Profecia de Ratzinger sobre o futuro da Igreja, feita em 1969

Por Pe. Richard Heilman
Tradução de Henrique Sebastião



PARA UMA RÁDIO alemã, no ano 1969, o então padre Joseph Ratzinger ofereceu uma impressionante previsão sobre o futuro da Igreja, em detalhes de sinais que sem dúvida já estamos assistindo nos nossos tempos. O conteúdo da referida entrevista, postado pelo padre Richard Heilman no portal "Roman Catholic Men", reproduzimos abaixo:

O futuro da Igreja pode e vai sair daqueles cujas raízes são profundas e que vivem da plenitude pura de sua fé. Não será daqueles que se acomodam apenas ao momento de passagem ou daqueles que meramente criticam os outros e assumem que eles próprios são varas de medição infalíveis; nem será daqueles que tomam o caminho mais fácil, que esquivam a paixão da fé, declarando falsa e obsoleta, tirânica ou legalista tudo o que faz exigências aos homens, que os fere e os obriga a sacrificar-se.

Para expor isto de modo mais positivo: o futuro da Igreja, uma vez mais e como sempre, será remodelado pelos santos –, pelos homens –, ou seja, por aqueles cujas mentes sondam mais profundamente do que os slogans do momento, que veem mais do que os outros veem, porque suas vidas abraçam uma realidade mais ampla. O altruísmo, que liberta os homens, só é alcançado através da paciência, nos pequenos atos cotidianos de abnegação. Por esta prática diária, que revela a um homem de quantas maneiras ele é escravizado pelo seu próprio ego, os olhos de um homem são lentamente abertos. Ele enxerga apenas na medida em que viveu e sofreu.

Se hoje já não conseguimos mais tomar consciência de Deus, é porque achamos tão fácil evadir-nos, fugir das profundezas de nosso ser, seja por meio dos narcóticos ou de algum ou outro prazer. Assim, nossas próprias profundidades interiores permanecem fechadas para nós mesmos. Se é verdade que um homem só pode ver com o seu coração, então, quão cegos somos!

Como tudo isso afeta o problema que estamos examinando? Significa que a grande conversa daqueles que profetizam uma 'Igreja sem Deus' e 'sem fé' é apenas conversa vazia. Não precisamos de uma Igreja que celebre o culto da ação nas orações políticas. Isto é absolutamente supérfluo. Portanto, tal 'igreja' se destruirá. O que permanecerá é a Igreja de Jesus Cristo, a Igreja que crê no Deus que se tornou homem e nos promete vida além da morte. O tipo de padre que não passa de assistente social pode ser substituído pelo psicoterapeuta e outros especialistas; mas o sacerdote que não é apenas 'um especialista', que não se mantém à margem observando o jogo, dando conselhos 'oficiais', mas em Nome de Deus se coloca à disposição do homem e permanece ao lado dele em suas tristezas, alegrias, esperanças e medos.

Vamos dar um passo adiante. Da crise de hoje surgirá a Igreja do amanhã – uma Igreja que perdeu muito. Ela vai se tornar pequena e terá que começar de novo mais ou menos desde o início. Ela não poderá mais habitar muitos dos edifícios que construiu em prosperidade. À medida que diminuir o número de seus adeptos, perderá muitos dos seus privilégios sociais. Em contraste com uma idade mais precoce, será vista mais como uma sociedade voluntária, na qual se entra entra apenas por livre decisão. Como uma sociedade pequena, fará demandas muito maiores na iniciativa de seus membros individuais. Indubitavelmente, ele descobrirá novas formas de ministério e ordenará ao sacerdócio os cristãos aprovados que perseguem alguma profissão. Em muitas congregações menores ou em grupos sociais autônomos, a assistência pastoral será normalmente fornecida desta forma. Ao lado deste lado, O ministério de tempo integral do sacerdócio será indispensável como antigamente. Mas, em todas as mudanças que se podem adivinhar, a Igreja encontrará de novo a sua essência e com convicção naquilo que sempre esteve no seu centro: a fé no Deus Trino, em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, na Presença do Espírito até o fim do mundo. Na fé e na oração ela reconhecerá novamente os Sacramentos como a adoração de Deus e não como um assunto para a erudição litúrgica.

A Igreja será uma Igreja mais espiritual, não presumindo um mandato político, flertando tão pouco com a esquerda como com a direita. Será difícil para a Igreja, pois o processo de cristalização e clarificação lhe custará muita energia valiosa. Isso a fará pobre e fará com que ela se torne a Igreja dos mansos. O processo será ainda mais árduo, pois a estreiteza sectária, assim como a auto-vontade pomposa, terão de ser derramadas. Pode-se prever que tudo isso levará tempo. O processo será longo e cansativo como foi o caminho do falso progressismo na véspera da Revolução Francesa –, quando um bispo podia ser visto como 'inteligente' se zombasse dos dogmas e até insinuasse que a existência de Deus não era certa –, para a renovação do século XIX.

Mas quando esta 'peneiração' tiver passado, um grande poder fluirá de uma Igreja mais espiritualizada e simplificada. Os homens, em um mundo totalmente planejado, se encontrarão indescritivelmente solitários. Se eles perderem completamente a visão de Deus, sentirão todo o horror de sua pobreza. Em seguida, descobrirão o pequeno rebanho de crentes como algo totalmente novo. Eles a descobrirão como uma esperança para eles, uma resposta a qual sempre procuraram em segredo.

E assim, parece-me que a Igreja está enfrentando tempos muito difíceis. A verdadeira crise mal começou. Teremos de contar com grandes tréguas. Mas estou igualmente certo sobre o que permanecerá no final: não permanecerá a Igreja do culto político, que já está morto, mas a Igreja da Fé. Pode muito bem não ter mais o poder social dominante que teve até recentemente; mas vai desfrutar de um frescor e um reflorescimento e será vista como Casa do homem, onde ele vai encontrar vida e esperança para além da morte.

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Fonte:
https://catholicismpure.wordpress.com/2016/06/25/father-joseph-ratzinger-1969-prediction-of-the-future-of-the-church/?utm_content=buffer8d4c1&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer
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A Graça Batismal, o futuro incerto do mundo e o conforto dos cristãos


O FREI MARIA-Eugênio do Menino Jesus, ocd1, lá pelos fins dos anos 1950/ inícios dos 1960, como autêntico místico católico parece ter profetizado, com assombrosa precisão, os tempos em que agora vivemos. O que consola é constatar que a solução para os males de sempre permanece, igualmente, a mesma de sempre. O texto a seguir representa parte do conteúdo do livro "Ao Sopro do Espírito" (Paulus, 2010), na verdade uma compilação de conferências organizadas pelo pe. Carlos Niqueux.


Riquezas espirituais

É uma linguagem espiritual, unicamente espiritual, que eu quereria ter convosco. Entretanto, começando, não posso me impedir de sublinhar que vivemos num mundo inquieto, agitado. Qual é a causa dessa agitação, dessa inquietação? Vocês a conhecem, como eu, talvez melhor do que eu.


Um mundo inquieto e agitado

Povos jovens se erguem e afirmam suas aspirações a uma vida pessoal independente, talvez a um poder dominante. Além disso, no mundo instalam-se também atualmente ideologias poderosas, que parecem querer destruir nossa velha civilização cristã. Essas ideologias não ocultam que têm uma nova concepção da civilização e mesmo do homem; seduzem com promessas enganadoras não somente indivíduos, mas até massas inteiras, ávidas por felicidade. Se vemos nos países aspirações puramente humanas, é muito possível que nas ideologias haja mais do que isso, ou seja, verdadeira ação do espírito do mal que gostaria de atingir os valores espirituais e a Igreja que os possui.

Diante das ameaças, ficamos inquietos, e talvez nossa inquietação seja legítima. Qual será o futuro? O que seremos nós, o que será de nosso país, da Europa, do mundo, em quinze anos, em vinte anos? É bem difícil prever. Temos a impressão de que viveremos acontecimentos jamais vistos.


As lições da história

Entretanto, se quisermos considerar melhor e a história e suas lições, nos convencemos facilmente de que a história do mundo e dos povos é feita de reviravoltas parecidas. Se considerarmos a história da China ou da Índia, que parecem apresentar-nos as mais antigas civilizações, datadas provavelmente de sete ou oito mil anos antes de Nosso Senhor, vemos aí a civilização atual como o resultado de reviravoltas de que seus povos foram vítimas no correr dos milhares de anos: invasões, ondas de povos, oligarquias que se estabeleceram.

Vemos no Oriente Médio impérios que se destruíram sucessivamente: os medos, os persas, os gregos, com Alexandre, e os romanos. Graças à ordem que estes parecem estabelecer no mundo, Jesus pode dar sua mensagem. A Encarnação tem efeitos mundiais, como dirá São Paulo (conf. Ef 1,9; Cl 1,15-20); trata-se do mundo conhecido.

Roma, convertida para o Cristianismo, tornando-se campeã da civilização cristã, também sofre assaltos dos bárbaros. E esses bárbaros são ganhos, sucessivamente, pelo Cristianismo. Cuida-se das chagas durante certo tempo; empreendem-se pesquisas novas sobre Deus... Uma filosofia, uma teologia, uma arte se estabelecem no século XIII, e tudo parece entrar na ordem, até que esta ordem seja agitada de novo por outras perturbações.

Que lição se pode tirar destes acontecimentos?


Supremacia da inteligência

Há vários fatos que decorrem como que normalmente: em primeiro lugar, certa supremacia da inteligência. Em todos esses choques

Em todos esse choques, esses transtornos, essas lutas de civilizações, de impérios e de culturas, é habitualmente a inteligência mais afinada que acaba dominando. É vencida durante certo tempo, como a cultura grega pelo Império Romano, mas acaba voltando e afirmando seu poder. Nas lutas entre homens, a inteligência vai dominar a superioridade da inteligência vai assegurar a supremacia.


O poder do Espírito

Há outra coisa. A expansão do cristianismo nos coloca diante de outras forças: são forças espirituais. Jesus veio, e antes de morrer, de sofrer sua suprema derrota no Calvário, Ele afirma: “Eu venci o mundo. Vós tereis de lutar. Sereis vencidos. Sereis mortos. Mas, tende confiança: Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Supremacia da inteligência, supremacia das forças espirituais... Sim, a Igreja a que pertencemos não sucumbirá sob os golpes, ela subsistirá a todos os transtornos, revoluções, transformações, maremotos, venham de onde vierem, causados por qualquer força da inteligência humana ou por qualquer força do inferno. É a conclusão que devemos tirar.


O inventário de nossas forças espirituais

Nessa inquietação em que vivemos, diante dessas ameaças, sem dúvida eficazes até certo ponto, o que fazer?

Nosso grande dever, especialmente para nós, cristãos, é fazer o inventário de nossas forças espirituais e colocar nossa esperança nas forças espirituais. Não somente sob o ponto de vista sobrenatural para nós, mas também as esperanças para a sociedade. É preciso que essa inquietação e agitação nos conduzam a um aprofundamento, a uma estima bem maior pelas forças espirituais que nos foram dadas. Elas nos levam para o espiritual, para Deus: é aí que está a suprema esperança, para cada um de nós, para a nossa salvação individual e para a salvação também da humanidade, em toda medida com que ela pode ser salva.

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1. Henri Grialou nasceu dia 2 de dezembro de 1894 num modesto lar de Aveyron (França) e ainda criança desejou ser sacerdote. Depois da Primeira Guerra Mundial, momento em que sentiu a poderosa proteção de Santa Teresinha do Menino Jesus, recomeçou os estudos no seminário, dando aí testemunho de uma profunda vida espiritual. 
A descoberta dos escritos de São João da Cruz revelou-lhe sua vocação ao Carmelo, entrou assim para esta Ordem no dia 24 de fevereiro de 1922, logo após a sua ordenação sacerdotal. Onde adotou o nome de Frei Maria-Eugênio do Menino Jesus.

Marcado pelo absoluto de Deus e pela graça marial do Carmelo, o Frei Maria-Eugênio serviu com devoção e empenho a Igreja e a sua Ordem, desempenhando cargos de grande responsabilidade na França e em Roma.


Dedicou-se plenamente à difusão do espírito e da doutrina do Carmelo, desejando que estes fossem vividos na vida cotidiana, numa harmoniosa união de ação e contemplação.


A transmissão do ensinamento dos mestres do Carmelo – Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz e Santa Teresinha – foi iluminada pela sua própria experiência de contemplativo e apóstolo, e culminou na redação do livro Quero ver a Deus.


