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Aí está ele. Não parece, mas é o bispo... |
Por Caio Lopes
CAUSOU MUITA ESPÉCIE no meio católico a recente declaração de Dom Antônio Carlos Cruz, bispo de Caicó, no Rio Grande do Norte (foto). O prelado, durante a celebração de uma Missa, afirmou [nada mais, nada menos] que “a homossexualidade é um dom de Deus”[!]. A fala soa estranha, sem dúvida, especialmente àqueles mais habituados à religião cristã. Cumpre agora, portanto, compreender o sentido de tal assertiva – e o principal: se ela é condizente com a doutrina da Igreja a que se filia o pontífice.
O primeiro sentido possível é o de que a homossexualidade seria uma coisa boa e desejável, sendo um dom outorgado pelo próprio Deus a alguns de Sua escolha. Neste caso, os homossexuais seriam, de certa forma, mais agraciados que os indivíduos com a orientação sexual normal, isto é, heterossexual. Quanto a este sentido, fica evidente sua discordância em relação à doutrina católica. Com efeito, a Igreja, em consonância com as Escrituras Sagradas, ensina e sempre ensinou que os atos homossexuais são maus em si, intrinsecamente desordenados, não se justificando em situação alguma. Independentemente da Revelação cristã, chega-se facilmente a esta mesma conclusão, porquanto a função do ato sexual é a procriação, e a relação homossexual por certo não se presta a este fim (ou, como está na boca do povo, aparelho excretor não reproduz). Aos que negam a fé cristã e a própria ideia de razão natural, restam ainda os dados empíricos: ser homossexual faz mal à saúde, ainda que não haja contágio venéreo, pois o ato, sendo desordenado em si, prejudica os órgãos nele envolvidos.
Este primeiro sentido, ainda, faz transparecer a opção ideológica e teológica do prelado, e ela é pela [assim chamada] "'teologia' da libertação". Enxergar o homossexualismo como um "dom de Deus", outorgado por Ele a um grupo "oprimido", é colocar os homossexuais num pedestal, de tal forma que eles passam a ser o grupo que deve ser redimido – e a redenção aqui tem um sentido puramente materialista. Na nova "'teologia' da libertação", assim como na nova esquerda, não são os pobres que esperam ser libertados, mas sim as mulheres, os gays e todas as outras [supostas] minorias, adotadas como animais de estimação pelos seus “libertadores”. Percebe-se, assim, na fala do bispo, uma mudança de orientação da teologia esquerdista brasileira, que, cansada de perder os pobres para as seitas neopentecostais, procura ajustar-se ao discurso politicamente correto do século XXI, numa tentativa de atrair para si a classe média universitária, como o fez nas décadas de 1960/1980 com o discurso socialista (a falecida JUC – Juventude Universitária Católica é testemunha disso).
Mas saiamos deste nível interpretativo rasteiro. Da mesma forma que o demônio usou as Escrituras para tentar o Salvador, usemos desta frase pouco católica para promover a causa da Verdade. Eu poderia dizer, com o bispo, que a homossexualidade é de fato um dom de Deus, mas apenas aos que sabem o que fazer dela. Os grandes santos da Igreja de Cristo, como narram suas vidas, sempre viram os sofrimentos e as humilhações, as opressões e a escassez, como dádivas divinas. E por isso diziam, ecoando o Apóstolo, que se compraziam em perseguições, em fome e em nudez por causa de Cristo, por Quem lhes valia a pena perder tudo para ganhá-l’O. Se uma pessoa com tendências homossexuais busca mortificar-se, sendo continente e jamais as pondo em prática, poderá santificar-se por meio desta privação. E seu mau desejo, se plenamente submetido à Vontade de Deus, lhe será causa de maior glória, não neste mundo, mas no vindouro. Assim [e somente assim], sua homossexualidade, enquanto cruz a ser carregada, poderia ser para ele um dom de Deus, uma outra causa de privação por amor a Cristo.
Se Sua Excelência disse o que disse tendo em vista este segundo sentido, foi plenamente católica sua fala; se tendo em vista o primeiro, desconheço qual Evangelho ele prega.
