Educação: um caminho para a eternidade


Artigo do Prof. Erich Ferreira Caputo,
do Oratório Secular de S. Filipe Neri de São Paulo


PODE PARECER estranho para o homem moderno, mas a verdadeira educação deve ter um único fim: o encontro da alma com o que existe de mais eterno e imutável, isto é, Deus. E cabe à família dar o impulso para esse primeiro passo que levará a pessoa em direção à eternidade. Logo, pode-se dizer que a base da educação é a família, e por meio dessa afirmação é possível traçar um pouco dos atuais problemas pelos quais passa não só a nossa pátria como as demais nações do mundo.


As raízes de nossa educação

A Civilização Ocidental tem suas raízes na cultura judaico-cristã. O império romano cristianizado foi o grande difusor da estrutura da civilização cristã. Esse mesmo império, antes de passar pela cristianização de seus costumes pagãos, já entendia a instituição familiar como princípio norteador da vida.

A civilização romana bebeu dos conhecimentos vindos da civilização grega. Os estudos de Aristóteles valem como exemplo da grandeza e profundidade do pensamento grego, pois ele já havia intuído a existência de um Deus Criador. Também não se pode esquecer que nos diálogos socráticos já se falava de uma alma imortal. Toda a educação grega (Paideia) tinha como principal objetivo a formação de um cidadão completo, conhecedor de si mesmo e útil à sociedade.



A família romana mantinha a religião como elemento central em sua vida, e o pai era o sacerdote responsável por ela. O núcleo familiar e sua rotina religiosa expandiam-se, com seus hábitos e costumes, por toda a cidade. Para se tornar um cidadão romano, a criança recebia uma educação familiar religiosa que seria depois aprimorada pelo ensino formal, sendo este voltado em grande parte para sua vida na sociedade. Esse ensino envolvia gramática, matemática, retórica, oratória, música, astronomia e geometria.

Entretanto, como o aspecto pagão tem em seu interior o erro vindo do Pecado original, agravado pela falta da Graça, o comportamento religioso tinha inúmeros preceitos errôneos que levaram à decadência deste povo e ao afastamento gradual da religião antiga, principalmente daquilo que ela tinha de mais correto que era a obediência às leis naturais (entre elas, o amor à própria vida e à do próximo).

A degradação da educação fica visível no pensamento sofístico, que levava a pessoa a uma vida de aparência social e de pura vaidade, o que importava era o destaque que se podia conquistar diante da sociedade, e não mais de uma formação integrada entre a vida social e religiosa.

Com o colapso do império romano do ocidente, em cerca de 476 dC, boa parte da cultura antiga foi perdida. Coube à nascente Igreja Católica recolher, por meio dos mosteiros, toda a cultura ocidental, além de ser a fundadora e, principalmente, a professora de uma nova civilização.

O fim do Império deu origem ao chamado feudalismo, que veio a culminar com a formação de um novo império romano ocidental, porém não mais pagão e sim cristão. Sob a autoridade da Santa Igreja, terá origem a cristandade medieval.



A cultura clássica foi cristianizada pelas escolas monacais e todos aqueles que desejavam uma educação formal seriam então preparados a partir dos chamados Trivium (que reunia estudos de gramática, retórica e lógica/dialética) e Quadrivium, com o estudo das chamadas artes liberais (astronomia, matemática, geometria e música).

É fundamental notar que, nesse tempo, não era a formação do cidadão para o mundo que importava, mas sim sua preparação para buscar o Reino dos Céus (esta visão e este enfoque se concretizavam numa imensa diferença). As artes liberais eram o apoio fundamental para aqueles que almejavam um conhecimento das causas primeiras e para poderem, em vida, contemplar o fim último do homem e chegar à vida eterna.

As famílias que iam abandonando suas práticas pagãs e voltavam-se para a Verdade imutável; em seu seio, buscavam o mais cedo possível trazer a salvação para as almas das crianças.

Um estudioso sério que se proponha a observar os mil anos que decorrem do início da Idade Média até seu fim, vai notar que esse não é um "período de trevas" como certos historiadores iluministas e principalmente protestantes afirmaram, mas sim a época de uma busca incessante para conquistar a vida eterna. E a educação será a base para tal conquista.

A educação medieval atinge seu píncaro com o surgimento das universidades, no período conhecido como baixa Idade Média. Deve-se destacar que a universidade, uma das mais exaltadas instituições criadas pelo homem, teve sua origem na época medieval. E não surgiu por acaso nem de uma hora para outra, mas sim dentro de um processo gradual de preocupação da família e da Igreja Católica. Infelizmente, como num funesto efeito colateral, tal evento será o início da derrocada do próprio ensino medieval e o início da malfadada educação moderna.


O princípio da decadência do ensino e da educação

Seria de se supor que as universidades dariam continuidade ao ensino originado nas escolas monacais, mas tal coisa não aconteceu. O que se viu no decorrer dos anos foi uma formação cada vez mais especifica e especializada. A preocupação não era mais com a formação para o enobrecimento da alma, o conhecimento da verdade e, em última análise, a contemplação de Deus, ma sim com a mera conquista de um diploma que alavancasse uma carreira profissional. Esse fenômeno se alastrou por todas as nações da Europa.

As universidades são difusoras de novas ideias. E ideias por si só não podem causar nenhum dano, a não ser que se tornem perigosas pela ação do homem. Como o objeto principal do ensino (Deus) foi deixado de lado, abriu-se caminho para a entrada das mais diferentes formas de ver o mundo e a eternidade.

Os avanços que hoje vemos em medicina, engenharia, tecnologia, agricultura e outros se devem às universidades. Por outro lado, ideias como controle da natalidade, ideologia de gênero, o ecologismo como bandeira esquerdista, o relativismo religioso, a negação da existência de Deus e de uma alma imortal, o ateísmo militante e as grossas calúnias contra a Igreja também são frutos do ensino universitário voltado exclusivamente para o mundano. Tais ideias foram cada vez mais divulgadas por aqueles que se formavam na universidade, espalhando-se por todos os recantos e atingindo, inclusive, a família, o núcleo fundamental da sociedade.



O ensino e a necessidade de bons professores

Ao lado da família, outro ator importante para a educação é o professor. Seu papel é ser um mediador entre o conhecimento e o aluno. Por vocação, a dedicação dos professores leva a sacrifícios sem igual para se adquirir um conhecimento que será transmitido para os alunos.

Hoje, principalmente em nossa nação, essa é uma das profissões de menor prestígio. Uma das consequências é a falta de professores, já sentida em vários níveis de ensino. Urge o surgimento de bons professores que tenham uma formação completa, que amem o que fazem e, mais do que nunca, amem a Deus e à sua Igreja. Do mesmo modo que um professor ruim pode encher a cabeça dos alunos com ideias erradas, um bom professor pode auxiliar o aluno a alcançar o bom conhecimento e prepará-lo para buscar a vida eterna.

A Igreja, em sua sabedoria, conhece a importância de tais núcleos: família e escola (com seus professores) e também celebra o dia da santa reconhecida como Doutora da Igreja, modelo de professora que ensinou como amar a Deus e buscá-lo incessantemente, Santa Tereza d’Avila,.

Em escola pública do Brasil, alunas dançam o 'funk' em sala de aula – este foi o 'trabalho escolar' pedido por um professor
A restauração do ensino voltado para a contemplação da eternidade não é um caminho fácil. A família foi atacada e continua vindo sendo atacada, de modo especial nas últimas décadas, das mais diferentes formas, enquanto ia sendo esquecido o seu papel fundamental na formação das crianças. Cabe a nós, católicos, assumir esse processo de restauração.

Urge que sejamos exemplos como família e, também, exemplos de professores e fiscais (sim, senhor) dos próprios professores. Não importa em que lugar estivermos, em união com o Santo Padre e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, precisamos voltar a ser sal da Terra e a luz do Mundo.
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O islamismo, o terrorismo e a Civilização Cristã


OS TERRORISTAS QUE ASSASSINAM na França gritam ao matar: "Alah akibah!" ('Deus é grande'). Mas é fácil notar que o "deus" dessa gente é um deusinho pequenino, do tamanho da sua misericórdia e da sua capacidade de amar o próximo, construído à imagem e semelhança deles próprios, assassinos sujos. Um ídolo igualmente sujo, simulacro que deforma a verdadeira Imagem de Deus.

Já o Deus verdadeiro é o Autor e Mantenedor de toda a vida, o Deus verdadeiro é Vivo e Vivificante. É Amor, e Amor incondicional.

