Dia de Todos os Santos e Dia de Finados

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NESTE SEMANA A IGREJA celebra duas festas litúrgicas intimamente relacionadas ao Mistério da comunhão dos santos: a Solenidade de Todos os Santos, no dia 1º de novembro, e a Comemoração dos Fiéis Defuntos, no dia 2. Estas festas nos recordam que “todos os que somos filhos de Deus (...) constituímos uma única Família em Cristo”[1], na qual nos amamos e nos auxiliamos mutuamente.

O Catecismo da Igreja Católica, citando a constituição Lumen Gentium, ensina que, atualmente, a Igreja existe em “três estados”:

Até que o Senhor venha em sua Majestade e, com Ele, todos os anjos, quando terá sido destruída a morte e todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na Terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto outros ainda são glorificados, vendo ‘claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é.

    Essa passagem trata 1) de nós mesmos    que caminhamos ainda sobre esta Terra, que somos Igreja militante e peregrina –; 2) das almas que são purificadas no Purgatório, aguardando o dia glorioso de adentrarem o Paraíso celeste e eterno; 3) de todos os santos e santas de Deus que já estão no Céu, a Igreja triunfante, pura e imaculada[2].

    Apesar destas diferenças, somos todos membros do Corpo Místico de Cristo que é a sua Igreja. Assim como a alma está para o corpo, o Espírito Santo está para a Igreja, Corpo santo, unindo os fiéis do Céu e da Terra e santificando-os com os mesmos tesouros espirituais.

    No dia primeiro de novembro, festeja-se, assim, o dia que deveria ser também nossona Solenidade de Todos os Santos. Lamentavelmente, têm-se perdido a correta noção do que seja um “santo”, inclusive porque confunde-se o significado de pessoa santa e pessoa salva. Quem está no Purgatório, por exemplo, está salvo, mas ainda não totalmente santificado, no sentido pleno da palavra (saiba mais). Os santos canonizados, ao contrário, já completaram toda a sua purificação nesta vida e, portanto, foram diretamente para o Céu.

    Aqui encontra-se mais uma medida que compõe o grande abismo que separa católicos e protestantes. Os primeiros creem que a santidade é possível neste mundo e acreditam firmemente que, por auxílio da Graça – e também por mérito próprio – a pessoa humana pode chegar a dizer com São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim”[3]. Os santos, na Igreja Católica, são cristãos que alcançaram tal grau de perfeição ao se configurarem a Cristo de maneira que Ele mesmo se faz Presença viva neles. Como ensina Santo Irineu de Lion, Padre da Igreja, “Gloria Dei vivens homo – a Glória de Deus é o homem vivo”[4], isto é, o homem que vive em Cristo. Por isso, depois que morrem, os santos, vendo Deus face a Face, podem interceder por nós junto a Ele.

    Mas, para os protestantes, Deus operaria as coisas “diretamente”, sem precisar de ninguém. Sem dúvida –, e os católicos creem nisto –, Deus não precisa de Suas criaturas, mas toda a história da salvação testemunha que, mesmo não precisando, Ele quer precisar delas. Deus não precisava, por exemplo, servir-se de um homem e de uma mulher para gerar novas vidas no mundo. Num estalar de dedos, os seres humanos podiam simplesmente brotar da grama, como os cogumelos. Todavia, Ele quis depender da ação de um pai e de uma mãe para tanto. A beleza da fé católica está justamente na ação de Deus que ama as suas criaturas por meio destas mesmas criaturas, fazendo-as participar de sua Bondade e de seu Amor: é o caso dos anjos do Céu, por exemplo, especialmente os anjos da guarda.

    Entretanto, está escrito: “Há um só Mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus”[5]. Verdade divina, na qual cremos desde sempre. Todavia, nos Atos dos Apóstolos é narrado o episódio de Pedro Apóstolo que, estando no cárcere, foi libertado pela ação de um anjo de Deus e da Igreja (atenção) que “orava continuamente a Deus por ele”[6]. Isso mostra como a Mediação de Cristo diz respeito à Mediação de Seu Corpo todo, seja por meio dos santos e anjos, que estão no Céu, seja pelos fiéis militantes, que estão na Terra[*]. Se admitimos a intercessão dos anjos e dos vivos, temos que admitir a dos que estão mortos para este mundo porém mais vivos do que nós no Céu, em Cristo, pois as Sagradas Escrituras também nos garantem que nada pode nos separar do Amor de Cristo, nem mesmo a morte[7].

    Crer no contrário seria crer que os membros do Corpo Místico de Cristo, uma vez mortos, estão “excomungados”. Absurdo! A comunhão com a Igreja é mais forte que a morte. Portanto, os santos, que já estão com o Senhor, rezam conosco e por nós. Glória a Deus!


* * *

    Além de todo o exposto até aqui, é agradável a Deus a intercessão de seus amigos, os santos. Lutero e seus seguidores não aceitam que alguém mereça, por seu amor a Deus, ser atendido por Ele. O protestantismo nega a doutrina do mérito. Para eles, “tudo é Graça”. Os católicos entendem que, realmente, tudo – inclusive o próprio mérito que possuímos – é Graça. Os santos receberam muitíssimas graças de Deus, entre as quais está a própria graça de merecer. Por isso, aqueles que amaram muito ao Senhor merecem ter as suas preces ouvidas por Ele.

