Cardeal Sarah: 'Comunhão generalizada na mão faz parte do ataque de Satanás à Eucaristia'

Por Diane Montagna para o LifeSiteNews
Tradução: João Pedro de Oliveira 

O chefe do dicastério vaticano sobre liturgia está convocando os fiéis católicos a voltarem a receber a Sagrada Comunhão na boca e de joelhos

NO PREFÁCIO PARA UM novo livro sobre o assunto, o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, escreve: “O mais insidioso ataque diabólico consiste em tentar extinguir a fé na Eucaristia, semeando erros e encorajando um modo inapropriado de recebê-la. A guerra entre S. Miguel e seus anjos, de um lado, e Lúcifer, de outro, verdadeiramente continua nos corações dos fiéis”. Disse ele ainda que “o alvo de Satanás é o Sacrifício da Missa e a Presença Real de Jesus na Hóstia consagrada”.

O novo livro, de Pe. Federico Bortoli foi lançado em italiano com o título: “La distribuzione della comunione sulla mano. Profili storici, giuridici e pastorali” (A distribuição da Comunhão na mão: considerações históricas, jurídicas e pastorais).

Recordando o centenário das aparições de Fátima, Sarah escreve que o Anjo da Paz, que apareceu aos três pastorinhos antes da visita da bem-aventurada Virgem Maria, “mostra-nos como devemos receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo”. Sua Eminência descreve, então, os ultrajes com que Jesus é ofendido hoje na Santa Eucaristia, incluindo “a chamada ‘intercomunhão’” (prática de cristãos de diferentes confissões participarem da mesma mesa eucarística).

Sarah dá sequência a seu discurso destacando como a fé na Presença Real “influencia o modo como recebemos a Comunhão, e vice-versa”, e propõe o Papa João Paulo II e Madre Teresa como dois santos modernos que Deus nos deu para imitarmos em seu reverência e na recepção da Santa Eucaristia.

“Por que nos obstinamos em comungar de pé e na mão?”, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino se pergunta. A maneira como a Santa Eucaristia é distribuída e recebida, ele escreve, “é uma importante questão sobre a qual a Igreja de hoje deve refletir.”

Abaixo, com a autorização de "La Nuova Bussola Quotidiana", onde o prefácio primeiramente foi publicado, oferecemos aos nossos leitores uma tradução [n.t.: feita diretamente do original em italiano] de vários pontos chave do texto do Cardeal Sarah.



A Providência, que dispõe sábia e suavemente todas as coisas, oferece-nos a leitura do livro A distribuição da Comunhão na mão, de Federico Bortoli, justamente depois de havermos celebrado o centenário das aparições de Fátima. Antes da aparição da Virgem Maria, na primavera de 1916 (outono no hemisfério sul), o Anjo da Paz apareceu a Lúcia, Jacinta e Francisco, e disse-lhes: “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo”. […] Na primavera de 1916, na terceira aparição do Anjo, as crianças notaram que o Anjo, que era sempre o mesmo, segurava em sua mão esquerda um cálice acima do qual se estendia uma Hóstia. […] Ele deu a Hóstia consagrada a Lúcia e o Sangue do cálice a Jacinta e Francisco, que permaneceram de joelhos, enquanto lhes dizia: “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.” O Anjo prostrou-se novamente por terra, repetindo com Lúcia, Jacinta e Francisco por três vezes a mesma oração.

O Anjo da Paz mostra-nos, então, como devemos receber o Corpo e Sangue de Jesus Cristo. A oração de reparação ditada pelo Anjo, infelizmente, é tida como obsoleta. Mas quais são os ultrajes que Jesus recebe na Hóstia consagrada, e dos quais precisamos fazer reparação? Em primeiro lugar, existem os ultrajes contra o próprio Sacramento: as horríveis profanações, das quais alguns convertidos do satanismo já deram testemunho e ofereceram descrições repugnantes; são ultrajes ainda as Comunhões sacrílegas, quando não se recebe a Eucaristia em estado de graça, ou quando não se professa a fé católica (refiro-me a certas formas da chamada “intercomunhão”). Em segundo lugar, constitui um ultraje a Nosso Senhor tudo o que pode impedir o fruto do Sacramento, especialmente os erros semeados nas mentes dos fiéis a fim de que eles não mais acreditem na Eucaristia. As terríveis profanações que acontecem nas chamadas “missas negras” não atingem diretamente Aquele que é ultrajado na Hóstia, encerrando-se tão somente nos acidentes do pão e do vinho.

É claro que Jesus sofre pelas almas dos profanadores, almas pelas quais Ele derramou o Sangue que elas tão cruel e miseravelmente desprezam. Mas Jesus sofre ainda mais quando o dom extraordinário de sua presença divino-humana na Eucaristia não pode levar seu potencial efeito às almas dos fiéis. E aí nós entendemos que o mais insidioso ataque diabólico consiste em tentar extinguir a fé na Eucaristia, semeando erros e encorajando um modo inapropriado de recebê-la. A guerra entre Miguel e seus anjos, de um lado, e Lúcifer, de outro, verdadeiramente continua nos corações dos fiéis: o alvo de Satanás é o sacrifício da Missa e a presença real de Jesus na Hóstia consagrada. Essa tentativa de rapina segue, por sua vez, dois caminhos: o primeiro é a redução do conceito de “presença real”. Muitos teólogos não cessam de ridicularizar ou de esnobar — não obstante as contínuas advertências do Magistério — o termo “transubstanciação”. […]

Vejamos agora como a fé na Presença Real pode influenciar o modo de receber a Comunhão, e vice-versa. Receber a Comunhão sobre a mão comporta induvidavelmente uma grande dispersão de fragmentos. Ao contrário, a atenção às mais pequeninas partículas, o cuidado na purificação dos vasos sagrados, o não tocar a Hóstia com as mãos sujas de suor, tornam-se profissões de fé na presença real de Jesus, ainda que seja nas menores partes das espécies consagradas: se Jesus é a substância do Pão Eucarístico, e se as dimensões dos fragmentos são acidentes apenas do pão, pouco importa que o pedaço da Hóstia seja grande ou pequeno! A substância é a mesma! É Ele! Ao contrário, a desatenção aos fragmentos faz perder de vista o dogma: pouco a pouco poderia começar a prevalecer o pensamento: “Se até o pároco não dá atenção aos fragmentos, se administra a Comunhão de um modo que os fragmentos podem se dispersar, então quer dizer que Jesus não está presente neles, ou está ‘até um certo ponto’.”

O segundo caminho em que acontece o ataque contra a Eucaristia é a tentativa de retirar, dos corações dos fiéis, o sentido do sagrado. […] Enquanto o termo “transubstanciação” nos indica a realidade da presença, o sentido do sagrado permite-nos entrever a absoluta peculiaridade e santidade do Sacramento. Que desgraça seria perder o sentido do sagrado precisamente naquilo que é mais sagrado! E como é possível? Recebendo o alimento especial do mesmo modo como se recebe um alimento ordinário. […]

A liturgia é feita de muitos pequenos ritos e gestos — cada um dos quais é capaz de exprimir essas atitudes carregadas de amor, de respeito filial e de adoração a Deus. Justamente por isso é oportuno promover a beleza, a conveniência e o valor pastoral desta prática que se desenvolveu ao longo da vida e da tradição da Igreja, a saber, receber a Sagrada Comunhão sobre a língua e de joelhos. A grandeza e a nobreza do homem, assim como a mais alta expressão do seu amor para com o Criador, consiste em colocar-se de joelhos diante de Deus. O próprio Jesus rezava de joelhos na presença do Pai. […]

Nesse sentido, gostaria de propor o exemplo de dois grandes santos dos nossos tempos: São João Paulo II e Santa Teresa de Calcutá. Toda a vida de Karol Wojtyla esteve marcada por um profundo respeito à Santa Eucaristia. […] Malgrado estivesse extenuado e sem forças […], estava sempre disposto a ajoelhar-se diante do Santíssimo. Ele era incapaz de ajoelhar-se e levantar-se sozinho. Precisava que outros lhe dobrassem os joelhos e depois o levantassem. Até os seus últimos dias, ele quis dar-nos um grande testemunho de reverência ao Santíssimo Sacramento. Por que somos assim tão orgulhosos e insensíveis aos sinais que o próprio Deus oferece para o nosso crescimento espiritual e para o nosso relacionamento íntimo com Ele? Por que não nos ajoelhamos para receber a Sagrada Comunhão, a exemplo dos santos? É assim tão humilhante prostrar-se e estar de joelhos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo — Ele, que, “sendo de condição divina, […] humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6–8)?

