Aderir a uma ideologia ou buscar a verdade?


ÀS VEZES, A REALIDADE mais óbvia parece invisível à maioria. 

Não é óbvio que em uma democracia as decisões mais importantes e de repercussão direta na vida dos cidadãos deveriam exigir a participação popular? Que os partidos políticos deveriam apresentar programas, propostas e projetos que pudessem ser racional e cientificamente corroborados ou refutados, por especialistas isentos e pela sociedade que, numa democracia, os elevou ao poder? 

O que vemos, porém, é coisa bem diferente. Atualmente, vivemos submersos num oceano de fanatismo ideológico que falsifica os princípios, que usa de toda sorte de mentiras e considera válido todo e qualquer recurso –, ainda que desonesto –, na construção de projetos de poder. Malditas ideologias, que nos cegam para o que deveria ser óbvio!

“Ideologia, eu quero uma pra viver”, dizia o refrão de uma canção popular nem tão antiga. Seu compositor, com toda a certeza, não sabia exatamente do que estava falando. Ideologia não é conhecimento sobre absolutamente nada, porque o conhecimento precisa ser necessariamente verdadeiro. Ideologia não é adesão à verdade, e sim a uma visão particular e geralmente distorcida da verdade.

Pior ainda, a adesão às ideologias têm sido a fonte das maiores atrocidades da História. É um fato incontestável que todos os piores horrores do século XX (assim como foi desde sempre) foram perpetrados por ideologias: fascismo, nazismo e comunismo são pragas que não morreram. Pelo contrário, as tentativas de revivê-las continuam no mundo contemporâneo – em alguns casos, mais fortes do que nunca. Toda atenção – e ação consciente – da parte dos verdadeiros fiéis católicos ainda é pouco.

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Por que criticam tanto o comunismo, se o liberalismo, a maçonaria e outras doutrinas também são condenadas pela Igreja?

A imagem acima circula pela web. Alguns se apressam em dizer que se trata de 'montagem', mas não é. São duas imagens, de eventos diferentes, em uma. O objetivo é demonstrar quão grande absurdo é que padres apoiem um partido comprometido com a promoção do aborto, um pecado gravíssimo que acarreta, ao fim, excomunhão e perda das Ordens.

O nosso leitor Enildo Luiz Gouveia enviou-nos um comentário bastante oportuno para o momento que estamos vivendo, e que representa bem o pensamento de uma parcela importante de católicos que andam confusos, especialmente em nosso país. O comentário foi postado como resposta ao nosso artigo "Cristianismo, capitalismo e comunismo", que pode ser lido aqui. Resolvemos responder às questões citadas em forma de postagem, pelo interesse comum que estas contém. Rogamos a Deus para que seja útil. Segue.

Quer dizer que o capitalismo pode ser humanizado e o comunismo não. Por que não citar também, as diversas condenações que a Igreja fez e faz ao Capitalismo?..

VEIO A CALHAR ESTE seu comentário, Enildo, porque tenho visto muito esse tipo de argumento por aí, nas conversas e nas redes sociais, e queria mesmo publicar um esclarecimento aqui no site. É para isso que O FIEL CATÓLICO serve: para ser um instrumento no esclarecimento das coisas que concernem à Fé cristã e católica.

Antes de entrar no assunto principal, vamos dizer o óbvio: o artigo que o leitor está comentando fala do comunismo –, e não do capitalismo –, simplesmente porque é a resposta a um outro leitor que veio nos propor uma suposta similaridade entre a doutrina comunista e aquilo que vemos na Igreja primitiva segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos (o que se traduz em um completo absurdo, como o próprio artigo demonstra). 

Se a questão é sobre comunismo, não teria sentido responder falando de capitalismo, certo? Esta, aliás, é uma tática típica dos defensores de criminosos esquerdistas; se alguém questiona Lula, eles respondem dizendo: "E o Aécio?", ou: "E o Fernando Henrique?"... É como se os crimes de um automaticamente justificassem todos os crimes do outro. Como se todos aqueles que criticam "A" necessariamente fossem eleitores de "B", o que não é verdade em muitos casos. No fim, é só uma estratégia para tirar o foco da questão principal, mudando de assunto e de personagem.

Mas a outra questão, implícita no comentário de Enildo, é a principal e mais importante. Representa aquele citado argumento, que temos ouvido muito, uma espécie de esquiva sofista semelhante à que acabei de expor, e tem a mesma finalidade: tirar o foco de uma questão, desviando o assunto para um outro problema: "Por que tantas críticas ao comunismo, se o liberalismo também é condenado pela Igreja?". Além do capitalismo e do liberalismo, também há aqueles que mencionam a maçonaria, o sionismo e outras doutrinas imanentes e materialistas.

Antes de entrar na questão, é importante esclarecer: quem procurar vai encontrar, com facilidade e em diversas páginas católicas, muitos artigos com severas (e justas) críticas ao liberalismo, ao dito "capitalismo selvagem", à maçonaria, ao sionismo, etc.

Por outro lado, se nos canais católicos as críticas ao comunismo são mais frequentes e talvez mais contundentes, isso tem uma razão bastante simples e mais do que evidente: está no fato de termos agora, diante de nós, um verdadeiro batalhão de padres e bispos que apoiam partidos e políticos socialistas/comunistas.

Ora, nós não vemos padres e bispos por aí fazendo apologia escancarada do liberalismo. Eu, pelo menos, nunca vi, nem ao vivo, nem em vídeo, nem por escrito ou em qualquer outro canal. Mas quem de nós ainda não ouviu falar da herética "'teologia' da libertação" (TL)? É verdade que a maçonaria, o sionismo e até o liberalismo têm influência entre alguns grupos ditos católicos, mas são casos pontuais. Ao mesmo tempo, há uma multidão de padres e bispos que aderiu à TL comunista – a pior heresia da História segundo Bento XVI – e que a promove descaradamente, no seio da própria Igreja, até mesmo durante as celebrações da santa Missa!

É simples assim o motivo porque se critica mais o comunismo: este é que foi infiltrado na Igreja, travestido de catolicismo, e que como um câncer corrói os seus alicerces, a partir de dentro, fazendo-se passar por doutrina da Igreja. Quando vemos padres e bispos defendendo abertamente um criminoso condenado, e alguns mesmo comparando-o a um santo mártir (quando não ao próprio Cristo!), não há como não haver escândalo. E graças a Deus que os fiéis católicos se escandalizam! É sinal de que o zelo pela Casa de Deus ainda nos consome, como a Nosso Senhor (Sl 68,10), que queremos imitar.

Devo dizer também que o leitor comete um outro equívoco infelizmente comum: achar que nós deveríamos tentar "humanizar" algum sistema político econômico para adotá-lo de maneira cristã. Não, nós não precisamos disso, nem de comunismo e nem de capitalismo "humanizados". Nós não precisamos "humanizar" nada porque já temos a Doutrina Social da Igreja (que inclusive trata do comunismo e do liberalismo), que se fosse posta em prática funcionaria muito bem.

Desgraçadamente, a esquerda conseguiu ludibriar muita gente com essa grande tolice, essa mentira dita e repetida um milhão vezes, que afirma que só os comunistas é que se preocupam com causas sociais, que comunismo é sinônimo de compaixão pelo próximo, enquanto que todos os outros sistemas são fascistas e opressores.

Vá tentar convencê-los de uma verdade já comprovada por diversos estudos: que um Estado menos invasivo, a proteção da propriedade privada e a promoção da livre iniciativa são muitíssimo mais eficazes na erradicação da pobreza do que essa ideia fantasiosa, porém sedutora, de um grande bolo que precisa ser igualmente repartido (nunca dizem que a fatia realmente grande fica sempre com o governo e seus agregados). Aí está uma tarefa praticamente impossível, porque o esquerdismo torna-se uma espécie de seita de fanáticos cegos, que simplesmente não querem enxergar a verdade dos fatos, quando lhes contraria.

Eu mesmo posso testemunhar –, com imensa tristeza –, que já ouvi pessoalmente, da boca de um bispo, que quem não vota no Lula é porque "não tem amor no coração"... 

"Ora, mas o PT promove publicamente o aborto, o aborto está no programa de governo oficial do partido, e também a promoção da ideologia de gênero, a luta de classes e muitos outros elementos que são diretamente contrários à doutrina da Igreja! Como é que um católico pode votar nesse partido?", argumentei, ansioso por uma resposta objetiva, mas só recebi de volta um sorriso amarelo e, como de costume, as mesmas evasivas e artifícios para mudar o foco do assunto.

A mais simples verdade é que, no caso do PT, os crimes de corrupção representam uma questão secundária para nós, enquanto católicos. Bastam dois fatos insofismáveis para que possamos chegar ao cerne da questão toda:

1) Sim, existem outras doutrinas e ideologias condenadas pela Igreja. Mas a Igreja não se encontra infiltrada e praticamente tomada, em alguns casos, por simpatizantes dessas outras doutrinas. Temos, ao contrário, uma quantidade imensa de clérigos simpáticos (para dizer o mínimo) ao comunismo. Por isso é que é muitíssimo mais urgente combater este, e demonstrar aos fiéis católicos a incompatibilidade deste com a verdadeira Doutrina católica.

2) Uma questão pontual: o PT promove o aborto. Ponto. / Padres e bispos apoiam o PT. Ponto. / O Código de Direito Canônico vigente1 prevê excomunhão automática (latae sententiae, conf. Cân. 1398) e perda das Ordens (Cân. 1041, item 4º), para quem pratica ou promove o aborto. Ponto final. Ou será preciso dizer mais?


*
*     *

Resumo: se a bronca maior recai sobre o comunismo, a razão é mais do que óbvia: a Casa de Deus está em chamas, e quem lhe toca fogo são esses maus pastores que – seja por má  vontade ou por ingenuidade (ignorância pura e simples) – promovem esse grande mal. A urgência maior em condenar o comunismo, enfim, comprova-se até mesmo pela mensagem da própria Mãe de Deus dada em Fátima. Será que alguém quer perguntar à Nossa Senhora por que ela quis nos advertir tão especialmente contra o comunismo?

