Sobre a Pseudocultura


Texto concedido por Ramon Martins Cogo

VENHO NOTANDO que, atualmente, existe uma grande confusão sobre a definição de "cultura" devido a corrupção da mesma no período em que vivemos. Não desejaria, neste pequeno texto, dar apenas a definição do termo cultura, mas também tratar daquilo que se apresenta como "cultura" e não o é, bem como tentar aproximar-me de sua etiologia, pois a pseudocultura é o grande leviatã dos alienados, que, se persistir, condenará a todos.

A cultura é o agregado de conhecimentos formado por um povo ao longo de sua história e que tem como função elevar o homem. Divide-se em 3 graus:

• Alta cultura, que traz excelência ao homem;

• Cultura popular, que imita a alta cultura;

• Incultura, que é, de fato, a ausência de cultura.

Poder-se-ia falar, também, sobre uma pseudocultura, que toma "imagem" de cultura sem sê-la. Esta é consequência da ausência de tensão entre a cultura popular e a alta cultura. Quando a alta cultura é ofuscada e a cultura popular passa a ser o que há de mais elevado, a decadência se inicia (qualquer semelhança com a história recente do Brasil, que elegeu um presidente que declaradamente nunca gostou de ler livros e nem cultivou o hábito da leitura, e ainda assim recebeu título da ABL e diversos diplomas honoris causa, não será 'mera coincidência'). Pois assim não há no que a cultura popular se espelhar e, aos poucos, e através de ondas revolucionárias alienadoras que possuem brilho efêmero – que prometem inovações que nunca irão ocorrer, senão por um momento – a cultura popular se reduz a incultura. Até que o povo descambe em um vazio cultural e fique à mercê dessas ondas revolucionárias, pois não há mais piso sólido sobre o qual se possa caminhar. Assim, tudo o que nasce dessas ondas revolucionárias alienadoras poderiam ser chamadas de pseudocultura.

Sem os graus da cultura, nunca poderíamos nos dar conta desse acontecimento. Se assim não fosse, todas as culturas teriam o mesmo valor; e, dos povos bárbaros, seria dito que sua cultura é equiparável a cultura de todo um Império. Sabemos, por motivos óbvios, que isso não é real, e que há graus na cultura de cada povo quando as comparamos. Por outro lado, isso se dá mesmo sem tocarmos no que é consuetudinário, sem desmerecê-lo por sua peculiaridade, que o faz único.

Definida assim a cultura e parcialmente apresentada a causa de sua corrupção para que se pudesse definir a pseudocultura, vamos à etiologia das coisas:

De que origem surgiram as muitas culturas da humanidade? Pois, dos cultos. Um culto é uma reunião para adorar algo, a tentativa das pessoas de comungarem com um poder transcendente. É da parceria no culto, o corpo de fiéis, que a comunidade cresce. Esta verdade fundamental foi exposta nas últimas décadas por grandes historiadores como Christopher Dawson, Eric Voegelin e Arnold Toynbee.

Uma vez que as pessoas estão reunidas no culto, a cooperação em muitas outras coisas torna-se possível. Defesa comum, irrigação, agricultura sistemática, arquitetura, as artes visuais, música, artefatos complexos, produção e distribuição econômica, tribunais e governo – todos esses aspectos da cultura surgiram gradualmente do culto, da formação religiosa.[1]

Tudo que foi citado acima foi dito por Russell Kirk em seu ensaio Civilization Without Religion. Ora, podemos conceber que a cultura surge do culto, da reunião dos homens para adorar um Poder transcendente; da tensão entre os homens, e desta reunião dos homens a cultura é formada ao longo da história de um local. Para que seja perene e ecoe através dos tempos é preciso, também, que não seja apenas útil ao seu povo, mas que seja universal, que se adeque à realidade, que não seja apenas um constructo.

”[…]não é somente o acaso e a cronologia que separam o mundo antigo do novo; o que chamamos de história moderna é na realidade a evolução de uma nova esfera de desenvolvimento, que, em muitos de seus elementos, podem bem ligar-se à decadência e à queda dos Estados mediterrâneos, da mesma forma que estes se ligam a civilização primitiva dos indo-germânicos, mas que foi solicitada a percorrer seu próprio curso, e a experimentar plenamente todas as vicissitudes da felicidade e da infelicidade social. Assim atravessou, alternadamente, seu tempo de mocidade, de idade madura e de velhice; conheceu a energia criadora na religião, na política e na arte; saboreou a calma satisfação dos bens materiais e intelectuais lentamente acumulados, depois, sem dúvida, também a decadência da força criadora esgotada pela saciedade da posse. Posse bem efêmera, é verdade; pois se uma determinada civilização pode palmilhar sucessivamente todos os pontos da periferia, assim não acontece com a humanidade. A humanidade, no momento em que crê ter atingido o final de sua carreira, vê abrir-se uma outra mais vasta e grandiosa que lhe será preciso percorrer”[2]. Nos diz Theodor Mommsen em seu livro História de Roma. Tal é o exemplo de processo histórico quando dado de maneira natural, dentro da ordem e não da desordem. Tais termos serão definidos a seguir para uma melhor compreensão da coisa.

