico minimamente bem formado responderá, singelamente: "Amém!". É o que eu respondo sempre que me dizem isto, e percebo que essa reação causa espanto. Ora, é claro que só Jesus salva. Todos os documentos da Igreja, desde o início até hoje, a começar pela própria Bíblia Sagrada, afirmam e reafirmam esta verdade fundamental inúmeras vezes. E nós cremos que Maria, assim como os santos e anjos de Deus, conduzem-nos a Cristo, de muitos modos, por meio de suas súplicas incessantes.

Vejamos um exemplo prático e bem simples. Imagine um sujeito qualquer –, vamos chamá-lo João –, cuja vida vai de mal a pior. Ele está perdido em muitos vícios, afastado de Deus, sem fé, sem esperança, sem caridade. Um belo dia, um autêntico cristão chamado José, alguém de fé realmente ardente, pelo seu exemplo e com muita perseverança, convence o pobre João a ir à igreja. Indo à igreja e ouvindo a pregação, João, que estava desesperançado, vai se transformando por dentro, sua fé vai se reacendendo e, logo na próxima oportunidade, novamente José o leva à igreja; assim a coisa continua e com isso João, o pecador contumaz, de tanto ouvir falar de Cristo, volta a crer, aos poucos vai abandonando os seus vícios, até se arrepender completamente deles, confessar os seus pecados e, afinal, retomar a Comunhão com Cristo.

Pergunta: poderíamos dizer que José salvou João? Sim! José convidou, chamou, deu exemplo, persistiu, acompanhou e, assim, João reencontrou Jesus Salvador. Não foi José quem salvou João no sentido literal ou mais profundo, porque, se João afinal aceitou ir à igreja, antes de tudo, foi por misericórdia do próprio Cristo, por inspiração do Espírito Santo, que chama as almas à reconciliação com Deus. Todavia, José fez bem a sua parte, cumpriu a sua obrigação de cristão e, de algum modo, participou ativamente na salvação de João. João poderá dizer, sem errar: “José foi a minha salvação!”, porque o levou ao verdadeiro e único Salvador.

É mais ou menos isso o que se dá com Maria e os santos: eles pedem incessantemente a Deus por nós, oferecem-nos constantemente o exemplo de suas vidas, inspiram-nos a procurar Cristo. Que grande multidão de almas salvou-se (ainda que não diretamente por eles) por meio deles!


Nossa Senhora é reverenciada em todo o mundo sob muitos títulos: esta estátua colossal da Virgem Maria fica no município de Santa Clara, Califórnia, EUA


Adoração e veneração

O problema é que as vezes o ensinamento da igreja católica é diferente do que a gente ve na igreja , os fiéis e até o que os padres ensinam (...)

Haverá, então, diferença entre o que a Igreja prega e ensina "oficialmente" e o que pratica de fato? Já conversei com muitos protestantes e pentecostais decepcionados com suas comunidades e sinceramente desejosos de conhecer a primeira (e única) Igreja de Cristo sem preconceitos, com boa vontade e alma desarmada. Ao estudar o Catecismo e documentos pontifícios, encantam-se, mas escandalizam-se diante de muitas das práticas que veem em pessoas confessadamente católicas. Estudam os documentos da Igreja e encontram coerência, mas não podem aceitar certos costumes, que não compreendem. É por isso que venho aprofundar mais o problema proposto pelo leitor antes anônimo, que agora se identifica com o nome "Artur". Será que, na Igreja, o discurso é diferente da prática? Aprofundemos a nossa análise um pouco mais.

O escândalo se dá, por exemplo, ao ver alguém se prostrar ante um ícone, beijá-lo, falar diante dele como se falasse a ele. Antes de mais, é preciso distinguir o ícone de um santo de um ídolo. Um ídolo (do grego, εἴδωλον, eidolon) é um objeto, imagem ou criatura colocada no lugar de Deus; literalmente, é um deus falso. Isto é claramente proibido pelo primeiro Mandamento da Lei de Deus. Já o ícone representa um santo (quando não o próprio Cristo), que é uma criatura de Deus, mas que não é jamais colocada no lugar de Deus, ao contrário; remete a Ele, como vimos. Um santo é como uma ponte para Deus, uma seta que aponta para Cristo, um lembrete para a nossa salvação.

Fica clara, então, a grande diferença que existe, afinal, entre adoração e veneração. Sendo um ídolo algo que se coloca no lugar de Deus, então temos muitas possibilidades de trair o Primeiro Mandamento: posso idolatrar um(a) amante, um grande líder político ou mesmo religioso, um artista, um cantor, um músico, um grande esportista... Depende de como se lida com as pessoas que se admira, de como se "olha" para elas. Diante de qualquer criatura, seja pessoa ou objeto, há sempre uma escolha a ser feita: vê-la e tê-la como um ícone (do grego, εἰκών, eikon) ou como ídolo. O ícone remete a Deus, leva a Deus, homenageia a Deus. Muitos salmos louvam a Deus pelas belezas que criou; assim, qualquer coisa de que gostamos pode servir para nos levar mais perto de Deus, por gratidão, por reconhecer nesta coisa a sua Glória e Bondade. Mas, se elevamos aquele bem de que muito gostamos ao lugar de Deus, então idolatramos.

Na Sagrada Escritura, a própria Virgem Santíssima, cheia do Espírito Santo, declarou de si mesma: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1,48); além disso, o Senhor Jesus Cristo em Pessoa, por diversas vezes, referiu-se às pessoas “bem-aventuradas”: os humildes, os que tem fome e sede de justiça, os pacificadores, etc. Ele mesmo estava, assim, louvando tais pessoas, pelas virtudes que receberam do Pai, chamando a atenção para a ação de Deus em tais criaturas. Assim são os santos.

Quando os católicos veneram um santo, o que fazem, em última análise, é louvar a Deus e agradecer por Ele usar pessoas humanas, tão frágeis, para realizar a sua Obra. No caso de um ícone, que recorda alguma criatura, a mesma regra se aplica. Portanto, é licito venerar imagens, prostrar-se diante delas, falar com os santos diante dessas imagens, beijá-las simbolicamente, acender velas diante delas, oferecer flores. O II Concílio de Niceia diz com clareza que o culto prestado à imagem não se dirige à imagem em si, mas sim ao protótipo, ou seja, àquele que está no Céu. Deus resplandece sua Glória naquela criatura.

Assim, ajoelhar-se diante de uma imagem da Virgem Santíssima pode ser considerado idolatria? A resposta direta e honesta é: depende. Se esta imagem está sendo vista e tratada como um ídolo por aquela pessoa, ou seja, está sendo posta no lugar de Deus, então sim. Mas, se ela for vista como um símbolo, uma ponte que leva a Deus, que conduz para o culto e o louvor a Deus, na Glória eterna que só a Ele pertence, então não.