Nenhuma religião verdadeiramente monoteísta – que confesse e adore ao Deus único, transcendente, santo, soberano, magnânimo, todo-poderoso, infinitamente misericordioso, – poderia reduzir o Deus verdadeiro a um ídolo raivoso que se compraz com o derramamento de sangue inocente.

Todos nós, membros da grande humanidade, já deveríamos ter aprendido com a história de nossos erros que não se deve matar em Nome de Deus. Morrer, sim; matar, nunca! Quem grita "Deus é grande" deve testemunhar o que já dizia Santo Irineu no século II: "A glória de Deus é o homem vivo!". Qualquer crente que verdadeiramente tenha uma percepção da santidade e infinitude do Único Criador pode e deve subscrever as comoventes palavras do Livro da Sabedoria: 
Teu grande poder está sempre ao Teu serviço,
e quem pode resistir à força do Teu braço?
O mundo inteiro está diante de Ti
como esse nada na balança,
como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra.
Mas Te compadeces de todos, pois tudo podes,
fechas os olhos diante dos pecados dos homens,
para que se arrependam.
Sim, Tu amas tudo o que criaste,
não Te aborreces com nada do que fizeste;
se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito.
E como poderia subsistir alguma coisa,
se não a tivesses querido?
Como conservaria sua existência, se não a tivesses chamado?
Mas, a todos poupas, porque são Teus:
Senhor, Amigo da vida!"
(Sb 11,21-26)

Na verdade, não foi em Nome de Deus que esses assassinaram; foi em nome de um fanatismo, de revertidas ideias totalitárias, que sempre matam, sejam pela política (como na Coreia do Norte, Cuba ou Venezuela), seja por religião, seja em qualquer outro âmbito da existência.

As convicções que cada um tenha, devem dar-se no limite da convivência respeitosa com os que pensam de modo diverso. Jamais se pode ferir a consciência de alguém; o direito à livre expressão das opiniões e a liberdade de ação, desde que dentro do respeito mútuo numa sociedade que se deseje realmente pluralista e democrática, na qual a pessoa seja o valor central.

A questão é: o Islã está preparado para isto?

A resposta mais honesta, por enquanto, deveria ser clara, serena, respeitosa mas realista: não. O Islã ainda NÃO está pronto para as liberdades democráticas e a liberdade religiosa. Sad but true, triste mas é a verdade: enquanto o mundo ocidental tiver medo de enxergar e admitir isto claramente, fazendo como o sr. Barack Obama e companhia, que numa obsessão politicamente correta deixa de fazer o que deve ser feito para manter a sua imagem de "cara legal", estaremos todos em perigo, avançando a passos largos para a nossa destruição.


O Islã e o Ocidente

Recomendamos a todos a leitura da aula do papa Bento XVI em Ratisbona (ano 2006). Naquela ocasião, as palavras do então Papa foram deturpadas, propositalmente tiradas do seu contexto e truncadas na sua intenção. Sem querer entrar em polêmicas desnecessárias, vemos hoje o papa Francisco declarando-se "atônito" com o mais recente atentado terrorista em Paris. Humildemente (e infelizmente) precisamos dizer que não estamos atônitos; tal notícia não nos causou surpresa alguma, e entendemos que ações deste tipo deveriam ser esperadas. Toda pessoa esclarecida e minimamente informada, hoje, sabe que ocorrências como essas serão cada vez mais comuns. Trata-se de uma tragédia anunciada.

Numa análise mais profunda e abrangente, entre outras coisas importantes, o Bento XVI em Ratisbona quis chamar atenção para a absoluta necessidade de manter conexas a noção da transcendência de Deus com o Logos, do qual o logos humano é reflexo, ainda que pálido. O agora Papa emérito chamava atenção para o perigo real de o Islã de considerar Deus-Alah tão transcendente que está para além da noção de bem e de mal. Alah poderia, então, ordenar o mal, a perversidade, o arbítrio cego: por ser transcendente, por ser (a visão muçulmana de) Deus deveria ser cegamente obedecido.


"Deixa eles, tadinhos, é a cultura deles, precisamos saber acolher as minorias..."

O papa Bento profeticamente nos preveniu: tal concepção termina por negar Deus! Ora, de fato, se Deus é transcendente e absoluto, é também "lógico"; tem em Si um Logos divino, uma razão divina, que pode ser percebida como que por reflexo nas noções em nós presentes como a bondade, a beleza, a justiça, a verdade. Certamente em Deus tais noções são infinitamente perfeitas e plenamente presentes. Uma transcendência que pensasse Deus para além do bem e do mal somente chegaria a um monstro, um ídolo sedento de sangue. Eis o que vemos em Paris, eis o que vemos nas faces marcadas pelo ódio dos soldados do "Estado Islâmico" e de tantos outros grupos similares.

Bento XVI estava certíssimo, e não deve estar nada surpreso com o desenrolar dos acontecimentos, porque tal já era mais do que previsível. No célebre diálogo com Habermas, em janeiro de 2004, em Munique, Ratzinger deixava claro precisamente isto, dito por mim agora de modo livre: que a razão, – até a razão ateia, – ajuda a religião a purificar continuamente a imagem que tem de Deus, enquanto a religião, – ou a razão religiosa, – convida e provoca a razão ateia a que se abra ao transcendente e não fique presa numa imanência castradora.

O Islã é totalmente teocrático; suporta com impaciência uma laicidade da sociedade, ainda quando esta seja sadia e não degenerada em laicismo. Assim fica impossível pensar a integração de multidões de muçulmanos na sociedade ocidental. As consequências, insistimos são mais do que previsíveis.


O Ocidente: uma civilização em franco declínio

Neste triste momento de tantos atentados terroristas, é preciso que se aponte e se diga com toda a clareza (clareza que anda tanto em falta, no mundo presente, tão obcecado pelo respeito humano; este mundo em que apenas manifestar opinião a respeito de qualquer assunto já é motivo para que alguém  se sinta 'ofendido'), aquilo que transparece e aparece, exposto como uma ferida supurante: a decadência da civilização ocidental.

A Europa, – e pouco a pouco, todas as outras nações ocidentais, – vem renegando sistematicamente suas raízes cristãs, que sempre foi a sua matriz moral e cultural. Depois, num criticismo doentio, menospreza-se a si mesma, deixando-se sufocar por uma ideologia "politicamente correta", na qual se recrimina de modo inclemente toda a sua própria História (tão cheia de glórias) e se exalta artificialmente tudo o que vem de fora, com a desculpa de se aceitar o diferente, acolher as minorias, respeitar as diferentes culturas...

Hoje, vê-se uma Europa esgotada, fragilizada pela falta de uma identidade cultural; atada ao "politicamente correto" que lhe foi sendo sorrateiramente imposto; refém de uma ideologia imanentista, hedonista, consumista e absolutamente indiferente ao cristianismo que a constituiu em sua identidade.

A liberdade individual depauperada em libertinagem e arbítrio da subjetividade, a busca egoísta de um bem-estar que vem construindo vidas sem compromisso com valores como a família, o matrimônio, a perpetuação da própria raça, o valor do sangue, dos bravos antepassados, os usos e costumes que modelaram o seu caráter, a prática religiosa efetiva... A Europa e a civilização ocidental como um todo vão se tornando presas cada vez mais fáceis diante daqueles que sempre as odiaram e desejaram destruí-las. Triste, profundamente lamentável, é ver que este processo, – já muitíssimo avançado na Europa e a passos largos nos Estados Unidos, – vai também abrindo largas estradas por aqui, entre nós, do outrora "Continente da esperança".

Ai da civilização que renega suas raízes e trai seus valores fundantes: perde a identidade, perde a perspectiva e se degenera até o desaparecimento. A não ser por Intervenção divina, em breve tudo aquilo que vimos e amamos de belo, admirável, imponente, nobre, digno de ser preservado e servir como modelo, estará extinto. A civilização que conhecemos não passará de lembrança nas memórias de poucos, até que nem isto exista mais.

Adaptado de texto de Dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares - PE
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O Santo Rosário


Por Claudiney Barbieri e Robson Velasco Garcia

O MÊS DE NOSSA Senhora Aparecida (outubro) também é o mês do Santo Rosário. A palavra rosário tem origem no termo latino rosarium, que significa ramo ou coroa de rosas. Não seria a rosa, rainha das flores, a representação mais próxima da mãe rainha de Nosso Senhor, dispensadora de todas as graças?

Na Idade Média, a Virgem Maria era assim saudada, como fez o Arcanjo Gabriel em sua saudação que faz referência à Gratia Plena de Maria, com o título de rosa (Rosa Mystica), símbolo de alegria. Adornavam-se as suas imagens, ainda como hoje, com uma coroa ou ramo de rosas (rosarium), como expressão dos louvores que brotavam dos corações dos devotos cheios de amor.


