
A JORNALISTA DIANE Montagna revelou, em reportagem recente (1/7/2025) que a avaliação geral do Vaticano sobre a consulta aos bispos, que se acreditava ter levado o Papa Francisco a implementar o motu proprio Traditionis Custodes em 2021, o qual suprimia a celebração da Missa de Sempre, demonstrou que a maioria dos bispos estava satisfeita com a implementação do Summorum Pontificum e a manutenção dos grupos tradicionais, e também acreditava que mudanças no motu proprio de Bento XVI faria "mais mal do que bem".
“A maioria dos bispos que responderam ao questionário afirmou que fazer mudanças legislativas no Summorum Pontificum causaria mais mal do que bem”, definiu o relatório, que contradiz frontalmente a afirmação de Francisco em sua carta que acompanhava a controversa Traditionis Custodes, a qual declarava que a avaliação dos bispos considerava a implementação da decisão de Bento XVI como uma "fonte de divisão na Igreja".
De acordo com o relatório, a avaliação geral do Vaticano mostra que, embora os bispos tivessem preocupações sobre a suposta "divisão" dos participantes da Missa Tridentina que rejeitam o Concílio Vaticano II e mantém outras divergências com a linha pastoral da Igreja após esse evento, a maioria das "lacunas", "divergências" e "desacordos" que Francisco citou na verdade decorrem da resistência de uma minoria de bispos ao Summorum Pontificum.
“A maioria dos bispos que responderam ao questionário, e que implementaram o Summorum Pontificum de forma generosa e inteligente, expressaram satisfação com ele”, afirma o relatório. “Em lugares onde o clero cooperou estreitamente com o bispo, as divisões foram completamente pacificadas”, prossegue.
A Traditionis Custodes, que levou à supressão de inúmeras iniciativas para a celebração da Missa em latim ao redor do mundo, foi denunciada pelo clero e acadêmicos como uma rejeição à prática perene da Igreja Católica e até mesmo ao ensinamento solene da Igreja, e segue causando estragos até os nossos dias. Curiosamente, nada causou tanta divisão no seio da Igreja, em sua história recente, quanto a implementação desse mais que polêmico motu proprio.
O cardeal Raymond Burke afirmou que a liturgia tradicional não é algo que pode ser excluído da “expressão válida da lex orandi”. De fato, nenhum Papa sequer possui autoridade para isso, já que a celebração da Missa em latim e segundo o rito codificado por São Pio V está garantida solene e perpetuamente pela bula Quo Primum Tempore, promulgada em 14 de julho de 1570: “Trata-se de uma realidade objetiva da Graça divina que não pode ser mudada por um mero ato de vontade, nem mesmo da mais alta autoridade eclesiástica”, escreveu o cardeal em 2021.
O liturgista Dr. Peter Kwasniewski também implorou aos padres que resistissem à Traditionis Custodes e à Responsa ad dubia que a acompanha, "independentemente de ameaças ou penalidades", uma vez que a obediência a esses documentos prejudicaria a própria missão da santa Igreja Católica. Kwasniewski ressaltou que “o culto litúrgico tradicional da Igreja, sua Lex Orandi (Lei da Oração)”, é uma expressão “fundamental” de sua Lex Credendi (Lei da Fé), que não pode ser contrariada, abolida ou fortemente reescrita dessa maneira sem rejeitar a continuidade guiada pelo Espírito da Igreja Católica como um todo”.
"A Missa tradicional pertence à parte mais íntima do bem comum na Igreja. Restringi-la, empurrá-la para guetos e, em última análise, planejar sua extinção, não tem legitimidade. Esta lei não é uma lei da Igreja porque, como diz Santo Tomás de Aquino, uma lei contra o bem comum não é lei válida", disse ele em um discurso na Conferência de Identidade Católica de 2021.
Recentemente, uma campanha de cartas foi lançada pelo Faithful Advocate, um apostolado criado na Diocese de Charlotte (Carolina do Norte), convidando paróquias e católicos de todo o mundo a escreverem ao Papa Leão XIV, "pedindo-lhe que revogue a Traditionis Custodes e proteja a Sagrada Liturgia em todo o mundo".
Há um movimento forte a favor da liberação da Missa de Sempre, sem restrições. A uma Igreja que acolhe a praticamente tudo e todos não cabe perseguir e reprimir somente um grupo que quer continuar vivendo sua Fé conforme a Igreja ensinou desde sempre, até a demolição do Concílio do Vaticano II que alguns chamam de "reformas". Isso vai surtir algum efeito? Alguns querem crer que sim, mas o fato é que Leão XIV já tem tomado decisões e assumido posturas bastante desanimadoras. Recentemente, nomeou o Cardeal Arthur Roche, que liderou o ataque do falecido pontífice contra a Missa tradicional, com diversos apoiadores da "bênção homossexual" para o Dicastério para a Vida Consagrada[1].