    Por fim, lembremo-nos sempre que não existem apenas os fiéis que estão no Céu. A Celebração dos Fiéis Defuntos recorda que nem todos os que se salvam vão diretamente para a Vida eterna em Cristo. O Purgatório é parte do Depósito de Fé e da Doutrina da Igreja de dois mil anos. Os primeiros cristãos nas catacumbas já rezavam pelos mortos. Ora, sabendo que depois da morte não existe uma “segunda chance” de salvar-se, essa prática só pode indicar a existência de uma purificação após a morte, para aqueles que já se salvaram, mas, em vida, não amaram a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento[8]. Infelizmente, esse é o estado em que se encontram muitos de nós, por conta de nossos pecados e de nossa falta de generosidade com Deus. Se não nos purificarmos nesta vida, seremos purificados na futura. Cremos que só se entra no Céu totalmente santo. Por isso, é importante que, em um ato de caridade, sufraguemos as almas dos fiéis defuntos  –, isto é, peçamos e intercedamos por elas, com orações, jejuns, penitências, atos concretos de caridade –, a fim de que se purifiquem o mais breve e entrem na posse eterna da perfeita Alegria em Deus.

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Notas
1. Catecismo da Igreja Católica, 959
2. Ibidem, 954
3. Gl 2, 20
4. Adversus haereses, IV, 20, 7
5. 1Tm 2, 5
6. At 12, 5
7. Cf. Rm 8, 35-39
8.  Cf. Dt 6, 5; Mt 22, 37

* Já a Mediação direta de Cristo refere-se à única Mediação capaz de salvar as almas e garantir aos seres humanos convertidos a vida eterna no Céu. Nenhum, absolutamente nenhum santo e nenhum anjo de Deus, por mais agraciado que seja, tem o poder ou teria a capacidade de nos remir dos nossos pecados, que nos condenam à morte e ao Inferno. Somente Jesus Cristo, sendo Deus, poderia nos resgatar desta dívida incomensurável e impossível de ser quitada (por ser ofensa a Deus que é infinitamente Bom e infinitamente digno de ser amado e respeitado) por meio do seu Sacrifício redentor.

24/10/2016 – Soldados católicos reerguem cruz e rezam após derrotar o Estado Islâmico em Mossul: assista!



O ESTADO ISLÂMICO (EI ou ISIS), graças ao bom Deus, vem perdendo posições estratégicas e sofrendo derrotas a cada semana. A mais recente, ocorrida no início da semana, foi na aldeia de Bartella, na planície de Nínive, Iraque.

Quando os jihadistas invadiram o local, há mais de um ano, as famílias cristãs foram obrigadas a fugir. Casas e igrejas foram invadidas, profanadas e saqueadas. Muitos foram assassinados publicamente. Um dos primeiros atos dos terroristas era arrancar as cruzes do alto dos templos e substitui-las pela bandeira negra que simboliza a sua seita nefasta.

Hoje, afinal, a situação se reverte. Soldados da milícia cristã vêm obtendo importantes vitórias no entorno de Mossul, ao norte do Iraque e próximo à fronteira com a Síria. Num vídeo histórico e belíssimo, divulgado esta semana pela imprensa internacional (ao final deste post), vê-se o momento emocionante em que estes novos cruzados improvisam uma rústica cruz e, em seguida, a recolocam no alto de uma igreja, junto com a bandeira daquele país. Enquanto isso, repicavam os sinos, simbolizando que o cristianismo havia mais uma vez triunfado.

Quando tiveram certeza da vitória, muitos membros da milícia começaram a cantar louvores e rezar. Alguns jogavam areia sobre a cabeça – um gesto simbólico antiquíssimo para essas populações – enquanto repetiam, em prantos: “Esta é a nossa terra!”... Antes da invasão, a população era de aproximadamente 20 mil pessoas, sendo 95% cristã.

Em uma celebração improvisada, foram para dentro da igreja e rezaram o Pai Nosso em aramaico, língua falada nos tempos de Jesus e que está quase desaparecida. A região tem quase dois mil anos de cristianismo e não é a primeira vez que tentam exterminar a fé deste povo heroico, de tradição católica assíria. As três igrejas da cidade continuam de pé, mas foram saqueadas e tiveram todos os símbolos cristãos destruídos.

O líder caldeu católico da vizinha Erbil, dom Bashar Warda, afirmou que “a ação militar não acabará com o pesadelo” que os cristãos “viveram durante os últimos dois anos”, submetidos aos horrores impostos pelo grupo terrorista Estado Islâmico.

“Por quase dois mil anos, muitos povos das planícies do Nínive, agora libertados –, como Bartella, Karlais, Qaraqosh e outros –, eram conhecidos como lugares cristãos”, lembrou Warda. Tudo mudou em 2014, quando esses lugares foram tomados pelos terroristas. O apelo do líder religioso é que os cristãos de todo o mundo não esqueçam dos que vivem na região. “Eles necessitam de apoio contínuo e um compromisso claro para a reconstrução”.

Cerca de 90% da população original fugiu e vive como refugiada em outros lugares. Não há estimativa se elas voltarão e quando isso se dará. Não há eletricidade nem água corrente na cidade, a comida é escassa. O governo do Iraque comemora a retomada dos territórios, mas avisa que não há previsão para a reconstrução das cidades.

Aa forças iraquianas juntam-se às curdas e peshmergas no que vem sendo considerada a investida final contra o Estado Islâmico. Elas já dominam o entorno de Mossul, considerada a capital de fato e o último bastião do Estado Islâmico no país. A informação é confirmada pelo porta-voz do Comando das Operações Conjuntas, o general da brigada Yehia Rasul.