Origem do Rosário

A recomendação da Igreja para que se rezasse o Rosário é antiquíssima. Rezar o Rosário, no entanto, consistia em recitar os 150 salmos da Bíblia (ou do Ofício Divino). Considerava-se essa oração extremamente agradável a Deus. Mas nem todos podiam fazê-la, somente os poucos que sabiam ler. Então, a Igreja permitiu substituir os 150 salmos por 150 Ave-Marias, oração que era conhecida como “Saltério da Virgem”.


S, Domingos de Gusmão recebe o Rosário das mãos da Virgem

No ano de 1214, a Santa Madre Igreja recebeu o Rosário, na sua forma presente, por meio de São Domingos de Gusmão. Enquanto se penitenciava pedindo a conversão dos albigenses e outros pecadores, o então padre Domingos foi agraciado pela aparição da Bem-aventurada Virgem, que recomendou a oração de seu Saltério (hoje, Rosário) como meio de conversão e de combate à heresia.

A história da aparição da Virgem Maria a São Domingos encontra-se no livro De Dignitate Psalterii, do Bem-aventurado Alano de La Roche ('A importância e Beleza do Santo Rosário'), O.P., padre dominicano francês e Apóstolo do Santo Rosário. Eis o trecho sobre a aparição:

Vendo São Domingos que a gravidade dos pecados dos homens estava obstruindo a conversão dos albigenses, adentrou-se numa floresta perto de Tolosa, onde orou incessantemente por três dias e três noites. Durante este tempo, ele não fez nada a não ser chorar e fazer duras penitências a fim de apaziguar a ira do Poderoso Deus. Ele se utilizou de disciplina tão drástica que seu corpo estava dilacerado e finalmente caiu em coma. Nesta hora, Nossa Senhora apareceu-lhe, acompanhada de três Anjos, e lhe disse:
'Querido Domingos, você sabe de que arma a Santíssima Trindade quer usar para mudar o mundo?'
São Domingos respondeu: 'Oh, minha Senhora, vós sabeis bem melhor do que eu, pois, depois de vosso Filho Jesus Cristo, vós tendes sido sempre o principal instrumento de nossa salvação'.
Nossa Senhora respondeu-lhe:
'Quero que saibas que, a principal peça de combate tem sido sempre o Saltério Angélico, pedra fundamental do Novo Testamento. Assim, quero que alcances estas almas endurecidas e as conquistes para Deus, com a oração do meu Saltério'.

Após a aparição de Nossa Senhora, São Domingos dirigiu-se à Catedral de Toulouse para pregar. Foi, porém, interrompido por uma tempestade terrível. Nesse momento, todos os presentes viram uma imagem de Nossa Senhora levantar os braços em direção aos Céus, três vezes, para acalmar a vingança de Deus sobre eles, caso falhassem em se converter, endireitar suas vidas e procurar a proteção da Santa Mãe de Deus. São Domingos iniciou a oração do Rosário e foi seguido por todos os presentes. À medida que rezavam, a tempestade diminuía, até que cessou por completo.

Deus quis, por meio destes fenômenos sobrenaturais, espalhar a nova devoção do Santo Rosário e fazer com que fosse mais vastamente divulgado. Em pouco tempo, uma grande transformação foi percebida na vila; as pessoas começaram a converter-se e a viver uma vida cristã.


Instituição da festa de Nossa Senhora do Rosário

Essa celebração foi primeiramente instituída em comemoração à vitória dos católicos sobre os turcos na batalha de Lepanto, ocorrida no dia 7 de Outubro de 1571. A liga de Estados católicos, que combatia o império otomano, recebeu poderosa intercessão da Virgem nessa batalha. O exército católico utilizou o ícone da Virgem como palium (manto) protetor e conquistou uma vitória impossível diante do Islão que, com frota em maioria, já alcançava a Europa para fazer sucumbir a fé verdadeira. Os turcos, no entanto, caíram pela Auxiliadora dos Cristãos (Auxilium Christianorum) como bem disse o Papa S. Pio V.

Naquele dia, em Roma, o Papa São Pio V pedia o auxílio divino pela vitória, por intercessão da Santa Mãe da Igreja. Inspirado, pediu ao povo que rezasse o Rosário. Com a vitória, uma solene procissão aconteceu nas ruas de Roma e, pouco tempo depois, estava instituída a Festa de Nossa Senhora das Vitórias. Um ano mais tarde, Gregório XIII então mudou o nome para festa de Nossa Senhora do Rosário.

Sabendo-se das atribuições à Nossa Senhora, de suas alegrias, dores e glórias, o Rosário foi acrescido de ladainhas sobre os títulos.

Tal o poder dessa majestosa Senhora do Rosário, que intercedeu por quatro padres jesuítas os quais sobreviveram à explosão da bomba atômica em Hiroshima, durante a II Guerra Mundial (1945). Estes padres missionários não sofreram sequer um arranhão, nem qualquer efeito de radiação, e atribuíram sua integridade à Nossa Senhora do Rosário. Afirmam que não tinham dúvidas da proteção da Ssma. Virgem: “Nós acreditamos que sobrevivemos porque estávamos vivendo a mensagem de Fátima. Nós vivíamos e rezávamos o Rosário diariamente naquela casa”.


A cidade de Hiroshima devastada. No epicentro da explosão da bomba atômica estava a Catedral. Vê-se à direita os 4 padres jesuítas sobreviventes pela misericórdia da Rainha do Rosário

O que é o Rosário?

O Rosário constitui-se de duas realidades: a oração mental e a oração vocal. A oração mental nada mais é do que a meditação sobre os principais Mistérios da vida, morte e glória de Jesus Cristo, e alguns dos de sua santíssima mãe. Já a oração vocal consiste na recitação de quinze dezenas de Aves-Maria, cada dezena precedida por um Pai-Nosso. Dessa forma, enquanto se recita as orações Pai-Nosso e Ave-Maria, deve-se meditar e contemplar as quinze virtudes principais que Jesus e Maria praticaram, nos quinze Mistérios do Santo Rosário.

Nas cinco primeiras dezenas, devemos honrar Jesus e Maria pelos Mistérios Gozosos e meditá-los; nas segundas cinco dezenas, meditam-se os Mistérios Dolorosos; finalmente, no terceiro grupo de cinco, os Mistérios Gloriosos. Assim, o Rosário torna-se uma mistura bendita de oração mental e vocal pela qual honramos e aprendemos a imitar os mistérios e as virtudes de Jesus e Maria.


Benefícios que alcançamos ao rezar o Rosário e meditar os Mistérios

São Luís Maria Grignion de Monfort aponta os benefícios e razões para que nos animemos a abraçar a devoção ao Santo Rosário:

• Eleva-nos gradualmente no conhecimento cada vez mais perfeito de Jesus Cristo;
• Purifica nossas almas, lavando-as do pecado;
• Dá-nos vitória sobre nossos inimigos;
• Facilita-nos a prática das virtudes;
• Queima-nos com o Fogo do amor por Nosso Senhor;
• Enriquece-nos de graças e méritos;
• Supre-nos com o que é preciso para pagar nossas dívidas para com Deus e para co nosso próximo;
• Obtém todas as espécies de graças de Deus para nós.

A meditação do Rosário também é mencionada no Catecismo da Igreja Católica:

A meditação põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta mobilização é necessária para aprofundar as convicções da fé, suscitar a conversão do coração e fortalecer a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã dedica-se, de preferência, a meditar nos «mistérios de Cristo», como na «lectio divina» ou no rosário. Esta forma de reflexão orante é de grande valor, mas a oração cristã deve ir mais longe: até ao conhecimento amoroso do Senhor Jesus, até à união com Ele."(Catecismo da Igreja Católica. Quarta Parte. Primeira Seção. Cap III. Artigo II. Item 2708)

Abençoado Rosário, que nos dá a ciência e o conhecimento de Nosso Senhor. Muito mais felizes são os fiéis católicos que cuidadosamente meditam na Vida, nas Virtudes, Sofrimento e Glória de Nosso Salvador, pois por este meio eles poderão ganhar o perfeito conhecimento daquele que É a vida eterna. “Ora a vida eterna é esta” (Jo 17,3).


A validade do Rosário e sua prática

Poderíamos então nos questionar: A oração e meditação do Rosário estão presentes nos dias atuais? Essa devoção continua válida?

Com certeza, para as duas perguntas, a resposta é sim.