Em 1932, com a colaboração de Marie Pila, fundou o Instituto Nossa Senhora da Vida na cidade de Venasque, França, junto a um antigo santuário mariano, do mesmo nome. Este intituto secular, de leigos(as) consagrados e sacerdotes, coloca em prática o ideal do Frei Maria-Eugênio de uma vida onde a ação e a contemplação são bem unidas, de tal modo que a contemplação estimula a ação e a ação estimula a contemplação, para assim dar testemunho do Deus vivo ao mundo.


Como sacerdote e diretor espiritual, ele conduziu incansavelmente no caminho da confiança e do amor, certo de que a misericórdia divina se derrama sempre e abundantemente!


Toda a vida do Frei Maria-Eugênio foi marcada por uma poderosa influência do Espírito Santo e da Virgem Maria. Respondendo à fidelidade do seu amor, a Virgem Maria veio buscá-lo no dia 27 de março de 1967, numa segunda-feira de Páscoa, dia em que ele fazia questão de celebrar a alegria pascal de Maria, Mãe da Vida.


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Fonte:

MENINO JESUS, Fr. Maria-Eugênio do, ocd. Ao Sopro do Espírito. São Paulo: Paulus, 2010, pp. 55-56.
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A verdadeira misericórdia versus o orgulho humano

AS REFLEXÕES DO FREI Jacques Phillippe são atemporais. Este post é a reprodução de um trecho de "A verdadeira Misericórdia", sua obra mais recente. 



A Misericórdia e a Mãe de Deus

Homilia pronunciada no dia 8 de dezembro de 2015 no Thomas More College of Liberal Arts, Merrimack, New Hampshire

NESTE DIA (Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria), celebramos a sua beleza, a sua pureza e a sua liberdade de toda forma de pecado, um sinal da vitória de Deus. Na bula Misericordiae Vultus, em que proclama o início do ano jubilar, o Papa Francisco diz:

Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha à mercê do mal. Por isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no Amor (cf. Ef 1, 4), para que se tornasse a Mãe do Redentor do homem. Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado.

São palavras de esperança. A Misericórdia de Deus será sempre maior do que os nossos pecados, e é isso que contemplamos no mistério da Virgem Maria.

Por esse motivo, a Virgem Maria pode nos ajudar a receber todas as graças (...). Maria em pessoa é a Porta da Misericórdia, pois, por ela, a Misericórdia de Deus entrou no mundo. Podemos dizer que Jesus é a misericórdia do Pai em Pessoa, porque pela Pessoa de Jesus o Amor misericordioso do Pai revelou-se a fim de alcançar todos os seres humanos, nos seus defeitos, nas suas feridas e nas suas fraquezas.

A Misericórdia de Deus é completamente gratuita. É uma Fonte abundante de ternura, de generosidade e de amor incondicional. Não precisamos comprá-la, não precisamos merecê-la: ela nos é dada de graça. A Misericórdia é todo esse Amor de Deus, esse Amor que encontra cada um de nós na nossa pobreza e na nossa necessidade.

Em latim, "misericórdia" é uma composição de duas palavras: "miséria" e "coração". E quando falamos de Misericórdia divina, falamos do Coração de Deus que vem ao encontro das misérias humanas. As feridas do pecado, o mal dentro de nós que se alimenta da tristeza e do desânimo: a Misericórdia de Deus visita tudo isso. Essa Fonte gratuita e abundante sai ao encontro de cada homem, de cada mulher, e assume uma forma adequada à necessidade de cada um. O sofrimento e a aflição são o objeto real do carinho de Deus. Deus é o Bom Samaritano, que vem cuidar das nossas feridas.

Assim, como Maria pode nos ajudar a compreender e acolher o mistério da misericórdia? Penso que o papel dela é muito importante, ainda que discreto, como é próprio de todas as suas ações. Ela nunca quer ser protagonista; sempre nos guia para o seu Filho. Por isso podemos nos confiar a ela e deixar que nos conduza. Podemos dar muitos motivos para isso, e talvez o primeiro seja o fato de Maria ser a pessoa mais perto de Deus, a que o conhece mais profundamente. E ela quer nos comunicar esse conhecimento.

Na homilia proferida em Fátima na beatificação de dois videntes (Jacinta e Francisco), São João Paulo II recordava uma das aparições da Virgem em que uma espécie de raio de luz envolveu as crianças e elas foram então imersas no Mistério de Deus. O Papa explicou que era um desígnio divino que a "mulher vestida de sol" descesse à Terra a fim de visitar aqueles pequeninos. Explicou ainda como ela lhes pediu com palavras protetoras e compassivas – saídas "da voz e do coração de uma mãe" – para oferecerem a própria vida como "vítima de reparação". As crianças viram uma luz sair das mãos de Maria, uma luz que lhes penetrava a alma e as fazia sentirem-se unidas a Deus, absortas no Amor dEle. Sentiam que esse Amor era um fogo ardente, mas não abrasador. O Papa compara essa experiência à de Moisés diante da sarça ardente. Deus nos apresenta o seu Amor e a sua proteção como um fogo que arde de amor por nós. E se nós o acolhermos, seremos "morada e, consequentemente, 'sarça ardente' do Altíssimo".

(...) Vemos no Evangelho que a Misericórdia de Deus é o maior dos mistérios e o mais belo dos tesouros. Contudo, temos dificuldades em aceitá-la.

Não é fácil acolher a Misericórdia de Deus. Também vemos isso no Evangelho, e vemos ainda na nossa vida diária. Temos dificuldades em aceitar a Misericórdia de Deus porque na verdade temos pouca confiança no perdão de Deus.

Permitam-me um pequeno exemplo. Como padre, encontro com frequência gente que me diz: "Uns anos atrás, cometi esse pecado grave e fui me confessar. Acho que Deus me perdoou, mas parece que não consigo me perdoar". Ouço isso o tempo todo.

Essa atitude pode surgir por alguns motivos. Talvez tenha a ver com a psicologia humana, mas sem dúvida existe uma falta de confiança. Não acreditamos verdadeiramente na realidade do perdão de Deus, de maneira que nem sempre o acolhemos plenamente. Deus nos perdoa, mas nós somos incapazes de nos perdoar.

(...) Não raro temos dificuldade em aceitar a Misericórdia de Deus; não nos perdoamos nem mesmo quando Deus já nos perdoou. Às vezes o motivo é o orgulho: "Não aceito ser uma pessoa que caiu, uma pessoa que cometeu erros. Eu queria ser perfeito, infalível. Mas cometi erros que não consigo aceitar". Isso brota de uma certa forma de orgulho. Temos dificuldade em aceitar que dependemos da Misericórdia de Deus. Gostaríamos de ser capazes de nos salvar por conta própria. Gostaríamos de ser a nossa própria riqueza, de ser ricos com base nas nossas boas ações e qualidades. Não nos é fácil aceitar que somos pobres de coração. Receber tudo da Misericórdia de Deus – aceitar que Deus é a nossa Fonte de riqueza, e não nós mesmos – requer uma grade "pobreza de coração" (humildade).

(...) Não conseguimos aceitar que Deus possa ser tão generoso com pobres pecadores. Mas é melhor aceitarmos, porque há sempre um momento nas nossas vidas em que nós somos os pobres e pecadores, quando mesmo as pessoas mais elevadas caem no pecado.

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Fonte:
PHILLIPPE, Jacques. A verdadeira Misericórdia, São Paulo: Quadrante, 2016.

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Vaticano reitera: homens com tendências homossexuais não devem ser padres

Seminaristas do Pontifício Seminário Lombardo com o papa Francisco

EM UM NOVO DOCUMENTO sobre o sacerdócio, a Congregação para o Clero do Vaticano reiterou que os homens com "tendências homossexuais profundamente enraizadas" não devem ser admitidos aos seminários católicos e, portanto, não devem se tornar padres católicos.

Essa posição já havia sido declarada pela Congregação para a Educação Católica em 2005, mas foi reafirmada em documento divulgado em dezembro de 2016. Este novo documento, no entanto, não se restringe à questão dos padres gays. Trata também do valor das vocações indígenas e imigrantes e da importância de inocular futuros sacerdotes contra a infecção do chamado "clericalismo".

O novo texto, intitulado O Dom da Vocação Presbiterial, foi datado de quinta-feira, 8 de dezembro, Festa da Imaculada Conceição e feriado na Itália. O texto completo pode ser encontrado aqui. A seção relativa à aceitação de homens que vivenciam a atração pelo mesmo sexo retira a maior parte de seu conteúdo de uma Instrução sobre os Critérios para o Discernimento das Vocações a respeito de Pessoas com Tendências Homossexuais, tendo em vista sua Admissão ao Seminário e às Ordens Sagradas (leia), da Congregação para a Educação Católica em 2005, pouco depois da eleição do Papa Papa Bento XVI.

"Se um candidato praticar a homossexualidade ou apresentar tendências homossexuais profundas, seu diretor espiritual, bem como seu confessor têm o dever de dissuadi-lo em consciência de proceder à ordenação", diz o documento, em uma citação direta do texto de onze anos atrás.

Assim como o documento anterior foi aprovado por Bento XVI, o mais atual foi aprovado pelo Papa Francisco. Diz ainda o documento que, quando se trata de homens "gays" que querem entrar no seminário ou descobrem que têm "tendências homossexuais" durante os anos de formação, a Igreja, "respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir no seminário ou nas ordens sagradas aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente arraigadas ou apoiam a chamada 'cultura gay'".

Também diz que a Igreja não pode esquecer "as conseqüências negativas que podem derivar da ordenação de pessoas com tendências homossexuais profundamente arraigadas". O documento faz uma exceção para os casos em que as "tendências homossexuais" são apenas "a expressão de um problema transitório – como por exemplo o de uma adolescência ainda não substituída". Em qualquer caso, entretanto, as normas indicam que essas tendências têm de ser superadas pelo menos três anos antes da ordenação para o diaconato.

Desde o documento de 2005, muitos seminários e programas de formação em ordens religiosas interpretaram-no com o sentido de não aprovar apenas os candidatos incapazes de viver o celibato ou aqueles diretamente comprometidos com o ativismo "gay", e não como proibição geral de todos os candidatos ditos "gays". Como o novo documento é claríssimo, resta saber como serão (e se serão de fato) aplicadas essas orientações recentemente publicadas.

De acordo com a introdução do texto, o documento de mais de 90 páginas foi solicitado por vários fatos, incluindo os ensinamentos dos últimos três Papas – Francisco e seus antecessores imediatos – que escreveram extensivamente sobre seminaristas e formação sacerdotal.

O primeiro rascunho do documento foi escrito na primavera de 2014, e desde então modificado com o feedback recebido de várias conferências episcopais ao redor do mundo, que o revisou, junto com departamentos do Vaticano como a Congregação para a Evangelização do Povos, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.

As novas diretrizes têm um alcance global, ou seja, devem ser implementadas não só por todas as conferências episcopais, mas também por todas as ordens religiosas e prelaturas pessoais católicas. Além disso, cada país também deve produzir suas próprias diretrizes nacionais fundamentadas em O Dom da Vocação Presbiterial.

O documento ainda apela a um estágio propedêutico de formação, que significa uma introdução ao vida de sacerdócio, em parte refletindo o fato de que muitas culturas já não transmitem automaticamente um sentido do real significado e do papel de um padre, sugerindo que essa fase introdutória deve durar pelo menos um ou dois anos, e especifica que esse período introdutório deve incluir a vida sacramental, a aprendizagem da Liturgia das Horas, a familiaridade com a Sagrada Escritura, a oração mental, a leitura espiritual e também o estudo do ensino da Igreja através do Catecismo da Igreja Católica.

Indo além, o documento pede mais atenção à formação permanente, ou seja, a formação dos sacerdotes após a ordenação, e não deixa de mencionar que as dioceses e ordens religiosas devem estar sempre em alerta para também não admitir potenciais abusadores sexuais ao sacerdócio. "A maior atenção deve ser dada ao tema da proteção de menores e adultos vulneráveis", diz, "vigilante para que aqueles que buscam a admissão em um seminário ou uma casa de formação, ou que já estão solicitando a receber as Ordens Sagradas, Não tenham sido envolvidos de forma alguma com qualquer crime ou comportamento problemático nesta área.

Finalmente, o documento insiste que os futuros sacerdotes sejam "educados para que não se tornem vítimas do 'clericalismo', nem cedam à tentação de modelar suas vidas na busca do consenso popular".