Assim, a “Ordem”, nos diz Voegelin, “é a estrutura da realidade como experienciada pelo homem, bem como a sintonia entre o homem e uma ordem não fabricada por ele, isto é, a ordem cósmica”[3]. Quando a Ordem é corrompida, seu oposto toma conta, e dá-se então a Desordem. Na “[…]Desordem social e cósmica, a Ordem se reduz ao âmbito do indivíduo, e talvez nem mesmo ai possa ser encontrada”[4]. A Desordem tem como fonte a alienação “[allotriosis]”, que, na psicopatologia Estoica, “é um estado de retirada do próprio eu”[5]. Vicente Ferreira da Silva chama tal evento de “A Ocultação do Ser”. Mas vamos por partes. Em sua reflexão autobiográfica Voegelin diz que a alienação nasce da ausência de tensão entre o humano e o divino, ou seja, do homem materialista, aquele que acredita apenas na matéria.


Na atualidade conhecemos algo assim, e o chamamos cientificismo. Este tornou a ciência a mãe de todo conhecimento e explicadora de toda realidade. A ciência, fundada num materialismo, por consequência de seu próprio campo de estudo, reduziu tudo que há à matéria. Os homens começaram, então, a tratar a ciência como único caminho para o conhecimento de todas as coisas e assim foram distanciando-se de Deus, foram rompendo a tensão entre o homem e o Divino; o culto que deu origem à essa civilização que conhecemos começou a se despedaçar. O que unia os homens em direção à verdade: a fé, parou de fazer milagres. Deste modo, o homem, quando rompe a tensão com o divino, é reduzido à mero animal, à um símio. Não há mais o transcendental, a cultura, somente a matéria e a maneira subjetiva de interpretá-la. Eis a condição natural do homem bárbaro, sem cultura. Assim, podemos dizer que quando a tensão com o divino se rompe, quando o indivíduo se torna um alienado, este passa a ver o mundo não através da realidade enquanto proveniente de algo superior, mas passa a julgar a si mesmo como medida de todas as coisas. Não que tal evento nunca tenha se dado antes na história, muito pelo contrário, repetiu-se incontáveis vezes, mas depois da Revolução Francesa, que trouxe por consequência o liberalismo (que acarreta num relativismo moral, ou seja, os homens que acreditam numa moral subjetiva. E dentro disso não podem haver relações humanas. Todos tentariam aplicar seus conceitos morais aos outros, que também teriam diferentes conceitos morais. E eis o caos na sociedade); passado o Romantismo que, por conseguinte, levou ao Ultrarromantismo; começou a dar frutos o que culminaria, muitos anos depois, no pós-modernismo. Passado o modernismo, que apesar de toda grandiosidade cientifica e tecnológica proveniente desta, trouxe-nos também, uma profusão de problemas, de malefícios. Sendo eles, por exemplo o comunismo, e, como também já tratamos, o liberalismo e o cientificismo .

Vicente começa sua reflexão sobre a Ocultação do ser com a seguinte passagem:

A situação natural e imediata da realidade humana não parece ser um estado de vigília ontológica, um viver na verdade e pela verdade, um desenvolvimento triunfante de suas possibilidades mais íntimas. No início, encontramos o homem perdido entre determinações estranhas e desmerecedoras do seu ser, compreendendo o mundo e a si mesmo com categorias e com conceitos exteriores e adventícios. Esse existir fora de si do existir tem, portanto, como consequência uma compreensão e interpretação falsas de todos os momentos de nossa realidade e um traçado frustro do nosso próprio destino.[6]

É evidente aqui que: o homem, que sem qualquer conhecimento prévio, tenta retirar da experiência qualquer informação universal, está fadado à falha. Exatamente porque em sua situação natural o homem não dispõe plenamente de conceitos para tratar da realidade, e assim, não poderia definir a experiência tal como ela se dá em seu sentido mais puro, e, certamente, exatamente por não dispor destes meios, há de defini-la por novos conceitos criados por si mesmo. Ou seja, o conhecimento da experiência que poderia ser extraído de Homero, Dostoievski, Dante, Virgílio, Camões, Flaubert, Shakespeare e etc, por exemplo, é reduzida à inexistência. Destes, poder-se-ia, através de seus contos, extrair informações que nos facilitam na determinação da nossa experiência frente a realidade, pois nos contos desses grandes escritores a personalidade humana diversa, as relações humanas, dentro de uma variedade interminável de eventos possíveis são circunscritos. E sem tais noções somos submetidos às modas, ao espirito dos tempos, a tudo que há de mais vigente na atualidade e menos universal. O eterno distancia-se, o que deveria ecoar através dos tempos nem chega a ser um breve sussurro.