É uma prática comum, comprovadamente presente em muitas ordens religiosas, frequentemente difundida por muitos Papas e sacerdotes, diariamente realizada por muitas famílias católicas, ou seja, o Rosário é uma devoção de pelo menos 8 séculos! E há diversos motivos que a justificam:

- O recente Diretório sobre piedade popular e liturgia do Vaticano (2002) destacou a importância do Rosário como uma das mais excelentes orações à Mãe do Senhor (n.197). Naquele mesmo ano, o Papa João Paulo II criava os Mistérios da Luz, que percorrem etapas da vida pública de Jesus (cf. Carta Apostólica 'O Rosário da Virgem Maria', n.21).

- O Concílio Vaticano II (1962-65) recomendou os exercícios de piedade para com Maria (Lumen Gentium, n.67), frase que, em 1966, o Papa Paulo VI interpretou com relação ao Rosário. Um dos frutos do Concílio foi a redação do Catecismo da Igreja Católica (1992/7), que reconhece como legítima expressão do culto mariano a oração do “santo Rosário” (n. 971; cf. 2678; 2708). Outro fruto é o novo Manual de Indulgências (1999), em que a Igreja concede graças especiais a quem rezar o terço, na qual se inclua uma prece na intenção do Papa (Concessões, n.17).

- Desde 1261 (Papa Urbano IV), os papas têm recomendado, em tom oficial ou pessoal, a oração do Terço do Rosário. O Papa Leão XIII, considerado o Papa do Rosário, nos legou pelo menos 45 documentos sobre o tema. O Papa Bento XVI recomendou que os mistérios do Rosário sejam acompanhados por breves trechos da Bíblia (Exort. apost. Verbum Domini, 2010, n.88).

- Na vida dos santos e santas é muito presente a oração do Terço mariano. S. Luís M. G. de Montfort praticava e promovia essa devoção, afirmando: O Rosário é uma grande coroa de Rosas. S. Maximiliano Kolbe dizia: "Quantas coroas, tantas almas salvas. Aprendemos com eles que rezar o Terço é um dom do Espírito Santo, como escreve Jean Lafrance ('O Terço do Rosário').

- Rezar o terço é uma ótima escola de oração, sobretudo em grupo, pois através dela nos exercitamos na oração vocal e mental, bíblica e devocional. Quantos benefícios (paz, proteção, perseverança etc) homens e mulheres, de todas as raças e condições, têm colhido nestes 8 séculos.

S. Josemaria Escrivá nos lembra do pedido de Nossa Senhora de Fátima para que usemos dessa arma poderosa para sermos protegidos do mal (pecado), para alcançarmos o Céu (salvação) e para alcançarmos grandes graças (benesses da 'onipotência suplicante') nesta vida e na outra, pois ela é o pescoço por onde passam todas as graças e benesses de Nosso Senhor em seu corpo místico, sua Santa Igreja.

O Rosário é o meio que nos dá a Virgem para contemplar a Jesus e, meditando sua vida, amá-lo e segui-lo sempre fielmente."
(Papa Bento XVI)

__________
Fontes e referência bibliográfica:
• BADDE, P. A Face de Nossa Senhora no Manto de Guadalupe. Rio de Janeiro: Ed. Capax Dei, 2013.
• CARVAJAL, F. F. Falar com Deus - Meditações para cada dia do ano, Vol. 7. São Paulo: Quadrante, 2005.
• CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Loyola, 1993.
• JUANA, Álvaro de. O Milagre de Hiroshima: Jesuítas sobreviveram à bomba atômica graças ao Rosário. Disp. em: 
acidigital.com/noticias/o-milagre-de-hiroshima-jesuitas-sobreviveram-a-bomba-atomica-gracas-ao-rosario-18962
Acesso em 23/10/2015.
• MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. O Segredo do Rosário. Disp. em: 
http://osegredodorosario.blogspot.com.br
Acesso em: 23/10/ 2015.
• SILVA, Pe. Jonas Eduardo G. C. Outubro, Mês do Rosário. Disp. em:
http://www.a12.com/santuario-nacional/formacao/detalhes/outubro-mes-do-rosario
Acesso em: 23/10/2015.
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Cristianismo e luta de classes

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O LEITOR "MIRANDA" enviou-nos ao artigo "Por que a ideologia de luta de classes é anticristã?" o comentário que reproduzimos abaixo:

Não posso concordar que a luta de classe é anticristã, pois como concordar coma exploração do homem pelo homem? Quer dizer que Jesus AMAR o ser HUMANO não quer dizer aceitar seu modo de vida, portanto existe claramente duas CLASSES, por isso só já há um corte, são interesses antagônicos!
Quem quiser ser grande entre vocês, seja o servo de todos. E quem quiser ser o primeiro, seja o servo de vocês. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pelo resgate de muitos.” (Mt 20,20-28).
De fato, meus irmãos e minhas irmãs, não existe Jesus sem a cruz. Nem cristão sem Paixão... Jesus teve que usar de uma pedagogia muito especial que preparasse os discípulos para o escândalo da cruz!.
Portanto duas classes aí estão claras uma explorando e outra sendo explorada e infelizmente muitos desses exploradores que usufruem das riquezas que produzimos como classe operária ainda nos chamam de "irmãos"!"

Miranda, o seu comentário é contraditório, e com respeito permita-me dizer que você parece não compreender bem o que está afirmando. Dizer que existem classes no mundo, – em todas as sociedades, – é uma coisa. Existem, sim, se quisermos chamar assim, classes de seres humanos, nos grupos que integram as diferentes esferas sociais, culturais e econômicas, e que precisam de algum modo conviver entre si.

Dentro desta realidade, lembre-se que em todos os países nos quais até hoje se adotou o regime socialista/comunista a diferença entre as classes sempre terminou por se tornar ainda mais radical, com os líderes e homens do governo de um lado (dominando o povo e mantendo 'a ordem' com mão de ferro) e o próprio povo, mais oprimido e escravizado do que nunca, de outro.

Existem diferentes classes em todas as sociedades e culturas. É isto o que o seu comentário tenta demonstrar. Muito bem. Agora, daí a dizer que luta de classes marxista tem alguma coisa a ver com os Evangelhos, isto é um completo absurdo, que o seu próprio comentário demonstra. Vejamos.

Você mesmo chama a atenção para o fato de que nos tempos de Cristo haviam senhores e servos, – cuja relação, diga-se de passagem, era muitíssimo mais complicada do que a que existe hoje entre patrões e empregados. – O escravo era visto, simplesmente, como propriedade de uma outra pessoa, uma realidade tal que para nós, hoje, é difícil de compreender em todas as suas implicações.

Existia, então, a realidade das diferentes classes sociais de modo muitíssimo mais radical do que aquela que conhecemos. Agora aponte-me, nos Evangelhos ou em qualquer Carta dos Apóstolos, pelo menos uma única passagem que mostre Nosso Senhor incitando a luta entre as classes.

Por favor, mostre-me onde Jesus Cristo disse alguma coisa parecida com isto: "Escravos, levantem-se e lutem contra esse sistema injusto que os oprime!", ou: "Revoltem-se contra os exploradores!", ou ainda: "Companheiros pobres e da classe escrava, ergam-se e confrontem a classe dominante opressora!". Você vê isso nas Sagradas Escrituras?

Onde você viu o Salvador do mundo ou qualquer Apóstolo insuflando a revolução contra o sistema estabelecido, seja armada ou cultural? Ora, o que Cristo realmente diz é: "Dai a César o que é de César" (Mt 22,21), e "O meu Reino não é deste mundo" (Jo 18,36), e ainda: "Pobres, sempre os tereis" (Jo 12,8). É o exato oposto de tudo o que propõe o ideário marxista, e para não enxergá-lo é preciso um altíssimo grau de cegueira voluntária!

Jesus não veio pregar a luta de classes, nem a construção do Reino de Deus neste mundo. A Mensagem de perdão e amor incondicional do Cristo é a própria antítese do discurso cheio de ódio de Karl Marx, Engels, Gramsci e companhia. Essa afinidade que você imagina ou tenta estabelecer entre uma coisa e outra simplesmente não existe, e pior do que isso: querer forçar essa interpretação é heresia, porque é a traição do Evangelho.

Cristianismo e socialismo marxista são ideias e ideais completamente antagônicos, contrários, opostos. Até porque todo o discurso comunista/socialista é intrinsecamente materialista e ateu, limitado às mazelas deste mundo, enquanto que a Palavra do Cristo é transcendente, sublime, divina.