** A edição 26 da revista O FIEL CATÓLICO traz um estudo completo sobre o Decreto contra o Comunismo, seus termos, sua validade ou não e suas implicações

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1. De 25 de janeiro de 1983 sob o pontificado de S. João Paulo II, e atualizado com a Carta Apostólica sob forma de Motu Próprio Ad Tuendam Fidem, de 18 de maio de 1998.
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Da linguagem inconveniente aos cristãos


CONTAM OS ANTIGOS que certo camponês foi até o mosteiro vizinho à sua aldeia levar alguns frangos para os bons frades, que viviam de esmolas e da caridade do povo. No caminho, um dos frangos desvencilhou-se das mãos do campônio e desandou a correr. Correu o pobre atrás da ave, xingando e praguejando: “Frango do diabo! Volta aqui,seu #&#$@*!”...

Conseguiu enfim recuperar o fujão, e prosseguiu o seu caminho. Chegando ao mosteiro, tocou o sino da porta de entrada (naquele tempo não havia campainha) e foi logo atendido.

“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”, disse. “Aqui estão alguns frangos que separamos para os frades e para ajudar na quermesse de São Sebastião”... Solícito, o frade recebeu o homem, com um sorriso, e agradeceu. Porém, não quis aceitar um frango. Diante do espanto do camponês, explicou o motivo: “Este, nós infelizmente não podemos aceitar; ele já tem dono. E o dono dele é nosso inimigo e inimigo de Cristo”. 

Qual não foi a surpresa do camponês ao perceber que se tratava justamente daquele que escapara no caminho e sobre o qual ele rogara: “Frango do diabo!”...



Hoje em dia há muita liberalidade quanto ao linguajar, mesmo entre católicos –, mesmo os mais tradicionais –, especialmente entre os mais jovens. Quem se escandalizar com a boca suja do irmão será logo taxado de "puritano".

Xingar, praguejar, dizer palavrões é pecado? Em determinadas circunstâncias, talvez não. Mas podemos afirmar ao menos –, isto com toda a certeza –, que o bom cristão preferirá sempre não fazê-lo.

As palavras impuras – Há um modo de falar que é comparável à morte, e que não deveria ser encontrado entre os descendentes de Jacó. Os homens fiéis ficam longe de tais coisas, e assim não se afundam em pecados.
Isso está longe dos homens piedosos, que não se comprazem em tais crimes.
Não acostumes tua boca a uma linguagem grosseira, pois aí sempre haverá pecado.
(...) O homem acostumado a dizer palavras injuriosas jamais se corrigirá disso.
(Eclesiástico, 23, 15-17.20)


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O choro da bala perdida


Por Dom Lourenço Fleichman OSB – Permanência.Org

TODOS OS DIAS, na cidade do Rio de Janeiro, acontecem tiroteios, confrontos entre policiais e bandidos nas favelas e periferias. Todos os dias há mortos, há dramas, há choro.

A população da cidade e do país fica submetida a uma série de pressões, de stress, de medos. Vivemos assim e, como em toda guerra, procuramos levar a vida dentro de certa normalidade.

Acontece que, invariavelmente, essas situações dramáticas apresentam cenas muito parecidas, eu diria mesmo repetitivas, diante do olhar distraído de todos, sem que as pessoas pareçam saber como lidar com elas.


​Os personagens do drama

Procuremos acompanhar o fato:

Em razão de alguma investigação, ou de algum chamado emergencial, ou por alguma denúncia, policiais entram nesses becos dominados por bandidos, pelo tráfico – de drogas, de poder, de influência. Invariavelmente são recebidos a bala!

Eis, pois, dois personagens iniciais do nosso drama: bandidos e policiais. Se fosse um jogo de crianças, chamariam de “polícia e ladrão”. Mas não é! É vida real. Então são policiais e bandidos.

Quem são os bandidos? Contrariamente à opinião geral, os bandidos não são moradores do local. Não estão ali porque constituíram família, onde construíram com esforço suas casas, de onde saem todos os dias para trabalhar. Não. Escolheram aquele ponto elevado por motivos estratégicos, em razão da eficácia do seu comércio ilícito e do poder que querem exercer sobre determinado território. Ocupam aquele morro, aquela favela, pelo mesmo motivo que um general, analisando o seu campo de batalha, escolhe uma posição estratégica favorável para a defesa de sua posição e para o ataque ao inimigo.

O bandido está no morro por um ato de guerra. Esse é o nosso primeiro personagem.

O segundo personagem é o policial. Como vimos, chegou ali por motivos diversos. Mas, diferentemente do bandido, o policial mora num determinado bairro, talvez mesmo numa favela, mas mora em sua casa, com sua família, e dessa casa ele sai para o seu trabalho honesto e heroico, todos os dias, pondo em risco a sua vida para a proteção da nossa.

[Antes que alguém ponha em dúvida a honestidade desse profissional, apresso-me a dizer que a fraqueza de alguns policiais não altera a ordem do drama. Corrupto ou honesto, ele está na favela porque foi ali mandado por seu superior para um trabalho árduo, perigoso e sem muitas perspectivas. Aceitemos, pois, esse detalhe: fazem parte da polícia e estão ali por obediência a seus princípios e aos seus superiores.]

Voltemos ao drama. Hoje a história se passou na favela Nova Holanda, ontem na Rocinha, ou no Jacaré. A polícia entrou porque os bandidos estão ali, e fizeram algum mal a alguém. Quando isso ocorre na vida normal dos homens, chama-se a polícia. Ela existe para isso, para socorrer os inocentes desarmados, entregues à maldade dos bandidos. Assinalemos mais essa evidência: a polícia é obrigada a ir na favela em virtude de sua função social de proteção da sociedade. Ela não tem escolha. E ela vai porque os bandidos são maus e fazem maldades reais. Não estão num filme americano, estão na vida de uma guerra sem tréguas que jogaram sobre suas cabeças.

Querem saber como se sente um policial que entra pelos becos da favela? Vejam esse depoimento feito por um policial de verdade:

Sempre que andava na Rocinha lembrava do que os policiais me falavam – Você está vendo todos esses becos, esses casebres, esse caos e essa desordem. Agora imagine andar por aí na expectativa de dar de cara com um fuzil. De onde ele vem? Quando vem? Para onde olhar? Qual lugar é seguro? Qual janela não é uma ameaça? Qual daquelas pessoas não é criminosa?
Claro que os jornais não falam disso. É como se as operações policiais cariocas devessem ocorrer em contextos de plena normalidade. A polícia deveria se pautar por regras, procedimentos operacionais padronizados etc. Chegam ao ridículo de dizer que não se pode chegar atirando sem aviso, como se um fuzil exigisse uma cena de filme policial americano. – Parado, ou eu atiro!

Adivinhe, leitor: na notícia dessa noite, mais uma vez os policiais foram recebidos sob rajadas de tiros de fuzil, de metralhadora, ou de qualquer outro aparato de guerra presente nos domínios dos bandidos.


​O Terceiro Personagem

Veio o tiroteio e uma bala perdida matou alguém. Surge o terceiro personagem do drama. Uma pessoa morta e uma família dilacerada.

Esse fato triste e terrível infelizmente é comum em situações de guerra. E a guerra do Rio existe, é real, dura décadas, desde que o irresponsável Leonel Brizola, traidor do povo do Rio de Janeiro e do Brasil, decretou com seu poder de Governador do Estado, que os bandidos estavam livres para agir sem medo, para crescer e dominar o território.

Por culpa do Brizola e de tantos outros políticos corruptos e maus, essa guerra já matou milhares de pessoas, entre bandidos, policiais e pessoas inocentes.

O trabalho e os perigos por que passa a polícia são imensos, e o natural seria que a população da cidade elevasse sempre clamores de agradecimento a esses policiais que dão a sua vida para diminuir o impacto de morte causado pelos bandidos apoiados por essa esquerda corrupta e irresponsável.

Porque razão esse natural agradecimento não acontece? Porque razão a polícia é sempre apontada como a culpada pelo drama dessa família e pela morte por bala perdida?


O Quarto Personagem

A resposta a essa pergunta está na chegada, também invariável e sempre presente, de outro tipo de pessoas. É o nosso quarto personagem. Eles chegam no local do tiroteio carregados de microfones, filmadoras, carros bem equipados a transmitir pelas nuvens da internet as informações mais recentes.

Onde atuam esses personagens do jornalismo? No mesmo local em que o bandido acampa; no mesmo local onde a polícia entra para atender à população; no mesmo local em que um inocente morava. Ah! Sim, este morava de verdade ali, mas vivia sob o domínio do medo e o poder do bandido. Pois é nesse mesmo local que atuam os jornalistas.

Está completa a equipe de personagens do drama:

Bandidos, policiais, vítimas de bala perdida e jornalistas.

E a população do Rio de Janeiro, invariavelmente, escuta no rádio ou vê na televisão os jornalistas atuando. Aparentemente eles fazem o trabalho de informação. Porém, por questões ideológicas e de formação, eles vão além da informação. Eles atuam sobre a opinião pública, eles criam o mito da história, têm o poder de mudar a realidade de acordo com o pensamento do seu jornal, de sua televisão, de sua rede de internet. E esse pensamento é perfeitamente homogêneo, sempre na mesma direção, sempre escolhendo o lado. E o lado que eles escolheram foi de ser contra a polícia.

Se eu dissesse que eles estão do lado dos bandidos, eles se levantariam indignados, e provariam com citações e fotografias muito bem preparadas, cenas previamente montadas para desarmar qualquer acusação, a fim de provar que não apoiam os bandidos. E eles convenceriam qualquer juiz, qualquer cidadão. Porque eles não são a favor do bandido; o que eles são, isso sim, é contra a polícia. Ser contra a polícia é uma atitude política, carregada de ideologia revolucionária, ou seja, com o intuito de quebrar a ordem da sociedade espalhando o caos e o medo.

E como fazem isso na guerra do Rio?