"Isso inevitavelmente os levaria a ficar aquém no exercício de seu ministério como líderes da comunidade, levando-os a pensar sobre a Igreja como uma instituição meramente humana".

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Ref.:
SAN MARTÍN, Inés. 'Vatican reiterates that homosexuals shouldn’t be priests', ag. Crux, disp. em:
https://cruxnow.com/global-church/2016/12/07/vatican-reiterates-homosexuals-shouldnt-priests/
Acesso 10/2/017.

O problema da Igreja Católica são os próprios católicos

Por Felipe Marques – Fraternidade São Próspero


[Se você tem certeza de que já é santo e vive perfeitamente a vida cristã, se considera que está 'salvo' ou se pensa que, por ser Deus amor, então não é preciso aperfeiçoar-se e nem buscar o crescimento espiritual, não leia este artigo: ele contém exortações que não servem para você]

TALVEZ O TÍTULO desse artigo escandalize alguns dos leitores; talvez alguns queiram lê-lo somente por curiosidade; enfim, esse artigo é direcionado às pessoas de boa vontade, católicos acomodados ou que pensam estar em um alto grau de santidade e que por nutrir pensamentos como este, não se dão conta dos perigos do orgulho e da vaidade.

Afirma-se, acertadamente, que aquele que diz: “Eu sou humilde”, já demonstrou, da forma mais clara e direta possível, que não é o que diz ser! Como ensina São Paulo: “Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia” (I Cor 10, 12).

Você católico, nunca perca de vista que todos nós somos pó e que ao pó voltaremos (Gn 3, 19). Essas afirmações são feitas logo de início, porque hodiernamente uma das coisas mais fáceis de encontrar – principalmente nas redes sociais – é o julgamento desmedido e injusto [que fique bem claro aqui: não sou o que chamam “católico jujuba” e não defendo a postura "politicamente correta"; visto que se eu o fosse, nem esse texto seria escrito e nem eu seria católico].

Retomando: o julgamento injusto lançado aos quatro ventos sem objetivo de frutificação nem intenção de ganhar o irmão para Cristo (Mt 18, 15) é uma das infelizes realidades que devemos combater, e resulta muitas vezes do orgulho. Hoje, talvez muito mais do que antigamente, é preciso ser humilde.

Não é minha intenção censurar a correção fraterna, muito menos a divulgação de notícias verdadeiras e que podem ajudar muitos fieis a não serem enganados. A intenção aqui é que você, católico, deixe de ser um hipócrita sem-vergonha, ou que pelo menos lute contra isso! Não quero que você feche os olhos para os problemas no mundo, mas que abra-os com mais vigor para os problemas dentro de você. Pois, é muito fácil levantar bandeiras contra o aborto, e no fim de semana continuar dormindo com a namorada; ou continuar assistindo pornografia; continuar com a masturbação e a impureza; continuar com as fofocas... Concluindo: é fácil se preocupar somente com as atitudes externas e esquecer-se da vida interior! Esquecer-se que antes de converter alguém, você precisa se converter.

Lutar contra o aborto, por exemplo, é algo bom e um dever do católico, assim como lutar contra a injustiça e contra as drogas; essas atitudes devem ser motivadas – essas atitudes são boas e eu as apoio – entretanto, de nada vale preocupar-se somente com aquilo que é externo (por mais importante que seja) e deixar a própria alma perder-se e/ou tornar-se embotada pelo pecado. Você tem dúvida disso? Ora, veja o que o próprio Cristo ensina: “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida (alma)? ” (Mc 8, 36)

Não adianta, em sua presunção e vaidade, pensar que você vai conquistar o mundo inteiro para Cristo, se você é incapaz de lutar para conquistar a si mesmo. É óbvio que ninguém pode dar a outrem aquilo que não possui. Logo, como você quer dar-se ao Senhor Jesus, que ensina que devemos amá-Lo de todo coração, com toda alma, com todo entendimento e com todas as forças (Lc 10, 27) se você não é, sequer, senhor de si?

Você é escravo dos mais absurdos pecados e mesmo assim ousa ainda levantar-se contra a Igreja Católica, contra os seus santos ensinamentos e contra aqueles que lutam para ter uma vida santa? Realmente, o padre Francisco Faus estava mais que correto quando afirmou: "Nenhum de nós comete a tolice de dizer com a boca: 'Eu sou Deus', mas muitos de nós o dizemos com a vida…".

O problema da Igreja é você, que pensa da seguinte forma ou diz frases como as que seguem: “Sou católico, mas não concordo com tal coisa que a Igreja ensina...”; “Sou católico, mas não vivo a castidade...”; “Sou católico, mas continuo com os mesmos pecados de 'estimação'...”. Será que muitos não percebem que, justamente, o fato de não avançarem na vida em Cristo se deve aos “mas” que acrescentam logo depois de dizer: “Sou católico ”?

Pretendo que você, caro leitor, não pense que será fácil o caminho de santidade, pois lutar contra o pecado – contra o “homem velho” – é algo que deveremos fazer até a morte! Quero justamente que você saiba que deve lutar externamente e também interiormente sem “mas” e sem reservas. Ademais, para os católicos não há dicotomia nessas duas realidades. Você não é católico apenas no domingo; é necessário ter uma Unidade de vida que, por refletir Cristo que habita em cada cristão, deverá iluminar o seu trabalho, os seus estudos e a sua família.

Não desanime! Nunca desista de lutar contra os inimigos do mundo e nunca desista de lutar contra aquilo de mundano que há em você! Aprofunde-se na Doutrina católica, reze mais, busque intimidade com Deus, clame pela ajuda da Santíssima Virgem, lute para ser obediente ao que a Madre Igreja ensina, vá se confessar com mais frequência... É certo que nem todas batalhas serão vencidas, mas, diante de Deus, seremos cobrados pelas cicatrizes da luta! Devemos fazer violência, sim! Porém, violência contra nós mesmos, pois “desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos Céus é arrebatado à força, e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12).

É muito fácil falar que a catequese é uma porcaria, que a liturgia é pessimamente celebrada, que muitos se perdem por falta de conhecimento... Fazendo isso do conforto do seu sofá! Quando o Papa Bento XVI reinava, muitos tentavam apontar diversos problemas em seu pontificado e na forma como ele conduzia o Rebanho; hoje, o Papa Francisco também recebe esses apontamentos e a pergunta que me faço é: será que todos os que acusam os erros alheios estão também acusando os próprios erros? Estão acusando-se a si mesmos? Óbvio que é muito cômodo vigiar os demais, quando na realidade deveríamos estar vigiando a nós mesmos. Apontar para si mesmo e para os próprios erros deve provocar em cada pessoa uma mudança para melhor, uma correção, e isso dói. Não querer mudar é a razão de muitos evitarem o autoconhecimento.

Não tenha medo de clamar a Deus o perdão, não tenha vergonha de humilhar-se diante d’Aquele que É (Ex 3, 14), e pedir ajuda para mudar, pois você é um miserável e a justiça começa quando o homem se reconhece miserável e acusa-se a si mesmo. Todas as ameaças que a Igreja sofre por parte dos muçulmanos, dos comunistas e dos globalistas não prevalecerão se os católicos sempre lutarem por santidade; como consequência dessa luta interior, esses mesmos católicos irão naturalmente lutar contra as ameaças exteriores. Porém, se os católicos continuam obstinados no pecado, a vitória tardará cada vez mais! Mesmo com os pecados dos fiéis, jamais perca a esperança na Igreja De Cristo, e nisso o papa Bento XVI nos ajuda e muito com a seguinte frase: “O mal fará sempre parte da Igreja. Aliás, se se considera tudo o que os homens – e o clero – fizeram na Igreja, isso se transforma numa prova a mais de que é Cristo que sustenta e que fundou a Igreja. Se dependesse somente dos homens, ela já teria afundado há muito tempo!”[1].

Que sua confiança não esteja nos homens; muito menos em si mesmo! Confie em Jesus Cristo, ora et labora, lute sempre por santidade e você estará verdadeiramente ajudando a Igreja Católica. Que seu exterior seja um resultado da sua vida interior com Cristo, e não o contrário! Que você possa amar o Senhor de fato, rasgando seu coração e não as suas vestes (Jl 2, 13) e que ao cair e distanciar-se devido ao pecado, volte todas as vezes para casa, como fez o filho pródigo!

Munda cor meum ac lábia mea, omnípotens Deus!

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1. Em entrevista concedida ao jornalista Peter Seewald no livro 'Luce del mondo. Il Papa, la Chiesa e i segni dei tempi', em 2010.

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Trump versus histeria coletiva


MUITOS VEEM, NUMA série de fatos dos nossos dias, o prenúncio do fim ou ao menos do "início do fim". Fato interessantíssimo –, e que salta aos olhos de todos os que são capazes de enxergar um pouco além do óbvio –, é que vão ficando cada vez mais claras as opções de cada um, quem é quem e quem está aí para o quê.

A eleição de Donald Trump nos EUA causou um rebuliço tal que espanta. Antes mesmo que tomasse posse, hordas de desordeiros tomavam as ruas em protesto(!). Como de costume, são os supostos grandes defensores da democracia que promovem a baderna. Ora, protestam então contra o quê, se foi uma eleição democrática e o homem eleito, democraticamente, pela vontade soberana da maioria? Protestam, simplesmente, porque não se fez a vontade da minoria(!).

Por exemplo, as redes sociais do mundo inteiro foram tomadas, desde 27 de janeiro último, pela hashtag #MuslimBan que denuncia um "banimento de muçulmanos" dos EUA. O movimento nasceu em reação a medidas adotadas pelo governo Trump que suspendem a emissão de vistos para viajantes de sete países do Oriente Médio e África.

Segundo o dicionário Houaiss, "banimento" (ban em inglês) significa "expulsar de um lugar", "condenar a desterro", "proibir que se continue a fazer parte". Como as medidas são por tempo limitado e apenas para quem chega aos EUA, o verbo "banir" simplesmente não se aplica nesse caso. Além disso, apesar de majoritariamente muçulmanos, todos os cidadãos dos países incluídos nas novas regras estão igualmente impedidos de ingressar nos EUA no período em questão, independentemente da sua religião e com algumas exceções, como aos diplomatas.

Os cinco países com maior população islâmica não fazem parte do decreto: Indonésia, Paquistão, Índia, Bangladesh e Nigéria. A acusação de que as medidas são direcionadas exclusivamente a muçulmanos é uma mentira (ou 'pós-verdade', termo eleito como a palavra do ano de 2016 em concurso promovido pelos editores do dicionário Oxford).

Em resumo, os políticos de oposição ao governo Trump, seus vassalos na Imprensa (a turma da Globo é digna de dó) e na cultura pop, capitaneados pela anticatólica "Madonna" e outros artistas meio esquecidos que se deparam com uma ótima oportunidade de voltar aos noticiários, milhares de ativistas e idiotas úteis estão protestando contra um "banimento de muçulmanos" que não é banimento e muito menos contra muçulmanos.


Em tempos de 'pós-verdade', Trump é
impiedosamente comparado a 'Hitler'

Some-se a esse furdúncio a atuação direta de um magnata politicamente radical, o húngaro-americano George Soros, que investe uma quantia anual estimada em mais US$ 1 bilhão para avançar suas ideias, financiando políticos, partidos, movimentos ativistas, ONGs e think tanks de esquerda.

• Fato: praticamente todos os protestos vistos nos últimos dias foram patrocinados direta ou indiretamente por Soros. As principais pautas contrárias às medidas publicadas na imprensa têm como origem os think tanks e ONGs de Soros como Open Society, Media Matters, Think Progress e Project Syndicate. Nos primeiros dias do governo Trump, Soros perdeu quase US$ 1 bilhão no valor de suas ações.

• Fato é que o novo presidente dos EUA assinou uma ordem executiva que proíbe o uso de dinheiro do governo para subvencionar grupos que pratiquem ou assessorem o aborto no exterior, uma política implantada por Ronald Reagan na década de 1980 e que seu antecessor, Barack Obama, tinha cancelado.

• Fato é que Trump declarou que será um dos maiores representantes dos cristãos de todos os tempos: "Chamaremos a atenção sobre a violenta perseguição que ameaça os nossos irmãos cristãos e as pessoas de outros credos no mundo inteiro, especialmente no Oriente Médio!”. Como promessa de campanha, ele sempre enfatizou o apoio ao povo cristão e sempre se mostrou preocupado com a perseguição dos secularistas: “O cristianismo está sendo podado. Quero devolver o poder à Igreja”, declarou, então pré-candidato à presidência dos EUA, em entrevista ao "The Brody File".