Por conseguinte, a interpretação corrompida do real de um homem, por parecer similar ao real, é tomada pela mais forte verdade e disseminada como tal. Assim, a maioria dos homens desperdiçam suas vidas, pois, longe do universal, os conceitos são dados à partir dos sentimentos, e cada indivíduo tentaria demonstrar o mesmo evento, ou até mesmo um mesmo objeto, através de uma infinidade de conceitos diferentes, que de maneira alguma representam o objeto de análise, que talvez, com sorte, se aproximem de uma forma minúscula. O lado racional já ter-se-ia despedaçado nesse momento, o sentido objetivo das coisas despedaçou e a norma vigente é o subjetivismo. Nisso, sem conhecimento, não cultural local, mas em um nível mais universal, de onde pode-se fazer abstrações de terceiro grau pois tal é o papel da metafísica, ou, até mesmo uma abstração de primeiro grau, como é feita pela ciência, o homem passa a compor uma nova cosmovisão, passa a ter que extrair per se tudo o que já havia sido extraído e definido de acordo com a realidade por grandes e nobres homens ao longo da história. E é certo que nisso não se afasta completamente da realidade, mas traz uma versão corrompida da mesma. Tal evento na atualidade pode ser chamado de subcartesianismo, do qual trataremos a seguir.

Aqui, no período contemporâneo, após o pós-modernismo, senão antes, o Cogito de Descartes, infelizmente, deu início a Era dos – nas palavras de Theodore Dalrymple — subcartesianos, daqueles que desejariam pensar apenas per se, desconsiderando todo conhecimento anterior a si, de toda história da humanidade, desejando atingir o conhecimento apenas pelo empirismo pessoal. Descartes tremeria de horror ao pensar que foi esse o efeito do ponto arquimédico de sua filosofia.

Mas ”O homem só pode encontrar vida entre os mortos”, nos diz Chesterton em seu livro ‘O que há de errado com o mundo’, “Ele é um monstro disforme com os pés virados para frente e o rosto para trás. Pode criar um futuro luxuoso e gigantesco, contanto que pense no passado. Quando tenta pensar no futuro em si, sua mente diminui até transformar-se num pontinho minúsculo de imbecilidade, a que alguns chamam de Nirvana. O amanhã é a Górgona; o homem não deve mirar senão seu reflexo no reluzente escudo do ontem. Se olha diretamente, transforma-se em pedra. Tal foi o destino de todos aqueles que realmente viram o futuro como algo claro e inevitável”[7].

Por consequência desta negação do passado, do subcartesianismo, a análise que fazem da realidade é sempre a partir de si próprios, de como se sentem sobre tal evento e o que pensam sobre ele (como no romantismo e no ultrarromantismo). A partir disso nasce um vocabulário novo, são descritos novos conceitos para definir a realidade à partir desse ponto de vista subjetivo e que, senão sempre, quase sempre – para tratar de forma amena — leva a tratar a realidade a partir de um idealismo. Tal evento não é tão recente, e data de um período posterior ao ultrarromantismo. Os ideólogos, os criadores das ideologias — fonte de todos os nossos problemas –, são homens que tratam da realidade a partir de um ideal, mas nunca da realidade em si. Dentro da ideologia é criada um segunda realidade enxertada com subjetivismo do ideólogo, sempre com a visão do que ele acredita ser tal coisa, ou como desejaria que fosse. Mas nunca a realidade por si mesma. É uma nova cosmovisão, que também é materialista, que em nada se adequa a realidade.

No entanto, os ideólogos, diferentemente dos alienados, que já enxergam a realidade à partir de termos corrompidos, corrompem os termos que definem a realidade. Modificam tudo quanto possa ser um problema para tal cosmovisão ideal. Essa corrupção da história, pelos ideólogos, que o fazem para falar da corrupção da realidade pela sua ideologia, causa nos pós-modernos uma deformidade no vocabulário. Sem a devida compreensão do progresso histórico-cultural e filosófico e suas influências, até o momento das revoluções e a corrupção proveniente destas, eles não dispõe de noções para tratar da realidade, conseguindo apenas tratar do subjetivismo, do achismo, do que apreendem como real a partir do que sentem. E em sua atitude prudhommesca tentam dar nome aos bois.