Agora, convenhamos: será mesmo que existam em nossos tempos muitas pessoas que confundam Deus com uma estátua? Algum ser humano racional poderá realmente acreditar que uma escultura feita por mãos humanas é a Criadora do Universo, a Fonte da vida e a Provedora de todas as graças? Responda o leitor.


Católicos 'marianos'?

A Igreja de Cristo, como o próprio nome diz, é cristã e, como tal, tem que ser católica (universal, que existe como 'Casa de Oração para todos os povos', cf. Mc 11,17; Is 56,7). Se, por piedosa devoção, nos colocamos como "marianos", ou dizemos que somos "tridentinos", "carismáticos" ou outra coisa, é preciso cuidado com essas expressões que são, por mais piedosas, sempre secundárias e mesmo dispensáveis. De fato e de direito, até pelo bem daqueles que não conhecem a Sã Doutrina (dentro e fora da própria Igreja), bastaria e seria mais correto, para todos os efeitos, dizer que somos cristãos e católicos. Ponto.

O termo "mariano" seria como que um subtítulo que, diga-se de passagem, foi adotado por diversos grandes santos no correr dos séculos. Ainda assim, permanece subtítulo e, como todo subtítulo, não é necessário, mas contingente/acidental. É algo semelhante ao que acontece com uma obra literária, que precisa de um título, para que possa ser publicada e logo catalogada, depois conhecida, procurada e, evidentemente, adquirida e lida pelo seu público. Mas não precisa de subtítulo: um subtítulo pode ser muito útil e enriquecedor –, desejável até –, em alguns casos. Mas permanece contingente.

O nosso "título", fiéis católicos, é este mesmo: "católicos", que é sinônimo de "cristãos". Podemos agregar a este título (necessário) um ou mais subtítulos (contingentes)? Sim. Isto é útil ou vantajoso, edificante para si mesmo e para as almas? Em certas circunstâncias, sim. Em outras, poderá se tornar contraprodutivo. Falamos aqui, especificamente, sobre o subtítulo "mariano", como poderíamos falar sobre vários outros: a Igreja, por ter crescido tanto, e tão admirável e rapidamente, desde jovem viu-se confrontada com a tentação da divisão entre seus filhos –, às vezes em grupos que terminavam por se opor uns aos outros –, não só pela diferença dos carismas, mas, infelizmente, também das personalidades, dos temperamentos e gostos particulares, coisas inescapáveis ao próprio gênero humano.

Em sentido estrito e absoluto, todo verdadeiro católico é mariano, pois que Maria Santíssima, sendo Mãe de Deus, é igualmente nossa Mãe do Céu, maravilhosa graça divina que recebemos diretamente do Cristo pendente da Cruz. Como dito, além de muitos santos, alguns dos sacerdotes mais dignos e fiéis que conhecemos se declaram "marianos". Todavia é igualmente verdade que todos eles entendem bem o que isto exatamente quer dizer, e sabem o que acabamos de expor: que o termo "mariano" é subtítulo. O título principal e suficiente –, porque basta por si só e não exige nenhum complemento –, é "cristão" e/ou "católico". Curiosamente, justamente por todo católico autêntico ser também mariano é que se faz dispensável essa subtitulação.


Sim, houve e há exageros
Tudo aquilo que nos torna dignos de ser amados aos olhos de Deus nos vem d’Ele mesmo e só nos pode ser dado por seu amor soberanamente livre e gratuito. Digno de ser amado é o Bem, e nenhum bem, seja de que natureza for, pode vir senão da Bondade essencial, Fonte de todo bem.
(Sto. Tomás, 1, q. 19, a. 3)

Deus, em sua infinita riqueza de perfeições, inclui em Si todas e quaisquer perfeições, quer as suas, quer as dos seres que Ele cria e que são reflexos ou participações nas perfeições d'Ele. Por isso a Igreja vive e se move, como rezamos na Missa, "com Cristo, por Cristo e em Cristo", Deus Conosco. Como tal, esta Igreja sempre teve clara a ideia de que o único digno de ser adorado é o mesmo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Ninguém mais pode ser adorado, nem sequer a criatura mais pura, agraciada e bem-aventurada que jamais existiu, a ponto de ter-se tornado para nós o Tabernáculo da Nova e Eterna Aliança entre Deus e a humanidade. Absolutamente ninguém, ninguém a não ser Deus, merece e pode receber a nossa adoração.

Há uma disciplina complexa e talvez difícil, sob certos pontos de vista, que em nossos tempos chamamos "Mariologia". Algum tempo após a divisão trazida pela dita "reforma" protestante, este tema foi-se tornando, aos poucos, um dos mais espinhosos e também dos maiores pretextos para disputas inúteis e despropositadas. Em todo caso, somos também obrigados a reconhecer, por justiça, que, de nossa parte, na ânsia em enaltecer as virtudes e a dignidade especialíssima da Virgem, em certos momentos caímos no exagero. Certas máximas como a célebre "de Maria nunquam satis" ('de Maria nunca se dirá o suficiente'), atribuída a S. Bernardo de Claraval, foram sem dúvida mal interpretadas ao longo da História, ao ponto de ter gerado, sim, em certas situações específicas, idolatria.

Consta das biografias do Padre Pio, que tinha visões da Virgem (de suas cartas ao seu confessor), que o Padre, num desses êxtases, arrebatado pela "belíssima beleza" da Mãe de Deus, exclamou: "Ah, Mãe bela, és bela! Se não tivéssemos fé, os homens te chamariam deusa!"... Tal é a glória dada por Deus à Santíssima Virgem, Rainha do Céu, assentada à direita de seu Filho, o Rei dos reis, que às mentes fracas poderia oferecer o risco de queda, realmente, na idolatria.

Quem se espanta ao se defrontar, hoje, com a doutrina 100% herética intitulada "Maria Quarta Pessoa da Santíssima Quaternidade" (desgraçadamente nascida em seio católico), na maioria das vezes não imaginará que na História da Igreja já se tinha conhecimento de grupos de “cristãos” que caíram no erro de adorar a Virgem Maria como deusa. Segue a história de uma destas heresias e de como foi devida e imediatamente condenada pela Igreja.

As heresias são tão antigas como a própria história do Cristianismo. Por isso, a Igreja tem que atuar diligentemente para denunciá-las e para que o povo de Deus não seja confundido. No séc. IV, apareceu um grupo de autodenominados “cristãos”, conhecidos como coliridianos, os quais se reuniam num culto de adoração à Virgem Maria. Este estranho culto consistia, entre outras coisas, em oferecer bolos e pastéis à Virgem, em sinal de verdadeira adoração. Na realidade, eles não eram cristãos, mas uma seita gnóstica integrada majoritariamente por mulheres que tomaram a figura de Maria e a mesclaram com a dos deuses pagãos, no famigerado sincretismo que tanto infortúnio costuma causar aos verdadeiros cristãos. Logo, misturavam-se passavam-se por verdadeiros católicos, alguns dos quais já se misturavam com eles e os admitiam ao convívio fraterno.