Por fim, tenha muito cuidado com essa caricatura gasta e mofada de "patrões malvados" explorando os pobres trabalhadores, "coitadinhos" que produzem toda a riqueza e que nunca têm direito a nada

O que existe no mundo real são pessoas diferentes, que recebem (de Deus) dons diferentes. Alguns têm talento e capacidade natural para comandar, gerenciar, gerar riqueza. Outros são talhados para executar, cumprir, e é assim que deve ser. Se todos tivessem os mesmos talentos, toda e qualquer sociedade humana seria inviável; iria instantaneamente à completa falência. E é assim não só entre seres humanos, mas em toda a natureza, de modo absoluto: numa alcateia de lobos ou leões, há um macho dominante e outros machos que cooperam com ele, ajudando nas caças e em diversas tarefas. O mesmo ocorre entre as fêmeas: há leoas mais aptas a caçar, outras a cuidar dos filhotes. 

A igualdade querida pela ideologia socialista/comunista é uma utopia completa. Não somos nem nunca seremos iguais, a não ser em dignidade: alguns são mais inteligentes que outros, outros são mais fortes, outros mais calmos, outros mais criativos, etc, etc. É assim que deve ser, por isso é natural que uns comandem e outros sejam comandados. – E não há vergonha, humilhação ou opressão alguma nisto. – É e sempre foi esta a natureza das coisas; é assim que o mundo funciona. Alguns lideram, outros são liderados, alguns têm certas capacidades, outros não. Uns dão oportunidades a outros, e grandes coisas são feitas em conjunto.

Existem patrões ruins, injustos, patifes, desumanos, canalhas? Sim, sem dúvida. 

Assim como existem empregados ruins, preguiçosos, mal agradecidos, que lesam seus empregadores. O que podemos e devemos fazer, isto sim, é buscar e reivindicar relações humanas mais justas e fraternas, numa partilha mais equilibrada dos bens. Mas a melhoria do sistema social não se obtém com luta de classes e isto já está mais do que provado e demonstrado de muitas maneiras. Simplesmente observe a História do mundo e veja que todas as vezes em que essa ideia foi posta em prática os resultados foram trágicos, com assassinatos em massa, fome e sofrimento para todos, menos para os homens do governo, que se tornam rapidamente, – eles próprios, – a classe dominante. Veja o que houve na União Soviética, na República Popular da China, no Vietnã, na Coreia do norte, no Camboja, etc, etc.

Por fim, para sair dessa armadilha herética que a diabólica "'teologia' da libertação" parece ter incutido em sua mente, recomendo a leitura do livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, que na opinião de muitos (inclusive a minha) apresenta a mais perfeita descrição do regime socialista/comunista, – e dos frutos da luta de classes, – que um ser humano já foi capaz de elaborar. Você pode baixar o livro gratuitamente no endereço abaixo:


Desconsidere a pífia "apresentação" inserida nesta versão digital, que tenta equiparar socialismo e capitalismo, pondo tudo num "mesmo saco". Sabemos que a obra é um resultado da profunda frustração do autor com relação ao naufrágio da ideologia comunista, que ele conheceu de perto. 

Creio que seria proveitoso também assistir com atenção à série de palestras do padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr., intitulada "Revolução e Marxismo Cultural", disponível no endereço abaixo:


Nosso Senhor o ilumine e guarde

Nota: dias depois da publicação desta resposta viemos descobrir que Miranda é um notório ativista da esquerda radical na internet. Dificilmente nossas exortações o levarão a uma reflexão e mudança de atitudes, mas continuaremos rezando por ele e por tantos outros que enveredam pelo mesmo caminho de engano e confusão de princípios.
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Achado arqueológico confirma a historicidade do livro de I Macabeus


Cercaram a Cidade de Davi com uma grande e sólida muralha, com possantes torres, tornando-se assim ela sua fortaleza. Instalaram ali uma guarnição brutal de gente sem leis; aí se fortificaram... (I Macabeus 1,33-35 (35-38))

HÁ MUITO tempo se perguntava onde estaria localizada a grande fortaleza de Acra, mencionada nos livros dos Macabeus. Muitos a tinham como fictícia (principalmente os detratores do livro, como é de se esperar). 

No século passado teve início uma busca pela localização desta cidadela, que não obteve sucesso. Houve um intenso debate sobre a existência e a possível localização de Acra, até que recentemente recomeçaram novas buscas. Por fim, recentemente, no dia 3 de novembro de 2015, arqueólogos divulgaram a notícia há muito esperada: finalmente havia sido encontrada a tão debatida fortaleza de Acra, notícia veiculada nos maiores jornais do mundo.

Trata-se de uma descoberta que põe fim a um dos maiores enigmas arqueológicos relativos a Jerusalém e a pesquisa bíblico-histórica: a localização da fortaleza imperial grego-selêucida que Antíoco Epifânio (215-164 aC) construiu para governar a cidade e supervisionar as atividades judaicas no Monte do Templo, posteriormente destruída pelos Macabeus quando da derrocada da ocupação grega.

As escavações foram realizadas no estacionamento Givati, localizado no parque nacional da Cidade de David, e estavam em curso já há cerca de uma década. A Fundação Elad, que gerencia o parque nacional e financia as escavações, disponibilizou inúmeros achados inestimáveis, que estão agora em exibição para o público leigo, no próprio sítio arqueológico.

Além de ser mencionada no Livro dos Macabeus, a fortaleza é também mencionada nos escritos de Josefo:

... e quando ele tinha derrubado as muralhas da cidade, ele construiu uma cidadela [grego: Acra] na parte baixa da cidade, porque o lugar era alto, e com vista para o templo; no qual ele fortificada com muros altos e torres, e colocou nela uma guarnição de macedônios.
(Flávio Josefo, Antiguidades dos Judaicas 12, 252-253)

De acordo com os pesquisadores, as provas se tornaram decisivas a partir do momento em que foi localizada, na seção da parede principal, a base de uma torre de quatro metros de largura e 20 metros de altura, com inclinação artificial.










Para aqueles pesquisadores que, com motivações sectárias, insistiam em dizer que os livros de Macabeus não eram documentais e que continham erros históricos, esta notícia vale com um bofetada. 

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Referências externas:
dailymail.co.uk/sciencetech/article-3301918/Is-lost-Acra-Jerusalem-Ancient-fortress-built-Greek-king-Epiphanes-discovered-car-park.html
israelnationalnews.com/News/News.aspx/202863#.VjkQjfmrTDc
channelnewsasia.com/news/world/greek-fortress-key-to-an/2236220.html
news.discovery.com/history/archaeology/ancient-greek-fortress-found-in-jerusalem-parking-lot-151103.htm
ibtimes.co.uk/jerusalem-archaeologists-uncover-ancient-greek-fortress-acra-after-century-searching-1527039
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Fonte:
RODRIGUES, Rafael. Achado Arqueológico confirma o livro de Macabeus; Disponível em
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/829-achado-arqueologico-confirma-a-historicidade-do-livro-de-i-macabeus

Acesso 7/11/015
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Truculência abortiva a serviço do governo petista


Por Rodrigo R. Pedroso

ÀS VÉSPERAS DA SOLENIDADE de Todos os Santos deste ano de 2015, a Catedral Metropolitana de São Paulo amanheceu pichada com dizeres abortistas, após manifestação de supostos "movimentos sociais" (compostos por trabalhadores que não trabalham, sempre disponíveis para manifestações de meio de semana), que servem de bate-paus e jagunçada ao partido político que insistentemente se mantém no poder.

Na ordem moral e religiosa, tal ocorrência constitui sacrilégio, – pecado contra o Primeiro Mandamento, – na medida em que consiste em tratamento indigno e injurioso a um objeto consagrado a Deus Nosso Senhor, caracterizando-se também como delito canônico, de acordo com o cânon 1.376 do Código promulgado em 1983 pelo papa São João Paulo II.

Na ordem secular, constitui concurso formal entre os crimes de ultraje a culto religioso (art. 208 do Código Penal) e dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico tombada pela autoridade competente (art. 165 do mesmo Código). Trata-se, pois, de uma ação delituosa que ofende bens máximos que o Estado brasileiro se propôs a garantir: a liberdade religiosa, a cultura e o próprio ambiente, na medida em que deste faz parte o patrimônio histórico e cultural.

Por conseguinte, os que conspurcaram a Catedral são, perante a lei de Deus, da Igreja e do Brasil, baderneiros sacrílegos e criminosos, e como tais devem ser tratados e punidos.