Santa Madre Teresa de Calcutá, uma religiosa excepcional a que ninguém ousaria chamar de tradicionalista, fundamentalista ou extremista, e cuja fé, santidade e dom total de si a Deus e aos pobres são conhecidos de todos, possuía um respeito e um culto absoluto ao Corpo divino de Jesus Cristo. Certamente, ela tocava quotidianamente a “carne” de Cristo nos corpos deteriorados e sofridos dos mais pobres dos pobres. No entanto, cheia de estupor e respeitosa veneração, Madre Teresa se abstinha de tocar o Corpo transubstanciado do Cristo; ao invés disso, ela O adorava e contemplava silenciosamente, permanecia por longos períodos de joelhos e prostrada diante de Jesus Eucaristia. Além disso, ela recebia a Sagrada Comunhão diretamente na boca, como uma pequena criança que se deixava humildemente nutrir por seu Deus.

A santa se entristecia e lamentava sempre que via os cristãos receberem a Sagrada Comunhão nas próprias mãos. Ela afirmou inclusive que, segundo o que era de seu conhecimento, todas as suas irmãs recebiam a Comunhão apenas sobre a língua. Não é esta a exortação que Deus mesmo faz a nós: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito; abre a boca e eu te sacio” (Sl 81, 11)?

Por que nos obstinamos em comungar de pé e na mão? Por que essa atitude de falta de submissão aos sinais de Deus? Que nenhum sacerdote ouse impor a própria autoridade sobre essa questão recusando ou maltratando aqueles que desejam receber a Comunhão de joelhos e sobre a língua: venhamos como as crianças e recebamos humildemente, de joelhos e sobre a língua, o Corpo de Cristo. Os santos dão-nos o exemplo. São eles o modelo a imitar que Deus nos oferece!

Mas como pode ter-se tornado tão comum a prática de receber a Eucaristia sobre a mão? A resposta nos é dada pelo Padre Bortoli, e confirmada por uma documentação até o momento inédita, e extraordinária por sua qualidade e dimensão. Tratou-se de um processo nem um pouco límpido, uma transição do que era concedido pela instrução Memoriale Domini ao modo que se difundiu hoje. […] Infelizmente, assim como aconteceu à língua latina e à reforma litúrgica, que deveria ter sido homogênea com os ritos precedentes, uma concessão particular tornou-se a gazua para forçar e esvaziar o cofre dos tesouros litúrgicos da Igreja. O Senhor conduz o justo por “caminhos retos” (Sb 10, 10), não por subterfúgios; assim, além das motivações teológicas demonstradas acima, até o modo como se difundiu a prática da Comunhão na mão parece ter-se imposto não segundo os caminhos de Deus.

Possa este livro encorajar aqueles sacerdotes e aqueles fiéis que, movidos também pelo exemplo do Papa Bento XVI — que nos últimos anos de seu pontificado quis distribuir a Eucaristia na boca e de joelhos — , desejam administrar ou receber a Eucaristia deste modo, muito mais apropriado ao próprio Sacramento. Minha esperança é de que haja uma redescoberta e uma promoção da beleza e do valor pastoral dessa forma de comungar. Segundo o meu juízo e opinião, essa é uma questão importante sobre a qual a Igreja de hoje deve refletir. Trata-se de um ato de adoração e de amor que todos nós podemos oferecer a Jesus Cristo. Muito me agrada ver tantos jovens que escolhem receber Nosso Senhor com essa reverência, de joelhos e sobre a língua. Possa o trabalho do Pe. Bortoli favorecer um repensar geral sobre o modo de distribuir a Sagrada Comunhão. Tendo acabado de celebrar, como disse no início deste prefácio, o centenário de Fátima, encoraje-nos a firme esperança no triunfo do Imaculado Coração de Maria: no fim, também a verdade sobre a liturgia triunfará.

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Fonte:
LifeSiteNews, 'Cardinal Sarah: Widespread Communion in the hand is part of Satan’s attack on the Eucharist', disp. em:
https://www.lifesitenews.com/news/cardinal-sarah-we-need-to-rethink-the-way-communion-is-distributed
www.ofielcatolico.com.br

Menino pede presente 'especial' por sua Primeira Comunhão e faz centenas de pessoas felizes na Índia


Por Felipe Marques – Fraternidade São Próspero

Essa notícia chamou-me a atenção, não só pela bela ação que fez esse menino, mas pelo fato de que ele realmente crê na Presença Real de nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Infelizmente, nos dias atuais, a raiz de muitos dos males que acometem a Santa Igreja é justamente a perda da fé na Presença Real de Cristo no Santíssimo Sacramento! Que essa matéria ajude nossos leitores a amarem a Eucaristia que é Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. 


RUBÉN TEM 9 ANOS e vive em um povoado de Valência (Espanha). É mais uma das milhares de crianças que, todos os anos, recebem a Primeira Comunhão em todo o mundo, mas ele tinha claro que, por esse grande dia, queria apenas um presente. Por isso, distribuiu através do aplicativo "Whatsapp", entre os convidados, uma carta escrita a mão na qual explicava que estava “muito feliz” por compartilhar com todos eles seu “grande encontro com Jesus”. 

“Graças a Deus, tenho todo o necessário. Então, pensei que, se quiser me dar algum presente por este dia, pode dar muito mais frutos fazendo uma doação anônima para um projeto de ‘Manos Unidas’ (Mãos Unidas), com o qual estou colaborando”, indicava o pequeno. Explicava também que o projeto consiste na “compra e instalação de placas solares em uma casa de acolhida para meninas da Índia”. 

Assim, graças à generosidade deste menino, esta ONG recebeu 7.075 euros. Segundo explica o jornal ‘El País’, embora a decisão de doar seus presentes de Primeira Comunhão tenha partido do próprio Rubén, a ideia foi de sua mãe, Amparo García, a qual explicou ao jornal que as crianças recebem tantos brinquedos que chega a um ponto em que deixam de valorizá-los. Mas, ressaltou ela, a ideia surgiu porque, como católica, entende que a Primeira Comunhão é um “encontro com Jesus” e receber presentes distrai do significado da cerimônia. 

Apenas três pessoas insistiram em dar-lhe outro tipo de presente. Os demais convidados concordaram em fazer uma doação a esta ONG da Igreja Católica, como Rubén havia pedido. O projeto com o qual o menino colaborou generosamente está na cidade de Guawhati (Índia), perto das fronteiras com Butão e Bangladesh. Nesta ONG, religiosas salesianas acolhem meninas que vivem na rua e que foram vítimas de abusos e exploração. Com o dinheiro que Rubén doou, será possível instalar placas solares para a manutenção térmica do centro. 
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Fonte:
ACI Digital, disp. em:
acidigital.com/noticias/menino-pede-presente-especial-por-comunhao-e-faz-centenas-de-pessoas-felizes-na-india-19797/
Acesso 20/2/2018
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Quem está orquestrando o movimento LGBTQ no interior da Igreja?