Quando Santo Epifânio, bispo de Salamina (367-402), soube desta heresia, não tardou em denunciá-la e condená-la em nome de toda a Igreja Católica. Tal condenação pode-se ler em sua célebre “Paranión”, da qual consta o seguinte trecho:

É ridícula e, na opinião dos sábios, totalmente absurda (a heresia coliridiana), pois aqueles que, com atitude insolente, são suspeitos de fazer tais coisas, prejudicando as mentes (…) que se inclinam nesta direção, são culpadas de terem causado pior dano.

Santo Epifânio esclarece a diferença entre o verdadeiro culto a Deus e, do jeito mais singelo, direto e objetivo possível, como convinha aos santos bispos e teólogos do seu tempo, a primeira e mais pura verdadeira devoção à Virgem Maria, dizendo com total clareza: “Seja Maria honrada. Seja o Pai, Filho e Espírito Santo adorado; mas ninguém adore Maria”.

Também entre os montanistas orientais os chamados marianistas e filomarianistas adoravam Maria com "deusa". Vemos, então, que o perigo dos exageros é real, e apesar de toda a paranoia de alguns de nossos irmãos afastados, devemos reconhecê-lo. Esta é a atitude mais séria e honesta de nossa parte.

A Santíssima Virgem 'é honrada com razão pela Igreja com um culto especial. E, em afeto, desde os tempos mais antigos, se venera a Virgem Maria com o título de Mãe de Deus', sob cuja proteção se achegam os fiéis suplicantes em todos os seus pedidos e necessidades. Este culto (…) também é todo singular, essencialmente diferente do culto de adoração a Deus, ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e o favorece poderosamente' (LG); encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus (cf. SC 103) e na oração mariana, como o Santo Rosário, 'síntese de todo Evangelho'
(Catecismo da Igreja Católica §971)

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Fontes e ref.:
1. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santissima, 4. ed. Madrid: BAC, 1856, P.841.• DIAS, Mons. João Scognamiglio Clá, EP. O Inédito sobre os Evangelhos: Comentário aos Evangelhos Dominicais. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013.

• 'Quando a Igreja Católica condenou a adoração a Virgem Maria', disp. em
http://pt.churchpop.com/quando-igreja-catolica-condenou-adoracao-virgem-maria/
Acesso 25/1/017

• 'Culto aos santos e suas imagens', Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. disp. em
https://padrepauloricardo.org/episodios/culto-aos-santos-e-suas-imagens

Acesso 25/1/017
www.ofielcatolico.com.br

31 comentários:

  1. Nos tempos de Pedro,João e Paulo ninguém chamava " Maria mãe de Deus"

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    1. Sério? Você viveu naqueles tempos, para poder afirmar isso?

      Ah, já sei, você imagina que isso não está escrito na Bíblia, e se não estiver escrito, então é porque ninguém disse...

      Bem, como disse o ex-pastor Marcus Grodi, existem passagens da Bíblia que os protestantes simplesmente não enxergam. Então leia Lucas 1, 43 e você verá Alguém daquele tempo que chamou Maria mãe de Deus: o Espírito Santo, que fez Isabel dizer:

      "Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?"

      Se você não sabe, "meu Senhor", aí, é Deus. A não ser que você não creia que Jesus é Deus.

      Um abraço
      Apostolado Fiel Católico

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    2. Caracas, que resposta! Quebrou tudo, Henrique! kkkk

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  2. Realmente temos que ter cuidado,quase virei protestante por causa disso,mas percebi o seguinte os protestantes falam que não podemos pedir nada a Maria pois só Jesus nós atende,tive um problema de saúde na família que quase perdi meu filho,voltei a santa Madre igreja pela dor,recebi varias visitas de evangélicos no hospital para orarem pelo meu filho e sempre que eles iam embora falavam VOU PEDIR O PASTOR PARA ORAR PELO SEU FILHO,ora eles depositam a maior FÉ na oração do Pastor como se ele fosse um grande intermediador para pedir a DEUS pela cura dos outros,se e assim poque não posso pedir a SANTA MARIA para ROGAR,SUPLICAR a seu filho por nós?
    A PAZ E A GRAÇA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO ESTEJAM COM NÓS!!!

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    1. Sabe o que acontece, que tenho uma grande duvida sobre isso, é que muitos protestantes falam que quem já morreu e pronto, só será elevado no juizo final, só que não acredito nisso, já até me mostraram isso em apocalipse, mas não dei a minima, porque não acredito muito em quase nada no que eles falam, mas sim na Santa Igreja Catolica, só que nunca parei para pesquisar esse fato, se alguém quiser esclarecer! Ai eles tem a concepção de Maria está morta e somente Jesus pode interceder! Foi o que ouvi da boca de um evangélico!

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    2. Isto é um grande equívoco. Leia o estudo abaixo e verá porquê:

      http://www.ofielcatolico.com.br/2004/09/os-santos-podem-interceder-por-nos-ou.html

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo

      Apostolado Fiel Católico

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    3. Anônimo, primeiramente devemos entender que os protestantes dizem muitas coisas e não é porque eles dizem algo é que isto seja verdade. Não me parece seu caso, mas muitos católicos dão crédito ao que dizem os protestantes, sem questionar, porque eles são considerados os "evangélicos, os crentes" e isso lhes confere uma aura de fidelidade a Deus e as Escrituras.

      Sabemos que na verdade trata-se de uma jogada de marketing, que a Igreja (na minha opinião) num tremendo despreparo, não soube combater adequadamente. Ficou então, assentado na mentalidade popular, que os protestantes seguem a Bíblia e os católicos não, o que é reforçado pelo relaxamento dos católicos na leitura da Bíblia.

      Quanto a essa sua dúvida, eu cito essa passagem Bíblica, que penso ser uma chave, São João 11; 21-26: Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!
      Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá.
      Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá.

      Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia.

      Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.

      E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?

      Esta passagem está inserida no contexto da morte de Lázaro, você pode observar que Marta descreve claramente a crença judaica da época e protestante atual: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia. E Jesus meio que a corrige ou lhe ensina uma novidade: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? Já vi muito protestante engasgar pra responder quando lhes repito esta pergunta de Jesus...

      Observe que há 2 situações diferentes da crença de Marta, pois se fosse mera confirmação, bastaria Jesus dizer, isto mesmo Marta, você está correta. Mas eis que Jesus revela 2 novas realidades:
      1° Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. Que eu acredito que corresponda ao purgatório.
      2° E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Frisando: Jamais morrerá. Esses seriam os santos, que a Igreja ensina estarem na presença de Deus intercedendo por nós. Tenha em mente que Jesus utiliza para a morte a metáfora do sono, Jesus diz: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo... Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal (São João 11; 11-13).
      Os protestantes creem no sono dos justos, um estado de total inconsciência em que todos os mortos estarão até o juízo final. Esta passagem também desmente essa crença protestante, bastando substituir o termo morte por dormir, ou seja: Aquele que crê em mim, ainda que esteja dormindo, despertará. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais dormirá.