Procuram as vítimas inocentes e sugam o sangue delas até a última gota. Vejam essa pobre mulher em lágrimas. Se os jornalistas estivessem ali porque um gatinho ficara preso num telhado, a pobre mulher seria perfeitamente indiferente aos jornalistas. Não lhes serviria para nada, senão para lhes servir um café. Mas ela é a vítima, está chocada, está chorando pela terrível perda. Passa a ser personagem da mais alta importância para que a rede de jornalismo alcance sua meta de denegrir a polícia.

Partem ao ataque e perguntam:

– A senhora está triste?

Como se possível fora a esta mãe responder que não! Mas isso não importa. A mãe não percebe que está sendo usada, sugada. Acha importante e lindo que se interessem por ela, que deem a ela uma cátedra para pontificar sobre a perda de sua filhinha, ou de seu filhão. Então ela responde chorando, ao vivo e em cores, para todo o Brasil, que, sim está muito triste, seu mundo desabou, sua vida acabou etc. Como qualquer mãe responderia!

Mas o jornalista passa por essa introdução que só serviu para conduzir a pobre alma a responder o que o jornalista quer que ela responda. E lança-lhe contra o rosto, contra a alma, a facada mortal:

– Como a senhora vê a atuação da polícia entrando assim na comunidade?

Ora, a pobre mulher já assimilou, com a pergunta, que tipo de resposta ela deve dar. O sinal foi dado. Quem poderá afirmar que já tenha ouvido alguma vez uma pobre vítima dessas dizer que agradece todos os dias pela presença da polícia? Não dizem e não conseguiriam dizer. Por detrás dela paira a brilhante luz das câmeras a engolir qualquer pensamento da mulher; e paira também as trevas dos invisíveis bandidos, prontos a matar, a torturar, a expulsar a mulher e o que restou de sua família, se ela ousar apontá-los como causadores de sua dor.

E ela se entrega! O jornalista é formado e é mandado para extrair dessas pobres almas a condenação mais veemente possível da polícia.

Se a mulher tivesse um mínimo de preparo e a presença de espírito de conter suas lágrimas e olhar a realidade diria ao pérfido jornalista:

– Meu filho, a pergunta que você deveria me fazer não é essa! A pergunta deveria ser: como eu vejo a atuação dos bandidos no lugar em que eu moro! Essa é a única questão que vale a pena tratar. Porque eles se escondem aqui nos usando de escudos humanos. Eles nos achacam todos os dias, eles corrompem nossos filhos. Eles são maus, profundamente maus; suas almas corrompidas não nos olham como pessoas e sim como gado. São capazes de roubar, de matar sem razão nenhuma. Sempre que a polícia entrar nas comunidades haverá “balas perdidas”, pois eles matam crianças e inocentes de propósito porque sabem que jornalistas como os senhores vão por a culpa na polícia. E com isso eles vão ganhando a guerra contra a cidade, contra o país, pela cumplicidade dos jornais e televisões.

Mas essa realidade – continuaria a angustiada mãe – essa realidade vocês escondem da população. E vão acuando a polícia com suas ameaças de processos, com os juízes corruptos comprados pelos bandidos, mentindo sempre, enquanto fingem que nos estão entrevistando.

*
*   *

Infelizmente estamos nas mãos de poderes como esse. E se uma resposta como essa existisse de fato, feita ali, ao vivo, seria cortada, banida, e a vítima chorosa perderia imediatamente seu status provisório de glória à serviço da corrupção da sociedade.

O que eles querem? O que pretendem? Querem nos manter sob o terror e o medo. Com esse tipo de atitude eles nos mantém reféns da Revolução, massa informe e sem pensamento, bajulando os poderosos do morro, os poderosos da cidade, os donos de jornais e da mídia, os donos da política infernal. Conexão para todos, desinformação para todos, celulares para todos, e com isso estarão tranquilos em seu poder de destruição da civilização católica ocidental.

Há dois tipos de viciados: o viciado das drogas e o viciado das redes sociais. O primeiro é alimentado pelo bandido; o segundo pelos jornalistas, intelectuais e políticos. Ambos sofrem da mesma consequência do seu vício: não conseguem mais pensar; tornaram-se presa fácil da Revolução. E por não mais pensar, são repetidores dóceis das palavras de ordem daqueles que pensam e comandam a sociedade revolucionária. O intuito dessa sociedade é a destruição de toda e qualquer menção ao Cristianismo. Um dia isso ficará mais claro. A guerra do Rio, como os atentados terroristas na Europa, são dois lados de uma mesma moeda. A guerra é contra a sociedade cristã e por isso, ela é contra Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Igreja.

Não existe, pois, um problema político ou um problema econômico no mundo. O que há é uma crise espiritual, é uma enorme apostasia, a perda da fé e a vitória provisória e aparente do demônio, até que Nosso Senhor dê o seu basta, e mate o dragão com o sopro de sua boca.

​Na guerra do Rio, escolha o seu lado: fique sempre do lado da Polícia, contra os bandidos e contra os jornais e os políticos!

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Fonte:
http://permanencia.org.br/drupal/node/5264

Acesso 3/4/2018
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Políticos pró-aborto não podem receber os Sacramentos nem funeral católico, assinala Cardeal


O PREFEITO EMÉRITO da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Jorge Medina Estévez, explicou que os legisladores que se dizem "cristãos" mas apoiam o aborto não podem receber “funeral público de acordo com os ritos litúrgicos da Igreja Católica”.

O projeto de descriminalização do aborto no Chile foi aprovado tanto pela Câmara dos Deputados como pela dos Senadores, a fim de que esta prática seja realizada em três situações: na “inviabilidade fetal”, no risco de vida da mãe e em caso de estupro. Depois de um apelo realizado há poucos dias, o projeto foi enviado ao Tribunal Constitucional (TC).

A respeito desse tema e sobre o apoio dos políticos ao aborto, o Cardeal Medina enviou uma carta ao jornal chileno "El Mercurio" intitulada “Coerência?”, na qual critica as ações da democrata-cristã e pré-candidata presidencial do Chile, Carolina Goic, que votou a favor do projeto de aborto, apesar de pertencer ao grupo dos democratas-cristãos.

Essas pessoas “se dizem católicas, mas cometeram um pecado grave publicamente, não estão em condições de poder receber os Sacramentos da Igreja, a menos que se arrependessem e manifestassem também publicamente o seu arrependimento, como diz o cânon 915 do Código de Direito Canônico”, explicou o Cardeal chileno.

Se, denominando-se 'cristãs' ou 'católicas', morrem sem ter dado sinais claros de arrependimento, condição necessária e indispensável para sua salvação eterna, não é coerente que solicitem para seus restos mortais, nem lhes concedam, um funeral público de acordo com os ritos litúrgicos da Igreja Católica.”

O Cardeal Medina, que em 2005 anunciou ao mundo a eleição de Bento XVI como sucessor de São Pedro, disse ainda: “Não se trata da minha opinião”, mas assim estipula o Código de Direito Canônico nos cânones 1184 e 1185. O Cânon 1184, §1, assinala que “devem ser privados das exéquias eclesiásticas, a não ser que antes da morte tenham dado algum sinal de penitência:

1º os apóstatas, hereges e cismáticos notórios;

2º os que tiverem escolhido a cremação de seu corpo por motivos contrários à fé cristã;

3º outros pecadores manifestos, aos quais não se possam conceder exéquias eclesiásticas sem escândalo público dos fiéis.”

O Cânon 1185 indica que “a quem se negaram exéquias eclesiásticas, deve-se negar também qualquer Missa exequial”.

Em sua carta, o Cardeal Medina acrescentou que, neste caso, deve-se aplicar a “lógica da coerência”, pois “os funerais da liturgia católica não são eventos folclóricos, e nem são simplesmente sinais de convenções sociais ou de respeitáveis sentimentos pessoais”. Na verdade, são “expressões da fé cristã traduzidas em vivência concreta e na comunhão eclesial visível com a Igreja e com seus verdadeiros pastores”.

Neste nossos tempos em que, mesmo aos clérigos, o respeito humano parece importar mais que a salvação das almas, as palavras do Cardeal Medina não poderiam deixar de provocar críticas da parte de seus pares, e o sacerdote jesuíta (porque não estou surpreso?) Felipe Berríos – que publicamente defende diversas posições contrárias às da Doutrina católica –, disse que a carta está cheia de “agressividade”...

Berríos apelou aos candidatos presidenciais a “terem liberdade, que usem a sua consciência”. De sua parte, Carolina Goic se defendeu argumentando que se sente “mais próxima 'da igreja do Pe. Berríos', dessa igreja que está com os pobres, que está próxima, junto aos mais humildes, a igreja da compaixão e não a Igreja castigadora”. Sim, ela ao menos foi coerente em dizer "a Igreja do Pe. Berrios"; ocorre que "a igreja" de certos padres é realmente fundamentalmente diferente da Igreja Católica de sempre...

Em resposta, o Cardeal Medina disse em uma entrevista ao jornal ‘La Tercera’ que “tentar salvar vidas não pode ser uma liturgia do terror”. 

“Isso é caridade e misericórdia. Esta lei, que é uma legalização, não uma descriminalização, e que todos os chilenos vamos pagar com os nossos impostos nos hospitais, é um ato de terror”, respondeu.

“Confirmam o que eu penso, em relação ao tema de que um católico deve defender a vida e ser contra o aborto. Acho que há católicos que têm a mesma posição que eu e também há pessoas que se dizem católicas e acreditam que é possível ser católico e estar contra a Palavra da Igreja”, sublinhou.


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Nota do editor: a imagem que inescapavelmente vem à mente é a do fundador do PT, que juntamente com aliados representa a principal força de promoção do aborto em nosso país, comungando (ilicitamente) em uma Missa, isto é, recebendo o maior dos Sacramentos, quando os políticos pró aborto estão excluídos da Comunhão da Igreja.