A cada dia que passa, aprofunda-se e torna-se mais e mais radical a separação entre progressistas, conservadores e tradicionalistas no seio da Igreja. Ao que tudo indica, logo a convivência se tornará praticamente insuportável, e a missão assumida por Leão XIV, de trazer "união" a essas partes inconciliáveis, parece nada menos que humanamente impossível. De fato, não pode haver união entre luz e trevas, e uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir: estas são verdades elementares da Fé cristã e católica ensinadas diretamente por Nosso Senhor. Maranatha, Domine, quia patimur![2]
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[1] Conforme divulgado no boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé de 24 de junho de 2025, Leão XIV nomeou 19 novos membros para o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica (DICLSAL). Os novos membros incluem cinco cardeais, cinco bispos, quatro padres, quatro religiosas e uma leiga. Entre os cardeais estão certas figuras notáveis, como:
• Cardeal Arthur Roche: prefeito do Dicastério para o Culto Divino do Papa Francisco, que liderou o ataque do falecido pontífice contra a Missa tradicional, impondo-lhe severíssimas restrições;
• Cardeal Cristóbal López Romero: Arcebispo de Rabat que apoiou bênçãos para casais do mesmo sexo sob a Fiducia Supplicans, acrescentando que a sinodalidade é um “sinal profético” para o mundo e que os oponentes de suas decisões são “moralmente obrigados a apoiá-las”;
• Cardeal Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), que tem dado declarações contraditórias sobre seu apoio ao controverso "rito amazônico", ao mesmo tempo em que apoia as bênçãos da Fiducia Supplicans para casais do mesmo sexo;
• Outras nomeações não cardinalícias para o dicastério incluem superiores religiosos masculinos e femininos, além de Luisa Muston, uma leiga que lidera o instituto secular chamado Missionárias dos Enfermos “Cristo Esperança”.
[2] Volta, Senhor, porque padecemos!
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Com informações de
CAMBRIA, Antonino, para o LifeSiteNews, "Vatican report reveals most bishops did not want Pope Francis’ Latin Mass crackdown", disp. em:
https://www.lifesitenews.com/news/breaking-vatican-report-reveals-most-bishops-did-not-want-pope-francis-latin-mass-crackdown/
MANGIARACINA, Emily, idem, "Letter campaign urges Pope Leo to restore Latin Mass after US bishops crack down", disp. em:
https://www.lifesitenews.com/news/letter-campaign-urges-pope-leo-to-restore-latin-mass-after-us-bishops-crack-down/
HAINES, Michael, idem, "Pope Leo appoints Cardinal Roche, same-sex ‘blessing’ supporters to Dicastery for Consecrated Life", disp. em:
https://www.lifesitenews.com/analysis/pope-leo-appoints-cardinal-roche-same-sex-blessing-supporters-to-dicastery-for-consecrated-life/?utm_source=digest-catholic-2025-06-25&utm_medium=email
Acesso 2/7/2025.
Saudações e parabéns pelo trabalho neste apostolado! Por gentileza, o senhor poderia me informar qual é o status atual junto à Igreja Católica, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e da Fraternidade São Pedro? Eles são ainda considerados sismáticos??
ResponderExcluirSalve Maria! Caríssimo, são situações diferentes. A FSSPX permanece canonicamente irregular perante Roma, mas não são "excomungados" nem "cismáticos", como alguns imaginam, e os Sacramentos ministrados por eles são plenamente válidos.
ExcluirNos últimos tempos tem ocorrido uma grande movimentação de sacerdotes, religoso(a)s e leigos para a FSSPX, como única saída para não ter que obedecer a ordens heterodoxas de seus superiores, especialmente no que tange à liturgia e à moral. Além de casos famosos aqui no Brasil, no final do ano passado, um mosteiro de freiras carmelitas de Arlington, Texas, EUA, anunciou que estava se filiando à FSSPX.
A irregularidade canônica da FSSPX se dá pelo fato de manterem uma posição de resistência ao Concílio Vaticano II e suas "reformas", defendendo a preservação da Tradição católica. Apesar de não estar em "plena comunhão" com Roma, tem havido diversos gestos de aproximação nos últimos anos, inclusive, por incrível que possa parecer, durante o pontificado de Francisco, como a concessão papal para as confissões feitas com padres da FSSPX.
Já o caso da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) é completamente diferente; esta está em plena comunhão com Roma. Fundada justamente por padres que se separaram da FSSPX, com o intuito de recuperar a união com o Papa, a FSSP é canonicamente reconhecida pela Igreja Católica, sendo uma sociedade de vida apostólica de direito pontifício, dedicada especialmente à celebração da "forma extraordinária" do rito romano (missa tridentina), mas em total obediência à Santa Sé.
Henrique Sebastião
Fraternidade Laical São Próspero