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** Com informações de 'LA Times' e 'World Watch Monitor'.
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Aspectos ontológico e gnosiológico da Lei Natural


Por Igor Andrade – Fraternidade Laical São Próspero

A FILOSOFIA VERDADEIRA dos direitos da pessoa humana se funda na ideia verdadeira de lei natural, que tem dois aspectos fundamentais – dois modos de considerá-la – que a legitimam como base desses direitos: o aspecto ontológico e o aspecto gnosiológico.

A Lei Não-escrita ou Lei Natural nada mais é que aquilo que existe pela própria virtude da natureza humana, uma ordem ou uma disposição que a razão humana pode descobrir e segundo a qual deve agir a vontade humana para pôr-se em consonância com os fins essenciais e necessários do ser humano[1].

Quanto ao aspecto ontológico, no quarto capítulo de “O homem e o Estado”, (Jacques) Maritain toma a natureza humana como um dado da realidade e, por isso, não a discute, apenas considera como admitido que “acreditamos na existência de uma natureza humana e que essa natureza é a mesma para todos os homens”[2].

Também é considerado como admitido que o homem é dotado de inteligência e que atua com compreensão do que faz e que, por isso, determina por si mesmo as finalidades que tem em mira.

Contudo, o homem também possui finalidades que correspondem necessariamente à sua constituição essencial e que são as mesmas para todos, isto é, não dependem da consciência pessoal, mas fazem parte do próprio homem enquanto homem.

Tem-se, portanto, como que duas fontes de fins: uma essencial, que determina os fins gerais de todos aqueles que são ditos “homem”; outra, pessoal, que determina os fins particulares deste ou daquele homem.

Assim, o homem particular[3], como determinador seus próprios fins, deve harmonizar-se com os fins mais gerais exigidos por sua própria natureza, assim como a matéria deve ser determinada pela forma que lhe é própria.

“Cada ente tem a sua própria lei natural, assim como tem sua própria essência”[4] – Maritain defende uma tese contrária à teoria da participação de cada ente particular de determinada espécie à uma ideia geral dessa espécie; assim sendo, a essência humana presente em Pedro não é a mesma presente em João, embora ambos possam ser reduzidos à unidade da espécie “homem”. Neste sentido, a lei natural (que é “a normalidade do funcionamento”) de cada ente individual é aquilo que o aperfeiçoa de modo particular segundo sua própria natureza de modo geral.

Maritain exemplifica isso usando a imagem do piano: um objeto com uma determinada disposição produzindo um determinado tipo de som ao qual chamamos piano. Qualquer ente que fuja a essas regras gerais ou não pode ser chamado piano ou não são plenamente piano. Assim, o filósofo francês põe a regra do dever ser embutida na própria lei natural, que apenas toma um sentido moral quando se pressupõe a liberdade do ente, isto é, quando ultrapassamos “o limiar do mundo dos agentes livres”[5]. Portanto, a lei natural do homem é a lei moral.

Com efeito, primeiro elemento fundamental a ser reconhecido na Lei Natural é o elemento ontológico, isto é, aquele elemento que diz respeito ao ente em seu aspecto específico. A normalidade do funcionamento se baseia na essência do ente, no caso, na essência do homem.

Em seu aspecto ontológico, a lei natural do homem – que é um ente dotado de liberdade que se manifesta na prática – é uma ordem ideal – específica e independente da determinação pessoal, como dito acima – relacionada com as atividades humanas, sendo estas o elo entre a lei natural e a essência humana.

Tal legação, o que não quer dizer que essas atividades estejam embutidas na essência de cada homem particular (como Leibniz afirmara que todo acontecimento da vida de César estava presente preliminarmente na ideia de César).

Embora haja esse vínculo entre as situações particulares e contingentes e a essência humana, o que aquelas fazem diante desta, nada mais é que pô-la em xeque. Por exemplo a de Caim ante Abel que implica uma relação com a essência do homem, e o possível assassinato de um pelo outro é incompatível com os fins gerais, “com a estrutura mais íntima dessa essência racional”[6]. O preceito “Não Matarás” é um preceito da lei natural porque o fim primordial e mais geral da natureza humana é conservar o ente – o ente desse existente, que é uma pessoa e um universo em si mesmo e ainda porque o homem, enquanto homem, tem o direito de viver.

A lei natural é ontológica porque a essência humana, na qual se funda, é uma realidade ontológica e não-separada de cada ente humano, de modo que a lei natural existe para todos os homens de modo geral e para cada homem de modo particular.

Neste sentido, o aspecto ontológico diz respeito à relação desta lei com a essência mesma do homem, isto é, que ela não é senão nos homens enquanto homens.

O segundo elemento fundamental a ser reconhecido na lei natural é a lei natural como conhecida. Tomando a razão humana prática como medida dos atos humanos, Maritain chega ao fato de o homem seguir essa lei não escrita de modo natural tendo como seu primeiro indício o “fazer o bem e evitar o mal”. Contudo, voltando-se novamente para a realidade, ele conclui que há algo mais nessa lei que deve ser conhecido.

O fato de a lei natural ser uma lei não escrita, faz com que os homens nos mais variados tempos e civilizações a conheçam com maior ou menor profundidade, correndo, assim, o risco de cometer erros e a possibilidade de evoluir no conhecimento desta lei podendo, tranquilamente uma civilização ser melhor que a outra naquilo que diz respeito ao maior grau de assimilação da lei natural.