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Fonte:
ACI Digital, Políticos pró-aborto não podem receber um funeral católico público, assinala Cardeal, disp. em:
www.acidigital.com/noticias/politicos-pro-aborto-nao-podem-receber-um-funeral-catolico-publico-assinala-cardeal-58134/
 Acesso em 25/3/2018
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Os Bispos, a CNBB e os fiéis leigos – Um debate sobre pastores e lobos


UM RECENTE DEBATE entre leigos católicos, ocorrido numa rede social, resumiu bastante bem, ao meu ver, a situação atual da Igreja, o estado de confusão e constante conflito em que vivemos agora.

Há dois grupos claramente distintos e antagônicos que se confrontam: de um lado, o primeiro grupo é o daqueles que. com clara imprudência, "excomungam" por conta própria os bispos envolvidos em escândalos (negação de dogmas, apoio a criminosos condenados pela Justiça, adesão política partidária, etc.). De outro, há aqueles que, também imprudentemente, não se escandalizam com esses crimes contra a Fé e apenas condenam a postura dos que estão no primeiro grupo, unicamente com base na questão do respeito devido à hierarquia eclesiástica.

Na reprodução dos diálogos abaixo, omitimos nomes, editamos alguns trechos, acrescentamos pequenos excertos e corrigimos erros de ortografia e digitação, para facilitar a compreensão de nossos leitores. Os nomes dos debatedores foram omitidos e substituídos por alcunhas. Quem têm razão? Responda o leitor fiel católico.


No dia 20 de março deste 2018, às 19h33, postou o "Católico Legalista" em sua página do Facebook o seguinte:

Ano do Laicato – Expectativa: Leigos conscientes de seu papel na sociedade e na politica. / Realidade: Leigo fazendo cosplay de Bispo.

Respondeu o "Católico Escandalizado" da seguinte maneira:

Ano do Laicato – Expectativa: Leigos discutindo o que fazer e como agir quando seus pastores tomam o partido dos lobos. / Realidade: Católicos esforçando-se para mostrar que está todo mundo errado, menos os traidores no clero.

Vemos aqui, logo de cara, a apresentação das duas claras posturas opostas que encontramos na Igreja de hoje, antagônicas em relação ao que vem ocorrendo e às denúncias aos bispos. O debate entre "Católico Legalista" e "Católico Escandalizado" prosseguiu nos seguintes termos:


Católico Legalista
– Isso mesmo, Escandalizado. Continue deste jeito. O que fazer com a palavra dos legítimos guias da Igreja caberá a cada um. Eu, particularmente, fico com eles.

Católico Escandalizado – Só uma pergunta: o padre que disse que o Catecismo é da década de 80 e por isso já não deve ser aplicado; o bispo que troca o Evangelho pela agenda do "Partidão" e ensina o povo que é preciso que todos sejam socialistas, dizendo que essa sim é a verdadeira mensagem do Evangelho... Eu digo que já não são "guias da Igreja" e sim lobos traidores. Quem está errado: eles ou eu?

Católico Legalista – Até que se prove uma pertinácia, A PARTIR DO MOMENTO QUE FOR COMPROVADO que são culpados, como aconteceu com Dom Duarte[1], ai você está certíssimo

Católico Escandalizado – Do que você está falando, exatamente? Se está falando do bispo e padres acusados de roubar dinheiro (refere-se ao caso de Formosa, GO), bem, isso é entre eles e Deus; um desvio desse tipo não traz risco á Fé; nesse sentido não significa rigorosamente nada. Estou falando dos bispos e padres que trocaram a Igreja pelo socialismo e ensinam socialismo nas Missas, nas homilias, dizendo que aquela ideologia é a verdadeira doutrina da Igreja. Aí sim, é algo gravíssimo!

Católico Legalista – Estude o que é Contumácia e pertinácia.

[Neste ponto, lamentavelmente, somos postos diante de uma triste arrogância. Numa discussão desse tipo, é profundamente desrespeitoso e, de fato, um sinal de covardia simplesmente mandar que seu antagonista 'estude'. Tal reação é típica da parte de quem se julga intelectualmente superior ou mais sábio que o outro; alguém que se vê como 'dono da razão' e imagina que, para que seu interlocutor entenda o que ele diz, precisa estudar mais... Certamente não é a postura de um católico que se apresenta como muito preocupado com o desrespeito dos leigos e lhes cobra uma postura mais caridosa e humilde.]

Católico Escandalizado – Ah, claro, o meu problema é falta de estudo. Se eu estudar mais, vou descobrir que todo esse socialismo pregado como se fosse catolicismo é uma coisa salutar.
Bem, só o fato de misturar as duas coisas –, a perversão da fé e um simples roubo –, mostra que você está tomando como semelhantes coisas de escala de valor infinitamente distantes. O simples desvio de dinheiro, se houve, não é nada comparado ao sequestro da fé que vem acontecendo.

Católico Legalista – Não, pertinácia e contumácia não é isto... Você continua precisando entender os dois termos usados no Direito Canônico e na Teologia Católica, para explicar quando alguém comete um crime canônico ou quando alguém está apenas completamente errado.

[Aqui, vemos uma persistência em mudar o foco do debate: saber o significado dos termos 'pertinácia' e 'contumácia', evidentemente, não vai mudar e nem mesmo minimizar a gravidade do que está sendo exposto pelo 'Católico Escandalizado', mas ao invés de responder sobre isso, ele persiste na tentativa de desqualificar o seu opositor; o que tenta provar, nas entrelinhas, parece ser algo como: 'Eu sei mais do que você; portanto, você não tem qualificação para debater comigo'.]

Católico Escandalizado – Eu não disse que o significado das palavras é esse. Não estou aqui discutindo significados e interpretações de regras, estou apontando um escândalo gravíssimo, como é da minha obrigação! Mas o resumo de tudo o que você está dizendo é o seguinte: está todo mundo errado, todos os que estão confusos e escandalizados estão errados, porque são leigos e têm que ficar imóveis no cantinho deles, só rezando. Deixem o clero vermelho agir à vontade.

Católico Legalista – Corrigir corretamente e seguindo o que diz a Igreja não é o mesmo que se omitir.

Católico Escandalizado 2 [entrando na conversa] – Como se pode corrigir a um clero que, ao ser confrontado em seus erros, responde dizendo que você, por não ser comunista como Dom Hélder, Dom Paulo Arns ou Dom Pedro Casaldáliga, está excomungado?[2] Um clero que aprendeu da praxis marxista que aquilo que eu quero é o certo e que todo resto está errado; que sua vontade é soberana, acima da Tradição, da Bíblia Sagrada e da simples realidade? Achar que padre comunista está realmente aberto para o debate ou desconsiderar o opositor com rococós jurídicos-teologócicos é uma tolice. Mas tem gosto para tudo. Tem gente que prefere seguir um ex presidente criminoso; eu prefiro ficar com os Santos.

Católico Escandalizado – Em suma, eu devo negar a realidade, os simples fatos e aquilo que acontece diante dos meus olhos, porque essa realidade fere a autoridade do clero. Eles mandam abertamente votar no PT de Lula. Você vai votar no PT ou partidos aliados?

Católico Legalista – Leonardo, em suma é assim. Eu não vou votar no PT por 'N' motivos; mas eu devo dizer aos padres e bispos que fazem essas pregações: 'senhores, vocês estão errados, isso é um completo equívoco, até porque não é o papel de vossas excelências indicar partidos e candidatos. Eu penso que os senhores não deveriam fazer isso, e os senhores estão errados ao fazê-lo'.
Mas até que se prove que ele é socialista, até que se prove que ele defende o comunismo, até se provar que há contumácia no seu ato... Eu não devo ir além disso.

Católico Escandalizado 2 – Eles defendem o Frei Betto, chamam a Gleise Hoffmann de 'cria da casa', orgulham-se de apoiar o MST com todos os seus crimes! Nos núcleos da PJ, dirigidos por padres, usam pôsteres do Che Guevara! Dom Pedro Casaldáliga disse publicamente, em um programa de TV, que queria que TODOS OS POLÍTICOS DO BRASIL FOSSEM IGUAIS AO LULA! Pelo amor de Nosso Senhor Jesus! O que mais eles precisam fazer para que fique provado que são socialistas ou apoiadores do socialismo/comunismo? O que mais você quer?

Católico Legalista – A questão é quem nem todos os bispos são iguais, nem todos os envolvidos possuem o mesmo peso. Por isso, normalmente esses casos ficam submetidos à Roma até que exista uma prova, ainda que a denúncia ou a correção pública possa ser feita publicamente. Uma coisa é a denúncia, outra totalmente distinta são os julgamentos antecipados.

Católico Escandalizado – Como, prova? Você está exigindo algo cuja natureza é meramente jurídica para que se demonstre uma realidade vista por todos, que é pública e notória! A realidade e a juridicidade possuem estatutos distintos! Você quer um contrato por escrito e assinado do bispo com o Partido? Os caras propagam todo dia a cartilha marxista e a agenda do Partido! É isso que substancia o estar sob o poder do Partido, e não uma declaração burocraticamente formal.
Os fatos mais óbvios e inegáveis não são demonstráveis, e sim mostráveis. Você aponta o sol e diz que ele brilha. Você vê um sujeito caminhando e diz: "olha, ele está andando". É impossível demonstrar um fato tão simples e tão óbvio. Como exigir que eu tenha uma sentença de um Tribunal Eclesiástico para que eu tenha certeza daquilo que os meus olhos veem e os meus ouvidos ouvem? Não preciso de documento assinado, é só não ser cego e surdo para saber!

Católico Legalista – Não sou eu quem exige isso, é a Igreja.
'Chama-se heresia à NEGAÇÃO PERTINAZ, depois de recebido o Batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica' [conf. CDC, cân.751). O Catecismo de São Pio X vai na mesma linha e Sto. Tomás idem. O problema é que a Igreja considera que alguém tenha cometido um crime canônico não só pelo fato de ter cometido o erro em si, mas por ter cometido o erro com consciência da gravidade do seu erro. Assim, existe todo um julgamento do Réu até que ele venha a ser declarado culpado. Até lá, eu posso corrigir e mostrar publicamente o erro, mas eu não posso chamá-lo de "lobo".

[A partir daqui, o debate fica realmente interessante.]