E nos diz Vicente: “Sócrates lançou pela eternidade uma alta lição a todos os que se interessam pelas coisas do espírito: o amor à precisão da linguagem, à exata compreensão do valor dos vocábulos.
Quem não disciplinar o espírito sobre o jugo desta tradição poderá produzir muito e variados, mas com toda certeza essa produção estará impregnada do caos e da desordem dos que negligenciam o papel proeminente do Logos”[8].

Quanto mais termos desnecessários, infundados e sem valor, ante a realidade, que surgem em função da ignorância, ou canalhice, daqueles que os cunham, maior é a decadência da cultura, mais notória torna-se a barbárie que se espalha celeremente.

A ideologia causa nas percepções da realidade uma deficiência tão grotesca que a única consequência possível a se atingir nesse caminho é o retorno ao primitivismo. Não importando quanto venha a progredir a tecnologia, no estado mental que se encontram os seres humanos, chegará o momento em que nenhuma progressão poderá ser feita, e que toda forma de conhecimento perderá seu valor. Os bárbaros vão dominar e toda casta será resumida em poder, um poder que irá subjugar a todos e dita-los o que deve ou não ser feito, o que é ou não bom, e como deverão ou não agir frente a isso. A conquista final do homem há de torná-lo num utensílio dos Manipuladores, “a conquista final do homem”, como diz C. S. Lewis, “mostrou-se a abolição do homem”.[9].

Deste modo, podemos dizer que sem a tensão entre o homem e o divino, despedaçados os cultos que deram origem a cultura e as grandes civilizações, sem o passado para nos guiar em direções mais elevadas o homem é reduzido ao barbarismo, a mero símio, pois não há mais cultura, há apenas achismos sobre, e unicamente, os fenômenos (no sentido de Kant), e como eles se apresentam à nós. O homem materialista por conseguinte é levado à ocultação do ser, onde o homem é destituído de sua liberdade, onde o ser se estagna em sua própria idiotice (na melhor acepção: aquele que julga o mundo a partir de sua própria pequenez), pois não há universais, os conceitos ontológicos não existem nesse âmbito. Esse constructo é insignificante e efêmero. A realidade entendida com conceitos ontológicos, criada pelo divino é inesgotável em sua análise. Por outro lado, no cientificismo, onde muitos materialistas tratam a ciência como o próprio deus, esses, apesar de materialistas, não se entregaram a visão de mundo tão só a partir de si mesmos. Pois no campo científico estudam as análises de outros homens sobre os fenômenos. É mantida, ao menos, a abstração de primeiro grau. Mas também não saem do âmbito da materialidade. O que não é de todo errado, pois como nos diz Mario Ferreira “O carácter da ciência é o de ser limitada, pois a ciência, em todo momento, é ”ciência do que é”. A ciência está adscrita ao ôntico, enquanto a filosofia vai além do quadro ôntico, e averígua, em seu último fundamento, em seu aspecto metafísico, aquilo que faz justamente que o que é seja (as essências)”[10]. Porém, ao enfurnarem-se no materialismo é como se fossem destituídos de suas asas, e como diz Vicente: “A virtude das asas consiste em levar o que é pesado para as regiões superiores”[11].

O que pode ser feito, diz Russel Kirk, no final de seu ensaio:
“[…]é meu argumento que a elaborada civilização que conhecemos permanece em perigo; que isso pode ser expiração de letargia, ou ser destruída pela violência, ou perecer, de uma combinação de ambos os males. Nós que pensamos que a vida vale a pena ser vivida devemos direcionarmo-nos ao meio pelo qual a restauração da nossa cultura possa ser alcançada. Uma necessidade primordial para nós é restaurar uma apreensão de insights religiosos em nosso desejado aparato de instrução pública, que – intimidado por militantes humanistas seculares e tribunais federais presunçosos – foi deixado somente com ruinosas respostas às perguntas finais.

O que aflige a civilização moderna? Fundamentalmente, a aflição de nossa sociedade é a decadência da crença religiosa. Se uma cultura é para sobreviver e florescer, esta não deve ser separada da visão religiosa da qual ela surgiu. A grande necessidade de homens e mulheres reflexivos, então, dá-se para operar a restauração de ensinamentos religiosos como um verossímil corpo de doutrina.