Pe. James Martin, SJ

Por Lawrence England*, em 'Benoit et moi'
Tradução de Roberto Leal Ferreira para O FIEL CATÓLICO


VALE A PENA RECORDAR aquela entrevista dada alguns anos atrás pelo Papa Francisco, na qual, ao lhe perguntarem acerca de Mons. Ricca e de um escândalo homossexual, respondeu com o famoso comentário: "Se alguém for gay e buscar a Deus com boa vontade, quem sou eu para julgar?". É verdade que ele completou a frase citando um trecho do Catecismo acerca da necessidade de se tratar às pessoas homossexuais com respeito, sensibilidade e compaixão, mas o estrago estava feito. O mundo inteiro repercutiu a mensagem dando a entender que a Igreja Católica agora "aceitava" o homossexualismo.

    Acontece que o confrade do Papa reinante, o Pe. James Martin, jesuíta e seu companheiro nessa grave omissão[1], hábil em remendar e deformar a doutrina e o Evangelho, também vem citando essa seção do Catecismo e utilizando-a para seu atual ministério LGBTQI ['Q' é de 'queer' e 'I' de 'intersex']. Um ministério que, na Igreja, goza de patrocínio e apoio poderosos, tacitamente da parte de Francisco, e abertamente da parte de estranhos personagens nomeados cardeais por ele: é o caso de Tobin, Cupich e Kevin Farrell, que defendem o ministério subversivo de Martin e o querem palestrando em suas dioceses. São homens muito fiéis a Francisco e, em especial, a seu Magistério contraditório, ambíguo e sutilmente revolucionário.

    Este Papa jamais – nem uma única vez – ensinou, nem em uma linha de  algum documento, discurso ou entrevista, as partes precedentes do Catecismo, as quais chamam atenção para a gravidade do pecado do ato homossexual ou para a natureza desordenada desse tipo de atração. Tampouco para a parte que vincula essa condição à Cruz. Nem o Pe. James Martin. Pensam alguns que Francisco é tão confuso que mencionou o Catecismo, mas talvez “não saiba” em pormenor o que o Catecismo diz exatamente sobre esses aspectos da homossexualidade, tão do agrado do lobby homossexual, tanto dentro como fora do Vaticano.

    Acho que o contrário é que é verdade. O Pe. James Martin e o Papa Francisco conhecem, ambos, perfeitamente o ensinamento da Igreja sobre o homossexualismo, mas desdenham esses aspectos da posição da Igreja que entram em conflito com a agenda gay militante e se recusam deliberadamente a ensiná-los. Precisamos começar a levantar sérias questões acerca do papel do Papa Francisco na homossexualização da Igreja, pois é certo que ele faz a sua parte, por todos os meios.

    No caso do Pe. James Martin, apesar de sua perdoável desvantagem de formação por ser jesuíta (como Francisco), foi-lhe diversas vezes comunicado que a sua apresentação do ensinamento da Igreja é incompleto e deficiente do ponto de vista da integridade católica, porque a sua premissa básica se serve do vocabulário do Catecismo sobre o “respeito” e a “sensibilidade”, mas omite o resto do ensinamento da Igreja sobre o assunto e faz um desvio pela teologia moral queer, inserindo entre os argumentos, de quebra, suas próprias suposições subjetivas. Exatamente como Francisco, porém, dedica a maior parte do seu ministério LGBTQI a ressaltar os aspectos positivos ou moralmente neutros do cristianismo. “Não devemos julgar”; “as pessoas LGBT têm dignidade”; “tenho certeza de que há santos homossexuais”; etc.

    Em compensação, o Papa Francisco nunca fala de homossexualismo, mas, caros leitores, para virar de ponta cabeça os ensinamentos da Igreja ele não precisa disso. Por quê? Porque tem o Pe. James Martin para pregar, com toda a liberdade e sem nenhum tipo de censura. Ele não pode expor sua verdadeira mensagem sem criar inúteis conflitos e controvérsias. Não queremos acordar as crianças, não é? Percebe com clareza que deve permanecer calado sobre o assunto. Tudo o que Francisco precisa fazer é criar a atmosfera para que certas plantas floresçam. Seu colega jesuíta e conselheiro de mídia, o Pe. James Martin, SJ, mal fala de outra coisa. É como se fosse a sua profissão – ser o comandante-chefe da ala LGBT, liquidar a Doutrina católica e disparar contra a Igreja, enquanto Francisco distrai as pessoas com a sua personalidade única e, enfim, com seu sempre maior culto da personalidade.

    Mas a característica que os dois têm em comum é a omissão deliberada dos ensinamentos tais como dados para instrução cristã dos fiéis. E depois dos escândalos gays que atingiram a Igreja durante este pontificado, bem como do escândalo da crise dos abusos com crianças que hoje abala Francisco, não posso impedir-me de pensar que essa tendência dos dois homens é eloquente. Comportam-se exatamente do mesmo modo. Martin nutre-se ferozmente da ambiguidade de Francisco e das narrativas sobre a mudança de paradigma, e Francisco, valendo-se exatamente dos mesmo métodos de dissimulação que Martin, fornece tranquilamente a Martin o vazio doutrinal e as mudanças de paradigma de que ele precisa para levar adiante o seu projeto LGBTQI na Igreja. É uma relação simbiótica: Martin vive de Francisco e Francisco cria a cultura para que Martin viceje.

    Começamos a matutar: será que trabalham juntos para a mesma causa? A “emancipação" do movimento gay militante na Igreja? Há um ou dois anos, eu não teria acreditado, teria achado que Francisco se interessava em subverter a moral católica por motivos que só ele conhecia; quanto mais eu penso em seu comportamento dos últimos cinco anos, porém, mais fica claro que, longe de se preocupar com o "lobby gay" no Vaticano (que, ao contrário dos maçons, não usam carteirinha, como sabemos [alusão às palavras do Papa na viagem de volta da Jornada Mundial da Juventude do Rio, depois do famoso 'quem sou eu...'])[2], seus esforços parecem apoiar e fortalecer seu movimento de um modo realmente estratégico, o que se torna mais flagrante, simplesmente observando o tipo de companhia que ele escolhe.

    Na única oportunidade em que o Papa abordou realmente o assunto – em razão de um escândalo gay que tornava inevitável a pergunta de um jornalista – usou exatamente a mesma tática do Pe. James Martin em sua campanha para manipular e mutilar os ensinamentos da Igreja sobre o homossexualismo: forneceu um fundamento a partir do Catecismo, ignorando a verdade revelada menos popular e inserindo seu próprio paradigma infundado ali onde a verdadeira doutrina católica deveria aparecer, fixando-a numa frase que sugere a misericórdia e a clemência, mas recebida como uma atitude de indiferença calculada ao pecado e até mesmo como a linguagem do pecado.

    A única diferença entre o que o Santo Padre fez durante a entrevista no avião e o que o Pe. James Martin faz a cada semana é que a conclusão do Santo Padre sobre a questão foi formulada na linguagem da neutralidade objetiva e equilibrada, dando maior ênfase à necessidade de um julgamento dos indivíduos de "boa vontade". Poderíamos muito bem levantar a seguinte questão: será que esses eclesiásticos cujo estilo de vida escandaloso compromete os ensinamentos da Igreja, mas recebem uma proteção especial da parte de Francisco, são mesmo homens de "boa vontade" para com a Igreja? A única razão que temos para acreditar nisso é a autoridade do Papa. Talvez eles tenham boa vontade... para com Francisco, seu fiel amigo e aliado! A "neutralidade" humana, baseada na necessidade do "diálogo", é a marca crítica deste pontificado, e ela envolve tudo, desde o acordo com a China comunista até o esvaziamento da Academia pontifícia pró-vida, passando pelo elogio de Emma Bonino [líder abortista italiana, N do T], pela perseguição contra os Franciscanos da Imaculada e pelas palavras: «Não existe um Deus católico ».

    É claro, isso não é de modo algum "neutralidade", mas a tentativa de destruição do Cristianismo com métodos subversivos e enganadores. Sabemos que todas essas coisas são veneno para a Fé, mas, para afirmar a "neutralidade", o verdadeiro catolicismo deve ser contrariado continuamente.