• Outro fato: o novo presidente norte-americano sempre se declarou cristão e conservador. Além disso, escolheu Mike Pence como vice-presidente, homem intransigente sobre questões como o aborto e o "casamento" homossexual, Pence esteve 12 anos no Congresso norte-americano e é governador do Estado de Indiana desde 2013. Em entrevista recente, ele se descreveu como “cristão, conservador e republicano – por esta ordem de importância”.

* * *

Odiado por uns, amado por outros, a pergunta que se impõe é: quais motivos fazem odiar Donald Trump? Em grande medida, parecem que o presidente anda sendo odiado pelos motivos certos para alguém que possua fé cristã ('Sereis odiados de todos por causa do meu Nome', diz o Senhor).

O tempo é senhor da razão, diz um antigo adágio. Amem ou odeiem Trump, o tempo haverá de mostrar quem tem razão.

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Ref.:
BORGES, Alexandre, disp. em :

https://medium.com/@alexborges/o-curioso-banimento-de-mu%C3%A7ulmanos-que-n%C3%A3o-%C3%A9-banimento-nem-%C3%A9-de-mu%C3%A7ulmanos-134ab33bc705#.s9kzgui6u
Acesso 8/2/017 

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'Com o aval da Igreja', imagem de Nossa Senhora utilizada no carnaval(?)


Os Unidos da Tijuca (2007) e a 'Tom Maior' (2015), apresentaram em seus desfiles, ao menos, temas coerentes com a festa do carnaval. Por que a obsessão em utilizar símbolos sagrados numa festa que absolutamente nada tem a ver com santidade ou espiritualidade?

COM O "AVAL DA Igreja" a "escola" Unidos da Vila Maria pretende "homenagear" Nossa Senhora Aparecida no Carnaval de 2017. Ao contrário de uma homenagem, usar em um desfile de carnaval os símbolos católicos, juntamente com mulheres seminuas (e mesmo totalmente nuas, como é comum) que se apresentam com danças eróticas e os símbolos mais flagrantes de imoralidade e neopaganismo – numa festa profana em que se publicamente se praticam atos contrários a tudo aquilo que prega e representa a Igreja de Cristo – constitui, isto sim, uma grave ofensa a Nossa Senhora e nossa Padroeira.

Com profundo pesar soubemos da utilização da imagem e da história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida na apresentação dos Unidos da Vila Maria, de São Paulo, durante o carnaval deste ano. De acordo com a notícia, “a escolha do tema tem a aprovação da Igreja”, referindo-se ao aval do reitor do Santuário de Aparecida.

A história não vem de hoje, é já antiga. Desde sempre quiseram associar à "festa da carne" os símbolos sagrados cristãos, sob os mais diversos pretextos, sendo o mais comum o de que Deus deve estar "no meio do povo" e outras bobagens semelhantes. O uso da imagem do Cristo Redentor, por exemplo, tem sido motivo de polêmica há anos. Em 1989, a Beija-Flor de Nilópolis foi proibida por liminar de apresentar na Sapucaí uma réplica do Cristo caracterizado de mendigo, no enredo “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, do "carnavalesco" (quem souber exatamente que raio de profissão é esta, que só existe no Brasil, favor informar) Joãozinho Trinta. A alegoria ainda assim entrou na avenida, coberta por sacos plásticos de lixo preto.

Em 2000, a Unidos da Tijuca, com um enredo sobre os 500 anos do Descobrimento do Brasil, pretendia exibir uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz de 4 metros de altura. As alegorias chegaram a ser apreendidas por liminar judicial e liberadas posteriormente. A escola levou as duas imagens para a Sapucaí.

A Unidos do Viradouro também quis usar imagens religiosas nos desfiles de 2004 e 2008. Em 2006, a Mocidade teve que descaracterizar duas imagens de Nossa Senhora. Em 2009, a Porto da Pedra usou a alegoria de um padre num carro que tratava do período da Inquisição (claro, que outro assunto importante haveria, para se lembrar a Igreja Católica?). Em 2011, ao retratar a religiosidade do cantor Roberto Carlos, a Beija-Flor usou composições nos carros alegóricos com uma imagem de Jesus, ainda que descaracterizada, com asas e cabelos clareados, que faziam lembrar a figura de um anjo, e esculturas de Nossa Senhora.

Este ano, talvez prevendo a reação católica, que repetidamente se fez sentir por ocasião de atos semelhantes no passado, a referida "escola de samba" publicou que “em respeito à Igreja será evitado o sincretismo religioso e o rompimento da pureza associada à imagem da Santa”.

A ressalva, entretanto, de pouco vale. Pois, ainda que se admita que o enredo e as músicas não contenham textos ou gestos diretamente provocativos à fé cristã, permanece o fato de que a imagem sagrada da Virgem Santíssima será exposta lado a lado com todas as abominações morais próprias dos carnavais modernos, além de ser usada como parte de toda a grotesco festival de abusos. Será apresentado o carro alegórico representando a história da Virgem Aparecida, seguido ou precedido de outros que exaltam o nudismo, o paganismo e outras práticas mais condenáveis. Significará, em última análise, afirmar, ainda que implicitamente, que o bem e o mal podem e devem conviver juntos, em pé de igualdade.

De fato, o público fiel sempre entendeu como incompatível a presença dos símbolos sagrados católicos –, e de algum modo especialmente as imagens da Santíssima Virgem –, nos ambientes carnavalescos modernos. Por diversas vezes, no passado, a reação católica conseguiu impedir esse uso sacrílego dos símbolos de nossa Religião. Hoje, desgraçadamente, os tempos são outros, quando presenciamos e um grande exército de filhos da Igreja que procuram agradar mais ao mundo que a Deus.

De modo algum poderá ser num desfiles carnavalesco que a santa Mãe do Salvador poderá ser louvada e honrada. Pretender fazê-lo seria — sobretudo por ocasião do terceiro centenário do milagroso aparecimento da imagem — uma redobrada ofensa.

Por isto, envie já seu protesto ao Cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno de Assis, pedindo para que ele use de sua autoridade arquiepiscopal a fim de impedir essa grave ofensa à Rainha e Padroeira do Brasil.

** Assinar a carta contra o uso da imagem de Nossa Senhora no carnaval

Em Jesus e Maria,

Henrique Sebastião

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Referências:
[1] http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/06/nossa-senhora-aparecida-deve-ser-homenageada-no-carnaval-de-sp.html
[2] http://www.unidosdevilamaria.com.br/2015/ sinopse-do- enredo/sinopse-do-enredo
[3] http://www.sasp.com.br/a_noticia.asp? rg_noticia=4367
[4] http://www.sidneyrezende.com/noticia/ 262446+religiao+e+carnaval+prefeito+de +aparecida+fala+sobre+o+enredo+da+vila +maria
[5] http://g1.globo.com/sp/vale-do- paraiba-regiao/noticia/2015/06/nossa-senhora-aparecida- deve-ser- homenageada-no- carnaval-de- sp.html
[6]http://oglobo.globo.com/cultura/uso-da-imagem-do-cristo-redentor-ja-foi-causa-de-varias-polemicas-13170052

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O culto dos santos – conclusão

Razões teológicas subjacentes ao culto dos Santos

2. Razões teológicas




Eis como teologicamente se fundamenta a intercessão dos Santos por nós em atendimento às preces que lhes dirigimos:

A salvação cristã é comunitária, e não individualista, como atestam as Escrituras do Novo Testamento, as quais propõem a imagem do Corpo de Cristo, no qual cada membro tem uma função e desempenha papel indispensável (cf. 1Cor 12,12-17). É por isto também que os cristãos pedem a ajuda de seus irmãos na Terra; solicitam especialmente orações para que possam chegar ao seu Objetivo supremo, a exemplo do que os Apóstolos faziam e mandavam fazer (cf. Tg 5,16; 2Cor 1,3.7.9; Fl 1,9; Cl 4,3). Há, pois, comunhão e solidariedade entre os cristãos, assim expressa pelo Apóstolo: "Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram. Tende a mesma estima uns pelos outros" (Rm 12,15s).

Ora, Deus, que é o Autor dessa comunhão solidária, não permite que ela se extinga com a morte; na verdade, a chamada "morte" não é extinção da vida, mas transição de uma modalidade de vida para outra (no caso, superior). Ao contrário, a morte liberta o cristão dos entraves do pecado e da sedução das paixões, permitindo que o seu amor a Deus e aos irmãos se torne mais puro. Disto se segue que a comunicação de amor fraterno entre vivos e defuntos não somente seja possível, mas venha a ser mesmo uma consequência do aperfeiçoamento do amor dos que passaram para o além. O Senhor Deus se encarrega de os tornar cientes das necessidades dos seus irmãos na Terra, já que sem essa intervenção de Deus não haveria intercâmbio entre cristãos peregrinos e cristãos consumados. Por conseguinte, a oração dos Santos pelos viandantes deste mundo é o desdobramento do seu amor a Deus e ao próximo, que caracterizou a sua vida na Terra e agora é pleno ou livre de obstáculos. Os justos falecidos querem ajudar-nos a atingir o termo de nossa vocação, que é "participar da sorte dos Santos na luz" (Cl 1,12). O amor e a bondade dos Santos, isto é, aquilo que constitui a santidade, permanecem para sempre.

Foi esta argumentação que moveu os mestres da Tradição cristã a professar a intercessão dos Santos pelos irmãos na Terra. Eis aqui três testemunhos:

Orígenes de Alexandria (+250), no seu Tratado sobre a Oração, recolhe as passagens bíblicas que falam da intercessão dos Santos e dos Profetas, e propõe a seguinte reflexão: as virtudes cultivadas nesta vida são definitivamente aperfeiçoadas no além. Ora, a mais valiosa de todas é a caridade; esta, portanto, na outra vida é ainda mais ardente do que na vida presente. Por conseguinte, os Santos falecidos exercem seu amor para com os irmãos na Terra mediante a intercessão dirigida a Deus em favor das necessidades desses peregrinos. 

Sto. Tomás de Aquino (+1274) professa semelhante doutrina. Pergunta, na Suma Teológica (ll/ll 83, 11), se os Santos na Pátria celeste rezam por nós. E responde afirmativamente; sim, a oração pelos outros decorre do amor ao próximo. Ora, quanto mais perfeitos no amor forem os Santos na outra vida, tanto mais hão de rezar pelos peregrinos na Terra, a fim de os ajudar a chegar à vida eterna[2].

Até mesmo o pensador protestante Gottfried W. Leibniz (+1716) declara não entender por que não se deve recorrer aos Santos na oração. Mais: chama a atenção para a estrutura cristocêntrica e teocêntrica dos nossos pedidos aos Santos, que, conforme Leibniz, obedecem ao seguinte modelo: "Considera, ó Deus, as tribulações que eles (os Santos) suportaram por tua Graça em prol do teu Nome; ouve as suas orações, às quais o teu Filho unigênito conferiu força e valor"[3].

O motivo pelo qual os bem-aventurados respondem às nossas preces, é o seu amor muito vivo:

Os bem-aventurados olham agora para as nossas vicissitudes muito mais do que durante esta vida terrena e vêem tudo de mais perto. (...) O seu amor e a sua vontade de ajudar são muito mais ardentes e as suas orações muito mais eficazes do que durante a vida terrena. É certo que Deus escuta também as orações dos vivos e que nós esperamos proficuamente que as nossas orações se unam às dos irmãos. Não vejo, por isto, razão pela qual devamos duvidar da idéia de invocar um bem-aventurado ou um anjo santo e de implorara sua intercessão e a sua ajuda.
(obra citada, p. 190)

Merece especial atenção o fato de que a oração aos Santos e a intercessão dos Santos não derrogam à unicidade do Salvador e Mediador Jesus Cristo. Ao contrário, esse intercâmbio entre vivos e mortos decorre da obra redentora de Cristo e dá glória ao Salvador; é expressão da excelência dessa salvação. Mais ainda: os Santos são relativos a Jesus Cristo; tudo devem a Este e em tudo encaminham os seus irmãos para Jesus, como notava o Concílio do Vaticano II citado à primeira parte deste estudo.

Os Santos não são doadores nem fontes de graças; são como advogados, que intercedem por eficácia da mediação salvífica de Jesus Cristo.