O único conhecimento prático que todos os homens têm de modo natural e infalível é que devemos fazer o bem e evitar o mal. Esse é o preâmbulo da lei natural, mas não é a própria lei natural. Toda espécie de erro é possível com respeito a isso, o que prova, não que não haja uma lei natural, mas sim que “nossa vista é fraca quanto ao conteúdo desta lei”[7].

Uma sociedade que admite o infanticídio (como algumas tribos indígenas que habitam o norte do Brasil), o “sexo corretivo forçado” (como algumas tribos africanas) ou o estupro (como em algumas correntes muçulmanas) não provam em nada uma falha na lei natural, assim como um erro numa soma não prova nada contra a aritmética; prova somente um erro na consideração do objeto da lei.

O conhecimento moral ainda é imperfeito e continuará a desenvolver-se à medida em que a humanidade existir. Maritain ainda diz: Só quando o Evangelho tiver penetrado as próprias profundezas da substância humana é que a lei natural aparecerá em sua flor e sua perfeição[8]. Assim, mostram-se diferentes coisas a lei e o conhecimento da lei.

“O conhecimento humano da lei natural foi progressivamente moldado pelas inclinações da natureza humana”[9], isto é, a razão humana não conhece a lei natural de maneira abstrata nem pelo exercício do intelecto, mas sim descobre os ditames da lei natural quando guiada pelas inclinações da natureza humana – como por exemplo, “fazer o bem e evita o mal”.

Dessas inclinações, as que foram realmente autênticas são aquelas que guiaram a razão, lenta e gradualmente, à consciência das normas desta lei pouco a pouco de maneira mais específica e generalizada e que foi aceita pelas diversas comunidades humanas. Assim, o conhecimento dos aspectos primordiais da lei natural se exprimiu em moldes sociais e não tanto em julgamentos pessoais. De modo que leva Maritain a dizer que tal conhecimento desenvolveu-se dentro do tecido, duplamente protetor, das inclinações humanas e da sociedade humana.

Tendo isso em vista, convém analisar dois pontos que se seguem. Por um lado, os esquemas dinâmicos fundamentais da lei natural estão sujeitos a um conhecimento mais universal, isto é, há certos pontos que como que estão presentes em todos os grupos humanos universalmente, mesmo que de modo indeterminado, sem os quais, as sociedades não subsistem. Por exemplo: suprimir uma vida humana não é como suprimir uma vida animal; o grupo familiar tem de satisfazer certas normas fixas; ou ainda, as relações sexuais têm de conter-se dentro de certos limites.

Por outro lado, há a presença de uma relatividade[10] e de variação que se encontram em certas regras e costumes particulares de acordo com os quais, entre os diferentes povos, a razão humana exprimiu seu conhecimento dos aspectos fundamentais da lei. Assim, tendo em vista o fato de que o conhecimento da lei natural não ocorre a priori, de modo conceptual, mas sim por meio das inclinações naturais do homem, fica claro que os níveis de conhecimento ou consideração da lei natural ocorrem em graus diferentes, o que possibilita o erro de uns, acerto de outros e a possibilidade de uma melhora na consideração desta lei.

Assim, o conhecimento que a razão humana tem da lei natural é um conhecimento obscuro, não sistemático, sujeito tanto a falhas e erros quanto a acertos e progressos.

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Notas:
[1]Maritain, Jacques. O Homem e o Estado. Tradução de Alceu Amoroso Lima, 4º Edição, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1966 p. 88;

[2]Idem

[3] Usaremos essa expressão para diferenciar do homem no sentido mais geral do termo.

[4] Maritain, Jacques. O Homem e o Estado. Tradução de Alceu Amoroso Lima, 4º Edição, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1966 p. 88

[5]Op. Cit. P.89

[6] Op. Cit. p. 90;

[7] Op. Cit. p.92

[8] Idem

[9] Op. Cit. p.93

[10] Uma dose de relatividade e não (jamais!) de relativismo. Partimos aqui da noção de Prudência, que ensina a agir em cada relação particular de modo absoluto referente àquela relação.

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Fonte:
www.somarparavencer.com.br/index.php/2016/10/24/aspectos-ontologico-e-gnosiologico-da-lei-natural

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A história da conversão de um muçulmano – martírio do padre Hamel motivou a decisão final


Por Jorge Soley – Archipiélago Ortodoxia

EM 26 DE JULHO último, o mundo viu-se diante da notícia do martírio do padre francês Jacques Hamel, degolado por jihadistas enquanto celebrava a santa Missa. Poucas horas depois, um jornalista e escritor editorial do Wall Street Journal, de origem iraniana, chamado Sohrab Ahmari, anunciou a sua decisão de se converter à Igreja Católica. Seu testemunho foi um eco importante e foi apresentado como "A conversão de um muçulmano graças ao martírio do padre Hamel".

Agora, Ahmari explica a sua jornada de volta à Casa do Pai, em um artigo publicado no "Catholic Herald", intitulado "Minha jornada de Teerã para Roma" e, embora o impacto do martírio do Padre Hamel tenha-o levado a tornar pública sua conversão, o seu itinerário, como ele mesmo confessa, não tem sido uma conversão irrefletida, mas um tanto longa e complexa.