Católico Escandalizado – Quem está falando de heresia aqui, meu irmão? As heresias pertencem a uma categoria formal, a qual você pode classificar pela Teologia; uma heresia é um raciocínio com uma conclusão que contrarie o que a Igreja sempre ensinou. Não é esse o problema, aqui. Estamos falando de uma cultura inteira, de uma forma de ver o mundo, de uma forma de ver e viver a fé.
Existem perfis de padres do Facebook em que eles publicamente se declaram adeptos da Teologia da Libertação, que é uma heresia condenada formalmente pela Igreja e pelos Papas!
Mas na verdade isso está bem além da simples heresia: não é um embate de ideias em que uma pode ser condenada e outra absolvida; trata-se de uma cosmovisão, uma forma de entender o mundo e a realidade que é incompatível com o Evangelho.
E essa corrente, esse movimento, tem uma forma de agir e pensar que pode ser condenada mil vezes e não sucumbirá, porque eles são especialistas em se camuflar, em tomar a aparência do que for preciso para enganar e subsistir. Por isso o papa Bento XVI no documento “Eu vos explico a Teologia da Libertação” disse que esse é o pior movimento e a pior heresia que jamais surgiu no interior da Igreja em todos os tempos. Mesmo assim, há padres que se declaram abertamente adeptos dessa coisa, e trabalham pela promoção desse mal condenado, mas eles jamais irão assinar um documento que prove a sua culpa. É preciso fazer alguma coisa para parar este movimento, urgentíssimo!

Católico Legalista – Essa é a natureza da coisa, mas até que alguém incorra nisso, o que seria em último caso apostasia, ele precisaria estar consciente não só da possibilidade do erro, mas estar convicto do erro e ainda assim escolhê-lo. E heresia não é uma ideia que pode ser condenada, ela já é condenada, e em última instância é apostasia por negar o objeto formal da Fé
Alguns leigos estão fazendo 'cosplay' do Papa, outros de secretários responsáveis pelo Tribunal do Santo Ofício, como se fossem legisladores e intérpretes supremos da Lei da Igreja. Alguns comportam-se como se fossem a última instância para que os leigos possam recorrer como salvação "contra" o clero, como se fossem "messias".
Disse Santo Tomás: "E assim é manifesto que o herético descrendo pertinazmente um artigo, não está disposto a seguir em tudo a doutrina da Igreja; se porém, não houver pertinácia, já não é herético, mas apenas errado. Por onde, é claro que tal herético, em relação a um artigo, não tem fé nos outros, mas uma certa opinião fundada na vontade própria".

[Foi citada a Suma Teológica, mas aqui é preciso lembrar que Sto, Tomás disse muito claramente, na mesma Suma: 'Havendo perigo próximo para a Fé, os prelados devem ser arguidos, até mesmo publicamente, pelos súditos.' (Sum. Teol. II-II, XXXIII, 4, ad 2).]

Católico Escandalizado – Essas pessoas nunca vão negar a fé verbalmente, você consegue entender? Eles nunca colocarão em uma forma doutrinária aquilo que eles fazem publicamente, daí que as condenações às ideias não produzem efeito rigorosamente nenhum. Os padres entram lá no sertão e vão transformando povos humildes em grupos de militantes socialistas, e eles não precisam de formulação doutrinária. Precisam apenas dizer às pessoas que o Evangelho é aquilo que eles fazem.
As palavras dos lobos são sempre simples, impressionam os simples.

Católico Legalista – Quem fizesse isso precisaria ser corrigido o mais depressa possível, mas até ele poder ser declarado Lobo, é outra história completamente distinta e que somente a Igreja ou o erro manifesto é que podem dizer.Você está dizendo que o simples erro já torna o sujeito culpado de crime canônico, e portanto passível de rejeição, o que não é verdade. O erro precisa ser seguido de contumácia ou pertinácia, e é lógico que eu devo corrigir isto até que aconteça, mas não posso julgar alguém até ter esta convicção.

Católico Escandalizado – "Quem fizesse isso"?? Meu Deus, é preciso ser cego e surdo e totalmente alienado para não perceber que eles ESTÃO FAZENDO ISSO AGORA MESMO, e isso está registrado em muitas gravações, vídeos, áudios, etc.
O que define um lobo um lobo é a sua própria natureza, não uma sentença formal. Você vê, reconhece por meio do senso comum. Negar isso é negar a própria possibilidade de alguma coisa ser simplesmente inteligível.
Você está falando de definições formais e eu estou falando do que vejo, de realidades concretas que levam muitos a acreditar que o evangelho é o comunismo ou o PT, e que Lula é o maior santo que já viveu no Brasil.
Por exemplo, qual a 'heresia' em incentivar e dar espaço para grupos revolucionários na Igreja? Em colocar membros desses grupos para ensinar os leigos? Não há heresia nenhuma nisso! Você pode justificar simplesmente dizendo aquelas frases de bispo: "O exercício da caridade cristã exige o acolhimento de todos à misericórdia divina e ao seio da Madre Igreja". Quem há de discordar disso? Ninguém! Mas há uma clara má intenção, e este é o modus operandi dos lobos: o resultado final é a perversão total, a profanação do sagrado, a submissão do bem ao mal, a confusão entre as hierarquias naturais das coisas.
A dificuldade ou mesmo incapacidade de se dar uma definição formal a algo não torna esse algo menos existente!

Católico Legalista 2 [entrando na conversa] – Católico Escandalizado, uma sentença não declara, realmente, um lobo, mas a percepção da existência de um lobo em "pele de cordeiro" precisa de ser verificada com a perspicácia apurada de quem tem a 'ciência' para tanto, um lobo pelado é fácil de perceber, mas um lobo em pele de cordeiro, não. Assim, a Igreja, que sabe identificar lobos a muito tempo, dá as ferramentas para descobrir se é um cordeiro machucado, zonzo, perdido, enganado ou se é realmente um lobo, portanto a sentença (não formal), mas definida assim por observar os requisitos de sua promulgação, é o único e eficaz meio para identificar o lobo.

Católico Escandalizado – A parte subjetiva não nos cabe. Se o bispo está cometendo crimes contra a Fé por desejo de destruir ou por estar simplesmente enganado, mas de boa intenção, isso é com ele e Deus. O foco do nosso debate é o que ele está fazendo! [aqui está textualmente o resumo do seu argumento todo] É mais ou menos aquele raciocínio de que a intenção não desnatura a ação. Homicídio culposo e doloso não muda o status da vítima: ela continua tão morta quanto qualquer morto, independente das intenções do assassino. E a vítima, aqui, é a Fé da Igreja, é a Doutrina da Igreja, é a Verdade do Evangelho! Nós precisamos nos manifestar com clareza e com insistência até sermos ouvidos, até que eles nos expliquem o que está acontecendo, porque na realidade eles deveriam ser nossos servidores: é este o voto que fazem quando são ordenados.
Se o padre submete o sacerdócio ao Partido por maldade ou por inocência, é com ele. mas a ação é de lobo, a ação produz dano, a ação destrói.
Essa é outra confusão feita, a das motivações do profanador com o próprio ato de profanar.

Católico Legalista 2 – Apesar de a vítima estar morta, o homicídio pode ser por força de legítima defesa, por motivo fútil, por erro de pessoa, e cada situação mudará a pena ao homicida, podendo até absolvê-lo.
A profanação deve ser reparada imediatamente; a punição do profanador é graduada.

[Aqui, na última frase, o debate parece chegar a um bom termo, uma conclusão sensata. Sim, a profanação deve ser parada e reparada imediatamente, enquanto que a punição dos profanadores precisa ser apurada e julgada com o devido, necessário e justo cuidado. Mas como proceder à cessação da profanação, se os profanadores não são punidos –, nem mesmo advertidos –, e continuam em plena atividade e em pleno gozo de seus privilégios, exercendo suas atribuições com total liberdade e fazendo claro uso indevido da sua autoridade?]

Católico Escandalizado – Fatos: foi o clero vermelho quem construiu e deu poder ao PT. O PT tornou o brasil o país das meninas de 13 anos que já fazem sexo, da promoção do aborto, da destruição da família, do aumento da criminalidade e dos 70 mil assassinatos anuais, da apologia ao homossexualismo e de tudo o que é contrário à moral cristã. Essa parte podre do clero da Igreja foi diretamente responsável por tudo isso. Se o fizeram achando que faziam o bem ou conscientes do mal, isso está além de nós, mas o fato é este: eles contribuíram para uma obra satânica, demoníaca, diabólica que hoje pesa sobre nós.
Foi o clero vermelho que tornou aquele senhorzinho pobre e iletrado um eleitor cativo do PT, por pura ignorância. Essa obra diabólica é o que podemos ver, e se vemos podemos e devemos fazer juízo sobre ela. Se esse juízo não pode ser feito porque precisa de uma sentença formal, então estamos mais perdidos do que parece, pois até as ferramentas que temos para reagir já foram conquistadas.
É preciso parar de raciocinar em termos de conceitos abstratos e nos atermos ao que concretamente ocorre, o que padres e bispos andam falando e fazendo, no que pregam e fazem publicamente. Agora me digam se apontar a realidade visível e constatável, que são pastores que se comportam como lobos devoradores, se isso é um erro. A destruição feita por um Leonardo Boff, por um Casaldáliga e tantos outros clama por punição. Quantos eles mandaram para o Inferno? Quantas almas eles prejudicaram e danaram?

Católico Legalista 2 – Acho que o problema de todo esse embate é o objeto. Você argui que não há necessidade de uma sentença para fazer um juízo. Ok. Mas o meu argumento é que o seu juízo é seu, mas para ele ser efetivamente válido e ser levado em conta como retrato da realidade, ele deve ser balizado nos critérios dispostos pela Igreja.
Faça o juízo que quiser, ele provavelmente poderá concordar com a realidade, mas para ter a certeza disso (não dá profanação, mas da condição do profanador) é obrigatório a observação dos requisitos apresentados pela Santa Igreja, simplesmente porque você pode estar com uma trave no olho e nem ver.

[Cheguei um pouco antes deste trecho. A partir daqui, não resisti e entrei na conversa.]