As patéticas ativistas do grupo feminista 'Femen' (aqui acorrentadas a uma cruz da Catedral Almudena, em Madri), ao que tudo indica, estão fazendo escola para as 'idiotas úteis' tupiniquins: fazem o que querem, atentam à vontade contra nossos direitos, sem sofrer nenhuma punição.

Entretanto, nossa reação será segura, eficaz e completa apenas se formos capazes de, indo além da superfície, identificar as causas do sinistro entrevero. Difere o homem dos outros animais por não agir às cegas, mas por reagir com conhecimento de causa. Por que essa manifestação e por que essa violência? Por que todas essas expressões de ódio? A resposta encontraremos no exame da conjuntura política do País.

É fato notório e de conhecimento público que os ditos “movimentos sociais”, entre eles o nefasto movimento abortista que patrocinou o vandalismo contra a Catedral de São Paulo, são grupos organizados para servir de massa de manobra aos interesses do PT, partido ironicamente dito "dos trabalhadores". Conforme as palavras de Antonio Gramsci: 

O Partido permanece a hierarquia superior deste irresistível movimento de massas; ele exerce a mais eficaz ditadura, a que nasce do prestígio, a aceitação consciente e espontânea de uma autoridade que se reconhece indispensável para o bom êxito da tarefa empreendida."
(O Partido e a Revolução, in Sobre a Democracia Operária e Outros Textos, p.62)

Pois bem, ocorre que o domínio político do Partido encontra-se ameaçado pelas tentativas, apoiadas por manifestações de rua, de responsabilizar a presidente Dilma Rousseff pelos crimes que ela de fato cometeu no exercício do cargo (ver art. 85 da Constituição Federal). Sendo assim, para manter-se no poder, o PT convocou suas linhas auxiliares e seus satélites na esquerda radical para maliciosamente mudar a pauta do debate político, não se importando a que custo nem com que meios.

Para ficar num único exemplo, o líder do PT na Câmara Federal, deputado Sibá Machado (o popular 'tranqueira', foto à esquerda), quebrando o decoro parlamentar, disse que ia juntar gente para dispersar “a pau” os manifestantes que pedem o impeachment da presidente nos lugares públicos. A agressão à Catedral, ainda que a Igreja nada tenha a ver com questões político-partidárias, é fruto dos chamados de ódio feitos pelas lideranças do partido dominante.

O PT veio da baderna e é para a baderna que, encerrado o seu ciclo histórico, está voltando. A fim de abafar o clamor popular pelo impeachment da presidente da República, o Partido mandou um “salve” para os pseudo-movimentos sociais, dizendo que existe uma “onda conservadora” no País e que é preciso ocupar as ruas e fazer agitação política (leia-se 'baderna') para detê-la. É sintomático e revelador que nem Dilma Rousseff, nem Rui Falcão, presidente do diretório nacional do PT, tenham pedido desculpas ou se manifestado condenando o atentado contra a Catedral.

Disse o papa Francisco que se alguém insultasse sua mãe, mesmo que fosse um grande amigo, lhe daria uma merecida bofetada: «si un grande amico mi dice una parolaccia contro la mia mamma, gli arriva un pugno!». A Igreja é nossa mãe na ordem da graça: Sancta Mater Ecclesia. A agressão sacrílega à Catedral de São Paulo teve por objetivo atingir a própria Igreja. Dar a outra face quando somos nós os agredidos pode ser um ato de virtude e caridade, mas oferecer a face dos outros quando os agredidos são estes, ainda mais quando se trata da própria mãe, é ato de covardia, injustiça e indiferença. Não podemos deixar de reagir, com os meios de que dispomos dentro da lei e da moral, contra esse abuso sacrílego. O PT precisa de uma resposta nossa nas ruas e nas urnas.

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Rodrigo R. Pedroso é procurador autárquico, advogado graduado e mestrando em Filosofia pela Universidade de São Paulo, membro da UJUCASP (União dos Juristas Católicos de São Paulo)
• Correio eletrônico: rpedroso2015@yahoo.com.br

Cristão pode comer carne de porco?


RECEBEMOS DE UM LEITOR cujo nome não estamos autorizados a divulgar, uma mensagem contendo a seguinte pergunta:

Se na biblia proibe comer a carne do porco, porque os católicos comem esse alimento? (...) A igreja católica não segue a Bíblia? Isso não é um pecado ?"

Em primeiro lugar, consideramos oportuno indicar a leitura de um artigo já publicado por nós e que trata especificamente da correta relação que deve haver entre o comportamento dos cristãos e a observância das Sagradas Escrituras que pode ser lido aqui.

A partir daí, podemos esclarecer diretamente a dúvida apresentada e dizer que não, não é pecado, comer carne de porco. Todavia, conhecemos a motivação de sua pergunta. 

No mundo judaico, – no qual, como cristãos, temos nossas raízes, – o tema da pureza é muito importante, e o porco era considerado um animal impuro. O fundamento bíblico se encontra no capítulo 11 de Levíticos, versículos 7 a 8: "Tereis como impuro o porco porque, apesar de ter o casco fendido, partido em duas unhas, não rumina. Não comereis da sua carne e nem tocareis o seu cadáver, e vós os tereis como impuros".

A questão que você apresenta foi também muito importante para os primeiros cristãos. De um lado, os judeus-cristãos pretendiam observar os preceitos que haviam aprendido em casa, de suas famílias que praticavam a religião judaica, e onde os preceitos descritos em Levítico eram observados. Do outro lado existia a pressão dos gentios, os convertidos que não eram judeus, vindos do mundo helênico, e que não queriam observar tais prescrições. O auge desse conflito é descrito em Atos dos Apóstolos (15), no Concílio de Jerusalém. Naquela ocasião o nó da discórdia era a circuncisão, que os de origem hebraica queriam impor aos gentios. O Concílio deliberou que aos gentios não fosse imposto nenhum peso “além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas, e das uniões ilegítimas” (Atos 15,28-29).

O texto não menciona especificamente a carne de porco, mas o tema das regras de alimentação está implícito na discussão. Podemos, sem dúvida, tomar a conclusão dos Apóstolos reunidos em Jerusalém como alicerce do nosso julgamento quanto à ortodoxia na observância da Lei do Antigo Testamento, e assim o faz a Igreja.

Em outra passagem que é fundamental para o contexto em questão, como bem nos recorda o leitor Luis André Marques, no capítulo 10 dos Atos dos Apóstolos, o Senhor mostra a Pedro que nenhum animal é impuro:

No dia seguinte, enquanto estavam em viagem e se aproximavam da cidade, – pelo meio-dia, – Pedro subiu ao terraço da casa para fazer oração. Então, como sentisse fome, quis comer. Mas, enquanto lho preparavam, caiu em êxtase. Viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra, segura pelas quatro pontas. Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu. Uma voz lhe falou: 'Levanta-te, Pedro! Mata e come'. Disse Pedro: 'De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura'. Esta voz lhe falou pela segunda vez: 'O que Deus purificou não chames tu de impuro'. Isto se repetiu três vezes e logo a toalha foi recolhida ao céu."
(At 10,9-16)

A. J. Jacobs
Poucas pessoas se preocupam com as prescrições da Lei de Moisés citadas no Antigo Estamento e que eram observadas pelos judeus: ora, a Lei proibia aparar a barba (Lv 19,27), usar roupas cujo tecido misturasse lã e linho (Lv 19,19), tocar mulheres no período menstrual (Lv 15,19) e misturar leite e carne numa mesma refeição (Lv 11,21), além de proibir o consumo do porco; isso sem mencionar as questões de compreensão realmente muito complexa para o homem comum do nosso tempo, como a obrigação de apedrejar os adúlteros (Lv 20,10) e os filhos desobedientes até a morte, fora das portas da cidade (Dt 21,18-21). Em 2011, o norte-americano A. J. Jacobs submeteu-se à curiosa experiência de tentar observar, "ao pé da letra", todas as prescrições do Antigo Testamento por um ano, e a registrou o seu cotidiano num livro no mínimo curioso, e por outro lado também bastante elucidativo. Saiba mais aqui.

Mesmo se concentrarmos a nossa atenção apenas na problemática das restrições alimentares, descobriremos que, junto com a carne de porco há muitos outros tipos de carnes proibidas: coelho, peixes sem escama e/ou barbatanas, o avestruz e todos os répteis. Se quiséssemos manter a fidelidade à letra da Lei, teríamos que observar a mesma preocupação que reservamos à carne suína para com os outros alimentos, e também, para seremos coerentes, às outras restrições dos tempos de Moisés. Provavelmente a questão da carne de porco, em particular, acaba ganhando maior importância porque também os muçulmanos, além dos judeus, não a podem comer. 