      E porque essa nova visão surge entre os cristãos? Simples, Jesus mesmo responde a Marta: Eu sou a ressurreição e a vida. Com Ele, agora temos a ressurreição e a vida.

      Temos de entender que a aversão e ódio a Igreja, fomentados no meio protestante, fazem que eles busquem se afastar o máximo das crenças e práticas católicas e nisso acabam se afastando, na verdade, do cristianismo e os levam a adotar práticas judaizantes, basta ver o adventismo e sua obsessão com o sábado.

      A paz de Cristo!

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    4. Anonimo, deve-se levar em conta que no meio protestante, o que eles creem no que vem depois da morte não é unanime. Há aqueles que não creem na imortalidade da alma, que a alma morre junto com o corpo, que cai no sono da morte e só serão despertados na ressurreição do último dia, neste grupo estão os testemunhas de Jeová, os Adventistas e mais algumas igrejas protestantes de cunho pentecostal e neo pentecostal.

      Outros já creem na imortalidade da alma, mas eles creem que as almas dos mortos não vão para p céu logo depois da morte, mas, ficam guardados no Seio de Abrão, que na Bíblia recebe outros nomes como: Cheol. Hades; Mundo Inferior; Mansão dos Mortos; Limbo, enfim, aí eles ficarão, bons e maus, até o dia que as almas voltarão aos corpos que deixaram na sepultura e aí haverá a ressurreição dos mortos, o juízo final e por fim a condenação ao inferno dos réprobos, e o premio do céu, para os que foram salvos, nestes que assim creem estão algumas igrejas protestantes de cunho histórico, pentecostais e neo pentecostais.

      Já outros, creem sim que já ocorre o juízo particular da alma logo após a morte, em que receberá o céu ou o inferno, sem precisar esperar para a ressurreição do último dia. Nisto eles se assemelham a nós católicos, porém, somente até aí, pois eles não creem no purgatório e nem que os que estão nos céus, possam fazer algo por nós aqui na terra como interceder por nós quando recorremos a intercessão deles.

      Veja, que nem todos os protestantes pensam igual quando o assunto é vida além túmulo, cada qual interpreta passagens chaves das Sagradas Escrituras de seu jeito, como por exemplo, quando surge a palavra sono, vinculada como a morte, uns interpretam isto como uma maneira alegórica, tal como dizemos ainda hoje que uma pessoa morta no caixão parece esta dormindo, outros, interpretam ao pé da letra, alegando que seria um sono sem sonho, o sono da mortes. Outro exemplo, a passagem que JESUS contas sobre Lázaro e o rico epulão de Lucas 16, 19-31, os defensores da mortalidade da alma dizem que tal passagem não prova a crença da imortalidade da alma, mas que tal parábola só foi uma alegoria, outros, que defendem a imortalidade, dizem que JESUS não iria recorrer a uma crença pagã, caso tal crença viesse dos pagãos e os judeus não crescem na imortalidade da alma, mesmo que fosse para usar uma alegoria para falar em uma parábola para daí extrair um ensinamento.

      Portanto, o que eu vejo, que longe das intrigas protestantes de quem está com a razão, aquele que interpreta assim ou assado, nós católicos devemos sempre buscar os ensinamentos da Igreja, pois foi ela que JESUS deixou para salvaguardar seus ensinamentos e prometeu que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra ela e que enviaria o ESPIRITO SANTO para ensinar todas a Verdade, por isto, não somente sobre a matéria do alem túmulo, mas com relação a toda e qualquer matéria, ao invés de darmos ouvidos ao que um pastor de uma determinada igreja diz e o que outro pastor de outra determinada igreja também diz sobre uma mesma matéria, devemos buscar o que a Igreja Católica tem a nos ensinar sobre tais matérias, pois como disse JESUS: "Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou." (Lucas 10,16)

      Sidnei

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    5. Muito obrigado mesmo, ao Tiago e ao Henrique, também ao Sidnei, ficou muito bem esclarecido!

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    6. E Henrique, existe algum post com explição sobre o Purgatório?

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  3. Artur, sua atitude, creio que seja comum para quem busca a verdade. Essa aflição eu sinto até hoje em certos momentos ao me deparar com alguma prática que não está em sintonia com a Bíblia e com a tradição da Igreja. Não se assuste, mas muitos leigos podem dar verdadeiras aulas a alguns padres por ai.
    Pelo que eu entendi, o que lhe aflige é toda essa questão de aparente confronto entre tradição, bíblia e piedade popular. Sobre isto o então cardeal, hoje papa emérito Bento XVI, nos trás uma pequena mas instrutiva explicação no livro Revelação e Tradição (KARL RAHNER JOSEPH RATZINGER).
    Neste livro ele diz o seguinte: O modo como Cristo, Palavra expressa da Revelação, permanece presente na História e vai ao encontro dos homens pertence àquelas questões fundamentais, em torno das quais se dividiu a Cristandade ocidental, no século da Reforma. A luta prende-se à idéia de “Tradição”, pela qual a Igreja católica procurou exprimir certa forma de comunicação da Revelação, ao lado da outra contida na Sagrada Escritura. Isto, com o fim de desfazer um duplo protesto. A Tradição designava primeiro as chamadas consuetudines ecclesiae, tais como a santificação do domingo, a oração voltada para o Oriente, o costume de jejuar, as várias bênçãos e consagrações e outras práticas semelhantes em vigor na piedade dos fiéis, ao tempo da baixa Idade Média. Tais práticas ora nobres, ora ridículas, embora transformassem a Igreja numa espécie de casa assombrada, cheia de ângulos e cantos, justificavam-se sob o título de “tradição” e legitimavam-se como parte essencial da vida cristã...
    Lutero identificou, aqui, a traditio com os abusus. Tradição, segundo ele, é lei humana, pela qual o homem se esconde de Deus e, pior ainda, se levanta contra Ele, para tomar nas próprias mãos a tarefa de sua salvação, em vez de esperá-la da libérrima graça do Senhor. A Tradição assim entendida como Lei é contraposta à mensagem da graça: “Devemos aceitar cada um dos artigos do Evangelho para alcançarmos a graça de Deus, sem mérito nosso, através da fé em Jesus Cristo, e não pretender merecê-la, mediante práticas do culto inventado pelos homens”
    Continua...