Ahmari nasceu e passou sua infância no Irã, vivendo num ambiente islâmico opressivo, em que a qualquer momento poderia se confrontar com a moralidade religiosa radical imposta pela polícia. A criança Sohrab concluiu que religião era "pouco mais do que um ritual de hipocrisia pública", e em doze anos de idade decidiu que não havia Deus. Ao mesmo tempo, seus professores tentavam incutir-lhe, nas palavras do próprio, "uma mistura de chauvinismo xiita, antiamericanismo e ódio aos judeus". Alguns anos mais tarde, graças a um tio que havia escapado para os Estados Unidos –, logo depois da revolução islâmica de 1979 –, Ahmari e sua mãe puderam finalmente imigrar e se estabelecer em Utah, um Estado norte-americano de maioria mórmon.

Para esse adolescente iraniano, o "mormonismo foi como um choque: se o islamismo xiita, com a sua rica iconografia e teologia, era nada mais que hipocrisia, o mormonismo, com o consumismo e a ética protestante americana pareciam ainda piores", foi o que percebeu, provavelmente chocado com o imenso abismo que via entre a teoria da confissão religiosa e a prática diária. "Eu tinha ido de uma teocracia para outra", exagera ele.

Já nos seus tempos de universitário, viu-se fascinado por Nietzsche e sua ideia de "superar a ideia de Deus, do bem e do mal, e chegar a uma nova moral (seja lá o qual fosse, porque esse 'detalhe' o filósofo nunca explicou)".

Depois de Nietzsche e a filosofia existencialista, a próxima e inevitável "parada" no itinerário de Ahmari foi o marxismo (versão trotskista), com seus parceiros inseparáveis: "sexo, álcool e drogas". Mas o marxismo nunca foi capaz de responder às questões que tinham a ver com a vida interior de Ahmari, escreve ele. "Ele (o marxismo) não dissipou os meus demônios pessoais e nem me deu uma explicação satisfatória do que hoje chamamos de Estado caído, seja o meu próprio ou os outros. Nem eles e nem a psicanálise lacaniana, ou a Escola de Frankfurt, o pós-estruturalismo ou qualquer das outras filosofias 'da moda' que eu estava conhecendo". Na verdade, nenhuma dessas teorias passou no teste da vida real.

Ahmari foi professor voluntário em uma área muito pobre, próxima da fronteira com o México Texas. Lá, contemplando o que poderia fazer um professor que incutisse a paixão pelo trabalho, disciplina e honestidade em seus alunos, ele começou a perceber o que havia de verdade nas velhas noções de moralidade que tinha desprezado. E percebeu que, sim, "talvez existissem coisas permanentes, afinal... Julgar (quais coisas ou valores seriam estes) implicava algum tipo de padrão universal. E muitas vezes esta regra não surgiu a partir de qualquer coisa externa, mas de uma voz dentro de mim".

Foi então que Ahmari, inexplicavelmente, retomou o caminho para a fé, desta vez na direção certa, de um modo que podemos chamar de histórico-político: "Percebi que 'ideologias que vêem os cidadãos como infinitamente moldáveis aos caprichos do Estado – e a política do Islã moderno se enquadra nestas – foram capazes de criar apenas situações e nações onde houve e há grande sofrimento. Enquanto que o capitalismo, ainda que longe de ser perfeito, incentivou a verdadeira prosperidade humana. Os países capitalistas sempre foram, claramente, mais agradáveis para se viver".

Então Ahmari descobriu o judaísmo – o fundamentos cristão da nossa civilização, com a sua "beleza e ordem, que refletiam uma verdade subjacente" descreve ele.

A visita do Papa Bento XVI aos Estados Unidos, em 2008, marcou mais um passo no longo caminho de Ahmari: "Fiquei profundamente impressionado com as suas palavras e gestos, e eu me lembro de como pensei que aquele era um homem muito santo". Este impacto o levou a adquirir o livro "Jesus de Nazaré", escrito pelo mesmo Papa, e encontrar nele algo que lhe faria descobrir todo um novo Universo: "a ideia de um Deus que se encarna em forma humana". Compreender a Encarnação de Cristo abriu-lhe as portas para as glórias da civilização ocidental e o seu real sentido.

Ahmari tinha chegado à convicção da verdade do cristianismo, mas não estava ainda claro que deveria bater às portas da Igreja Católica. Na verdade, ele frequentava comunidades cristãs "evangélicas"; sua mãe, de fato, integrava já uma destas e se confessava cristã. As razões que o levaram daí à primeira e única Igreja instituída diretamente por Nosso Senhor Jesus Cristo são interessantes e estão resumidas na imutabilidade do dogma, na ortodoxia e na liturgia católica que apresenta o Cristo crucificado e a Virgem Maria:

" A natureza hierárquica da Igreja, tanto repelida pelos meus amigos 'evangélicos', foi um dos fatores que mais me atraiu para ela". Tendo visto a Igreja repelir, ao longo de sua história, milhares de heresias, entendeu que seria menos provável que Roma permitisse que "a ideia cristã original fosse distorcida por alguma nova "moda teológica" do momento.

E então lá estava a liturgia. Eu ansiava por um culto para dar plena expressão aos Mistérios da fé cristã, e lá estava a Cruz, que tinha que estar lá, mas também o Corpo crucificado de nosso Senhor, com o lado ferido, as mãos sangrentas, as marcas do flagelo e as palmas e pés trespassados. O Sacrifício deve ser renovado, e sua mãe tem que estar lá também, porque ela é nossa ligação com a sua Divindade, com a sua Carne. Em outras palavras, Ele desejava a Missa!