    Convém também notar que, no escândalo China-Vaticano, o Agente Parolin é o alvo das bombas, como também quando anuncia que Amoris Laetitia equivale a uma "mudança de paradigma" na Igreja, que muda tudo o que veio antes. O próprio Francisco jamais disse: «Oi pessoal, a minha Exortação é uma mudança de paradigma que altera a realidade». Não foi Francisco que anunciou a perspectiva de um “revolucionário” e iminente acordo com a China, acordo que substituirá os membros fiéis da Hierarquia por fantoches do regime comunista. Personagens absurdamente controvertidos, fatores de divisão, ofereceram-se para se imolar no lugar de Francisco, tomar decisões catastróficas e dizer coisas escandalosas, para promover os planos de Francisco ou o plano comum que têm entre eles, e afastar, assim, de Francisco o ardor das chamas, anunciando eles mesmos tais coisas.

    Mas, durante todo esse tempo, Francisco parece observar como espectador, aplaudindo, como quando recebeu um homem seminu que fez um espetáculo de circo só para ele.




    O trabalho deles parece ser o de bancarem os durões e fazerem para valer o trabalho sujo, enquanto Francisco continua a beijar bebezinhos e a dar uma de bonzinho; e a gratificar com um perpétuo e plausível desmentido aqueles que, cada vez menos numerosos, persistem em querer desesperadamente acreditar que o Papa ainda pense como católico.

    Até o Chile e as revelações escandalosas sobre Barros [bispo acusado de acobertar casos de crimes sexuais (N do E)], tudo isso funcionava perfeitamente. Hoje, tudo desmorona. Por quê? Porque Francisco exagerou e violou sua própria regra de sobrevivência. Disse mui claramente que o caso Barros era sua decisão pessoal e que jamais a entregou a ninguém. Chegou até a pôr no olho da rua três sacerdotes da Congregação para a Doutrina da Fé, para preservar o sujeito. Recebeu até a carta de uma vítima e se expôs, ele mesmo, a acusações de ter mentido acerca do recebimento de provas.

    Cometeu o mesmo erro com Maradiaga [Cardeal Arcebispo de Tegucicalpa, acusado de uso pessoal de verbas da Universidade Católica de Honduras, da qual é chanceler (N do E)], tranquilamente absolvido antes de uma investigação adequada. Agora, tem de assumir a autoria de decisões que parecem completamente injustificadas. Proteger quem protege pedófilos e foi testemunha de violências contra crianças? É, a Equipe Francisco [referência a um grupo de cardeais que teria conspirado para eleger Francisco no último conclave (N do T)] deveria estar muito preocupada, agora, porque até o “Sr. Boa Gente”, na máfia, parece comprometido até o pescoço, envolvido ao mesmo tempo pela bandeira do arco-íris e pela bandeira vermelha da corrupção.

    A pergunta que não quer calar é a seguinte: essa gente trabalha para Francisco, trabalha ele para eles, trabalham uns para os outros ou trabalham todos para uma força exterior? Dito isso, outro pedaço da máscara de Francisco caiu esta semana, quando anunciou que o seu retiro de Quaresma seria ministrado por um sacerdote muito focado nos LGBT, que de Cristo se limita a pensar que «odiava as regras ». Mais ou menos como Francisco, então!

    Evidentemente, o Pe. James Martin está neste momento muito ocupado; o Papa, então, encontrou outra pessoa para pregar o grande retiro gay. O que é de conhecimento público a este respeito é uma dose maciça de aprovação sutil do ministério LGBTI e da "teologia queer" na Igreja. Aqueles que ouvirem falar disso hão de supor que esse Papa demonstra uma vez mais a sua neutralidade humana sobre as questões homossexuais.

    Ninguém jamais vai suspeitar que o homem vestido de branco seja um agente subversivo que se empenha em dizimar o Cristianismo ou um chefão importante do lobby homossexual instalado no Vaticano, que luta pela normalização das relações e ligações homossexuais, ou que possa ele mesmo estar tão envolvido em escândalos homossexuais, a ponto de ser objeto de chantagem ou de estar sob controle. Ninguém jamais vai pensar isso, porque o Papa se veste de branco, símbolo de pureza. Neste momento, esse Papa só está no poder porque ninguém o pode destituir. Depois desse escândalo, se ele fosse bispo, cardeal ou padre, teria sido discretamente destituído ou aposentado.

    Tudo isso levanta algumas questões: que fim levou o relatório sobre a máfia gay que Bento XVI entregou ao seu sucessor, para que dele se ocupasse? Quem queria ver purificada a "imundície" da Igreja Católica? E, falando sério, quem mais estava na festinha de Cocco [cardeal Coccopalmerio, muito próximo ao Papa, cujos auxiliares foram flagrados pela polícia italiana numa orgia gay regada a cocaína em pleno Vaticano (N do T)] durante a Quaresma, o ano passado? Talvez nunca venhamos a saber, mas o histórico do Papa Francisco quanto a esta questão pode dar motivos de preocupação a alguns. Parece que temos atualmente na Igreja uma situação em que a agenda homossexual floresce livremente entre os muros da Igreja Católica. Francisco ajuda essa causa de um modo tão sinistro, que é permitido perguntar se, na realidade, não é ele que a dirige.

    Seja qual for o papel do Papa Francisco nessa epidemia cada vez mais grave, esse contágio da heresia e a promoção do pecado afligem as almas na Igreja, e as pessoas homossexuais estão entre os fiéis católicos que, aderindo ao Magistério intemporal da Igreja e buscando testemunhar a Verdade, sofrem uma real marginalização dentro da Igreja. São eles – e não os bispos renegados, os eclesiásticos sem fé e os advogados do ministério LGBTQ – que parecem cada vez mais deixados de lado, sendo-lhes mostrada a porta do deserto, "fora do acampamento ". Mas deixarei a Joseph Sciambra a tarefa de lhes falar mais a este respeito neste vídeo:

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* As opiniões do autor não necessariamente refletem as deste apostolado. Compartilhamos o artigo por entender que suas gravíssimas denúncias trazem uma infelizmente necessária reflexão para os nossos dias conturbados e de confusão generalizada no interior da Igreja.


1. Em abril de 2017, o Pe. Martin foi nomeado pelo Papa como consultor do Serviço de Comunicação do Vaticano (ver reinformation.tv ).


2. O Papa disse, na tradução "oficial":
"Escrevemos muito sobre o lobby gay. Não encontrei ninguém no Vaticano que me desse seu bilhete de identidade com "gay" . Eles dizem que existem alguns. Eu acho que quando você está com essa pessoa, você deve distinguir entre ser gay e lobby; porque os lobbies, todos não são bons. Este é ruim. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor, mostra boa vontade, quem sou eu para julgar? O catecismo da Igreja Católica explica isso de uma maneira muito bonita, mas ele diz, espere um pouco, como ele diz ... ele diz: "Não devemos colocar essas pessoas à margem por isso, elas devem ser integradas na sociedade". O problema não é ter essa tendência, não, devemos ser irmãos, porque essa é uma coisa, mas se houver algo diferente, outra coisa. O problema é fazer essa tendência, um lobby: mobília do lobby, políticos do lobby, mestres do lobby, muito lobby. Esse é o maior problema para mim."

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Fonte:
Le lobby gay dans l'Eglise, em Benoit et moi, disp. em:

http://benoit-et-moi.fr/2018/actualite/le-lobby-gay-dans-leglise.html
Acesso 17/2/2018

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Acordo entre China comunista e Vaticano pode ferir a autoridade moral e espiritual da Igreja?