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  4. O problema da Tradição tornou-se ainda mais agudo, devido a um segundo aspecto que, de resto, não conduziu a nenhum resultado positivo. Descobrindo o Evangelho, teve Lutero igualmente a impressão de libertar a Palavra de Deus da pesada cadeia do Magistério eclesiástico que se teria apossado desta Palavra e não mais a entendia em seu verdadeiro sentido, empregando-a antes a seu bel-prazer. A idéia de que a palavra divina, aprisionada, na Igreja católica, à autoridade do Magistério, ficou privada de sua força viva, é sempre repetida nos escritos dos Reformadores... Este estado de coisas impregnou outrossim a idéia de Igreja da Confessio Augustana (documento protestante da época da reforma), uma vez que aí se diz que a Igreja é a congregatio sanctorum, in qua Evangelium pure docetur et recte administrantur Sacramenta. Assim (para os protestantes) a Igreja é marcada por duplo aspecto: pela pureza da doutrina e pela administração legítima dos Sacramentos. Nem uma palavra sobre o Magistério. Na realidade, para a elaboração do conceito de Igreja, este silêncio da CA não é menos importante do que o que ela aí diz. É um silêncio evidentemente intencional e denuncia a oposição dos Reformadores à concepção católica de Igreja então vigente e até hoje conservada. Esta consta de três elementos: a fides, correspondente ao pure docere; a communio, que corresponde ao sacramenta; e a auctoritas. O Magistério aparece aqui como critério da palavra. É o seu fiador. Segundo Melanchton, dá-se o contrário: a palavra é que é o critério do Magistério. Este deve, em última análise, ser provado pela palavra e pode, conseqüentemente, ser negado. A palavra é auto-suficiente e paira sobre o Magistério como uma grandeza autônoma. Talvez nesta inversão de relações é que está propriamente o contraste entre o conceito católico e o protestante de Igreja. Contradição paralela se dá em torno da idéia de Tradição. Com efeito, a negação do Magistério como critério da palavra significa a redução da palavra de Deus à Escritura que será, então, o único sustentáculo autônomo e autêntico da palavra, não admitindo a Tradição como uma grandeza em si...
    No tocante à doutrina, o Concílio (de Trento) refutou ex professo a censura dos Reformadores, sustentando que a palavra não é uma realidade autônoma pairando acima da Igreja. Ela é dada pelo Senhor à Igreja e não entregue ao capricho dos homens. Permanece, justamente por isso, nas Suas mãos, subtraindo-se ao alcance do alvitre humano. Na visão dos Padres de Trento, deve, no fundo, ter parecido uma falta de confiança o terem os homens receio da palavra escrita entregue à Igreja, como se a Igreja pudesse abusar dela. Como se se pudesse apelar para a palavra da Revelação contra a Igreja. Estava-se inquestionavelmente certo de que o Senhor que instituiu a Igreja como Seu Corpo haveria de se empenhar em tutelá-la contra o perigo de abusar de Sua palavra.
    Continua...

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  5. Aqui destaco em suma a grande questão exposta pelo papa emérito: poder-se-á confiar a palavra à Igreja sem temor de que ela, sob a tesoura do Magistério ou envolta no mato selvagem do sensus fidelium, perca a sua força própria e sua vitalidade? Esta é a pergunta que os Protestantes fazem aos Católicos. Poder-se-á aceitar a autonomia da palavra, sem com isto ser esta exposta ao arbítrio dos exegetas, aos maus tratos por parte dos historiadores e, enfim, ao completo desamparo? Eis como os Católicos revidam aos Protestantes. Com efeito, segundo nossa doutrina, não é a nós que compete decidir se queremos ou não confiar a palavra à Igreja. Foi o próprio Senhor quem lha confiou. Note-se, entretanto, que quando o Católico encara seriamente este assunto, não deixa de considerar o zelo pela pureza da palavra revelada, como um dever da mais alta importância. Ele sabe que não cumpre este dever pelo simples fato de apelar para a inerrância da Igreja. Fazê-lo seria menosprezar o sentido da luta de Lutero em favor da Palavra, deixando-se de ver nisto uma salutar advertência e um apelo dirigido às almas.
    E como o papa emérito resolve essa disputa?
    Diz ele: o fato de existir uma “Tradição” repousa, antes de tudo, na diferença que permeia entre estas duas realidades: “Revelação” e “Escritura”. A Revelação exprime propriamente o falar e o agir de Deus em relação aos homens. Designa uma realidade expressa pela Escritura, sem ser, contudo, a própria Escritura. A Revelação, por conseguinte, ultrapassa a Escritura na mesma medida em que a realidade ultrapassa a sua expressão escrita. Poder-se-ia também dizer que a Escritura é o princípio material da Revelação. Ela não é, porém, a própria Revelação. Isto era, aliás, bem sabido dos próprios Reformadores, mas começou visivelmente a ser esquecido no aceso da controvérsia entre a teologia católica pós-tridentina e a ortodoxia protestante. Em nosso século, foram justamente os teólogos evangélicos Barth e Brunner que redescobriram este fato de todo evidente para a teologia patrística e medieval.
    continua...

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    1. A alguns dias atrás fiz uma pergunta aqui no site e n me responderam, estou perguntando novamente para ver se alguém me responde: a Igreja Católica, a qual creio e sigo, já se dividiu? Porque já ouvi Igreja Católica Ocidental e Oriental, Ortodoxa, entre outros! Se houver algum post para me esclarecer agradeço!!

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    2. http://www.ofielcatolico.com.br/2006/04/quais-as-diferencas-entre-catolicos-e.html

      http://www.ofielcatolico.com.br/2006/01/as-igrejas-catolicas-de-rito-oriental.html

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  6. O que acabamos de afirmar ficará mais claro, se partirmos de outro princípio: a Escritura pode ser possuída sem que se possua a Revelação. Isto porque a Revelação é sempre e em primeiro plano uma realidade, a realidade onde se encontra a fé. Aquele que não crê acha-se como que coberto por um véu, o véu de que fala São Paulo no terceiro capítulo da segunda epístola aos Coríntios. Ele pode ler a Escritura e saber o que nela se contém. Pode até mesmo apreender de modo puramente intelectual o que aí é significado e como suas idéias se inter-relacionam. Todavia, não possui, com isto, a Revelação. A Revelação é, sobretudo, possuída quando, além da expressão material que a atesta, se põe também em prática o seu conteúdo interno, por meio da vivência da fé. Com efeito, de certo modo se inclui também na Revelação o sujeito recipiente, sem o qual ela não pode existir. Não se pode pôr a Revelação no bolso, como se faz com um livro. Ela é uma realidade viva. Exige homens vivos que a recebam, que sirvam de “lugar” de sua presença. Desta diferença entre a Escritura e a Revelação resulta claramente que, de todo independentemente da questão se a Escritura é ou não é a única fonte material, em rigor, nunca existe para o cristão a sola Scriptura. (Isto, como ficou dito, era claro, em princípio, para os grandes Reformadores e começou a ser esquecido na chamada ortodoxia protestante). A Escritura não é a Revelação. É, sim, em última análise, uma parte desta realidade mais ampla.
    Quem quiser saber o conceito e importância da Revelação, pode procurar o livro na internet, que foi onde o consegui. Como copiei um trecho bem longo do livro, paro por aqui, mas existem outras informações muito importantes que também nos ajudam a observar o outro lado da moeda, pois somos normalmente confrontados com as críticas acerca do catolicismo. Mas será que a grama do vizinho é perfeita? Quem hoje abusa da Escritura, com uma infinidade de verdades diversas e contraditórias entre si, com base no imaginário retirado da interpretação pessoal das escrituras? Sem falar na grande exploração econômica da Bíblia. Não seria isto igualmente um abuso? Todos esses problemas estão presentes no meio protestante, aliás, já advertia são Pedro: Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astúcia (2 São Pedro 2; 1-3). Sem generalizar, lógico, mas onde estão os falsos doutores de hoje? Não me vem outra resposta senão, aqueles líderes religiosos que abraçaram e estão inseridos no protestantismo. Também existem falsos doutores na Igreja, mas os católicos têm, além da Bíblia, dois milênios de tradição cristã para confirmar ou não suas práticas, e os protestantes recorrerão a quem? Aqueles que simplesmente se dizem guiados pelo Espírito Santo, em outra seita criada a partir da mente humana?
    A paz de Cristo!