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Comentário do editor
Sei bem que boa parte de nossos diletos leitores terão achado o texto acima muito suave... E eu serei honesto se disser que concordo. Inflamam-se de ira santa, em nossos tempos, quantos sinceros amantes de Cristo, por fidelidade à sua Palavra?
Por outro lado, a ponderação, a argumentação equilibrada e imparcial, a honestidade e a justiça, bem como as palavras de admoestação ditas com brandura, são todas marcas distintivas de virtudes católicas, as quais não podemos renegar jamais.
Disse o Apóstolo: "Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura" (Gl 6,1). É neste espírito que o texto publicado acima reage ao escândalo em questão. Além disso, para bom entendedor, meia palavra basta, e um tapinha dado com luva de pelica, em determinadas situações, pode ferir bem mais que um potentíssimo soco aplicado com luva de boxe.
Por outro lado, bem, é verdade que isso só funciona com aqueles que têm vergonha na cara, algo que boa parte dos adeptos e promotores da maldita ideologia herética denominada "'teologia' da libertação" definitivamente não tem. Talvez por isso é que o mesmo Apóstolo tenha dito também: "Nós vos ordenamos, irmãos, em Nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a Tradição que de nós recebestes. (...) Caso alguém não preste obediência à nossa palavra (...), notai-o; não vos associeis com ele, para que fique envergonhado" (2Ts 3, 6.14).
Em todo caso, o texto de Caio Lopes é justo e, todo ele, plenamente verdadeiro. Outro fato inapelável é que a ponderação da parte final, ao demonstrar que em determinada situação a afirmação absurda do prelado poderia mesmo ser verdadeira, infelizmente só expõe ainda mais a tragédia e evidencia o quanto é terrível, lançando-nos em face a heresia desse bispo perdido, por tão claro e evidente que a sua pregação não se enquadra, de modo algum, naquela categoria.
Basta ouvir a sua pregação na íntegra (
ouça aqui o leitor, se tiver estômago forte), na qual ele, entre outras coisas, chama homossexualismo de "homoafetividade", fala em "orientação sexual" diferente, diz que a causa do sofrimento dessas pessoas está nos "preconceitos" da sociedade e de uma certa "cultura" desumana, além de dizer que o verdadeiro Evangelho é a "inclusão". Inclusão esta que, no contexto todo da sua homilia, seria o mesmo que aceitar abertamente a prática do homossexualismo como coisa boa e (misericórdia, Senhor!) "dom de Deus". Afirma, ainda, que a "homoafetividade" pode e deve ser vivida de maneira tão digna quanto a própria heterossexualidade, e que todos nós, católicos, deveríamos, por obrigação, nos livrar dos pavorosos (insiste muito nessa palavrinha) "preconceitos".
Assim é que eu, Henrique Sebastião, como odeio do mais fundo da alma a hipocrisia e as meias palavras, digo com todas as letras que estamos diante de (mais) um caso aberrante de bispo modernista e socialista pregando uma grave heresia em nome da Igreja de Cristo.
Se homossexualismo fosse sinônimo de "homoafetividade" (uma palavra desonesta inventada por militantes de esquerda para distorcer a realidade objetiva do mundo natural), então eu mesmo seria igualmente um homossexual, porque sou declaradamente um "homoafetivo". Ora, a palavra, por óbvio, é a junção de "homo" (do grego homos, que quer dizer 'igual'; 'o mesmo', e, no contexto em questão, refere-se à natureza sexual) mais "afeto". Pois bem, eu tenho uma relação de intensa "homoafetividade" com meus filhos homens, assim como tinha com meu falecido pai, e tenho com meu irmão de sangue e com tantos outros bons amigos e irmãos em Cristo: tive e tenho uma relação de afeto com todos estes, e são do mesmo sexo que eu.
A verdade simples, nua e crua, é que o que define aquele homem, mencionado pelo bispo na sua pregação, não é que ele tenha e/ou cultive "afeto" por outros homens, e sim que mantenha relações sexuais com outros homens. Ele é, portanto, um homossexual e não um "homoafetivo". Ponto final.
Ver um bispo (um bispo!) –, que por obrigação sagrada deveria ser um guardião da fé e da verdade –, falando em "homoafetividade", esta palavrinha desonesta inventada para distorcer a realidade objetiva, observável e demonstrável do mundo natural, é profundamente lamentável. Bem mais do que isso, é uma grande desgraça.