Em maio 2016, afinal, Ahmari começou os seus estudos da catequese com um padre em Londres. Dois meses depois, como dito no início, tornou pública a sua conversão, movido – como uma espécie de impulso final – pelo martírio do Padre Jacques Hamel. O seu testemunho de conversão nos leva a mostrar que o Senhor tem maneiras surpreendentes, e que nos ajuda a valorizar o dom da fé. De nossa parte, rezemos, como é nossa obrigação, por Ahmari, para que persevere e jamais venha a negar a sua fé recém adquirida, como também pela conversão de todos os povos.


** Artigo indicado pelo colaborador Wagner Marchiori


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Fonte:

Archipiélago Ortodoxia, 'La conversión de un musulmán gracias al martirio del Padre Hamel', disp. em:
http://infocatolica.com/blog/archipielago.php/1610051029-la-conversion-de-un-musulman
Acesso 24/10/016
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Curas milagrosas: restituição da visão por intercessão do Santo Padre Pio

Santo Padre Pio de Pietrelcina

AS VIDAS DOS SANTOS estão repletas de curas extraordinárias – no santo Evangelho segundo São João, Nosso Senhor profetizou: "Em verdade vos digo que aquele que crê em Mim fará também as obras que eu faço, e ainda maiores do que estas, porque eu vou para o Pai; e tudo quanto pedirdes em meu Nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho" (Jo 14,12-13).

Abaixo, disponibilizamos duas curas milagrosas bastante representativas das inúmeras dádivas especiais que o Bom Deus nos têm concedido, dentre as inúmeras que ocorreram nas vidas dos santos ao longo dos séculos. São resumidas descrições de dois milagres de cura ocorridos nos tempos modernos; o primeiro foi especialmente bem documentado por peritos médicos. Por meio deles, Nosso Senhor parece nos dizer uma vez mais: "Filhinhos, tende bom ânimo: Eu venci o mundo!" (conf. Jo 16,33).


A cura miraculosa de Giovanni Savino

Giovanni Savino, um trabalhador da construção civil e membro da Ordem Terceira de São Francisco, foi um filho espiritual devoto do santo Padre Pio. Em fevereiro de 1949, aos seus 35 anos de idade, trabalhava na construção de um anexo do convento onde seu tão amado Padre Pio viveu. Os trabalhadores procediam o nivelamento do solo e preparavam-se para explodir uma enorme rocha que impedia a construção. Era costume de Savino assistir à santa Missa celebrada pelo Padre Pio todas as manhãs, e em seguida ir até a Sacristia pedir a sua bênção. Aos 12 de fevereiro de 1949, Giovanni se assustou quando, sem qualquer explicação, o padre Pio, tendo-o abençoado, abraçou-o e disse: "Coragem, Giovanni, estou rezando ao Senhor para que você não seja morto".

"Padre, o que vai acontecer comigo?", perguntou Savino, assustado, mas o santo sacerdote permaneceu em silêncio. Não era concedido a Savino saber o que lhe aguardava; isto certamente interferiria na experiência que viveria e tiraria o sentido da provação que precisaria enfrentar. No dia seguinte, Padre Pio disse a mesma coisa, sem qualquer comentário adicional, como também novamente fez no terceiro dia. Quando ele repetiu essas observações perturbadoras pela quarta vez, aos 15 de fevereiro, Savino murmurou para um dos frades: "Estou com medo de que algo de errado vai acontecer hoje", e mais tarde disse a alguns colegas: "Não vamos trabalhar hoje", e ainda comentou com eles sobre as advertências de Padre Pio. Mas o grupo de trabalhadores não o ouviu e decidiu prosseguir, implacável, com a explosão da rocha no jardim.

Às 14 horas daquele dia, Savino e outro trabalhador instalaram uma carga de dinamite debaixo da grande pedra. Savino acendeu o pavio, que não detonou a dinamite. Depois de alguns minutos, ele precisou verificar a carga. Assim que se inclinou sobre o dispositivo, a dinamite explodiu em seu rosto...

Dr. Sanguinetti, juntamente com os padres Raffaele e Dominic, estavam ao lado do homem ferido em poucos minutos. Eles carregavam Savino para o carro de Sanguinetti, e o médico o levou ao Ospedali Riuniti, Hospital de Foggia, onde foi internado para uma cirurgia de urgência. Segundo o laudo, "numerosos corpos estranhos" foram retirados da córnea do olho esquerdo de Savino. O olho direito, entretanto, fora completamente destruído. Além disso, seu rosto estava severamente ferido.

Sanguinetti voltou a San Giovanni, onde disse a Rosa, esposa de Savino (que estava grávida): "Os olhos do seu marido foram destruídos", e advertiu-a que não tentasse visitá-lo naquele primeiro momento. Em seguida foi até o Padre Pio e disse-lhe que Savino estava cego: "Ele perdeu a visão", disse.

"Você não sabe que isto ainda não é certo?", respondeu Padre Pio. "Bem, se me disser que você e Nossa Senhora das Graças irão ajudá-lo, tudo é possível; mas, a partir de agora, Giovanni perdeu a visão", respondeu Sanguinetti, desanimado. "Não é certo ainda ", repetiu o santo padre Pio.