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  7. Se pedimos a intercessão de Maria ou de algum Santo e esses já morreram, mas entende-se que já estão junto ao Pai. Todos nós estaremos ou somos diferentes?

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    1. Interceder todos nós, mesmo em vida, podemos fazer e fazemos uns pelos outros. Quando você ora por alguém (pela sua saúde, conversão, etc.), você está intercedendo por essa pessoa, o mesmo quando oram por você. Quando pedem que você ore por alguém, estão pedindo a sua intercessão por aquela pessoa, tudo isto devido a fazermos parte do Corpo Místico Nosso Senhor Jesus Cristo (Comunhão dos Santos), comunhão essa que não é interrompida com a morte, ou seja, a igreja terrena (cristão vivos) e a igreja celestial (cristãos na bem aventurança) continuam constituindo parte do mesmo Corpo Místico do qual Cristo é a Cabeça, logo podem interceder uns pelos outros. É claro que quem está na bem aventurança não necessita da nossa intercessão, porém para nós aqui na igreja terrena é salutar pedir a intercessão, a oração dos nossos irmãos que estão salvos na bem aventurança da vida eterna, pois "O Senhor está longe dos maus, mas atende às orações dos justos" (Pr 15, 29) e "A oração dos justos tem grande eficácia" (Tg 5,16). E quanto mais justos do que nós são aqueles que já estão na bem-aventurança da vida eterna junto a Deus? E por fim, não, nestes termos gerais não somos diferentes, pois quem morre e é salvo é santo também.

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  8. Olá caríssimos(as) do blog. Essa minha dúvida não tem a ver com o tema, mas fui questionado e não soube responder o assunto e gostaria de saber o que a igreja ensina.Se já tiverem um post sobre o assunto ou se souberem de algum outro site que possa me ajudar, será de grande valia.

    As dúvidas são à respeito da via post mortem.
    1°-Se Deus é infinita misericórdia,por que não pode haver o arrependimento após a morte corporal, já que o espirito continua?
    2° Se após a morte vem o julgamento, na infinita misericórdia, não poderia ocorrer ocorrer o arrependimento e uma outra sentença?
    3° se na terra temos compaixão para com aqueles que sofrem, se eu fosse para o céu e algum familiar para o inferno, como poderia ficar bem sabendo que o outro sofre? se eu já estivesse no céu, estaria amando se não pudesse fazer nada por aqueles que foram condenados ao inferno?.


    Enfim, são perguntas assim que foram feitas e não soube responder.

    Salve Maria.
    Att. João

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    1. Essas perguntas já receberam respostas aqui no blog, aconselho a procurar no Índice.

      Porém tentarei dar minha contribuição dentro dos limites do meu entendimento.

      1 e 2- Sobre essas questões a primeira coisa a ser esclarecida é que Misericórdia não é Complacência e que Deus além de infinitamente Misericordioso também é infinitamente Justo. Pensar dessa maneira é como pensar que um pai/mãe para amar seus filhos tem que nunca lhes admoestar, lhes permitindo tudo, inclusive aquilo que lhes faz mal, como drogas, promiscuidade, preguiça e etc, achando tudo bonito e apoiando tudo em nome do "amor" que sente pelo filho(a). Deus em sua infinita misericórdia nos legou Sua Santa Igreja, com a Revelação, Sacramentos, nos enviou Seu próprio Filho para com seu Santíssimo Sacrifício nos libertar do pecado e nos dá até o nosso último suspiro a possibilidade de arrependimento e conversão. A condenação eterna para quem apesar de tudo isso mantém-se obstinado no pecado além de justiça é uma CONSEQUÊNCIA lógica.

      Esse é um outro ponto. A condenação eterna é castigo, mas um castigo que é puramente CONSEQUÊNCIA do pecado. Por exemplo, para nós vivos, a morte com certeza é um castigo, porém alguém que resolve pular do alto de um edifício encontrará o castigo da morte como uma CONSEQUÊNCIA lógica do seu ato.

      A razão é muito similar ao porque de que os demônios não podem se arrepender também, pesquise sobre a natureza dos anjos e demônios, segundo a doutrina católica que ficará mais claro.

      Mas essencialmente posso explicar assim: Não pode existir perdão sem arrependimento. Na vida após a morte não existe mais o tempo e espaço (eternidade), portanto não há mais a possibilidade/tempo do indivíduo se arrepender, permanece obstinado no pecado e portanto afastado de Deus.

      É como dizem, o céu é graça imerecida que Deus nos concede, o inferno é mérito, só vai para o inferno que assim deseja e busca.

      3- Da mesma maneira, só quem se compraz com a injustiça é o injusto. O justo se alegra com a justiça. E a justiça por natureza, não diferencia na sua aplicação familiar, amigo ou ente querido. Estando nós justificados e na bem aventurança, em comunhão com Deus infinitamente Justo, não haveremos de nos entristecer por ver a Justiça Divina ser aplicada.

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    2. Olá José. Obrigado pela atenção de responder.

      Ainda continuo com dúvida sobre o assunto:
      Teria os humanos mais compaixão e esperança no homem do que o próprio Deus? Há nações em que o o homem não é condenado â prisão perpetua mesmo que tenha cometido o pior crime e lhe é um tempo para pagar por aquilo que fizeste. Ao explicar que na eternidade não existe mas espaço para o arrependimento, é ficar inerte e tirar a capacidade de vida da alma, se os santos estão a interceder pelos vivos, por que razão as almas condenadas não podem se arrepender, não podem agir ou não pensam,refletem?
      quanto a questão 3- de fato compreendo que o justo se alegra quando a justiça é feita. Imagine que quem vai para o inferno seja o filho e a mãe para o céu.
      sinceramente, não me vem na cabeça uma mãe que esta feliz enquanto sabe que
      o filho sofre. Se há mães que não abandonam seus filhos mesmo os mesmos tendo pecado, como poderia, no céu, dar as costas e ficar feliz?. A mãe teria deixado de amar seu filho no céu (sendo que o próprio São Paulo escreve que nem a morte nos separa do amor de Cristo)?