3. Questões complementares

1. À luz destas verdades, compreende-se também a legitimidade do culto das relíquias. Estas são fragmentos dos ossos dos Santos ou objetos que serviram ao seu uso. Ora, todas as culturas praticaram o respeito e a veneração tanto dos despojos mortais como dos pertences de seus heróis. Que se pode objetar a uma viúva que tenha diante dos olhos a fotografia do marido e conserve carinhosamente os objetos usados por ele? Como seria violento e antinatural impedir tal viúva a veneração das relíquias do marido, é também violento, para um cristão, impedir-lhe que guarde a estima aos sinais materiais que lembram os heróis da fé.

É certo outrossim que a profissão de que os homens ressuscitarão no fim dos tempos incutiu grande apreço aos despojos mortais dos Santos, elevados à dignidade de templos do Espírito Santo durante a vida presente (cf. 1Cor 6,15-20). Verdade é que Deus não recolherá as cinzas esparsas do cadáver para provocar a ressurreição, mas a matéria primeira (no sentido aristotélico-tomista) unida à alma do indivíduo assumirá as feições do respectivo corpo, tornando-se a carne gloriosa correspondente a tal alma.

Os abusos registrados no decorrer da História quanto ao culto dos Santos não são razão suficiente para se condenar a devoção aos mesmos e às suas relíquias.

2. É claro, porém, que a veneração dos Santos em suas diversas modalidades fica sendo algo de facultativo para cada fiel católico. Contudo seria (no mínimo) muito estranho que um católico não tivesse devoção alguma a Maria Santíssima, a mais bendita dentre todas as mulheres (cf. Lc 1,42), como lhe chamou o mensageiro de Deus, e a Mãe da Vida, a nova Eva. A devoção a Maria decorre da própria vocação do cristão a ser "um outro Jesus" (cf. Rm 8,29). Com efeito; quanto mais alguém é um "outro Jesus", tanto mais também é devoto filho de Maria, pois Jesus foi todo Filho do Pai (como Deus) e todo filho de Maria (como homem). Assim a devoção a Maria resulta logicamente do Cristocentrismo da piedade cristã.

3. Ainda uma observação: há Santos tidos como protetores em especiais situações de necessidade: assim Santa Edwiges seria a intercessora dos endividados; Santa Rita de Cássia a dos fiéis envolvidos em problemas insolúveis; Santo Antônio de Pádua o tutor dos namorados e noivos, etc. Essa relação entre o Santo e determinada carência dos irmãos peregrinos deve ter fundamento na vida do respectivo Santo; é de crer que este tenha obtido grandes graças de Deus, outrora, em ocasiões semelhantes às que os seus devotos vivem no presente. Tal relacionamento é aceitável, mas não deve degenerar em superstição.

4. Verifica-se assim a legitimidade e até mesmo a conveniência do culto dos Santos. Quem compreendeu bem o que é o Cristianismo não o pode imaginar sem essa comunhão viva entre os membros do Corpo de Cristo, quer estejam ainda peregrinando na Terra, quer já se achem na glória do Céu. Somente os abusos e as caricaturas puderam desfigurar essa tão bela realidade, levando muitos a negá-la; negam-na, simplesmente, porque estão equivocados a seu respeito.

5. A imagem do Santo deve pairar nitidamente ante os olhos do cristão, pois o Santo é o reflexo mais límpido de Deus e é o ser humano realizado por excelência. O bom médico, o bom músico, o bom cientista podem ser homens maus, mas o Santo será sempre um ser humano bom; será um homem ou mulher tão perfeito(a) quanto possível dentro das limitações humanas. Há, pois, necessidade enorme de Santos em nosso mundo; são o tesouro e a riqueza da Igreja (a concretização dos méritos de Cristo, fonte de toda santidade) e o autêntico patrimônio da humanidade. Por isto o mundo não pode deixar de clamar: "Senhor, dá-nos Santos!".

A propósito, muito se recomenda o livro de Wolfgang Beinert, "O Culto aos Santos" (Paulinas, São Paulo 1990). 


Apêndice: Um testemunho eloquente

Para ilustrar as verdades da fé, são muito significativos os exemplos dos próprios Santos e justos que as viveram e vivem concretamente. Daí a conveniência de se citar aqui o testemunho de fim de vida do Pe. Júlio Fra­gata S.J., que faleceu em Portugal aos 27/12/1985.

Nascido em 1920, o Pe. Fragata S.J. foi professor universitário em Braga e no Porto e Superior Provincial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus. Era homem de grande erudição associada à modéstia e discrição. Revelou a riqueza de sua vida espiritual no fim da sua existência terrestre, como se poderá depreender dos trechos e notícias que se seguem:

1. Às vésperas de ser operado de um câncer no estômago, registrava em seu ''Diário Espiritual":

Tenho sentido certa alegria em deixar este mundo  –, como, quando e onde o Senhor quiser –, entregando-lhe totalmente todo o meu fim de carreira aqui. Mas hoje, na Eucaristia, senti que, assim como Jesus, deixando este mundo, começou a fazer ainda maior bem n'ele, também só desejo deixar este mundo para que, do outro mundo, tenha ocasião de fazer ainda maior bem. Só 'passando a fazer bem' se dá real glória a Deus; e creio que o Senhor disporá que termine a minha vida neste mundo quando estiver em circunstâncias de fazer, do outro mundo, maior bem neste mundo. Quero pedir a Nossa Senhora que me ampare nesta vida, para que nela seja de tal modo purificado que, ao sair deste mundo, possa logo começar a fazer maior bem aqui. Senti rápida mas elevada consideração neste pensamento.
(Braga, 30/05/85)

2. Frequentemente sublinhava que o sofrimento era uma riqueza que não se podia desperdiçar, que a sua partida para Deus ia ser benéfica, uma graça para ele e para os irmãos. Assim, afirmava no seu Depoimento, transbordante de esperança e otimismo cristãos:

Na expectativa de tudo o que me pode acontecer, desejo evitar esbanjar aquilo que mais se esbanja neste mundo, que é o sofrimento. Porque o sofrimento sem amor é um esbanjamento. No Calvário, três estão crucificados: o mau ladrão, que não aceita o sofrimento, apesar de padecer; o bom ladrão, que o aceita e por isso ouve de Jesus as consoladoras palavras: 'Hoje estarás comigo no Paraíso'. Mas há também o sofrimento de Cristo, onde culmina o amor numa eficácia de Redenção. Pedir-Te-ei demasiado, Senhor, se o sofrimento que me espera for mais que mera aceitação, tornando-se entrega voluntária como a Tua, em holocausto pela salvação do mundo? Tu conheces a minha fragilidade e como preciso do Teu perdão; penetras também a minha ânsia de ser contigo 'cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo'. Aceita, Pai, a minha entrega e dá-me a força do Teu Espírito para que habite em mim a fortaleza de Cristo.
(25/09/85)

3. Atesta o Pe. Manuel Morujão, Superior da Comunidade Jesuíta na Faculdade de Filosofia de Braga, de que o Pe. Júlio Fragata era membro: “Das ideias que mais frequentemente lhe ouvi repetir nos seus últimos meses era o sublinhar insistente que a sua partida para a Casa do Pai ia ser um bem para nós, que por nós iria interceder junto de Deus, que de lá nos poderia ser mais útil e fazer maior bem. Poucos meses antes da sua partida, conversávamos à mesa sobre qual seria a nossa ocupação na eternidade. De súbito nos interrompeu, com voz de quem conhece a Verdade por dentro: 'No Céu, ama-se! O descanso eterno é sumamente ativo em amor, em Deus-Amor!'”.

Demos a palavra ao Pe. Fragata através desta página do seu 'Diário Espiritual':

Tenho recebido tantas visitas, telefonemas, cartas, mostras de dedidação e carinho por parte de médicos, pessoas que me tratam, que não sei como demonstrar o meu reconhecimento...

Bem sei que tudo é graça tua e que Tu és Aquele que compensa todo o bem que se faz. Julgo que me prometeste compensar todas as atenções para comigo nesta doença, dum modo muito singularmente especial, como se elas fossem dirigidas diretamente a ti. Obrigado! Mas também sei que, assim como neste mundo toda a dedicação deve ser reconhecida por aquele que a recebe, no outro mundo Tu me darás possibilidades misteriosas, mas eficazes e reais, de poder mostrar este reconhecimento. Julgo que isto é uma consequência necessária da nossa unidade em ti, em comunhão de Santos.

Momentos depois tive a convicção de que o Senhor me atendia este desejo e que faria com que, do Céu, fizesse muito bem em união com Cristo. Também senti que Ele estará comigo até a morte dando-me grande fortaleza.

Acredito, Senhor, nas surpresas do Teu Amor, mesmo quando estas são dolorosas. Entrego-me à Tua vontade, que quero fazer minha'.[4]
(05/10/1985)


O padre Fragata partiu para chegar mais até nós. Separou-se de nós para se tornar mais próximo nosso. Perdeu a vida para a ganhar mais em plenitude... Mais perto de Deus, mais perto de nós. Partiu com um propósito: fazer maior bem. Quem está em Deus, não pode[4] deixar de cumprir!

Eis um dos mais belos comentários de quanto foi dito sobre a comunhão e a intercessão dos Santos. O Pe. Júlio Fragata S.J. teve consciência destas realidades transcendentais e quis vivê-las plenamente; elas o ajudaram a considerar a "morte" com um olhar diferente, profundamente cristão; ele sabia que não se tornaria estranho a seus irmãos peregrinos na Terra, mas exerceria viva solidariedade com eles!

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___________
[1] Canonizar é inserir no cânon ou catálogo dos Santos.
[2] Leibnizens System der Theologie. Nach dem Manuskripte von Hannover ins Deutsche übersetzt von R. Räss und Dr. Weis. Mogúncia, 3a edição 1825, p. 158.
[3] 'Cum oratio pro aliis facta ex caritate proveniat. . . quanto sancti qui sunt in patria sunt perfections caritatis, tanto magis orant pro viatoribus, qui orationibus adiuvari possunt'.
[4] 
Passagens extraídas de 'COMMUNIO', edição portuguesa, janeiro/fevereiro 1986, pp. 87-89.

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Fonte:
BETTENCOURT, Estevão, Revita PR, disp. em:
http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?num=59
Acesso 30/1/017

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O Culto dos Santos – parte 1

PARA CONCLUIR COM chave de ouro nossa singela trilogia sobre o culto de adoração, exclusivo a Deus, e a veneração da Virgem e dos santos, nada melhor que a soberba análise de Dom Estevão Bettencourt para a revista "Pergunte e Responderemos" (grande inspiração de nossa 'O Fiel Católico'), n. 348/1991. Segue.


Detalhe da pintura que representa 'todos os santos', por Fra Angelico (1395-1455)

O culto dos Santos, ponto nevrálgico no diálogo entre católicos e protestantes, é justificado pela Tradição cristã mais antiga, apoiada aliás em fundamentos bíblicos pré-cristãos (cf. 2Mc 15,14). O Concílio de Trento o reafirmou, procurando, porém, coibir abusos e mal-entendidos instaurados na piedade católica. O Concílio do Vaticano II reiterou a doutrina da Igreja, pondo em relevo os aspectos cristocêntrico e teocêntrico dessa prática de piedade.

Com efeito, a solidariedade (e os laços de fraternidade) existente entre os membros do povo de Deus não é extinta pela passagem da vida terrestre para a celeste; ao contrário, o amor fraterno que anima os justos nesta vida é liberto de escórias do pecado na outra vida; torna-se, pois, mais ardoroso e genuíno. Deus, que nos fez membros da mesma Comunhão, proporciona aos Santos no Céu o conhecimento das nossas necessidades para que eles possam interceder por nós, como intercederiam na Terra. Essa intercessão quer-nos levar mais a fundo dentro do plano de Deus; é encaminhada para a glória de Deus e o louvor do Redentor; os Santos são totalmente relativos a Cristo; são obras-primas de Cristo, que nos levam, por suas preces e seus exemplos, a reconhecer melhor a grandeza da nossa Redenção.
Vê-se, pois, quanto é entranhada na Teologia católica a devoção aos Santos. Não é obrigatória, mas facultativa; como quer que seja, decorre de lúcida compreensão do plano salvífico de Deus, principalmente no que diz respeito à Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens (cf. Jo 1925-27).