Católicos se reúnem em Hong Kong pela notícia de que Beijing e o Vaticano, cujas relações foram cortadas depois que o Estado comunista foi fundado, em 1949, estão entrando em acordo. A pergunta que fazem é: "A que custo?" (Imagem: Reuters)

ESTE É MAIS UM daqueles assuntos dos quais preferiríamos não falar, mas a que nossa consciência nos obriga. Neste momento, a Igreja Católica corre um sério risco de ter gravemente solapada a sua autoridade espiritual e moral perante seus fiéis, mergulhando milhões de almas em confusão. Isto fatalmente acontecerá caso o Vaticano concretize o surreal acordo com o governo comunista chinês. A esse  respeito, alerta também um grupo de líderes católicos baseado em Hong Kong e formado por advogados, acadêmicos e ativistas dos direitos humanos.

Esses fiéis católicos assinaram uma carta aberta destinada aos bispos de todo o mundo, por meio da qual expressam a sua perplexidade, consternação e grave preocupação por esse acordo, segundo o qual o Vaticano reconheceria sete "bispos" nomeados pelo Partido Comunista da China para a sua falsa "igreja patriótica" – a qual, como é de conhecimento público, foi criada com o único intuito de afastar as almas daquele país da verdadeira Igreja Católica.

O acordo, que visa restaurar as relações entre China e Vaticano, cortadas há quase 70 anos, segundo muitos analistas, teólogos e pensadores católicos, poderia criar um novo cisma na igreja na China – com grande potencial para repercutir universalmente.

"Estamos preocupados com o fato de o acordo não apenas deixar de garantir a liberdade desejada pela [verdadeira] Igreja, mas também por representar um golpe ao poder moral da mesma Igreja", diz a carta. "Por favor, repensem o acordo atual e parem com um erro irreversível e lamentável".

A carta vem menos de duas semanas depois que um grande líder católico da Ásia acusou o Vaticano de "vender a Igreja" em seus esforços para entrar em acordo com o governo chinês. O cardeal  Joseph Zen, arcebispo emérito de Hong Kong, divulgou em carta de 29 de janeiro (2018), publicada pelo noticioso AsiaNews, alguns importantes esclarecimentos sobre os dramáticos e inacreditáveis desdobramentos da conjunção da política vaticana com a repressão religiosa comunista na China.

O prelado fez notar, em primeiro lugar, que de fato os representantes vaticanos querem obrigar a bispos legítimos a entregar suas dioceses aos bispos ilegítimos –, um deles excomungado –, todos eles "bonecos" do Partido Comunista.



O Cardeal Zen (foto) escreveu:

Reconheço que sou pessimista sobre a situação atual da Igreja na China, mas meu pessimismo se baseia na minha longa e direta experiência da Igreja na China. Tenho uma experiência direta da escravidão e humilhação a que estão submetidos nossos irmãos bispos. De acordo com as informações recentes, não há razão para mudar essa visão pessimista.

O governo comunista está produzindo novas e mais estritas regulações que restringem a liberdade religiosa. A partir de 1º de fevereiro de 2018, a Missa da comunidade 'clandestina' (isto é, legítima, fiel a Roma) não será mais tolerada. (...) Se eu penso que o Vaticano está vendendo a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, se continuar seguindo na mesma direção e com tudo o que vem fazendo nos últimos anos e meses.

(Asia News)

No mês passado, o Vaticano pediu a dois bispos "subterrâneos"  – que operam sem a aprovação do governo chinês, numa situação semelhante a dos bispos dos tempos das perseguições romanas – para renunciar em favor dos fantoches nomeados pelo governo comunista – um dos quais excomungado da Comunhão da Igreja em 2011(!).

Um deles, Guo Xijin, disse no fim de semana que obedecia "a decisão de Roma" e que respeitaria qualquer acordo entre as autoridades de Pequim e do Vaticano. Guo e o segundo bispo, Zhuang Jianjian, estão sob vigilância policial e Guo vem sendo repetidamente detido, inclusive por 20 dias no ano passado.


A situação atual e a propaganda

A questão das nomeações de bispos está no centro dos esforços para restabelecer as relações entre o Vaticano e a China, que foram separadas oficialmente após a fundação do Estado comunista em 1949.

Há entre 10 a 12 milhões de católicos na China, com cerca de metade adorando em igrejas subterrâneas e metade em igrejas geridas pelo governo. O governo chinês nomeou sete bispos, que não são reconhecidos por Roma. Até 40 bispos subterrâneos apoiados por Roma operam sem a aprovação do governo chinês.

As negociações para restaurar os laços entre os dois poderes começaram há mais de 18 meses, mas a questão dos bispos tem sido um obstáculo importante.

No ano passado, o presidente chinês, Xi Jinping, disse ao congresso do Partido Comunista que "as religiões na China devem ser orientadas pelos chineses", e que o governo deve "fornecer orientação ativa às religiões para que elas possam se adaptar à sociedade socialista".

Novos regulamentos entraram em vigor em 1 de fevereiro, especificando os tipos de organizações religiosas que podem existir, onde podem existir e as atividades que podem organizar.

Houve uma repressão às igrejas protestantes em expansão, sendo que muitas foram forçadas a remover as cruzes de seus templos e outras foram dissolvidas.

De acordo com a carta aberta dos líderes católicos citados no início desta, "o partido comunista na China, sob a liderança de Xi Jinping, destruiu repetidamente cruzes e igrejas, e a 'Associação Patriótica Católica da China', controlada pelo Estado, mantém um pesado controle sobre os católicos".

"A perseguição religiosa nunca parou. Xi também deixou claro que o partido fortalecerá seu controle sobre as religiões", prossegue a carta, e continua: "Não vemos nenhuma possibilidade de que o próximo acordo possa levar o governo chinês a cessar com a perseguição à Igreja e a parar suas violações da liberdade religiosa".

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Com informações do 'The Guardian' e 'National Catholic Register'

Santificar o carnaval é possível – e as divinas beneficências aos que o fazem


Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris” [Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas riquezas]
(Ecclus. 22, 28)

Prólogo

Para desagravar o Senhor ao menos um pouco dos ultrajes que lhe são feitos, os Santos aplicavam-se nestes dias do Carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à oração, à penitência, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com seu Bem-Amado. Procuremos imitar estes exemplos, e se mais não pudermos fazer, visitemos muitas vezes o Santíssimo Sacramento e fiquemos certos de que Jesus Cristo no-lo remunerará com as graças mais assinaladas.


* * * * * * * *

POR ESTE AMIGO, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de Carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagine-se quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas e quiçá até mesmo por pessoas que lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

Beato Henrique Suso
É por isso que os santos, afim de desagravarem o Senhor um pouco de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de Carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo de carnaval Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o Sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso afim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de auditório numerosíssimo. Tendo o conhecimento de que algumas pessoas por ele dirigidas se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à Comunhão frequente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de Carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os Santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na Presença de Jesus sacramentado, ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.

Ut et in bonis illius laeteris” [para que te alegres com ele nas suas riquezas. O meio para adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do Céu as graças mais assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazeres-lhe companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris. Oh, como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias de Carnaval lhes são oferecidos pelas almas suas prediletas!

Santa Gertrudes
Conta-se na vida de Santa Gertrudes que certa vez ela viu num êxtase o divino Redentor que ordenava ao Apóstolo São João que escrevesse com letras de ouro os atos de virtude feitos por ela no Carnaval, afim de a recompensar com graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na “quinta-feira gorda”, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa (como disse) dos obséquios praticados pela Santa no tempo de tantas ofensas.


Santa Catarina de Sena
Amabilíssimo Jesus, não é tanto para receber os vossos favores, como para fazer coisa agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que vos amam, para vos desagravar da ingratidão dos homens para convosco; ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei. ― Em compensação de cada ofensa que recebeis, quero oferecer-vos todos os atos de virtude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria Santíssima, e mesmo as que fizestes Vós mesmo quando estáveis nesta Terra. ― Entendo renovar esta minha intenção todas as vezes que nestes dias disser: ‘Meu Jesus, misericórdia!’[1]. ― Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a vosso divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.”