      Att. João

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    3. Olá, João. Tentarei te ajudar a compreender essas questões o melhor que eu puder. Vamos as perguntas:

      "Teria os humanos mais compaixão e esperança no homem do que o próprio Deus?"

      João, em primeiro lugar nessa pergunta percebo uma dificuldade em entender a significância de Deus. Pois bem, como disse na última resposta: só existe vida, não só vida, só existe a Criação por um ato de puro amor e misericórdia de Deus. E em um ato de infinito amor e misericórdia Deus nos envia seu filho unigênito para nos redimir do pecado e Nele vencermos a Morte e entrarmos para a vida eterna. E isso mesmo após a Queda do homem por sua própria culpa. Comparar a "misericórdia" de um sistema legal humano com a Infinita Misericórdia que é em razão da qual tudo existe e pela qual nos é possível a bem-aventurança junto de Deus é descabido.

      Em segundo lugar, percebo também uma dificuldade em entender a natureza da condenação eterna. Como disse na última resposta, a condenação eterna é CONSEQUÊNCIA do LIVRE ARBÍTRIO, ou seja, é um ESCOLHA.

      Veja, você já ouviu falar que o único pecado que não é possível perdão é o pecado contra o Espírito Santo?

      “Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO não será perdoada. Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem (JESUS CRISTO) lhe será perdoado, porém se disser contra o ESPÍRITO SANTO, não lhe será perdoado, nem neste mundo e nem no futuro”. (Mt 12, 31-32)

      É de se perguntar o porquê de não haver perdão para algo, já que Deus é infinita misericórdia, né?

      Pois bem, o motivo porque não há perdão para o pecado contra o Espírito Santo, é porque a própria natureza deste pecado é não querer o perdão de Deus. É não aceitar a Graça de Deus, é uma recusa à Salvação.

      "Ora, a blasfêmia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica seu pretenso ‘direito’ de perseverar no mal – em qualquer pecado – e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no seu pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, conseqüentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida” (São João Paulo II)

      Ou seja, como é possível perdoar quem não quer ser perdoado.

      De maneira semelhante procede quanto à condenação eterna. O indivíduo que morre em pecado mortal e que até o seu último suspiro não se arrepende, não busca o perdão, ESCOLHE PERMANECER APARTADO DE DEUS.

      Ou seja, a alma, que é eterna (e ser eterno significa estar fora do tempo), se fixa em si mesma, porque no fim todo pecado é escolher a si mesmo antes de Deus. Não há mais tempo para se arrepender, nem para fazer penitência, não há mais como realizar boas ações e nem como ter fé, pois a alma vê a vida após a morte como um a realidade.

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    4. (continua...) Além disso, aí entra o outro ponto que levantei na última resposta: Deus é Justo. Ele não é apenas infinita Misericórdia, ele é também infinita Justiça. Com isso em mente, se Deus nos criou e criou tudo o que existe, nos deu livre arbítrio, nos deu sua Revelação que nos explica e adverte tudo o que precisamos saber do porquê existimos, para que é nossa vida e existência e como devemos guiar nosso tempo nesse mundo, o qual nos é avisado que é limitado e nos é avisado quais as consequências futuras, ter enviado seu Filho Unigênito para morrer por nossa salvação. Que justiça haveria em com tudo isso, nós escolhermos manter-nos obstinados no pecado, ou seja, recusando a Graça da Salvação e Perdão Divino e só mudarmos de opinião quando sofrermos as consequências, ou seja, quando melhor nos convir.
      O Catecismo resume bem:
      §1033 Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".
      É como eu disse na última resposta: Misericórdia não é Complacência. O tipo de misericórdia que você está pensando é não existir consequência para o uso do nosso livre arbítrio.

      "Ao explicar que na eternidade não existe mas espaço para o arrependimento, é ficar inerte e tirar a capacidade de vida da alma, se os santos estão a interceder pelos vivos, por que razão as almas condenadas não podem se arrepender, não podem agir ou não pensam,refletem?"

      Nessa pergunta se percebe uma dificuldade de entender a condição da pós vida. A vida eterna não é como a nossa vida mundana, com as mesmas necessidades, rotinas, cidades e etc. E nem possui a natureza. O tempo para a conversão, para a fé, para o bem ou mal agir é neste mudo. Após a morte seremos julgados pelo que fizemos enquanto neste mundo e deste julgamento haverá uma destinação. É como perguntar por que não podemos voltar a ser bebês depois de chegarmos a vida adulta. Porque por mais que queiramos esse tempo já passou.
      Os santos intercedem pelos vivos, justamente porque nós precisamos de intercessão, nós ainda estamos na jornada para a nossa salvação, para nós que ainda é tempo de conversão. Veja, que são os santos que intercedem por nós e não nós por eles
      De fato, para considerar que é possível se arrepender após a morte tem que se considerar que é possível também pecar após a morte. Daí se vê também como a própria ideia de mudança de consciência depois de deixarmos essa vida é incompatível com a vida eterna.
      O fato de não haver mais a possibilidade de arrependimento nada tem a ver com a capacidade de vida da alma. Na verdade, até falar em capacidade de vida para a alma é despropositado, visto que na bem-aventurança estaremos na verdadeira vida plena, plena em comunhão com Deus. E quanto aos que saíram desta vida afastados de Deus, estarão na morte eterna.

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    5. (continua...)"justo se alegra quando a justiça é feita. Imagine que quem vai para o inferno seja o filho e a mãe para o céu.
      sinceramente, não me vem na cabeça uma mãe que esta feliz enquanto sabe que
      o filho sofre. Se há mães que não abandonam seus filhos mesmo os mesmos tendo pecado, como poderia, no céu, dar as costas e ficar feliz?. A mãe teria deixado de amar seu filho no céu (sendo que o próprio São Paulo escreve que nem a morte nos separa do amor de Cristo)?"

      É natural que você não consiga ver. Enquanto neste mundo vemos e julgamos as coisas dentro das nossas limitações humanas. Como disse o apóstolo, vemos que como por um espelho. Mas isso somo nós, nossos sentimentos, nosso egocentrismo e nosso egoísmo.

      No que tange a justiça, como eu disse na resposta anterior: ela não difere se é nosso ente querido ou não. Se fosse assim ela seria qualquer coisa menos justiça.

      Além disso, o mais relevante é que o paraíso, a vida eterna é toda sobre Deus, ela não é sobre nós. É como eu disse acima, ela não é apenas uma espécie melhorada da nossa vida mundana , com as mesmas prioridades, mesmos apegos e etc. A vida na bem-aventurança é toda sobre Deus, pois ele é a razão de tudo o que existe. Aqui na terra mesmos os maiores teólogos não podem realmente sequer vislumbrar o que há de ser a vida eterna junto do Pai.