Dizer que denunciar as práticas homossexuais como pecado (assim como a Igreja sempre fez, em todos os tempos, e como afirmam categoricamente as Sagradas Escrituras) seria o resultado de "preconceito" e de uma "cultura" perniciosa e opressora, isso é heresia pura e simples, porque contraria uma verdade fundamental da fé.
Tudo nos leva a crer que aquilo que disse o revmo. padre Dariusz Oko, docente de Teologia na Pontifícia Academia de Cracóvia e Universidade João Paulo II, ao jornal “La Stampa” de Turim, é mesmo real: “Cava-se (hoje) na Igreja uma ‘homo-heresia’ apoiada numa ‘homo-máfia’, presente em todos os níveis da hierarquia eclesiástica”. Sim, é alarmante.
Cabe abrir parênteses para reafirmar o que deveria ser muito claro para todos: a Igreja não odeia os homossexuais. A Igreja, simplesmente, os vê como pessoas humanas que são, sem discriminá-los em razão de suas tendências ou preferências sexuais. Solidariza-se com eles e quer acolhê-los, amorosa e fraternalmente.
Ocorre que a sexualidade, na visão cristã, é sagrada. A clara complementaridade entre homem e mulher foi querida e criada por Deus, e não pode ser mudada pelo desejo humano. Por isso, a Igreja diz aos que praticam o homossexualismo que mudem a sua conduta e convertam-se ao Evangelho, e isto é o mesmíssimo que ela diz a todos os seus filhos.
A sexualidade humana, ferida pelo Pecado original, sofre com várias tendências destruidoras, como para o adultério, a pornografia que "coisifica" a pessoa humana, a masturbação, etc. Todos os cristãos, sem exceção –, tenham tendências homossexuais ou não –, são chamados a conter sua pulsão sexual desordenada e canalizá-la de forma produtiva no amor. Este, por sua vez, expressa-se tanto no celibato quanto no matrimônio aberto à vida.
A verdade pura e simples é que a Igreja, ao contrário de diversos outros setores da sociedade atual, inclusive muitos daqueles que se declaram muito "inclusivos", não discrimina os homossexuais, na medida em que prega a eles o mesmo que ensina a todos os católicos, indiscriminadamente: que o exercício da sexualidade só é possível dentro do matrimônio aberto à fecundidade, pois é esta a Vontade e o Projeto de Deus desde a Criação.
Finalizamos esta nossa abordagem com outras estarrecedoras palavras do mesmo padre Dariusz Oko, que se comporta, este sim, como legítimo pastor de almas:
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Pe. Dariusz Oko |
“A homo-heresia consiste numa recusa d(e parte d)o Magistério da Igreja Católica sobre a homossexualidade. Seus propugnadores não aceitam que a tendência homossexual seja uma perturbação da personalidade. E põem em dúvida que os atos homossexuais sejam contra a lei natural. Os defensores da ‘homo-heresia’ são a favor do sacerdócio dos homossexuais. A ‘homo-heresia’ é como uma versão eclesiástica do homossexualismo.
No período pós-conciliar, e especialmente a partir dos anos 70 e 80, esse grave erro se infiltrou em seminários e mosteiros do mundo todo em decorrência das ‘novas teologias’ e de seu modo de justificar os desvios morais.
O movimento modernista passou a recusar a castidade, a abstinência dos atos impuros, o celibato, e afinal aprovou que a sodomia não é obstáculo para a ordenação sacerdotal.
Em face desse erro – a Igreja já venceu inúmeros – o fato fundamental é que o Magistério da Igreja católica não muda. A homossexualidade não é conciliável com a vocação sacerdotal. Em consequência, não só está rigorosamente vedada a ordenação de homens com qualquer tipo de tendência homossexual (ainda que transitória), mas também sua admissão no seminário”.1
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1. Revista Cultura Família, "Sacerdote professor de Cracóvia denuncia 'homo-heresia' promovida por 'homo-máfia'", disp. em:
http://revculturalfamilia.blogspot.com.br/2015/02/sacerdote-professor-de-cracovia.html
Acesso 2/8/017
www.ofielcatolico.com.br