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1. Indulgência de 300 dias cada vez.
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Fonte:
SANTO AFONSO DE LIGÓRIO. Meditações Para todos os dias e Festas do ano, tomo I.
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Abuso na Missa pelo falecimento da ex-primeira dama: igreja é transformada em palanque político e a santa Missa torna-se comício petista

Por Padre Ricardo de Barros Marques


O corredor central da igreja foi forrado com bandeiras e cartazes de apologia a Lula e apoio ao PT. Graças a Deus, os tempos são outros: desta vez, muitos fiéis, constrangidos, indignaram-se e protestaram!

A PROVÍNCIA FRANCISCANA da Imaculada Conceição do Brasil pronunciou-se a respeito do abuso que foi cometido em uma Missa celebrada no sábado dia 3 de fevereiro último num convento da Ordem Franciscana no Rio de Janeiro quando instrumentalizaram a celebração sagrada, transformando-a numa espécie de comício do PT.

Era para ser simplesmente a Missa pelo aniversário de falecimento da esposa do condenado pela justiça, sr. Lula da Silva, mas virou ode ao partido, causando escândalo aos fiéis católicos.

O que ocorreu [graças ao Bom Deus!] foi reprovado pela Província. Na nota de esclarecimento percebe-se que houve a reação do Superior franciscano graças a pressão feita nas redes sociais.

Abaixo, a reprodução da nota pública assinada pelo Ministro Provincial dos franciscanos.


Clique para ver a imagem ampliada


Segundo o site O Antagonista, também o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta, reprovou o uso de solo sagrado para o que teria chamado de "evento partidário" (veja).

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Um balanço da época pós-conciliar (1985), pelo Cardeal Ratzinger – conclusão

O texto abaixo é a conclusão de uma análise do então Cardeal Joseph Ratzinger, publicado no livro 'Les principes de la théologie catholique - Esquisse et matériaux' (ed. Tequi, 2005) sobre as principais consequências do concílio Vaticano II para a história da Igreja, quando se havia passado uma década do seu encerramento. O texto, bastante interessante, é também revelador em certos aspectos. Rezamos a Deus para que seja útil aos nossos leitores.

Tradução do francês para O FIEL CATÓLICO por Roberto Leal Ferreira 



** Ler a primeira parte

Como se chegou à evolução pós-conciliar?

Para explicar os acontecimentos, vou tentar dar algumas indicações – só algumas.

Em primeiro lugar, cumpre tomar consciência de que a crise pós-conciliar da Igreja católica coincide com uma crise espiritual global da humanidade, pelo menos no mundo ocidental: não temos o direito de apresentar como produto do Concílio tudo o que abalou a Igreja nestes último anos.

A consciência humana não é só marcada por decisões voluntárias do indivíduo; é também formada, em boa medida, pelas condições exteriores, resultantes de fatores econômicos e políticos: a palavra de Jesus, segundo a qual é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus é uma referência a uma situação deste tipo, e é impossível não escutá-la. Darei um só exemplo, tirado de nossa própria história: o esboroamento da velha Europa durante a primeira guerra mundial modificou totalmente, de imediato, o panorama espiritual e, em especial, da teologia. O liberalismo antes reinante, produto de um mundo satisfeito e seguro de si, perdera de repente toda significação, enquanto seus grandes representantes ainda eram vivos e ensinavam. A juventude passou a seguir, não mais Harnack, mas Karl Barth: formava-se em meio aos problemas de um mundo transformado uma teologia inspirada estritamente na fé revelada e desejosa, mui conscientemente, de ser de Igreja.

O retorno da antiga prosperidade durante a década de 1960 foi acompanhada de uma reviravolta semelhante no pensamento. A nova riqueza e a má consciência que a acompanhava provocaram essa espantosa mescla de liberalismo e de dogmatismo marxista que todos conhecemos. É por isso que não temos o direito de exagerar a parte do Vaticano II na evolução mais recente; o mundo protestante também, sem Concílio, tem de superar uma crise semelhante, e os partidos políticos se veem obrigados a enfrentar fenômenos com as mesmas origens.

E, no entanto, em sentido inverso, o Concílio foi de fato um dos fatores que pertencem à evolução da história mundial. Quando uma realidade tão profundamente arraigada nas almas como a Igreja católica é abalada em suas fundações, o terremoto atinge a humanidade inteira.

Quais são, então, os fatores de crise que provêm do Concílio?

Acho que duas disposições desempenham aqui seu papel, tendo ganhado uma importância cada vez maior na consciência dos Padres conciliares, dos conselheiros e dos relatores do Concílio.

Compreendia-se a si mesmo o Concílio como um grande exame de consciência da Igreja Católica; queria, por fim, ser um ato de penitência, um ato de conversão. Isso fica claro nas confissões de culpa, no caráter apaixonado da autoacusação, que não se limitou aos grandes pontos nevrálgicos, como a Reforma e o processo de Galileu, mas se estendeu, na concepção da Igreja pecadora, até ao plano dos valores comuns e fundamentais. Chegaram a temer fosse triunfalismo tudo o que se assemelhasse a uma complacência na Igreja, nas conquistas do passado, no que se mantivera até nós. A essa torturadora poda do que é próprio da Igreja unia-se uma vontade quase angustiada de levar sistematicamente a sério todo o arsenal de acusações dirigidas contra a Igreja e de não desdenhar nenhuma delas. Isso acarretava, ao mesmo tempo, a inquieta preocupação com não ser culpado em relação ao outro, dele aprender todo o possível e não buscar e não ver nele senão o que é bom.

Tal radicalização da exigência bíblica fundamental da conversão e do amor do próximo levou à incerteza em relação à nossa própria identidade, que continua sendo questionada, e, mais especificamente, a uma atitude de ruptura em relação à nossa própria história, que apareceu como cheia de todos os vícios, de modo que um recomeço radical se impunha como uma obrigação urgente.

É aqui que se insere o segundo tema ao qual gostaria de chamar a atenção. Sobre o Concílio soprou algo da era Kennedy, algo do otimismo ingênuo do conceito de grande sociedade: podemos conseguir tudo, basta querermos empregar bem os meios adequados. A ruptura da consciência histórica, a renúncia masoquista ao passado introduziram a ideia de uma hora zero, em que tudo ia recomeçar de novo e, enfim, tudo seria bem feito no que até então fora mal feito. O sonho da libertação, o sonho do completamente diferente, que, pouco depois, ganharia um caráter cada vez mais assinalado na revolta dos estudantes, já reinava, de certo modo, sobre o Concílio. Foi ele que, primeiro, atraiu as pessoas e, depois, as decepcionou, assim como o público exame de consciência primeiro trouxe alívio e, depois, repugnância.

Para um psicólogo, esse processo do espírito conciliar constituiria um bom exemplo do modo como as virtudes, pelo exagero, se transformam em seu contrário. A penitência é uma necessidade para o indivíduo e para a sociedade. Mas a penitência cristã não significa a negação de si mesmo, mas a descoberta de si mesmo. Os velhos Atos dos mártires cristãos dizem com insistência que estes jamais tiveram nos lábios palavras de insulto contra a criação. Nisso, eles se distinguiam dos gnósticos, nos quais a penitência cristã se transformou em ódio contra o homem, ódio contra a vida pessoal, ódio contra a mesma realidade. A condição interior prévia da penitência é precisamente a aquiescência à realidade como tal. Exprime-se a sua inversão moderna, por exemplo, numa declaração do grande pintor Max Beckmann: « A minha religião é orgulho diante de Deus, revolta contra Deus. Revolta porque nos criou, porque não nos podemos amar. Em meus quadros, lanço contra Deus como uma censura pelo que fez mal ».