1. A história da questão

O culto de veneração (não de adoração) dos Santos foi até o século XVI prática tranquila e óbvia entre os cristãos. As raízes desta praxe estão já nas páginas do Antigo Testamento. Com efeito, até o século II a.C. os judeus professavam a existência do cheol ou o entorpecimento da consciência dos defuntos, relegados promiscuamente para um lugar subterrâneo; aí estariam incapazes de receber qualquer sanção. No século II, dissipou-se tal noção; aflorou no povo de Israel a consciência de que os irmãos que deixam esta vida mantêm lúcido um núcleo de sua personalidade e vivem como membros da Aliança de Deus com o seu povo; consequentemente, são solidários com os fiéis peregrinos na Terra e intercedem por eles.

É o caso, por exemplo, de Jeremias Profeta, que, falecido no século VI a.C, aparece a Judas Macabeu no século II a.C., juntamente com o Sumo Sacerdote Onias (também falecido), como "o amigo de seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo, pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus" (2Mc 15,14).

No Novo Testamento, esta consciência se fortalece: na epístola aos Hebreus o autor recorda os justos do Antigo Testamento, heróis da fé, e insinua a sua solidariedade com os irmãos ainda vivos na Terra. Com efeito, afirma: "Todos eles, embora pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa. Pois Deus previa para nós algo de melhor, a fim de que sem nós não chegassem à plena realização" (Hb 11,39s).

Logo a seguir, o autor imagina esses justos colocados num estádio como que a torcer pelos irmãos ainda existentes neste mundo; constituem uma densa nuvem de torcedores interessados no bom êxito do certame que nos toca: "Portanto também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto" (Hb 12,1).

Diz a propósito a Bíblia de Jerusalém, em nota de rodapé a 2Mc 15,14: "Esse papel conferido a Jeremias e a Onias é a primeira atestação da crença numa oração dos justos falecidos em favor dos vivos". Corremos, pois, acompanhados por testemunhas que nos querem ver vitoriosos como eles foram.

Consciente disto, já nos seus primeiros tempos a Igreja começou a prestar veneração particular àqueles defuntos que por sua vida e morte haviam confessado Jesus Cristo. Como relatam as fontes históricas, na segunda metade do século II, firmou-se o costume de haver uma Celebração Eucarística sobre o túmulo dos mártires no dia do aniversário da sua morte (considerado como o dia do seu natalício). Após o período de perseguições, que se encerra em 313 com a Paz de Constantino, os cristãos construíram capelas e igrejas sobre os mesmos túmulos dos seus mártires.

A veneração dos mártires, após a era do martírio sistemático, estendeu-se aos monges (que procuravam viver o espírito do martírio em absoluta renúncia no deserto); em seguida, foi devotada também aos Bispos e sacerdotes e demais fiéis do povo de Deus. Os Bispos eram os juízes da devoção espontânea dos cristãos, de modo que lhes competia aprovar ou não tal ou tal manifestação de piedade. Os Santos eram proclamados pela piedade dos fiéis e os Bispos consentiam ou não consentiam em tais gestos.

Nos séculos Vlll/IX foi debatida a questão das imagens (iconoclasmo). (Curiosamente,) o objeto da controvérsia eram principalmente as imagens de Jesus Cristo; só acidentalmente foram abordadas as imagens dos Santos e, consequentemente, o próprio culto dos Santos. O Concílio Ecumênico de Niceia II (787) declarou lícito o uso das imagens sagradas: a estas se presta um culto relativo à pessoa ou às pessoas representada(s) pelas imagens (e por estas a Deus, nunca à imagem em si). Tal culto em relação aos Santos é de veneração (dulia) e não de adoração (latreia), que compete a Deus só.

Um passo adiante no aprofundamento da temática foi dado pelo Papa João XV: no ano 993 ele procedeu à primeira canonização formal. Isto quer dizer que doravante não valeria mais a aclamação de um Santo por parte do povo de Deus, aprovada pelo Bispo local. O Papa atribuía a si a função de canonizar os Santos[1] — o que se faria após meticuloso processo ou exame dos respectivos indícios de santidade — a fim de se evitarem equívocos por parte do entusiasmo das massas de fiéis. O primeiro Santo assim canonizado foi Santo Ulrico, Bispo de Augsburgo (Baviera), falecido em 973. Nessa ocasião (em 993), João XV endereçou a encíclica Cum Conventus Esset aos Bispos da Alemanha e da Gália, em que realça dois importantes princípios da veneração dos Santos:
Honramos os servos para que a honra recaia sobre o Senhor, que disse: 'Quem vos acolhe, a Mim acolhe' (Mt 10,40). Além do quê, nós, que não podemos confiar em nossas próprias virtudes, sejamos sempre ajudados pelas preces e os méritos dos Santos.
(Denzinger-Schònmetzer, Enquiríd n° 756 [342])

(Pode surpreender alguns, muito habituados a uma leitura altamente tendenciosa da História, mas é fato que) em plena Idade Média, o Concílio do Latrão IV (1215) promulgou uma advertência sobre abusos ocorrentes no culto das relíquias(!):

O fato de que alguns expõem relíquias dos Santos para vendê-las e as apresentam ao público desordenadamente, tem acarretado danos para a religião cristã. A fim de que isto não mais aconteça, estabelecemos pelo presente decreto que doravante as relíquias antigas não sejam expostas fora do respectivo cofre nem sejam apresentadas para venda. As que forem recém-descobertas, ninguém ouse venerá-las publicamente sem que tenham sido previamente reconhecidas pelo Pontífice Romano. De resto, os prelados não permitam que os fiéis desejosos de venerar relíquias nas igrejas desses prelados sejam iludidos por falsas imagens ou documentos, como em vários lugares, por motivo de lucro, tem acontecido habitualmente,
(Denzinger-Schònmetzer, Enquirídio n°818 [440])

Vê-se que havia abusos decorrentes da fragilidade humana. Abusos, porém, que não deviam implicar a supressão do uso justificado por motivos teológicos, como adiante se verá. O culto dos Santos e das relíquias era algo de tão radicado na piedade católica que o Papa Martinho V, no questionário apresentado aos seguidores de Wiclef e Huss (contestatários reformistas dos séculos XIV e XV), incluiu a seguinte pergunta: "Crê e afirma que é lícito aos fiéis venerar as relíquias e as imagens dos Santos?" (Bula Inter Cunetas, de 22/02/1418, questão 29; D.-S., Enquirídio no 1269 [679]). De acordo com o princípio tradicional Lex Orandi Lex Credendi (a lei da oração é a lei da fé, a oração é expressão e escola de fé autêntica), o culto dos Santos praticado na Liturgia da Igreja não era apenas uma questão de disciplina ou uma prática venerável; era, sim, algo que se prendia ao patrimônio da fé católica. Negar o culto de veneração aos Santos seria ferir, ao menos indiretamente, uma verdade de fé católica. Eis por que o Papa mandava perguntar aos contestatários se aceitavam a veneração dos Santos.

Os abusos já condenados pela autoridade da Igreja no século XIII foram-se avolumando nos séculos subsequentes. O fim da Idade Média foi de piedade férvida ou mesmo exuberante, mas pouco ilustrada pela doutrina da fé, de modo que os fiéis manifestavam seus sentimentos religiosos de maneiras evidentemente aberrantes. Isto provocou a réplica de Lutero e Calvino no século XVI.
Os dois reformadores aceitavam a veneração dos Santos (aliás, quem não venera um herói ou uma heroína?), mas contestavam a sua função de intercessores; esta parecia-lhes derrogar à exclusividade da ação salvífica de Jesus Cristo; em particular, Lutero argumentava que também o justo permanece pecador (um pecador revestido do manto dos méritos de Cristo, mas pecador debaixo de uma capa de justiça); por conseguinte dizia Lutero, os justos não podem ser instrumentos de salvação.
A estas asserções, o Concílio de Trento respondeu tanto na Profissão de Fé Tridentina (13/11/1564, DS 1867 [998]) como no "Decreto sobre a Invocação, a Veneração e as Relíquias dos Santos e as Imagens Sagradas" (3/12/1563). Este último afirma seis pontos:

1) Os Santos, que reinam com Cristo, oram pelos homens;

2)
Invocá-los e implorar a sua intercessão é coisa boa e útil;

3)
No entanto, Cristo (permanece) sendo o único Redentor;

4)
Os benefícios em resposta à oração vêm de Deus através de seu Filho (a Deo per Filium) [o Concílio ainda exortou os Bispos a que instruíssem os fiéis conforme a Tradição da Igreja e impedissem os abusos existentes];

5)
A veneração das relíquias se justifica pelo fato de que os corpos dos Santos eram templos do Espírito Santo e serão ressuscitados para a vida eterna;

6)
Às imagens dos Santos prestem-se honra e veneração, tendo-se em vista aquele ou aqueles que tais imagens representam. A veneração das imagens estimula o agradecimento a Deus e a imitação dos heróis da fé (ver DS, Enquirídio no 1821-1825 [984-988]).

Como se vê, o Concílio de Trento reiterou a doutrina tradicional da Igreja, ao mesmo tempo que repeliu quaisquer abusos, para os quais chamou a atenção dos Bispos e mestres da fé, encarregados de velar pela pureza da doutrina e da piedade cristãs. Note-se, porém, que os padres conciliares quiseram salvaguardar a liberdade dos fiéis frente ao culto dos Santos; este é tido como bom e útil (bonum et utile), não, porém, obrigatório. A Igreja como tal cultua os Santos em seu calendário litúrgico, mas deixa ao critério de cada fiel definir os termos de sua devoção pessoal.

Até o Concílio do Vaticano II (1962-65) nada de novo se disse em caráter oficial sobre o assunto. Este último Concílio retomou a temática e deu-lhe uma formulação bem mais precisa e correspondente às objeções protestantes; enfatizou especialmente o caráter cristocêntrico e teocêntrico do culto dos Santos. Cristo e Deus Pai é que, em última análise, são cultuados quando se cultuam os Santos.
Assim, por exemplo, reza a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia:

Nos natalícios dos Santos a Igreja apregoa o Mistério de Páscoa vivido pelos Santos que com Cristo sofreram e foram glorificados, e propõe o seu exemplo aos fiéis, para que atraia, por Cristo, todos ao Pai e por seus méritos obtenham os benefícios de Deus.
(N. 104)

Tal texto demonstra o caráter fortemente teocêntrico e cristocêntrico ao culto dos Santos. Ele nos induz a reconhecer o Mistério da Páscoa ou da Vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. O exemplo dos Santos deve levar os fiéis ao Pai mediante Jesus Cristo. O mesmo é dito pouco adiante: "As festas dos Santos proclamam as maravilhas de Cristo realizadas em seus servos e mostram aos fiéis os exemplos oportunos a ser imitados" (n. 111).

A Constituição Lumen Gentium insiste sobre o enfoque cristocêntrico, quando afirma:

Assim como a comunhão cristã entre os cristãos na Terra mais nos aproxima de Cristo, assim o consórcio com os Santos nos une também a Cristo, do qual como de sua Fonte e Cabeça promana toda a graça e a vida do próprio Povo de Deus. Convém, portanto, sumamente que amemos esses amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo, além disso irmãos e exímios benfeitores nossos; rendamos as devidas graças a Deus por meio deles, os invoquemos com súplicas e recorramos às suas orações, à sua intercessão e ao seu auxílio para impetrarmos de Deus as graças necessárias por meio de Seu Filho Jesus Cristo, único Redentor e Salvador nosso. Pois todo genuíno testemunho de amor manifestado por nós aos habitantes do Céu, por sua própria natureza tende para Cristo e termina em Cristo, que é a coroa de todos os Santos e, por Ele, em Deus, que é admirável nos seus Santos e neles é engrandecido.
(N. 50)

Assim o Concílio do Vaticano II esclareceu a veneração aos Santos como algo de logicamente inserido no patrimônio da genuína fé e algo de salutar, tendente a nos fazer mais e mais admirar a obra de salvação de Deus, que toma novas e novas facetas em cada Santo. Estes nos levam a Deus; são totalmente relativos a Deus, como bem dizia S. Agostinho:

Ipse enim sine illis Deus est; illi sine ilio quid sunt? – Deus é Deus sem eles (os santos), mas eles, que são sem Deus?”
(Sermão 128, 3 de Santo Agostinho)


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Fontes e bibliografia na conclusão
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Adoração somente a Deus: há exageros no culto católico a Maria? – parte 2


O problema é que as vezes o ensinamento da igreja católica é diferente do que a gente ve na igreja , os fiéis e até o que os padres ensinam., Sobre esse assunto Uma coisa que eu fico meio assim é quando a pessoa diz que é "católico mariano". Meu Deus não foi Jesus que salvou? Maria não é serva de Jesus também? então que história de 'mariano'?