Para comprovar "biblicamente" (ao gosto protestante) que não há pecado em se consumir uma bom sanduíche de linguiça calabresa, além do texto dos Atos dos Apóstolos, poderíamos tomar o texto do Evangelho segundo S. Marcos:

E ele (Jesus) disse-lhes: 'Então, nem vós tendes inteligência? Não entendeis que tudo o que vem de fora, entrando no homem, não pode torná-lo impuro, porque nada disso entra no coração, mas no ventre, e daí sai para a fossa?'"
(Mc 7,18-19)

Impossível não apreender daí que o Senhor declara puros todos os alimentos. Evidentemente, essa perícope não alude exclusivamente às regras alimentares, mas nos dá uma inestimável base para refletirmos sobre a dimensão mais ampla, – espiritual, – de pureza e impureza, que tem a ver bem mais com santidade de vida do que com um conjunto de normas práticas sobre o que se pode ou não levar ao prato.

As leis alimentares e outras regras de comportamento veterotestamentárias têm sua origem na necessidade que a religião tinha de transmitir valores e linhas de conduta que ajudassem o bem estar geral e até a preservação das vidas dos seus seguidores. É óbvio que estes valores, com o tempo, adquiriram valores que ultrapassam esses elementos práticos/objetivos. A carne de porco, como bem sabemos hoje, é um alimento de delicado preparo e dificílimo de conservar num ambiente hostil como o deserto, – ainda mais dentro das condições sanitárias de séculos passados, como bem podemos imaginar. – Abolindo-se o seu uso, quantos e quão graves danos à saúde (consequentemente à própria sobrevivência) não foram evitados? Ainda hoje, mesmo que os animais criados para abate tenham passado a receber alimentação adequada e local limpo para crescerem e se reproduzirem, temos que ter cuidados muito especiais no preparo da carne de porco. Não há, entretanto, uma ligação direta entre esses cuidados a uma obrigação religiosa.

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Fonte/ref.:
ROSA, Luiz da. 'Comer carne de porco é pecado?', do portal 'A Bíblia.Org', disp. em:

abiblia.org/ver.php?id=2822
Acesso 4/11/015
www.ofielcatolico.com.br

Quem eram os nicolaítas?


RECEBEMOS DE UM LEITOR cujo nome não estamos autorizados a divulgar a mensagem que reproduzimos abaixo, seguido de nossa reposta, que julgamos poderá ser do interesse de outros:

(Sobre a passagem de ) Apocalipse 2,6 (que menciona e condena os 'nicolaítas'), procurei resposta em alguns sites. Tentei encontrar respostas em alguns sites, mais porém nada tão confiavel... Mtos protestantes falam somente abobrinha!! E o seu blog eu leio as vezes q tenho algumas dúvidas e confio. Gostaria que vc me ajudasse a achar essa resposta!! Obrigado."

Trata-se de um tema difícil, porque a simples verdade é que não temos hoje fontes documentais confiáveis suficientemente claras para compreendermos bem o fenômeno nicolaíta. Falsos entendidos já tentaram se aproveitar dessa passagem obscura para forçar interpretações sem nenhum fundamento, invariavelmente com o fito de atacar a Igreja Católica (só para não variar). Pelo teor da sua mensagem, parece que você já conheceu alguns desses textos repletos de "abobrinhas", como diz. – Eu não diria melhor. – Vejamos o trecho em questão, antes de nos debruçarmos sobre ele na tentativa de compreender o seu significado (o trecho citado pelo consulente está destacado em negrito):

Ao anjo da Igreja em Éfeso, escreve: Eis o que diz aquele que segura as sete estrelas na sua mão direita, aquele que anda pelo meio dos sete candelabros de ouro. Conheço tuas obras, teu trabalho e tua paciência: não podes suportar os maus, puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos. Tens perseverança, sofreste pelo meu Nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas. Mas isto tens de bem: detestas as obras dos nicolaítas, como eu as detesto. Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor darei de comer (do fruto) da Árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus."
(Ap 2,1-7)

Na Mensagem ao anjo da igreja em Éfeso, o Senhor, entre outras advertências e exortações, destaca como positivo o fato de que essa comunidade detesta as práticas dos nicolaítas (2,6), assim como também Ele próprio as detesta. É diferente no caso da igreja em Pérgamo, recriminada por tolerar os que se prendem à doutrina de Balaão, que incitava o povo a comer alimentos sacrificados aos ídolos e à prostituição/imoralidades sexuais, além de (mais uma vez) tolerar os sequazes da doutrina dos nicolaítas (Ap 2,14-15).

Quem eram os nicolaítas? A palavra deriva da junção dos termos nikh (= triunfo; vitória,  com sentido de dominação sobre) e laos (= povo; gente; multidão, que aqui aludiria aos filhos de Israel ou aos cristãos); ou laikos (= leigo, com sentido de povo em geral conforme o grego moderno – a partir do séc. IV). Assim, o título nicolaítas, composto destas duas palavras, tem sentido de "dominadores do povo". Segundo Richard, autor protestante, “provavelmente os nicolaítas eram cristãos ricos que participavam ativamente das estruturas econômicas, sociais, culturais e, necessariamente, religiosas da cidade; buscavam, pois uma doutrina que compatibilizasse o cristianismo com tal integração.” 1

Já Hemer, outro autor protestante, diz que:

Os nicolaítas eram um movimento antinomista cujos antecedentes remontam à interpretação equivocada da liberdade paulina e cuja incidência talvez esteja ligada às pressões específicas do culto ao imperador e a sociedade pagã. É possível que o importante  símile feito com a figura de Balaão indique uma relação com movimentos semelhantes enfrentados pela Igreja em outros lugares. Na ausência de dados concretos, contudo, a natureza dessa relação não passa de especulação. Pode ser que houvesse um elemento gnóstico no ensino nicolaíta, mas, em nossos textos primários, trata-se de um erro prático, não de gnosticismo propriamente dito."2

Fizemos questão, até aqui, de publicar o testemunho de autores protestantes reconhecidos, para que fique bem claro que qualquer suposta "explicação" da parte de certos "pastores" e/ou blogs/websites ditas "evangélicos" é forçada e totalmente desprovida de base. O que podemos auferir da esparsa documentação histórica existente é que os nicolaítas praticavam sexo ilícito e eram imorais, além de adotarem práticas pagãs, e que talvez procurassem secularizar a Igreja, propondo uma doutrina que compatibilizasse a Igreja e o mundo, já que comporiam uma casta de cristãos ricos apegados aos bens materiais.

Basicamente é isso. Os exegetas reconhecem que hoje não dispomos de meios para conhecer em detalhes quais seriam exatamente os erros dos nicolaítas condenados no Livro do Apocalipse. Finalizamos com a explicação muito honesta o do abalizado Prof. Luiz da Rosa3, publicada no portal "A Bíblia.Org":

O contexto no qual as passagens sobre os nicolaítas aparecem é aquele da comunidade de Éfeso e de Pérgamo, duas das 7 igrejas às quais é escrita uma carta em Apocalipse. Trata-se, portanto, de uma doutrina/heresia presente em Éfeso e Pérgamo, por volta do ano 90 depois de Cristo. Contudo, hoje não conhecemos mais as características de tal heresia e podemos falar apenas baseados em poucos dados concretos.

Quanto ao fundador, por exemplo, Irineu (140-200 dC) diz que quem fundou tal heresia foi o diácono Nicolau (um dos 7 escolhidos em Atos dos Apóstolos 6). Eusébio de Cesareia, um século mais tarde, invés, contesta tal afirmação.

Quanto às suas práticas, a partir do Apocalipse não conseguimos detectar claramente quais eram as ações específicas. A maioria dos estudiosos fala em tentativa de introduzir na práxis cristã elementos do paganismo. Quais eram esses elementos, porém, não sabemos. Alguns ligam o movimento à práticas sexuais errôneas, mas creio que isso acontece por influência da história da Idade Média. De ato, naquele período, os religiosos que não observavam o celibato eram chamados de 'nicolaítas'. Contudo, a Idade Média e o início do cristianismo são duas realidades distantes uma da outra."