Vemos, aqui, algo de totalmente fundamental: a ruptura radical consigo mesmo, onde entramos em fúria contra nós mesmos, onde não mais podemos suportar a criação, nem em nós, nem nos outros; isso não é mais penitência, mas orgulho. Ali onde cessa o sim fundamental ao ser, à vida, a si mesmo, ali também desaparece a penitência, que então se transforma em orgulho. Pois a penitência pressupõe que é permitido ao homem aquiescer a si mesmo. É, por natureza, uma descoberta do sim, ao evacuar o que obnubila esse sim. É por isso que a autêntica penitência leva ao Evangelho, ou seja, à alegria - à alegria também que encontramos em nós mesmos. A forma de autoacusação a que se chegou no Concílio, em relação à nossa própria história, não compreendia suficientemente isso e levou a manifestações de caráter neurótico.

Que o Concílio tenha abandonado formas falsas de autoglorificação da Igreja na terra; que, no que se refere à história da Igreja, tenha suprimido a tendência a defender todo o passado e, portanto, uma forma errônea de autodefesa, tudo isso foi bom e necessário. Mas é absolutamente necessário suscitar de novo a alegria de possuir intacta, em sua realidade, a sociedade de fé que provém de Jesus Cristo. É necessário redescobrir a via de luz que é a história dos santos, a história desta realidade magnífica em que se exprime vitoriosamente, ao longo dos séculos, a alegria do Evangelho. Se alguém, ao lhe evocarem a Idade Média, só encontrar na memória a lembrança da inquisição, devemos perguntar-lhe onde estão seus olhos: será que tais catedrais, tais imagens da eternidade, cheias de luz e de tranquila dignidade, teriam podido surgir, se a fé fosse apenas uma tortura para os homens?

Em suma: é preciso recordar com clareza que a penitência exige, não a desintegração da identidade pessoal, mas a sua redescoberta. E quando começar a se afirmar uma atitude positiva em relação à história, então desaparecerá por si mesma a utopia que imagina que até hoje tudo foi mal feito e que doravante tudo será bem feito. Os limites do realizável foram-nos bem claramente expostos pela maneira como terminou a era Kennedy, e a pacificação espiritual que julgamos observar hoje vem necessariamente, por um lado, de termos reencontrado um melhor equilíbrio entre realizar e receber, entre o cálculo e a meditação.

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Um balanço da época pós-conciliar (1985), pelo Cardeal Ratzinger

O texto abaixo é uma análise do então Cardeal Joseph Ratzinger, publicado no livro 'Les principes de la théologie catholique - Esquisse et matériaux' (ed. Tequi, 2005) sobre as principais consequências do concílio Vaticano II para a história da Igreja, quando se havia passado uma década do seu encerramento. O texto, bastante interessante, é também revelador em certos aspectos. Rezamos a Deus para que seja útil aos nossos leitores.

Tradução do francês para O FIEL CATÓLICO por Roberto Leal Ferreira 



Primeira parte

QUANDO RECEBI DIVERSOS pedidos, das partes mais diversas, em 1975, para estabelecer um balanço dos dez anos que se seguiram ao Vaticano II, pensei primeiro nos primeiros dias do Concílio. Convidara-me o cardeal Frings, em 12 de outubro de 1962, portanto, às vésperas da sessão de abertura, a expor diante dos bispos de língua alemã os problemas teológicos que teriam de enfrentar em seu trabalho conciliar. Procurando uma introdução adequada que ressaltasse algo da natureza mesma dos Concílios, topei com um texto de Eusébio de Cesareia, membro do primeiro concílio ecumênico da história da Igreja, o de Niceia, em 325. Ele assim resumia as suas impressões acerca dessas assembleias da Igreja:

« Reuniram-se os mais importantes servidores de Deus de todas as igrejas da Europa, da África e da Ásia inteiras. E uma só Igreja, como dilatada à dimensão do mundo, pela graça de deus, continha sírios, cilicianos, fenícios, árabes e palestinos; também egípcios, tebanos, africanos e mesopotâmios. Havia até um bispo persa. Não faltou a esse coro um cita. O Ponto e a Galácia, a Capadócia e a Ásia, a Frígia e a Panfília haviam enviado homens de escol. Mas vieram também trácios, macedônios, aqueus e epirotas e gente que morava ainda mais longe... Havia até um célebre espanhol entre os participantes dessas assembleias.»

No plano de fundo dessas entusiásticas palavras, reconhecemos a descrição de Pentecostes dada por Lucas nos Atos dos Apóstolos, e isso também ressalta o pensamento que Eusébio vincula à sua exposição: Niceia foi um novo Pentecostes, a verdadeira realização do sinal de Pentecostes; por fim a Igreja fala realmente em todas as línguas, nisso reconhece a fé única e se apresenta como a Igreja do Espírito Santo.

O Concílio é um Pentecostes – era este o pensamento que correspondia ao nosso próprio sentimento na época; não só porque o Papa João o formulara como voto e como prece, mas porque ele exprimia o que havíamos sentido ao chegar à cidade conciliar: encontro com bispos de todos os países, de todas as línguas, muito além do que fosse imaginável para Lucas ou Eusébio, e com isso a experiência vivenciada da catolicidade real, com sua esperança de Pentecostes: este era o auspicioso signo desses primeiros dias do Vaticano II.

Era essa, então, a situação na época. Como introdução à retrospectiva solicitada, ficava descartado um texto tão “triunfalista”. O clima mudou completamente. Topei com outro texto patrístico, escrito cerca de 50 anos mais tarde, que reflete uma mudança de perspectiva muito parecida com a que conhecemos hoje. Seu autor é Gregório de Nazianzo, um dos grandes herdeiros de Niceia e ele mesmo Padre conciliar no Concílio de Constantinopla, de 381, que completou a fórmula de Niceia com a declaração explícita da divindade do Espírito Santo. Nem se haviam encerrado completamente as deliberações, em 381, e o Imperador mandara convidar, pelo funcionário Procópio, o célebre bispo e teólogo Gregório para uma espécie de segunda sessão, marcada para 382, que também aconteceria em Constantinopla. Foi lacônica a resposta de Gregório, uma recusa assim justificada:

«Para dizer a verdade, considero que se deva evitar toda assembleia de bispos, pois nunca vi nenhum Concílio que tivesse final feliz ou pusesse um ponto final nos males.»

Martinho Lutero, que em sua primeira fase exigira apaixonadamente a convocação de um Concílio livre e geral, citou esse texto em seu escrito redigido em 1539, Dos Concílios e das Igrejas, e exprimiu a sua opinião definitiva sobre o valor e as desvantagens dos concílios. Esse recuo do entusiasmo quanto aos concílios tem, em Lutero, suas próprias motivações, que o católico, é claro, não há de compartilhar: Lutero percebera que um concílio da Igreja precisava confirmar a doutrina da Igreja. Não podia, portanto, esperar satisfação da parte dele, já que ele mesmo se colocara em contradição não só com os abusos, mas com a doutrina mesma da Igreja; por isso, ele lutou em favor da supremacia do poder secular, em que apostava suas fichas.

Mas embora não devamos dar importância demais ao juízo negativo de Lutero sobre os concílios, o de um dos Padres que formularam a ortodoxia da Igreja nos concílios do século IV conserva o seu peso. Pode-se, é claro, objetar que Gregório, o Teólogo, por melhor teólogo que fosse, era, no plano humano, um hipocondríaco, uma natureza supersensível de poeta. Mas isso dá um peso ainda maior ao fato de que uma das grandes figuras do século dos grandes concílios, eminente até no plano humano, Basílio, amigo de Gregório, formula um juízo objetivamente ainda mais forte. Fala de «alarido indistinto e confuso» no desenrolar-se da discussão conciliar, de um «clamor ininterrupto que enchia toda a igreja ».