O ARTIGO SOBRE adoração a Deus e veneração a Nossa Senhora gerou especial repercussão, e já esperávamos que seria preciso dizer mais sobre o tema. De fato, a experiência, inclusive de vida, me permite conhecer os principais anseios de católicos e não católicos quanto aos assuntos relacionados à Doutrina. E digo que este tema específico, a meu ver, é quase que um "ponto cego" na prática pastoral da Igreja. Por conta deste, católicos mal formados e mal orientados se vão; outros resistem ou recusam-se a retornar a ela. Digo-o porque temos, de um lado, padres marianos que, sempre entusiasmados em exaltar a Rainha do Céu, também se esquecem sempre de dizer, por exemplo, que Maria é humana, que também ela foi salva por Cristo e/ou que, em que pese toda sua grandeza, ela é serva de Deus também. É isso o que nosso consulente quer ouvir, para se sentir seguro, e tudo isso é doutrina 100% católica, embora talvez (tenho que reconhecer) muitas vezes não pareça. O que é óbvio para alguns não é tão óbvio para todos, por muitos motivos.

Lembro-me, por exemplo, de um grande evento católico, num grande estádio de futebol em que um conhecido arcebispo de uma das principais capitais brasileiras (por motivos óbvios prefiro não citar nomes), em dado momento da pregação, deixou escapar: "Estamos aqui adorando esta imagem de Maria...". Evidente que foi um ato falho; creio piamente que ele queria dizer "venerar", "honrar", "homenagear" ou algo assim. Em todo o restante do discurso ele usou estes termos, corretamente. O fato, porém, é que aquela frase equivocada, perdida, passou, aparentemente desapercebida no meio de um longo pronunciamento. Mas terá mesmo passado totalmente desapercebida? O que sei é que haviam milhares de pessoas presentes, ouvindo, por um breve instante, uma heresia da boca de um Cardeal Arcebispo. Foi uma situação que me marcou, porque aconteceu exatamente na fase de minha vida em que eu vivia o meu momento de reconversão, de retorno à Casa do Pai, depois de ter me afastado e vagado por diversas denominações protestantes. E naquela frase um sucessor dos Apóstolos pareceu confirmar algo de que os pastores protestantes acusam, falsamente, a Igreja Católica...

Não foi nada. Como eu sempre fui de estudar, de ponderar e procurar a verdade com diligência, de imediato soube reconhecer que se tratara simplesmente disso, de um deslize, um equívoco, um termo infeliz mal colocado numa frase. Mas não deixou de ser uma situação absurda, tal erro primário saindo da boca de um pastor de almas supostamente preparadíssimo. Por que isso acontece? Porque, talvez, falte algum pudor, algum cuidado maior para se falar deste assunto, de parte dos católicos, e isso escandaliza muita gente.

Outra questão importante –, ainda que secundária para o que nos interessa aqui –, é que muitos dos nossos pastores também se esquecem, e com muita frequência, de dizer que só existe uma "Nossa Senhora" –, a Mãe de Jesus –, e que os títulos que lhe atribuímos são sempre secundários. Testemunhava um padre amigo que, em certo pequeno município de São Paulo, numa certa procissão de Sexta-Feira Santa promoveu-se o "encontro das Virgens", isto é, de duas imagens diferentes de Nossa Senhora (se bem me lembro uma de Nossa Senhora das Dores e outra da Alegria!). Ora, ainda que haja, dentro de um contexto próprio, alguma razão catequética para tanto, não se pode negar que esse tipo de coisa provoca confusão. Só há uma Virgem Maria de Nazaré, como podem se encontrar "duas Marias" numa procissão, como se se tratassem de "duas santas" diferentes?

Bem, sei que não são poucos que pensam que cada imagem de Nossa Senhora, sob determinado título, é uma santa diferente da outra. Via de regra são pessoas humildes e muito simples, e não sei até que ponto podemos acusá-las, porque é fato que pouco se explica, nas homilias e pregações públicas, a este respeito.

Todo o exposto até aqui é real e me parece importante. Igualmente é verdade que, de outro lado, temos aqueles que, preocupados com a pureza da Doutrina, receiam em se entregar a uma devoção mais profunda, de intimidade e proveitoso relacionamento com a nossa poderosa Mãe do Céu. Isto acontece especialmente com aqueles que vem do protestantismo.

Pois é... Quando digo "poderosa" Mãe do Céu, sei que já estou potencialmente provocando polêmica, certo Artur? Sim, sim, nós, católicos, sabemos bem que Maria não tem poder por ela mesma. Eu também poderia dizer "gloriosa Mãe de Cristo", e você gritaria que ela não tem glória, que toda glória pertence a Deus, que Deus não divide sua glória (como vimos no estudo anterior)...

O problema todo tem a ver com palavras e, principalmente, com o significado das palavras ou o significado que se atribui a elas. Maria é criatura, ainda que uma criatura soberbamente agraciada, e como tal não tem o poder de realizar milagres, por exemplo, ou curar alguém por ela própria. Entretanto, o poder que ela tem é o da intercessão. E o poder da intercessão da Mãe de Deus, meu irmão, este é um tremendo, imenso, avassalador poder. Se este aqui fosse um site destinado ao público adolescente, eu diria que é um poder maior do que qualquer superpoder; algo que humilharia o Superman, se ele existisse...

Este grande poder de Maria chegou a ser chamado "onipotência suplicante", e aí você vai se escandalizar de novo. Mas, como eu disse, é tudo uma questão de prestar atenção às palavras. Veja que não está a se afirmar que "Maria é onipotente"; fala-se, isto sim, em "onipotência (atenção) suplicante". Pois é, esta segunda palavrinha faz toda a diferença entre o que seria uma blasfêmia e uma afirmação plenamente consonante à Doutrina cristã de sempre. Diz-se onipotência suplicante, porque Maria consegue, obtêm de Cristo, suplicando –, por nós e pelo mundo pecador –, tudo.

"Tudo?", dirá você. Sim, eu respondo. Como assim? Se eu pedir a ela que me faça o homem mais rico do mundo, ela conseguiria isto por mim? Não, muito provavelmente isto ela não me daria por meio da sua intercessão. Ora, mas as suas súplicas a Deus, então, não são onipotentes? O problema aí é outro. Maria não obteria algo desse tipo porque, em primeiro lugar, ela não pediria isto a Deus. Simples assim. S. Tiago Apóstolo foi claríssimo ao falar sobre situações deste tipo em sua Epístola: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes com os vossos prazeres" (4,3).

As súplicas de Maria só são tão poderosas porque ela pede apenas aquilo que é conforme à Vontade de Deus, e ela só pede o que é conveniente porque vive no Céu em íntima Comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ela, que foi a mais obediente e mais conforme à Vontade do Pai dentre todas as criaturas, quando caminhava no mundo, agora, em Glória inacessível, está ainda mais perfeitamente alinhada àquilo que Deus quer, e o que Deus quer para nós é sempre o nosso bem maior. O nosso bem maior é a vida plena e eterna no Céu, portanto, pedidos fúteis ou que nos afastem deste bem maior não são feitos por Maria.

Assim, quanto se fala no "poder" de Maria ou nas "glórias" de Maria, é sempre dentro do contexto que acabamos de expor. Todo o poder vem de Deus; toda a glória vem de Deus. Quando alguém pede, por exemplo, uma cura a Maria, é sempre Deus Quem cura – e quantas curas os fiéis católicos obtêm por intermédio de Nossa Senhora! Se nos concentrarmos apenas em Lourdes, são muitíssimos os casos confirmados, com perícias e laudos médicos, sem contar aqueles (muitos!) que não chegam a ser estudados.

Logo, tem Maria poder por ela mesma? Não. Ela tem, isto sim, um poder de intercessão incomparável. Por isso é que, muitas vezes, padres e pregadores falam do "poder de Maria", das "glórias de Maria": é sempre o poder que Deus dá a ela, de obter grandes coisas por nós; as glórias incomparáveis que Deus dá a Maria, a mulher que Ele quis ter por Mãe.

Muito bem. Até aqui, creio que não há grandes dificuldades de compreensão. Mas os problemas recomeçam, novamente pelo mau uso que se faz das palavras. Lá vai algum padre piedoso, durante uma homilia, dizer que "Maria nos salva", e não esclarece o que está realmente dizendo com isso. Há até um cântico católico tradicional que diz, no refrão: "Doce coração de Maria, sede a nossa salvação"... "Oh! Está vendo? Só Jesus salva! Isto é idolatria! Heresia! Blasfêmia!", dirá Artur.

Nada disso. Quando você diz "Só Jesus salva", todo católico minimamente bem formado responderá, singelamente: "Amém!". É o que eu respondo sempre que me dizem isto, e percebo que essa reação causa espanto. Ora, é claro que só Jesus salva. Todos os documentos da Igreja, desde o início até hoje, a começar pela própria Bíblia Sagrada, afirmam e reafirmam esta verdade fundamental inúmeras vezes. E nós cremos que Maria, assim como os santos e anjos de Deus, conduzem-nos a Cristo, de muitos modos, por meio de suas súplicas incessantes.

Vejamos um exemplo prático e bem simples. Imagine um sujeito qualquer –, vamos chamá-lo João –, cuja vida vai de mal a pior. Ele está perdido em muitos vícios, afastado de Deus, sem fé, sem esperança, sem caridade. Um belo dia, um autêntico cristão chamado José, alguém de fé realmente ardente, pelo seu exemplo e com muita perseverança, convence o pobre João a ir à igreja. Indo à igreja e ouvindo a pregação, João, que estava desesperançado, vai se transformando por dentro, sua fé vai se reacendendo e, logo na próxima oportunidade, novamente José o leva à igreja; assim a coisa continua e com isso João, o pecador contumaz, de tanto ouvir falar de Cristo, volta a crer, aos poucos vai abandonando os seus vícios, até se arrepender completamente deles, confessar os seus pecados e, afinal, retomar a Comunhão com Cristo.

Pergunta: poderíamos dizer que José salvou João? Sim! José convidou, chamou, deu exemplo, persistiu, acompanhou e, assim, João reencontrou Jesus Salvador. Não foi José quem salvou João no sentido literal ou mais profundo, porque, se João afinal aceitou ir à igreja, antes de tudo, foi por misericórdia do próprio Cristo, por inspiração do Espírito Santo, que chama as almas à reconciliação com Deus. Todavia, José fez bem a sua parte, cumpriu a sua obrigação de cristão e, de algum modo, participou ativamente na salvação de João. João poderá dizer, sem errar: “José foi a minha salvação!”, porque o levou ao verdadeiro e único Salvador.

É mais ou menos isso o que se dá com Maria e os santos: eles pedem incessantemente a Deus por nós, oferecem-nos constantemente o exemplo de suas vidas, inspiram-nos a procurar Cristo. Que grande multidão de almas salvou-se (ainda que não diretamente por eles) por meio deles!


Nossa Senhora é reverenciada em todo o mundo sob muitos títulos: esta estátua colossal da Virgem Maria fica no município de Santa Clara, Califórnia, EUA


Adoração e veneração

O problema é que as vezes o ensinamento da igreja católica é diferente do que a gente ve na igreja , os fiéis e até o que os padres ensinam (...)

Haverá, então, diferença entre o que a Igreja prega e ensina "oficialmente" e o que pratica de fato? Já conversei com muitos protestantes e pentecostais decepcionados com suas comunidades e sinceramente desejosos de conhecer a primeira (e única) Igreja de Cristo sem preconceitos, com boa vontade e alma desarmada. Ao estudar o Catecismo e documentos pontifícios, encantam-se, mas escandalizam-se diante de muitas das práticas que veem em pessoas confessadamente católicas. Estudam os documentos da Igreja e encontram coerência, mas não podem aceitar certos costumes, que não compreendem. É por isso que venho aprofundar mais o problema proposto pelo leitor antes anônimo, que agora se identifica com o nome "Artur". Será que, na Igreja, o discurso é diferente da prática? Aprofundemos a nossa análise um pouco mais.