Henrique Sebastião – A condição de consciência, de culpa ou inocência do profanador, no caso em questão, é um fator secundário. Almas podem estar sendo condenadas, a Sã Doutrina está sendo deturpada e a Casa de Deus profanada. Urge salvar as almas, em primeiríssimo lugar. Reparar o erro, restaurar a verdade, recolocar as ovelhas no caminho reto, em segurança. Para isso, os pastores que se portam como lobos devem ser imediatamente afastados. Que o julgamento das suas intenções demore séculos, depois, é um outro problema, e menos importante.

Católico Obsequioso 2 – Henrique Sebastião, antes de ser afastados, o que não é competência de uma turba de fiéis, devem ser antes admoestados e corrigidos, por quem de direito.

[Mais uma vez um desvio de rumo no debate, com a afirmação de algo que não foi negado por mim, como se eu o tivesse negado.]

Henrique SebastiãoÉ claro que não é da nossa competência, e nem eu estou afirmando isso. Mas nós temos o direito e, muitas vezes, o dever de nos manifestar. Os leigos boicotavam os bispos hereges nos tempos de Sto. Atanásio, por exemplo, e havia muita pressão popular para reabilitar os poucos santos que escaparam da heresia naquele tempo. A pressão dos leigos fez muita diferença para a restauração da ortodoxia da fé.
Manifestar nossos anseios e opiniões (e também o nosso escândalo) é direito nosso garantido pelo CDC (como disse em minha postagem 'Sobre o respeito devido aos bispos e a necessidade do leigo...').

Católico Obsequioso 2 – Henrique Sebastião, a pressão, legítima e nas instâncias certas, é algo querido e salutar.

[Muito bem! É só isso o que eu estava tentando dizer!]

Católico Escandalizado – Não é preciso pronunciamento oficial e formal da Igreja para dizer que água é líquida, que pássaros voam, que o mal está no mundo e que quem apoia o PT dá força para que este ponha em marcha a sua agenda. Você vê que um padre disse que o Catecismo é inútil e que esses leigos que ficam querendo homilias que não contradigam o Catecismo são os que atrasam o desenvolvimento da Igreja. Preciso de sentença de Tribunal Eclesiástico para fazer juízo de que esse padre está errado e de que, ao pregar contra o Catecismo usando de sua autoridade, está afastando os fiéis da verdadeira Fé da Igreja?
Preciso de sentença para dizer o óbvio, visto e manifesto: que esses são lobos e não pastores?


* * *

A discussão prosseguiu mais um pouco, tornando-se a partir daqui repetitiva e, como é de praxe nesses casos, sem chegar a conclusão alguma. Achei interessante postar aqui para que mais leitores fiéis católicos tirem suas conclusões sobre realidades tão polêmicas, que são candentes e de fundamental importância para o futuro da Igreja.

Reafirmo o que disse no começo: vi nesse pequeno debate um belo resumo do que vem acontecendo na Igreja e das principais posturas assumidas pelos fiéis católicos no Brasil e no mundo.

Alguns estão muito preocupados com as formas, com o sentido das palavras, com os conceitos, com as regras e normas, com a formalização e classificação de raciocínios. Para estes, os leigos devem se ater ao seu lugar, que seria um lugar de total neutralidade e incompetência para influir nos destinos da Barca de S. Pedro; não lhes caberia, absolutamente, querer atenuar os sofrimentos do Corpo de Cristo, mas apenas rezar e confiar em Deus.

Outros extrapolam o seu direito e mesmo o seu dever de manifestar opinião e participar ativamente naquilo que tange o bem da Igreja, com um desrespeito indevido, que se demonstra também através de xingamentos, sátiras, caricaturas, desafios e coisas do tipo. Sim, aqui está algo condenável e pecaminoso.

Sim, não é prudente e nem é típico de um fiel católico que chame aos bispos, mesmo os claramente culpados, de "lobos" ou outra coisa semelhante. É preciso admoestar com mansidão e com a mínima deferência. Sem dúvida que leigo algum possui o direito ou a competência para julgar e condenar os bispos, excomungando-os por conta própria. Eu digo que alguns desses pastores vêm, sim, comportando-se como lobos, mas não afirmo que sejam lobos (mal intencionados), porque podem estar, eles próprios, simplesmente enganados, até de boa consciência, como foi dito e repetido nesse debate.

Nada disso exclui ou anula a participação dos leigos (que sim, deve ser feita com respeito e reverência, e tendo em vista sempre a utilidade comum aos fiéis, isto é, o bem da Igreja). A não ser que o Cân 212 (§§ 2-3) do CDC esteja errado.

Mas há, graças ao Bom Deus, um terceiro grupo, no qual tento humildemente me incluir: o dos leigos católicos que, por um lado, entendem suas limitações e competências próprias, mas por outro não se eximem de cumprir o seu papel. Nesse colossal desafio, estamos muito bem acompanhados, por santos leigos como São Próspero de Aquitânia e Eusébio de Antioquia, e também grandes sacerdotes como Santo Atanásio e São João Fisher.

Deus nos livre de pecar contra os seus ungidos, e também nos guarde de elevar o respeito à hierarquia acima do santo amor à Tradição, ao Magistério e às Sagradas Escrituras!

_____
1. Refere-se a Dom Carlos Duarte Costa, ex-bispo de Botucatu-SP e ex-bispo de Maura, excomungado pelo papa Pio XII em 1945.

2. Refere-se a Dom Otacílio Luziano da Silva, que disse que todos os leigos que se manifestaram publicamente contra as atitudes dos bispos envolvidos nos recentes escândalos estavam excomungados.


Antes e depois da Confissão

Nota do autor: esse texto nasce de simples reflexões pessoais a respeito do valor do Sacramento da Confissão, –, que é tão banalizado e desprezado hodiernamente –, após eu mesmo me confessar com um sacerdote santo que deu-me excelentes orientações e foi-me um verdadeiro pai. Caro leitor, estamos na Quaresma, eis o tempo de conversão. Volte para Deus, arrependa-se, confesse-se! Que lhe seja útil.



Por Felipe Marques – Fraternidade Laical São Próspero

Antes da Confissão, meu coração batia e meu corpo movia-se, entretanto, creio que eu estava morto. Era um verdadeiro sepulcro caiado, daqueles que descreve nosso Senhor nos Santos Evangelhos: por fora, uma aparência aprazível, por dentro, podre como um defunto em decomposição. Antes da Confissão, eu pensava que todos os prazeres da vida, inclusive os pecaminosos, poderiam me satisfazer. Todavia, descobri que, sem Deus, até os prazeres deste mundo podem se tornar causa de dor e sofrimento para nós. 

Antes da Confissão, caminhei pelo vale das sombras e temi todos os males, porque, afinal de contas, por minhas próprias culpas e infidelidades, eu havia expulsado a Deus de minha vida. E, sem Deus, há apenas trevas e sofrimentos neste “vale de lágrimas” em que vivemos. 

Antes da Confissão, percebi-me sozinho no mundo, pois, ainda que Deus esteja sempre intentando e buscando que o pecador se converta, eu havia usado mal de minha liberdade e era escravo de meus próprios vícios. Antes da Confissão, enxerguei apenas maldade nas pessoas ao meu redor e dentro de mim mesmo. Por faltar com misericórdia para com o próximo, eu havia faltado com misericórdia para comigo mesmo. Julguei-me imperdoável!

Mas tudo foi transformado por Cristo. Depois da Confissão, minha consciência havia sido acalmada pelo mesmo brado do Mestre que parecia dormir na barca de minha vida, enquanto o mar revolto de minhas paixões lançava-me de um pecado a outro, assim como pareceu dormir na barca em que estava com os Apóstolos.

Depois da Confissão, entendi a paz que sentiram os pastores ao ouvirem os anjos cantarem: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade"… Não havia recebido uma paz qualquer, uma paz falsa, egoísta e preguiçosa como a que o mundo oferece. Não!

Paz de Deus aos homens de boa vontade. Depois da Confissão, já não temia a morte. Temia apenas morrer em estado lastimável de despreparo para encontrar-me com meu Senhor e prestar contas das coisas que fiz com o tempo de vida que me foi dado. Depois da Confissão, entendi que os consultórios dos psicólogos estão lotados hoje em dia porque os confessionários estão vazios em nossas paróquias.

Depois da Confissão, o Sopro da Vida, que é o Paráclito, envolveu-me de santo Amor e eu tive a alegria de ser salvo e perdoado, mais uma vez. Depois da Confissão, nada mais faz sentido fora de Deus! Meu verdadeiro Amor, meu verdadeiro Amigo, meu verdadeiro Senhor, é Aquele que entregou-se no madeiro da Cruz por mim, para me salvar. Enxerguei que Ele é o único que está comigo em todos os momentos de minha vida! Depois da Confissão, posso afirmar que sou feliz, ainda que sofra. Depois da Confissão, gozo da verdadeira liberdade, a liberdade dos filhos de Deus! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

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A Teologia do Corpo de S. João Paulo II

O artigo abaixo é uma resenha de Igor de Andrade que pretende servir de apresentação do curso online do Prof. Dr. Joel Gracioso* (Fraternidade Laical São Próspero) sobre a célebre "Teologia do Corpo" de S. João Paulo II. A relação completa dos cursos oferecidos pelo professor está disponível aqui.



POR MEIO DA TEOLOGIA do Corpo, o Papa São João Paulo II apresentou de forma inédita profundos ensinamentos sobre o corpo humano em sua masculinidade e feminilidade, expondo de maneira fascinante a beleza da sexualidade humana e o chamado ao amor.

Numa abordagem teológica, aponta o corpo humano como lugar de encontro com Deus. O objetivo deste curso é tornar conhecida a Teologia do Corpo, que foi originalmente publicada em forma de catequeses sobre o amor humano em 129 lições do Peregrino do Amor.

A Teologia do Corpo de São João Paulo II é, neste curso, apresentada com maestria pelo Professor  Dr. Joel Gracioso, profundo conhecedor de Filosofia e Teologia, além de católico exemplar.