Tudo isso ocorreu três dias antes de Savino finalmente recuperar a consciência, despertando com toda a sua cabeça e rosto enfaixados. Foi-lhe dito que poderia ser possível salvar parcialmente o olho esquerdo, mas que o olho direito fora "completamente perdido".

Enquanto isso, Padre Pio estava pedindo a todos os que conhecia que rezassem por Giovanni por três dias. Ele expôs o Santíssimo Sacramento em nome do amigo, agora cego. E disse em oração: "Meu Senhor, eu vos ofereço um dos meus olhos por Giovanni, porque ele é pai de família!"...

Entre 12h30 e 13h do dia 25 de fevereiro, Giovanni Savino estava acordado, rezando o Rosário, quando, segundo o seu depoimento, sentiu o "aroma do Paraíso". Sentiu então três tapas em sua testa e entendeu que era Padre Pio perto dele. Sentiu ainda o aperto causado por alguém que se reclinava contra a cama. "Dá-me a minha visão, padre Pio, ou me deixe morrer", disse, desesperado: "Eu não posso viver assim"...

Mais tarde, naquela manhã, o oftalmologista veio examinar o paciente. Quando o médico retirou as bandagens, Savino exclamou imediatamente: "Eu posso vê-lo!". O médico, sem se abalar, respondeu: "Vire-se, para que possa me ver melhor com seu olho esquerdo"; mas Savino retrucou: "Não, eu o vejo com o meu olho direito. Eu não vejo nada com meu olho esquerdo". O médico insistiu que ele estava vendo com o olho esquerdo, pois a vista direita fora totalmente destruída.

Depois de uma análise mais aprofundada, porém, ficou claro que Savino falara a verdade. Ele estava cego do olho menos afetado, do qual os estilhaços haviam sido removidos, e que segundo a medicina poderia ser ao menos parcialmente recuperado, mas estava enxergando perfeitamente a partir do olho que tinha sido completamente destruído, tornando-se, segundo consta, uma espécie de "geleia sangrenta" dentro da órbita ocular. Não havia, cientificamente falando, a menor possibilidade de tal coisa acontecer. Atônito, o oftalmologista, que até aquele momento tinha sido ateu, exclamou: "Agora eu também acredito, porque isso aconteceu bem diante de mim!"...

Giovanni e seu filho Francesco, que veio a tornar-se capuchinho, a mesma ordem religiosa do Santo Padre Pio ('Francesco' é o primeiro nome de Padre Pio)

Giovanni, que ainda estava em tratamento para as lesões extensas do seu rosto, recebeu alta hospitalar no início de junho. Quando agradeceu às orações de Padre Pio, este respondeu: "Se você soubesse o que isso me custou!"...

Então, o que exatamente lhe custou? Uma pista pode vir das recordações de Pietro Cugino, que relatou que um dia, no jardim, enquanto conversava com seus confrades, Padre Pio exclamou: "Estou cego. Não consigo ver coisa alguma"... Depois de vinte minutos, sua visão voltou. Alguns acreditam que este breve e inexplicável episódio de cegueira poderia ter surgido como resultado da oferta que Padre Pio havia feito em favor de Savino. De qualquer maneira, neste caso específico, Padre Pio não negou a sua intercessão, como fez com outras curas supostas ou acontecimentos sobrenaturais que o cercavam.

Após algum tempo do acidente, Giovanni foi enviado a um especialista em Roma para tratamentos do olho esquerdo, que se mantinha razoavelmente íntegro, apesar da previsão de Padre Pio de que estas visitas não trariam resultado: "Nós já obtivemos a graça que pedimos. Mesmo se você for a Roma, não vai ficar melhor do que está agora". Na verdade, Giovanni permaneceu sempre cego do olho esquerdo; mas até o dia de sua morte, na primavera de 1974, aos 60 anos de idade, ele podia ver perfeitamente bem com o seu olho direito. Sua esposa recordava: "Quando eu olhava para o seu olho (direito), ele sempre me parecia 'uma bagunça'. No entanto, ele podia ver perfeitamente com esse olho!"...

A restauração da visão de Giovanni Savino está bem documentada pelos peritos médicos, os quais têm atestados impressionantes sobre o caso. Os registros do "Ospedali Riuniti", ao qual Savino foi admitido à cirurgia, dão o diagnóstico de que um olho teve "inúmeros corpos estranhos alojados na córnea" (o esquerdo), e que a visão do outro olho fora total e irremediavelmente "apagada". Os registros não mencionam a resolução dos ferimentos. A palavra-chave neste caso é "emoptalmo", que significa completamente seccionado ou, literalmente, "completamente arrancado". Mas, então, como foi que Savino enxergou com este olho na realidade ausente, um olho que fora completamente "apagado"?

Todos os relatórios estão de acordo que o olho direito fora destruído e que estava, de fato, quase que completamente ausente da órbita ocular. Em sua carta circular de julho de 1949, o padre Dominic cita Padre Raffaele, que examinou Savino imediatamente após a explosão, dizendo: ''O olho direito desapareceu completamente. A órbita está simplesmente vazia". O próprio Savino disse que fora informado pelos médicos de que seu olho direito havia "desaparecido completamente". A esposa de Giovanni, Rosa, declarou que apenas "uma pequena quantidade de carne sangrenta" permanecia no lugar do olho quando Savino foi levado para o hospital. Ela sempre negou que seu marido tivesse recebido um "novo" olho, de vidro ou qualquer coisa do tipo. "Foi sempre com seus próprios olhos que ele viu. Seu olho direito era 'uma bagunça', mas ele podia ver com ele", insistia.