Graças a uma espécie de visão macroscópica da história que hoje temos dos acontecimentos daquela época, somos obrigados, porém, a contradizer a opinião dos dois bispos: esses grandes concílios dos séculos IV e V se tornaram faróis da Igreja, que mostram o caminho que leva ao coração da Sagrada Escritura e, pela marca que deixaram de sua interpretação, ressaltam claramente a identidade da fé ao longo do tempo. Mas, se o juízo formulado pela história foi globalmente diferente, como a distância só nos faz ver como durável o que é grande, e como grande o que subsistiu, é claro que os contemporâneos imediatos estiveram continuamente expostos às mesmas experiências que as narradas por esses testemunhos do século das grandes decisões fundamentais. Ante a visão macroscópica, há, por assim dizer, a visão microscópica, aquela que olha de perto; e, olhando de perto, não há como negar que quase todos os concílios tiveram inicialmente como efeito abalar o equilíbrio, agindo como fatores de crise.

O concílio de Niceia, que levara a bom termo a formulação da filiação divina de Jesus, foi seguido de uma guerra de desgaste que ocasionou a primeira grande ruptura da Igreja, o arianismo, depois de ter dilacerado profundamente a Igreja durante décadas.

Não foi diferente depois do concílio de Calcedônia, onde fora definido, ao mesmo tempo que a verdadeira divindade de Cristo, sua verdadeira humanidade. A chaga que então se formou ainda não cicatrizou, até hoje: os fiéis herdeiros do bispo Cirilo de Alexandria sentiram-se traídos por fórmulas que se opunham à sua tradição, piedosamente conservada; como cristãos monofisitas, constituem ainda hoje, no Oriente, uma minoria considerável, que, pelo simples fato de existir, nos faz sentir ainda algo da aspereza das controvérsias de então.

Ao aproximarmo-nos de nossa época, vemos surgir a lembrança do Vaticano I, cujos prolongamentos levaram ao fim de muitas faculdades de teologia católicas na Alemanha; foram necessárias décadas para que as feridas cicatrizassem.

Assim, a evolução crítica consecutiva ao Vaticano II situa-se numa longa história; ela não pôde suscitar realmente o acontecimento senão porque o entusiasmo do início camuflara as experiências do passado; e talvez também porque se acreditava ter feito tudo de um jeito diferente e melhor: um concílio que não dogmatizava e não excluía ninguém parecia não chocar a ninguém, repugnar a ninguém, mas só atrair a todos. Na verdade, nele aconteceu o mesmo que nas outras assembleias da Igreja que o precederam; já ninguém pode contestar seriamente as manifestações de crise a que levou.

Restam, é claro, resultados claramente positivos que não temos o direito de minimizar. Para nos limitarmos aos resultados teológicos mais importantes, o Concílio reinseriu no conjunto da Igreja uma doutrina do primado, que ainda permanecia perigosamente isolado; reintegrou no mistério do corpo de Cristo uma concepção da hierarquia também ela isolada demais. Vinculou ao grande conjunto da fé uma mariologia isolada, devolveu à palavra bíblica a plenitude de sua nobreza. Tornou a liturgia de novo acessível. E, com tudo isso, deu também um corajoso passo no sentido da unidade dos cristãos.

É possível que, mais tarde, num olhar macroscópico do período do Vaticano II, só os resultados venham a contar e que hoje mesmo haja homens que, por assim dizer, já vivem na macro-perspectiva e julguem a partir dela.

Mas, para o contemporâneo que tem responsabilidades imediatas, o que talvez um dia, do ponto de vista macroscópico, venha a ser a única coisa marcante pode muito bem, hoje, não ser a única realidade. Ele está exposto, no dia-a-dia, aos fatos mínimos, e deve lutar para tomar as decisões certas.

Mas para uma visão assim próxima, há fatores negativos incontestáveis, gravíssimos e, em boa medida, inquietantes.

Assim, (para só indicar, uma vez mais, só alguns pontos) o fato de que as nossas igrejas, os nossos seminários, os nossos claustros venham esvaziando-se cada vez mais nestes últimos dez anos pode parecer evidente a todos, pelas estatísticas, se não tiver sido observado pessoalmente. Ou então, o fato de que o clima na Igreja se tenha tornado não mais simplesmente glacial, mas também rancoroso e agressivo, é algo que não precisa de provas complicadas: que de toda parte as divisões dilacerem a comunidade é algo que pertence à nossa experiência quotidiana, algo que ameaça obscurecer a alegria de ser cristão. Quem diz este tipo de coisa é logo taxado de pessimista e, assim, excluído do diálogo. Mas se trata aqui mui simplesmente de fatos empíricos, e ver-se na necessidade de negá-los já denota não mais um simples pessimismo, mas um secreto desespero. Não! Ver os fatos não é pessimismo, mas objetividade; só depois vem a questão do significado de tais fatos, de sua origem e da maneira de abordá-los. Assim, para dar sequência a estas considerações, duas questões se põem: a das razões dessa evolução e a da verdadeira resposta a dar aos problemas.

** Ler a conclusão

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Fonte:
'Bilan de l'époque post-conciliaire (I)', do site Benoit et moi disp. em:
http://benoit-et-moi.fr/2018/benot-xvi/bilan-de-lepoque-post-conciliaire-i.html
Acesso 1/2/2017

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João Cassiano – As Conferências

O artigo abaixo é uma resenha de Igor de Andrade que pretende servir de apresentação do curso online do Prof. Dr. Joel Gracioso* (Fraternidade Laical São Próspero) sobre João Cassiano e suas Conferências. A relação completa dos cursos oferecidos pelo professor está disponível aqui.



NASCIDO NO ANO 360 d.C., no Império Romano do Oriente, João Cassiano é considerado o pai do monaquismo ocidental; fundou seu próprio mosteiro na França e é reconhecido como um dos Padres do Deserto e escritor eclesiástico.

O curso sobre a vida e a obra de João Cassiano aborda temas como o monaquismo e tradição filosófica grega, a pureza de coração, a discrição, as treze renúncias, os desejos da carne e os do espírito, os oito vícios espirituais, a mobilidade da alma e dos espíritos malignos, das distrações e a oração.

Além da óbvia influência da cultura judaica, o Cristianismo teve, desde cedo, contato com a cultura grega – o que deixou marcas na própria identidade do cristianismo, que além de se apresentar como a religião do Caminho da Salvação, também se apresentava como a Religião do Logos.

João Cassiano, inserido neste contexto religioso e filosófico, conhecia muito bem as culturas latina e grega (do Império Romano do Ocidente e do Oriente), e escreveu em língua latina muito do que aprendeu em língua grega. Sofreu influência de gigantes como, por exemplo, Evágrio Pôntico.

Nas Conferências, o autor fala, sobretudo, a respeito do homem interior e da vida interior – além de tratar do modo mais adequado de agir para que este homem interior logre êxito, isto é, para que consiga atingir o seu fim último. Este é o motivo de o texto das Conferências ser tido tradicionalmente como um manual de perfeição cristã.

Primeiro de tudo, há a necessidade de conhecer cada vício, isto é, conhecer a natureza de cada um, pois, conhecendo a natureza de cada vício, é mais fácil conhecer o método para poder superá-los e, mais ainda, para poder curar-se deles. Porque não basta largar o vício, deve-se preencher o espaço com alguma virtude, para que “o demônio não encontre a casa vazia e volte com outros sete piores” (Cf. Mt 12, 43-45).

Além disso, se faz necessário conhecer a ordem das virtudes, ou seja, numa hierarquia de importância e necessidade, saber quais devem vir em primeiro lugar; e, depois, conformar a vida à virtude, isto é, “partir pra ação”, lutar contra si mesmo para conquistar as virtudes.

O certeiro caminho para uma vida santa é ensinado por João Cassiano – e apresentado pelo Profº Dr. Joel Gracioso, especialista em Filosofia Patrística e professor fiel à Sã Doutrina. Sem dúvidas, não correrão fora do caminho aqueles que conhecerem o certo e aprenderem a percorrê-lo do modo que mais agrada a Nosso Senhor.

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