Seguindo o costume, Dr. Joel inicia o curso expondo o contexto no qual surgiu a necessidade de uma teologia que estudasse o amor humano. O modo com que o homem e a mulher passaram a ser concebidos pela sociedade, o modo como o amor, a afetividade e a sexualidade humana estavam sendo tratados: essas coisas levaram Karol Wojtyla a entender que as consequências seriam danosas à salvação das almas, o que o fez falar a respeito. Isto lhe rendeu a alcunha “O Papa da Família”, porque defendeu até o fim da vida a dignidade humana.

Mas se o assunto é a vida humana, por que “teologia” do corpo? Porque o principal objeto não é o ser humano, mas sim Deus, pois o papa polonês admite com a Igreja que o corpo humano é sinal do Mistério divino. A Teologia do Corpo é, portanto, um estudo sobre Deus a partir do homem; noutras palavras, à medida em que vamos compreendendo a realidade da sexualidade humana através da análise do corpo (humano), também vamos nos aproximando de Deus, Autor da Criação.

Para lograr êxito nesse estudo, devemos ter claro o que é o homem – pois do contrário corremos o risco de cair no materialismo ou no espiritualismo, como fica claro logo nas primeiras aulas.

Assim como alma e corpo constituem o homem querido por Deus em sua integralidade, assim também a sexualidade deve ser tratada integralmente, pois também foi querida pelo Autor da Vida e não pode ser separada da realidade imaterial do homem.

Deste modo, São João Paulo II expõe as catequeses que são separadas em seis ciclos, os quais são apresentados pelo Dr. Joel ao longo deste excelente curso ministrado por um excelente professor e profundo conhecedor de filosofia e teologia, indicado não só para casais, mas também para todos os que quiserem compreender a realidade afetiva, moral e sexual do ser humano.

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Sobre o respeito devido aos bispos e a necessidade do leigo manifestar seus anseios


ACABEI DE LER o artigo da Ir. Theresa Noble, que tem uma bela história de conversão, no bom site católico "Aleteia", intitulado "Por que é importante respeitar a autoridade do papa e dos bispos?". O texto tem valor, e eu diria até que é necessário, mas infelizmente também é bastante tendencioso; pondera só um lado da questão, que é bastante delicada e complexa nos nossos tempos...

A Quinta Palavra de Nosso Senhor na Cruz – Da mortificação e do amor a Cristo

Pelo Venerável Servo de Deus Fulton Sheen, Arcebispo


Tenho sede.”
(Jo 19,28)

SE HÁ UM INDÍCIO mais claro do que qualquer outro da degeneração da sociedade, esse indício é o excesso de luxo do mundo atual. Quando os homens se esquecem da sua alma, passam a preocupar-se demais com seu corpo. Há mais academias de ginástica no mundo de hoje do que casas de retiro espiritual; e quem contará os milhões gastos em salões de beleza para glorificar os rostos que um dia serão a comida de vermes?

Não é difícil encontrar pessoas que gastam duas ou três horas por dia em exercícios físicos, mas se lhes pedirmos que dobrem o joelho diante de Deus para fazer cinco minutos de oração, reclamarão, e em seu íntimo acharão que é muito tempo. Somemos a isso a quantidade escandalosa que se gasta anualmente não no prazer normal da bebida, mas no seu excesso. E o escândalo aumenta ainda mais quando se consideram quantas necessidades básicas dos pobres poderiam ser supridas pelas quantias gastas nessa degradação. O julgamento divino do ricaço do Evangelho há de repetir-se forçosamente com muitos integrantes da nossa geração: eles terão de ver como os mendigos, a quem eles haviam ignorado para não terem de interromper sua vida de luxo, se assentarão no Banquete do Rei dos reis, enquanto eles mesmos mendigarão uma gota d'água.

    Era preciso expiar de alguma forma toda essa gula, bebedeira e luxo excessivos. A reparação começou com o Nascimento de Nosso Senhor, quando Ele, que poderia fazer do Céu o teto da sua casa e das estrelas os seus candelabros, decidiu ser rejeitado pelos homens e expulso até das menores dentre as cidades de Israel, como um pária que tem de vagar pelos outeiros. Logo no primeiro sermão que pregou, proclamava o desapego: "Bem-aventurados os pobres de espírito, pois é deles o Reino dos Céus” (Mt 5, 3). Depois de iniciar a sua vida pública rios com um jejum de quarenta dias, exortou os homens: "Não vos preocupeis com a vossa vida, de que vos alimentareis, ou com o vosso corpo, com que vos vestireis" (Mt 6,25).

    Quando percorria estradas como um profeta, admitiu que continuava tão desprovido de teto quanto por ocasião do seu Nascimento: "As raposas tem suas tocas e as aves do céu o seu ninho; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mt 8, 20). Também não havia luxo algum no modo como se alimentava; sabemos somente de uma refeição que Ele mesmo preparou, e essa consistia apenas de pão e peixe (cf. Jo 21, 9-10.12).

    Finalmente, na Cruz, Ele foi despojado de suas vestes e privado de um sepulcro para sair deste mundo como nele tinha entrado: Senhor dele e, mesmo assim, nada possuindo nele. As águas do oceano eram d’Ele e todas as fontes tinham brotado ao comando da sua Palavra; foi Ele quem soltou as quedas de água da natureza e fechou o mar nas suas comportas: foi Ele quem disse: "Quem beber dessa água voltará a ter sede, mas quem beber da água que Eu lhe der não terá sede para sempre” e “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba" (Jo 4. 13-14,7. 37).

    Agora, porém, Ele deixa cair dos seus lábios o mais breve dos sete gritos da Cruz, aquele que expressa o mais agudo de todos os sofrimentos humanos em expiação por todas as saciedades humanas: "Tenho sede". Um soldado imediatamente pôs uma esponja cheia de vinagre em uma vara e a pressionou contra sua boca. Assim se cumpriu a profecia feita pelo salmista mil anos antes: “Na minha sede, deram-me a beber vinagre” (Sl 68, 22).

    Ele, que alimentou as aves do céu, ficou sem comer; Ele, que transformou água em vinho, teve sede; secaram as fontes inesgotáveis: o Homem Deus soçobrou na indigência. Desde então o "divino "Lázaro está à porta do mundo e mendiga uma migalha e um gole, mas batem-lhe a porta da generosidade na face.

    Assim expiou Cristo o luxo no comer e no beber. Quando Mirabeau morria, pediu ópio, dizendo: "Vocês prometeram me poupar sofrimento desnecessário... Apoiem essa cabeça maior cabeça da França". Quando Cristo morria, recusou a droga que aliviaria seu sofrimento (Mc 15, 23). Ele se dispõe deliberadamente a sentir a mais pungente das carências humanas, para que pudesse equilibrar na balança da justiça aqueles que consumiram mais do que precisavam.

    O Senhor chegou mesmo a humilhar-se até o fim, a fazer-se o último dos homens, pedindo-lhes uma bebida - mas não uma bebida de água terrena. Não era isto o que Ele queria, e sim uma bebida para o seu coração sedento - uma bebida de amor. “Tenho sede de amor”.

    Essa palavra da Cruz nos revela que existem uma fome e sede duplas: uma do corpo, outra da alma. Em muitas ocasiões anteriores, Nosso Senhor as havia distinguido: "Ai de vós que estais fartos, pois haveis de ter fome. Ai de vos que agora rides, pois haveis de gemer e chorar”; "Bem-aventurados vós que agora tendes fome, pois sereis saciados. Bem-aventurados os que agora chorais, pois havereis de rir" (Lc 6, 21.25). A multidão que o seguiu através do mar, Ele disse: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará" (Jo 6, 27).

    À mulher samaritana que veio tirar água no poço de Jacó, Ele prometeu: "Quem beber dessa água voltará a ter sede; mas quem beber da água que Eu lhe der, não terá sede para sempre, mas a água que lhe darei se transformará nele em uma fonte de água que jorrará até a vida eterna" (Jo 4, 13-14).

    Por fim – passagem importantíssima entre todas as referência à comida e à bebida do homem interior, em contraste com as do exterior – Ele prometeu o supremo Alimento de Si mesmo: "Pois a minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida” (Jo 6,55).

    À luz dessa fome e sede duplas, a distinção entre dieta e jejum fica clara. A Igreja jejua; as pessoas mundanas fazem dieta. Materialmente, não há diferença, porque tanto um como outro podem perder nove quilos. A diferença está somente na intenção. Os cristãos jejuam não pelo corpo, mas pela alma; o pagão jejua não pela alma, mas pelo corpo. O cristão não jejua porque o corpo é mau, mas sim para torná-lo flexível nas mãos da alma, como uma ferramenta nas mãos de um hábil artesão.

    Isso nos traz ao problema básico da vida. É a alma um instrumento para o corpo, ou o é o corpo para a alma? Deveria a alma fazer o que o corpo manda, ou deveria o corpo fazer o que a alma quer? Ambos têm seus apetites e ambos são imperiosos na satisfação de seus desejos. Se agradamos a um, desagradamos ao outro, e vice-versa. Os dois não podem se sentar juntos no banquete da vida.

    O desenvolvimento do caráter depende de qual fome e sede cultivamos. Fazer dieta ou jejuar – esse é o problema. Perder a papada para ficar mais bonito aos olhos das criaturas ou perdê-la para manter o corpo domado e sempre obediente às exigências espirituais da alma - essa é a questão. O quanto um homem vale pode medir-se pelos seus desejos.

    Diz-me quais as tuas fomes e as tuas sedes, e eu te direi quem és. Tens fome de dinheiro mais que de misericórdia? De riquezas mais que de virtudes? De poder mais que de serviço? Então, és um egoísta, mimado e orgulhoso. Tens sede mais do vinho da vida eterna que do prazer? Do bem dos pobres mais que dos favores dos ricos? De almas mais que dos primeiros lugares às mesas? Então, és um cristão humilde.