O escândalo se dá, por exemplo, ao ver alguém se prostrar ante um ícone, beijá-lo, falar diante dele como se falasse a ele. Antes de mais, é preciso distinguir o ícone de um santo de um ídolo. Um ídolo (do grego, εἴδωλον, eidolon) é um objeto, imagem ou criatura colocada no lugar de Deus; literalmente, é um deus falso. Isto é claramente proibido pelo primeiro Mandamento da Lei de Deus. Já o ícone representa um santo (quando não o próprio Cristo), que é uma criatura de Deus, mas que não é jamais colocada no lugar de Deus, ao contrário; remete a Ele, como vimos. Um santo é como uma ponte para Deus, uma seta que aponta para Cristo, um lembrete para a nossa salvação.

Fica clara, então, a grande diferença que existe, afinal, entre adoração e veneração. Sendo um ídolo algo que se coloca no lugar de Deus, então temos muitas possibilidades de trair o Primeiro Mandamento: posso idolatrar um(a) amante, um grande líder político ou mesmo religioso, um artista, um cantor, um músico, um grande esportista... Depende de como se lida com as pessoas que se admira, de como se "olha" para elas. Diante de qualquer criatura, seja pessoa ou objeto, há sempre uma escolha a ser feita: vê-la e tê-la como um ícone (do grego, εἰκών, eikon) ou como ídolo. O ícone remete a Deus, leva a Deus, homenageia a Deus. Muitos salmos louvam a Deus pelas belezas que criou; assim, qualquer coisa de que gostamos pode servir para nos levar mais perto de Deus, por gratidão, por reconhecer nesta coisa a sua Glória e Bondade. Mas, se elevamos aquele bem de que muito gostamos ao lugar de Deus, então idolatramos.

Na Sagrada Escritura, a própria Virgem Santíssima, cheia do Espírito Santo, declarou de si mesma: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1,48); além disso, o Senhor Jesus Cristo em Pessoa, por diversas vezes, referiu-se às pessoas “bem-aventuradas”: os humildes, os que tem fome e sede de justiça, os pacificadores, etc. Ele mesmo estava, assim, louvando tais pessoas, pelas virtudes que receberam do Pai, chamando a atenção para a ação de Deus em tais criaturas. Assim são os santos.

Quando os católicos veneram um santo, o que fazem, em última análise, é louvar a Deus e agradecer por Ele usar pessoas humanas, tão frágeis, para realizar a sua Obra. No caso de um ícone, que recorda alguma criatura, a mesma regra se aplica. Portanto, é licito venerar imagens, prostrar-se diante delas, falar com os santos diante dessas imagens, beijá-las simbolicamente, acender velas diante delas, oferecer flores. O II Concílio de Niceia diz com clareza que o culto prestado à imagem não se dirige à imagem em si, mas sim ao protótipo, ou seja, àquele que está no Céu. Deus resplandece sua Glória naquela criatura.

Assim, ajoelhar-se diante de uma imagem da Virgem Santíssima pode ser considerado idolatria? A resposta direta e honesta é: depende. Se esta imagem está sendo vista e tratada como um ídolo por aquela pessoa, ou seja, está sendo posta no lugar de Deus, então sim. Mas, se ela for vista como um símbolo, uma ponte que leva a Deus, que conduz para o culto e o louvor a Deus, na Glória eterna que só a Ele pertence, então não.

Agora, convenhamos: será mesmo que existam em nossos tempos muitas pessoas que confundam Deus com uma estátua? Algum ser humano racional poderá realmente acreditar que uma escultura feita por mãos humanas é a Criadora do Universo, a Fonte da vida e a Provedora de todas as graças? Responda o leitor.


Católicos 'marianos'?

A Igreja de Cristo, como o próprio nome diz, é cristã e, como tal, tem que ser católica (universal, que existe como 'Casa de Oração para todos os povos', cf. Mc 11,17; Is 56,7). Se, por piedosa devoção, nos colocamos como "marianos", ou dizemos que somos "tridentinos", "carismáticos" ou outra coisa, é preciso cuidado com essas expressões que são, por mais piedosas, sempre secundárias e mesmo dispensáveis. De fato e de direito, até pelo bem daqueles que não conhecem a Sã Doutrina (dentro e fora da própria Igreja), bastaria e seria mais correto, para todos os efeitos, dizer que somos cristãos e católicos. Ponto.

O termo "mariano" seria como que um subtítulo que, diga-se de passagem, foi adotado por diversos grandes santos no correr dos séculos. Ainda assim, permanece subtítulo e, como todo subtítulo, não é necessário, mas contingente/acidental. É algo semelhante ao que acontece com uma obra literária, que precisa de um título, para que possa ser publicada e logo catalogada, depois conhecida, procurada e, evidentemente, adquirida e lida pelo seu público. Mas não precisa de subtítulo: um subtítulo pode ser muito útil e enriquecedor –, desejável até –, em alguns casos. Mas permanece contingente.

O nosso "título", fiéis católicos, é este mesmo: "católicos", que é sinônimo de "cristãos". Podemos agregar a este título (necessário) um ou mais subtítulos (contingentes)? Sim. Isto é útil ou vantajoso, edificante para si mesmo e para as almas? Em certas circunstâncias, sim. Em outras, poderá se tornar contraprodutivo. Falamos aqui, especificamente, sobre o subtítulo "mariano", como poderíamos falar sobre vários outros: a Igreja, por ter crescido tanto, e tão admirável e rapidamente, desde jovem viu-se confrontada com a tentação da divisão entre seus filhos –, às vezes em grupos que terminavam por se opor uns aos outros –, não só pela diferença dos carismas, mas, infelizmente, também das personalidades, dos temperamentos e gostos particulares, coisas inescapáveis ao próprio gênero humano.

Em sentido estrito e absoluto, todo verdadeiro católico é mariano, pois que Maria Santíssima, sendo Mãe de Deus, é igualmente nossa Mãe do Céu, maravilhosa graça divina que recebemos diretamente do Cristo pendente da Cruz. Como dito, além de muitos santos, alguns dos sacerdotes mais dignos e fiéis que conhecemos se declaram "marianos". Todavia é igualmente verdade que todos eles entendem bem o que isto exatamente quer dizer, e sabem o que acabamos de expor: que o termo "mariano" é subtítulo. O título principal e suficiente –, porque basta por si só e não exige nenhum complemento –, é "cristão" e/ou "católico". Curiosamente, justamente por todo católico autêntico ser também mariano é que se faz dispensável essa subtitulação.


Sim, houve e há exageros
Tudo aquilo que nos torna dignos de ser amados aos olhos de Deus nos vem d’Ele mesmo e só nos pode ser dado por seu amor soberanamente livre e gratuito. Digno de ser amado é o Bem, e nenhum bem, seja de que natureza for, pode vir senão da Bondade essencial, Fonte de todo bem.
(Sto. Tomás, 1, q. 19, a. 3)

Deus, em sua infinita riqueza de perfeições, inclui em Si todas e quaisquer perfeições, quer as suas, quer as dos seres que Ele cria e que são reflexos ou participações nas perfeições d'Ele. Por isso a Igreja vive e se move, como rezamos na Missa, "com Cristo, por Cristo e em Cristo", Deus Conosco. Como tal, esta Igreja sempre teve clara a ideia de que o único digno de ser adorado é o mesmo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Ninguém mais pode ser adorado, nem sequer a criatura mais pura, agraciada e bem-aventurada que jamais existiu, a ponto de ter-se tornado para nós o Tabernáculo da Nova e Eterna Aliança entre Deus e a humanidade. Absolutamente ninguém, ninguém a não ser Deus, merece e pode receber a nossa adoração.

Há uma disciplina complexa e talvez difícil, sob certos pontos de vista, que em nossos tempos chamamos "Mariologia". Algum tempo após a divisão trazida pela dita "reforma" protestante, este tema foi-se tornando, aos poucos, um dos mais espinhosos e também dos maiores pretextos para disputas inúteis e despropositadas. Em todo caso, somos também obrigados a reconhecer, por justiça, que, de nossa parte, na ânsia em enaltecer as virtudes e a dignidade especialíssima da Virgem, em certos momentos caímos no exagero. Certas máximas como a célebre "de Maria nunquam satis" ('de Maria nunca se dirá o suficiente'), atribuída a S. Bernardo de Claraval, foram sem dúvida mal interpretadas ao longo da História, ao ponto de ter gerado, sim, em certas situações específicas, idolatria.

Consta das biografias do Padre Pio, que tinha visões da Virgem (de suas cartas ao seu confessor), que o Padre, num desses êxtases, arrebatado pela "belíssima beleza" da Mãe de Deus, exclamou: "Ah, Mãe bela, és bela! Se não tivéssemos fé, os homens te chamariam deusa!"... Tal é a glória dada por Deus à Santíssima Virgem, Rainha do Céu, assentada à direita de seu Filho, o Rei dos reis, que às mentes fracas poderia oferecer o risco de queda, realmente, na idolatria.

Quem se espanta ao se defrontar, hoje, com a doutrina 100% herética intitulada "Maria Quarta Pessoa da Santíssima Quaternidade" (desgraçadamente nascida em seio católico), na maioria das vezes não imaginará que na História da Igreja já se tinha conhecimento de grupos de “cristãos” que caíram no erro de adorar a Virgem Maria como deusa. Segue a história de uma destas heresias e de como foi devida e imediatamente condenada pela Igreja.

As heresias são tão antigas como a própria história do Cristianismo. Por isso, a Igreja tem que atuar diligentemente para denunciá-las e para que o povo de Deus não seja confundido. No séc. IV, apareceu um grupo de autodenominados “cristãos”, conhecidos como coliridianos, os quais se reuniam num culto de adoração à Virgem Maria. Este estranho culto consistia, entre outras coisas, em oferecer bolos e pastéis à Virgem, em sinal de verdadeira adoração. Na realidade, eles não eram cristãos, mas uma seita gnóstica integrada majoritariamente por mulheres que tomaram a figura de Maria e a mesclaram com a dos deuses pagãos, no famigerado sincretismo que tanto infortúnio costuma causar aos verdadeiros cristãos. Logo, misturavam-se passavam-se por verdadeiros católicos, alguns dos quais já se misturavam com eles e os admitiam ao convívio fraterno.

Quando Santo Epifânio, bispo de Salamina (367-402), soube desta heresia, não tardou em denunciá-la e condená-la em nome de toda a Igreja Católica. Tal condenação pode-se ler em sua célebre “Paranión”, da qual consta o seguinte trecho:

É ridícula e, na opinião dos sábios, totalmente absurda (a heresia coliridiana), pois aqueles que, com atitude insolente, são suspeitos de fazer tais coisas, prejudicando as mentes (…) que se inclinam nesta direção, são culpadas de terem causado pior dano.

Santo Epifânio esclarece a diferença entre o verdadeiro culto a Deus e, do jeito mais singelo, direto e objetivo possível, como convinha aos santos bispos e teólogos do seu tempo, a primeira e mais pura verdadeira devoção à Virgem Maria, dizendo com total clareza: “Seja Maria honrada. Seja o Pai, Filho e Espírito Santo adorado; mas ninguém adore Maria”.

Também entre os montanistas orientais os chamados marianistas e filomarianistas adoravam Maria com "deusa". Vemos, então, que o perigo dos exageros é real, e apesar de toda a paranoia de alguns de nossos irmãos afastados, devemos reconhecê-lo. Esta é a atitude mais séria e honesta de nossa parte.

A Santíssima Virgem 'é honrada com razão pela Igreja com um culto especial. E, em afeto, desde os tempos mais antigos, se venera a Virgem Maria com o título de Mãe de Deus', sob cuja proteção se achegam os fiéis suplicantes em todos os seus pedidos e necessidades. Este culto (…) também é todo singular, essencialmente diferente do culto de adoração a Deus, ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e o favorece poderosamente' (LG); encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus (cf. SC 103) e na oração mariana, como o Santo Rosário, 'síntese de todo Evangelho'
(Catecismo da Igreja Católica §971)

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Fontes e ref.:
1. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santissima, 4. ed. Madrid: BAC, 1856, P.841.• DIAS, Mons. João Scognamiglio Clá, EP. O Inédito sobre os Evangelhos: Comentário aos Evangelhos Dominicais. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013.

• 'Quando a Igreja Católica condenou a adoração a Virgem Maria', disp. em
http://pt.churchpop.com/quando-igreja-catolica-condenou-adoracao-virgem-maria/
Acesso 25/1/017

• 'Culto aos santos e suas imagens', Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. disp. em
https://padrepauloricardo.org/episodios/culto-aos-santos-e-suas-imagens

Acesso 25/1/017
www.ofielcatolico.com.br
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