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1. RICHARD, Pablo. Apocalipsis, reconstrución de la esperanza. Quito: C. B. Verbo Divino, 1999, p.80.
2. HEMER, Colin, J. Letters to the Seven Churches of Asia In their Local Setting
Sheffield: Sheffield Academic Press, 1989.
3. Luiz da Rosa é bacharel em Filosofia pelo Instituto Filosófico Franciscano de Curitiba; cursou 4 anos de Teologia em Jerusalém pelo Instituto Teológico Ierosolumitano e é Mestre em Ciências Bíblicas no Pontífico Instituto Bíblico de Roma, além de Mestre em Comunicação Institucional Religiosa pela Faculdade Blanquerna de Barcelona, Espanha. Foi Professor de Sagrada Escritura no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (1995 e 2001) e de Tecnologias da Comunicação em Âmbito Religioso (2009 a 2011) na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.
www.ofielcatolico.com.br

Sociedade Bíblica do Brasil, ao publicar a Septuaginta, derruba antigo erro protestante


AINDA É COMUM nos meios protestantes, infelizmente, ouvir-se a afirmação de que “a Igreja Católica acrescentou sete livros à Bíblia" em algum momento da História. Segundo esta absurda teoria, esses livros (veja quais) seriam “apócrifos”. Um lamentável equívoco, – entre muitos outros, – difundido às vezes por puro desconhecimento e outras com a nítida intenção de caluniar a Igreja Católica.

Recentemente, a entidade protestante SBB (Sociedade Bíblica do Brasil), que publica as bíblias protestantes em nosso país, acabou com séculos deste grosso engano, quando publicou, para a surpresa de todos, a Septuaginta, – a antiga tradução bíblica que reúne os livros do Velho Testamento usada pelos Apóstolos de Jesus e que contém os mesmos sete livros católicos que eles, protestantes, alegavam ser um acréscimo feito pela Igreja Católica. – A SBB publicou o seguinte (vago e confuso) texto em uma nota de promoção da obra:

Septuaginta (ou Tradução dos Setenta): esta foi a primeira tradução. Realizada por 70 sábios, ela contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica, pois não estavam incluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I dC.
A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados apócrifos ou deuterocanônicos (sic) e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas.
Esta tradução do Antigo Testamento foi utilizada em sinagogas de todas as regiões
do Mediterrâneo e representou um instrumento fundamental nos esforços empreendidos
pelos primeiros discípulos de Jesus na propagação dos ensinamentos de Deus.1

A nota é digna de citação por reconhecer que a versão dos textos bíblicos adotada pela Igreja primitiva é a mesma usada até hoje por nós, católicos, o que não deixa de ser um grande avanço. Além disso, reconhece categoricamente que os protestantes não seguem o cânon da Igreja de Cristo, e sim o da comunidade hebraica/israelita(!), – a suprema incoerência. – Apesar destes acertos, também há muitos e graves erros na apresentação da SBB, alguns realmente elementares. Dentro de nossas próprias limitações, procuraremos efetuar, abaixo, as devidas correções ao obscuro texto da SBB:

1) SBB: “Esta foi a primeira tradução. Realizada por 70 sábios, ela contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica, pois não estavam incluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I dC.

Correção: os sete livros não fazem parte da “coleção hebraica”, porque esta é muito posterior à coleção cristã, datando no mínimo do final do primeiro século, – sendo que fontes respeitadas datam a sua conclusão no segundo século, como é o caso da Enciclopédia Judaica (veja aqui). – Já a Septuaginta é anterior a Cristo (aprox. séc. III aC). Trata-se, portanto, de um erro crasso. O “detalhe” que faz toda a diferença é que essa lista sem os sete livros em questão foi produzida pelos judeus que perseguiram Jesus e os Apóstolos e que queriam extirpar os livros cristãos do meio judaico. Confirmando este  fato, diz a SBB em espantosa e claríssima contradição: “A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia”(!).

Outro "detalhe" imprescindível: esta “Igreja primitiva” citada no texto é, evidentemente, a primeira e única Igreja deixada por Jesus e continuada pelos Apóstolos, a única Igreja que possui uma história bimilenar, a mesma Igreja Católica e Apostólica atualmente sediada em Roma.

Mais um "detalhe" que muda tudo: os protestantes aceitam a autoridade da Igreja Católica para definir o cânon do Novo Testamento, – que é o cumprimento e a consumação de toda a mensagem das Sagradas Escrituras para nós, cristãos, – mas a renegam na definição do cânon do Antigo Testamento. Baseados em que autoridade fizeram tal escolha? Esta é uma pergunta sem resposta.


2) SBB: “
Eles são chamados apócrifos ou deuterocanônicos e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas.

Correção: os sete livros são chamados “apócrifos” única e exclusivamente pelos inimigos de Cristo, que os excluíram de seu particular cânon judaico, feito somente no final do primeiro século. Deram-lhes desonestamente o nome de “apócrifos” para desclassificá-los; os protestantes, ávidos por se diferenciarem cada vez mais e em definitivo da Igreja Católica, adotaram o erro e se uniram aos carrascos e escarnecedores de Jesus.

De fato, o termo "apócrifo" sempre significou um "escrito de assunto sagrado não incluído pela Igreja no cânon das Escrituras autênticas e divinamente inspiradas"2, e "texto religioso cristão que não se inclui na lista canônica de livros da Bíblia"3. Logo, demonstrado está que “apócrifos”, na realidade, são os livros que ficaram de fora do cânon da Igreja, entre os quais não se incluem os livros excluídos pelos protestantes. Os que constam da Septuaginta evidentemente estão incluídos no cânon da Igreja, e isto a SBB inadvertidamente reconhece, quando afirma: “A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia”.


3) SBB: “
Esta tradução do Antigo Testamento foi utilizada em sinagogas de todas as regiões do Mediterrâneo e representou um instrumento fundamental nos esforços empreendidos pelos primeiros discípulos de Jesus na propagação dos ensinamentos de Deus.

Aqui não há o que corrigir, pois a SBB simplesmente confessa que a Septuaginta, isto é, o Velho Testamento da Bíblia cristã e católica de sempre, foi sempre utilizada pela Igreja, desde o princípio, inclusive nas sinagogas "de todas as regiões do Mediterrâneo" como "instrumento fundamental" para a evangelização. Corretíssimo. Isso explica o porquê de tais livros já se encontrarem, inclusive, na Bíblia de Gutemberg, impressa cerca de um século antes da Reforma Protestante.

• A Bíblia de Gutemberg pode ser acessada e integralmente consultada na Biblioteca Britânica, neste link: British Library/Gutember Bible

Martinho Lutero
Lutero traduziu para o alemão os livros deuterocanônicos. Sua edição de 1534 traz o mesmo catálogo dos católicos. A sociedade Bíblica protestante, até o séc. XIX, incluía os deuterocanônicos em suas edições da Bíblia. Depois disso os excluiu, e para justificar essa grave heresia, elaborou uma coleção de calúnias contra a Igreja Católica. Até hoje certas seitas pentecostais e neo pentecostais costumam levianamente pregar uma justificativa mentirosa para cada livro que renegaram.

Logo, o que o protestantismo usa não é de fato a Bíblia dos cristãos, mas o cânon farisaico do Velho Testamento, junto ao cânon católico do Novo Testamento. Desse modo, o que o protestantismo prega não pode de modo algum ser a verdade, já que defende o princípio da Bíblia como "única regra de fé e prática".

Vejamos agora o resultado do curioso proceder da SBB para com o público protestante: a bíblia protestante "Almeida", que contém o Novo Testamento conforme o cânon da Igreja Católica e o Velho Testamento faltando sete livros, numa encadernação bem cuidada custa aproximadamente R$ 44,00. Pois bem. Os mesmos protestantes que retiraram aqueles sete livros desta bíblia, agora disponibilizam para venda a Septuaginta, que contém os mesmos sete livros que haviam tirado, por valores em torno dos R$ 134,00(!). 

Ora informamos a todos os protestantes bem intencionados que em qualquer livraria católica se pode adquirir uma excelente versão da Bíblia completa, como sempre foi usada pela Igreja de Cristo desde o início, conforme a própria SBB admite, por menos de R$20,00.

Caríssimos irmãos separados, o seu Velho Testamento é exatamente a Septuaginta que as lojas protestantes tentam vender-lhes por altos valores, depois de ter-lhes vendido uma bíblia incompleta. Que ninguém vos engane mais uma vez.


No esclarecedor vídeo abaixo, o padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. trata sobre o mesmo tema e aprofunda a questão:




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** Adaptado do texto de Fernando Nascimento para o blog 'Fim da Farsa'

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1. Esta nota encontrava-se até recentemente no website da SBB, em http://sbb.org.br/interna.asp?areaID=45, porém não se encontra atualmente, ainda que permaneça replicada em diversas páginas protestantes, geralmente acompanhada de críticas.
2. Dicionário Enciclopédia Encarta 99.

3. Dicionário Caldas Aulete digital.
www.ofielcatolico.com.br
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