“Resgatar o tempo, resgatar o sonho’’, escreveu T.S. Eliot. Isso permanece possível, dada a razão correta e imaginação moral, para confrontar audaciosamente as desordens das eras. A restauração do verdadeiro ensinamento, humano e cientifico; a reforma de muitas políticas públicas; a renovação de nossa consciência de uma ordem transcendente, e da presença de um Outro, o clareamento dos que estão por vir onde nos encontramos, tais abordagens estão abertas àqueles entre a crescente geração que procura por um propósito na vida. É apenas concebível que pode nos ser dado um sinal antes do fim do século XX; No entanto, com Sinal ou nenhum Sinal, aqueles remanescentes devem lutar contra as loucuras de nosso tempo”[12].

Para concluir:
Toda corrupção na cultura nasce a partir de homens que romperam a tensão com o divino, que produzem escritos baseando-se na ideologia, que acaba por se tornar uma cosmovisão. Quando tais escritos são tratados como produto de alta cultura, muitas vezes por sua aparência de intelectualidade, a intelligentsia o leva à cultura popular que passa a espelhar-se nisso. O povo, então, espelha-se numa visão corrompida do real, e a levam adiante. Nesse momento não temos só um alienado, mas uma infinidade deles. Dá-se, por conseguinte, a Desordem, das nascidas miríades de subcartesianos; de materialistas; de militantes humanistas secularizados; todos os tipos idiotizados pela ideologia que se possa imaginar. Todos esses secularizados, afastados do culto, que tiveram sua tensão com o divino rompida. Todos, sem a cultura, assemelham-se ao homem bárbaro. A grande civilização, assim, desmorona.

E, como diria Fausto:

“[…]Maldita seja a opinião subida
Que de si mesma forma a mente cega!
Malditas essas falsas aparências
Que aos sentidos mentem, esses sonhos
De glórias vãs e de imortal nomeada !”[13]

E eis a característica mais importante disso tudo: por não serem fundadas em conceitos eternos, nenhuma dessas criações é verdadeira. Por mais que tentem aplicá-la, ela não funciona, e acham que é um pequeno erro aqui ou acolá, e tentam corrigi-la e aplicá-la novamente, não reconhecendo que o erro é o ponto arquimédico de todo constructo; sempre apresentando sua nova amostra como produto revolucionário que irá mudar o mundo, mas que não passa de um grande erro; de pseudocultura. Sim, pseudocultura, pois esta não eleva o homem, e tal é a função da cultura. Como nos diz Vicente: ”[…]não devemos esquecer, existem conhecimentos, ou melhor, coisas que se fazem passar por conhecimentos, que sendo de sinal contrário ao sentido da alma, neutralizam todas as energias do homem; há visões das coisas, que matam”[14] e, numa salvaguarda pode-se pensar: “As minuciosas construções do pensamento são possíveis apenas para os espíritos menos impetuosos, para aqueles que conseguem conservar, em meio dos Saturnais de Sophia, uma fria atitude de descriminação e análise”.[15]


A pseudocultura, que assim o é; que causa essas visões das coisas, que matam, leva o homem aos abismos e ao primitivismo. Por afasta-lo de Deus, também afasta-o da moral. O barbarismo reina entre os homens nesse instante. E nenhum deles deseja ser salvo. Tal é a obra da pseudocultura.


____
Notas

1. Kirk, R. – Civilization Withou Religion [Surprise Turning Points], P.3; Tradução Cogo, R. M.
2. Mommsen, T – História de Roma. P. 64/65
3. Voegelin, E. – Reflexões Autobiográficas. P.117
4. Ibidem
5. Ibidem p. 118
6. Da Silva, Vicente Ferreira – Dialética das Consciências. P. 39
7. Chesterton, G. K. – O que há de Errado com o Mundo. P. 43
8. Da Silva, Vicente Ferreira – Lógica Simbólica. P. 44
9. Lewis, C. S. – A Abolição do Homem. P. 61
10. Dos Santos, M. F. – Filosofia e Cosmovisão. P. 110
11. Da Silva, Vicente Ferreira – Dialética das Consciências. p. 27.
12. Kirk, R. – Civilization Withou Religion [Restoring Religious Insights], p.8; Tradução Cogo, R. M.
13. Goethe – Fausto. P. 72 versos 1608/1612
14. Da Silva, Vicente Ferreira – Dialética das Consciências. P 61
15. Ibidem. P. 56/57
    ____
    Fonte:
    Associação Movimento Somar (Somar para vencer), disp. em:
    http://www.somarparavencer.com.br/index.php/2016/10/15/sobre-a-pseudocultura/
    Acesso 9/11/016

    www.ofielcatolico.com.br

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