    A grande pena é que muitos se preocupam tanto com o corpo que descuidam da alma, e ao descuidarem da alma perdem o apetite para o espiritual. Assim como é possível, no âmbito psicológico, que alguém perca todo o apetite por comida, assim também é possível, no âmbito espiritual, que alguém perca todo o desejo pelo sobrenatural. Gulosas do perecível, essas pessoas tomam-se indiferentes ao eterno. Como ouvidos surdos, mortos para o ambiente da harmonia musical, e olhos cegos, mortos para o ambiente de beleza, assim almas tortas tomam-se mortas a para o ambiente do divino. Darwin nos diz na sua autobiografia que, no seu amor pelo biológico, perdeu todo o gosto que tivera pela poesia e pela música, e que lamentou essa perda todos os dias da sua vida. Nada insensibiliza tanto a capacidade para o espiritual como a dedicação excessiva ao material.

    Um amor exagerado ao dinheiro destrói todo o sentido do valor; um amor excessivo pela carne mata os valores do espírito. Chega então o momento em que tudo parece se rebelar contra as leis mais altas do nosso ser. Como diz o poeta: "Todas as coisas te traem a ti, que me trais". A natureza é tão leal a seu Criador que ela sempre termina por ser desleal para com aqueles que abusam dela. "Uma veracidade traidora e um engano leal" é a melhor descrição poética disto, porque, em fidelidade a Deus, ela sempre será instável para conosco.

    A quinta palavra de Cristo na Cruz é o apelo de Deus ao coração humano para que busque a sua satisfação somente nas fontes que podem satisfazer. Deus não pode obrigar os homens a terem sede do que é sagrado em vez de daquilo que é vil, ou do divino em vez do humano, por isso seu pedido é uma simples afirmação: "Tenho sede”, significando: "Tenho sede de que tenham sede de Mim”... E a sua sede é a nossa salvação.

    Uma dupla recomendação esconde-se neste sermão pregado a partir da Cruz: a primeira é que mortifiquemos a fome e a sede corporais; a segunda, que cultivemos a fome e a sede espirituais.

    Devemos mortificar a fome e a sede corporais, não porque a carne é má, mas porque convém que o espírito sempre exerça domínio sobre ela, para que assim ela não se torne uma tirana. Muito além de evitar qualquer excesso, a Cruz exige que minimizemos os nossos gastos com luxo em favor dos pobres. Quantos alguma vez pensam em abster-se de um jantar sofisticado ou de uma ida ao teatro com os amigos por simpatia e afeição genuínas pelos pobres de Cristo? O ricaço da parábola (Lc 16,19ss.) não o fez, e perdeu a sua alma por conta desse esquecimento. Quantos, em circunstâncias mais apertadas, até se negam o prazer de assistir a um filme por mês para depositar o equivalente da entrada na caixa dos pobres, a fim de que Ele, que vê em segredo, possa recompensá-los em segredo?

    Não há a menor dúvida de que Deus nos aconselha a continência desses apetites corporais. Em certa ocasião, quando Nosso Senhor foi convidado a uma refeição em casa de um principal entre os fariseus, Ele se dirigiu ao anfitrião dizendo: "Quando deres uma ceia, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos, porque eles também te convidarão, por sua vez, e assim te retribuirão. Mas, quando deres uma ceia convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz, porque eles não têm com que te retribuir, e assim terás a retribuição na ressurreição dos justos" (Lc 14, 12-14).

    O dinheiro que gastamos nos excessos da fome e da sede corporais não nos servirá de nada no último dia; mas os pobres que ajudamos, graças à nossa temperança e mortificação, se levantarão como advogados diante do Tribunal da Justiça divina e pedirão ao Senhor que tenha misericórdia para com as nossas almas, ainda que elas, alguma vez, tenham estado pesadamente carregadas de pecado. O divino Juiz não pode ser comprado com dinheiro, mas pode ser convencido pelos pobres. Naquele último dia –, o único que realmente conta –, hão de se cumprir as belas palavras proféticas da Mãe de Nosso Senhor: ”Encheu os famintos de bens e dispensou os ricos de mãos vazias” (Le l, 53).

    Quando praticarmos esses atos de abnegação do alimento e da bebida supérfluos em favor da nossa alma, devemos realizá-lo em espírito de alegria. "E quando jejuardes, não fiqueis tristes como os hipócritas; porque eles desfiguram os rostos para que apareça aos homens que jejuam. Em verdade, vos digo: já receberam a sua recompensa. Mas vós, quando jejuardes, ungi vossa cabeça e lavai a vossa face; para que não apareça aos homens que jejuais, mas apenas ao vosso Pai, que habita em segredo. E vosso Pai, que vê em segredo, vos recompensará” (Mt 6, 16-18).

    Por outro lado, devemos cultivar uma fome e uma sede espirituais. A mortificação dos corporais é só um meio, não um fim; o fim é a união com Deus, o grande desejo da alma. “Provai e vede como o Senhor é bom!" (SI 33, 9).

    A grande tragédia da vida não é tanto o que os homens sofreram, mas o que perderam de vista. Só uns poucos podem satisfazer os seus apetites terrenos graças à sua riqueza, mas todos os homem vivos, se o quisessem, poderiam gozar da comida e bebida espirituais que Deus serve a todos os que as pedem(!). No entanto, como são poucos os que alguma vez pensam em alimentar as suas almas! Deveria haver pouquíssimos homens desses em Jerusalém para arrancar do Senhor a suave queixa: "Quantas vezes quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!" (Mt 23, 37). Quando escutamos a exclamação "Tenho sede", bem poderíamos ouvir o Salvador dizer-nos as palavras dirigidas à mulher no poço de Jacó: "Se conhecesses o Dom de Deus, e quem é que diz: 'Dá-me de beber', tu lhe pedirias, e Ele te daria a Água viva” (Jo 4, 10). Mas, quantos a pedem?



    Consideremos o maior dom de Deus para os homens: o Pão da Vida. Quão poucos se valem da divina Presença para comungar diariamente o divino Alimento da alma! Quantos têm consciência suficiente de que Nosso Senhor está no Tabernáculo para ao menos visitá-lo diariamente na sua prisão de Amor? Se não o fazemos, o que testemunha isso senão a morte da nossa visão sobrenatural? Nosso corpo parece sentir mais falta de uma sobremesa do que nossa alma, da Comunhão.

    Não é de espantar que nosso Redentor Crucificado tenha tido sede de nós na Cruz. Ele teve sede dos nossos corações indiferentes e das nossas almas idiotizadas. E não julguemos que sua sede é uma prova de carência da parte d'Ele (o que seria absurdo), mas sim da nossa. Ele não necessita de nós para a sua perfeição (pois Ele já é perfeito e fonte de toda perfeição) mais do que precisamos nós, por exemplo, de uma flor que se abre fora da janela para a nossa perfeição.

    Na estiagem, desejamos chuva para a flor plantada num vaso, não porque precisemos dela, mas porque aquela flor, sim, precisa de nós para ser cuidada. Do mesmo modo, Deus tem sede de nós, não porque Ele necessite de nós para sua felicidade, mas porque nós carecemos d'Ele para a nossa. Sem Ele, o progresso é impossível para nós. Exatamente como certas doenças, como o raquitismo e a anemia, aparecem no corpo por uma deficiência de vitaminas necessárias, assim também o nosso caráter se ressente da falta do Espírito. A imensa maioria dos homens e mulheres no mundo de hoje é tão atrasada espiritualmente que, se tal deficiência se mostrasse nos seus corpos, eles seriam monstruosidades físicas.

    Quantos milhões de mentes estão, hoje, desprovidas de uma única verdade gratificante que possam levar consigo em meio a suas tristezas e com que se possam consolar na hora da morte? Quantos milhões de vontades ainda não encontraram a meta para a sua vida e, por estarem despojadas dela, voam como borboletas de uma emoção para outra, incapazes de achar repouso? Que ao menos cultivem o gosto por algo mais que pão e circo; que perscrutem as profundezas do seu ser para descobrir os desertos áridos que clamam pelo regresso das fontes inextinguíveis.

    É claro que essas almas macilentas não são completamente culpáveis. Elas ouviram pregadores clamando sem "lde a Cristo!" Mas o que significa isso? Voltar para dois mil anos atrás? Se sim, não teriam elas o direito de duvidar da palavra de Alguém que não consegue se projetar através dos tempos? Olhar para o Céu, então? Se é este o sentido da frase, então o que aconteceu com a sua bênção, o seu perdão dos pecadores, a sua Verdade, que Ele disse que duraria até o fim do mundo? Onde está a sua autoridade hoje? Seu poder? Sua vida? Se não está em algum lugar da Terra, então por que veio Ele à Terra? Teria deixado apenas o eco de suas palavras, o registro de seus feitos, e depois ido embora, legando-nos somente uma história e seus professores?

    Em algum lugar da Terra, hoje, encontra-se a sua verdade: ”Aquele que vos ouve, a mim me ouve" (Lc 10, 16). Em algum lugar da Terra está o seu poder: "Eis que vos dei poder...” (Lc 10. 19). Em algum lugar da Terra está a sua vida: "O pão que Eu vos darei é a minha carne para a vida do mundo" (Jo 6,51). Onde encontrá-los? Há uma instituição na face da Terra que alega possuir todas essas coisas, e que aqueles que, sedentos, bateram às suas portas, receberam o elixir da vida divina e, com  ele, a paz dos que bebem e não sentem mais sede, comem e não têm mais fome.

    Nosso Senhor pergunta a cada um de nós em particular, dentro e fora da Igreja: "Aceitas a Bebida do meu Amor?". Ele tomou nosso cálice de ódio e amargura no Getsemani, e a borra depositada no fundo desse cálice foi tão amarga que o fez exclamar: "Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice"" (Mt 26. 39).

    Mas Ele bebeu cada gota dele. Se Ele bebeu nosso cálice de ódios, por que não bebemos seu Cálice de Perdão? Por que, então, quando chora: "Tenho sede", nós ainda continuamos lhe dando vinagre e fel?



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Fonte:
SHEEN, Fulton. A Cruz, vitória sobre os vícios. São Paulo: Molokai, 2015, pp. 50-58.

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