      E é daí que não há nenhuma incoerência entre ser feliz no paraíso, independentemente de ter algum ente querido no inferno. Veja, quando na bem-aventurança junto de Deus, onde estaremos com Deus face a face e compreenderemos e veremos toda a sua Glória, Amor, Misericórdia, Justiça e olharmos e vermos o que realmente é o pecado e como ele ofende a Deus, não há de se sentir pena do pecado e nem se perturbar com a justiça Divina.

      E isso independe se teremos um ente querido no inferno. Pois como disse, a vida eterna não é sobre nós, sobre nossa felicidade, é sobre Deus.

      E como o próprio Jesus disse:

      "Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim." (Mateus 10, 37)

      E lembrar que o primeiro mandamento é Amar a Deus sobre todas as coisas.

      Por fim, quando São Paulo escreve que nem a morte nos separa do amor de Cristo ele está se referindo a vida eterna, a bem-aventurança, ao Corpo Místico formado pela igreja terrena e a igreja celestial.

      Porque a morte física não nos separa do amor de Deus, mas o pecado obstinado sim:

      "Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor." (Rm 6,23)

      Só há vida em Deus, escolhendo o pecado e recusando a Deus se está recusando a vida e escolhendo a morte eterna.

      Espero que ajude a esclarecer estas questões.

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    6. "A mãe teria deixado de amar seu filho no céu (sendo que o próprio São Paulo escreve que nem a morte nos separa do amor de Cristo)?"

      O fato não é que nem a morte nos separa do amor de CRISTO, o fato se nós mesmos quisermos nos separar do amor de CRISTO, haja vista que JESUS não nós obrigar a ninguém de ama-lo se segui-lo, pois ELE deixa livre se quisermos ama-lo e segui-lo, mesmo que vamos até as últimas consequências sobre nossas escolhas, quer quisermos estar por toda eternidade junto com ELE, quer não quisermos ficar junto DELE, em um estado chamado inferno.

      Portanto, o único que nos pode separar do amor de CRISTO somos nós mesmos, através de nossas escolhas, por isto DEUS nos deu livre arbítrio para O aceitar ou rejeita-lo.

      Quanto a mãe que vai para o céu e o filho para o inferno, ela se feliz nos céus por saber que o filho está sofrendo no inferno, veja que ela estará nos céus, junto de DEUS, e DEUS a fará entender o motivo do filho estar no inferno, e portanto a consolará com tal ciência por parte de DEUS, pois lá teremos toda a compreensão do porque alguns rejeitaram a DEUS, e outros o aceitaram, e quem O rejeitou, mesmo sendo uma pessoa muito querida por nós neste mundo, saberemos compreender as razões de tais pessoas terem escolhido viver longe do SENHOR por toda eternidade, haja vista que esta foi uma escolha pessoal e livre de tais pessoas, e não uma vingança de DEUS por tê-lo rejeitado, mas sim, compreenderemos que se trata de sua justiça, que julgara cada um conforme suas obras, suas escolhas, e por respeitar a escolha de cada um, então aplicará aquilo que cada um plantou e agora estará recolhendo na eternidade. Tudo tem a ver com a justiça divina e o respeito da livre escolha que DEUS tem por cada um que vez enquanto esteve neste mundo.

      Sidnei.

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    7. Obrigado pelas respostas irmãos. Irei ler com calma para ver se consigo assimilar todo o conteúdo.

      Que Deus os abençoe e Maria os guarde!
      A pAZ! :)

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  9. Eu gosto desse blog porque vejo Cristo sendo levado a sério, como centro, se todo o catolicismo fosse assim, acho que seria católica faz tempo. Porém devo confessar que estou escandalizada, visitei outros blogs da fraternidade descritos ao fim da página... E infelizmente não são todos como este. Fiquei chocada ao ler em osegredodorosário esta postagem Algumas heresias dão motivos aos protestantes acusarem os católicos de mariolatria, o referido texto mostra que a pessoa colocou toda a sua esperança em Maria na misericórdia dela para não ser condenado por Deus. A começar pelo título 'um ave maria pode salvar sua alma'... Olhei mais o blog e vi tudo de Maria e quase nada de Jesus... Tenho impressão, posso estar equivocada, que a Igreja só se preocupa com o lado oposto, se um padre disser alguma coisa que pareça algo contra algum exagero mariano, é fiscalizado, agora quanto aos exageros na devoção exacerbada que deixa Cristo de lado e configura idolatria, ninguém faz nada... Vejo um alvoroço maior para Fátima, consagração de nações a Maria por papas e não recordo de uma promoção tão grande à escravidão e consagração a Jesus Cristo por parte dos católicos... Também tenho dúvida quanto ao papel do Espírito Santo, as vezes oficiais católicos afirmando que Maria nos leva a Cristo, toca em nossa consciência... Isso não é papel do Espírito Santo?

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    Respostas
    1. Caríssima anônima (que pena, não deixou seu nome),

      Eu mesmo venho do protestantismo, e portanto entendo perfeitamente suas angústias e inquietações.

      Por compreender bem a situação de toda uma multidão que sinceramente quer se converter, mas tem esse tipo de medo ou pudor, fiz questão de acrescentar a parte final deste artigo, que reconhece que os exageros, sim, existem. Os bons padres também o reconhecem (o padre Paulo Ricardo, ontem mesmo, publicou um vídeo dizendo isto).

      O que você precisa compreender bem é que não se pode julgar a Igreja Católica (muita atenção) baseada no mau exemplo dos católicos e nem naquilo que dizem os apostolados. Sim, você vai encontrar equívocos, abusos nas devoções, exageros de muita gente que não tem conhecimento nem discernimento, dentro da Igreja Católica (vai dizer que não acontece o mesmo no meio protestante?).

      A Igreja, porém, fala por si, nos seus documentos oficiais e na sua doutrina que está bem exposta no Catecismo da Igreja Católica. Padres erram (e como erram!), teólogos erram, leigos erram... Mas eles não são a Igreja. Se você quer saber o que diz a Igreja, procure aquilo que a Igreja diz. O site oficial do Vaticano tem a quase totalidade dos documentos mais importantes da Igreja.

      Saiba mais lendo nosso artigo próprio, no endereço abaixo:

      http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/os-documentos-da-igreja.html

      Sobre Maria nos levar a Cristo, não entendo sua dificuldade. Não creem os protestantes que os pastores os levam a Cristo? Se eu a convido a ir à Igreja, e lá você encontra Cristo, então não seria certo dizer que eu a levei a Cristo? Se cremos que Maria está no Céu, na Glória de Deus Pai, claro que ela pode interceder por nós e falar às nossas consciências, embora toda inspiração para aceitar o bem e fazer a Vontade de Deus parta do Espírito Santo. Uma coisa não necessariamente exclui a outra.

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo

      Apostolado Fiel Católico

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  10. De fato, sobre a acusação da minha mãe, eu geralmente só rezo pedindo a Jesus, prefiro me dirigir diretamente ao meu Senhor. Mas também rezo o Terço e honro Nossa Senhora. Mas Jesus é quem ocupa meus pensamentos.

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