De tudo, só se pode concluir que, ao invés de ver com um olho novo ou regenerado, Giovanni Savino enxergou perfeitamente – sem os olhos! – por 22 anos, até a sua morte.

Ao fim, alguns dos nossos leitores poderão se fazer perguntas como estas: por que Deus curaria apenas um dos olhos deste homem? Neste  caso, o milagre está  ter trocado qual dos olhos seria capaz de enxergar; afinal, ele poderia ter voltado a ver com o olho esquerdo, que não foi tão gravemente afetado, mas por intervenção divina foi capaz de enxergar justamente com o olho totalmente destruído. Qual o sentido disto?.. Bem, desnecessário dizer que não somos capazes de alcançar as alturas dos Desígnios de Deus. Porque as coisas são como são, porque há tanto sofrimento no mundo ou porque precisamos passar por determinadas experiências em nossas vidas, são questões que simplesmente não somos capazes de responder.

Deus espera que confiemos n'Ele, sempre e em toda as ocasiões, independentemente das circunstâncias. No caso de Savino, tudo indica que, por algum motivo que não nos cabe agora saber, ele precisaria viver a cegueira em sua vida. Por intercessão do Padre Pio, isso não aconteceu e ele pode viver a sua vida inteira enxergando, mas enxergando  perfeitamente justamente com um olho que, de fato, nem existia mais. Um tremendo milagre. Como atestado ou advertência divina, foi o olho íntegro que permaneceu cego, como que um sinal para que ele e nós todos jamais nos esquecêssemos de tão grande Intervenção divina.


Altar-mor da igreja Santa Maria delle Grazie, em San Giovanni Rotondo (Itália), onde celebrava o Padre Pio

Conversão e cura

Um dia, também em 1919, o padre Carlo Naldi, de Florença, chegou à Santa Maria das Graças com um amigo judeu chamado Lello Pegna. Padre Naldi explicou que seu amigo, que havia recentemente se tornado totalmente cego, viera pedir a Padre Pio para interceder junto a Deus por uma cura.

Padre Paolino, testemunha ocular, deixou-nos algumas notas sobre este caso. Não havia dúvida de que Pegna era cego e que era de fé judaica. Alguém tinha até mesmo que ajudá-lo a comer, botando o prato na sua frente, cortando-lhe o pão e a carne, posicionando o copo de vinho em sua mão. Padre Pio acolheu Pegna, mas disse-lhe: "O Senhor não irá conceder-lhe a graça da visão física a menos que primeiro abra as vistas da sua alma. Depois que for batizado, então o Senhor lhe dará a sua visão".

Alguns meses mais tarde, Pegna voltou, desta vez sem os seus óculos escuros. Ele então explicou que tinha, apesar da oposição de sua família, tornado-se cristão e que tinha sido batizado, como foi solicitado por São Pio de Pietrelcina. No começo, estava desanimado, pois a sua cegueira persistia –, talvez uma outra prova de fé –; mas, gradualmente, ao longo de um período de meses, sua visão voltou, e o médico que o havia informado anteriormente que estava irremediavelmente cego, agora fora surpreendido diante dos olhos perfeitamente curados de seu paciente.

Padre Paolino sentiu que era seu dever manter contato com este homem, que lhe informou, quase trinta anos mais tarde, que sua visão continuava perfeita.


* * *

Acima vimos duas das muitas curas de um santo da Igreja, e porque são de história relativamente recente, representam muito bem as graças extraordinárias que Deus manifesta na vida dos seus servos dedicados ao longo dos séculos.

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Fontes e bibliografia:

• RUFFIN, Bernard. Padre Pio The True Story, Huntington: Our Sunday Visitor Publishing, 1991. 


• Devotions, www.padrepiodevotions.org

 • 'Miraculous healings and cures in the lives of the Saints', disp. em:
www.miraclesofthesaints.com/2010/10/miraculous-cures-in-lives-of-saints.html
Acesso: 20/10/016

www.ofielcatolico.com.br

Bebê acorda em plena madrugada apontando para o céu e dizendo: 'O Rei está chegando!'

Na montanha de La Salete, Alpes franceses, a Santíssima Virgem
profetizou o fim dos tempos, com pesadas críticas aos sacerdotes infiéis

É REALMENTE DIFÍCIL organizar –, para tentar fazer entender –, a vasta quantidade de material disponível nestes nossos tempos, especialmente na internet, sobre a chegada do fim dos tempos ou a "consumação dos séculos" profetizada por Nosso Senhor nos Evangelhos, que aparentemente virá precedida de uma "nova ordem mundial". Existem muitos aspectos a considerar – políticos, econômicos, sociológicos, ecológicos, militares – e estão todos inter-relacionados. Não é fácil apresentar um quadro claro do que está acontecendo nos nossos dias, mas vai-se tornando cada vez mais difícil negar que diversos sinais apontam para o iminente trágico desfecho da civilização humana tal como a conhecemos.

As Sagradas Escrituras e o Catecismo nos advertem: no fim dos tempos haverá um grande colapso no interior da Igreja (destaque nosso):

Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia...
(2 Ts 2,3)

Antes do Advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na Terra desvendará o 'mistério de iniquidade' sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da Verdade.
(CIC § 675)

Afora as numerosíssimas hostes do mal que nos atacam de fora –, desde poderosos veículos de comunicação que nos odeiam até os governos ditos "laicos" que já criminalizam a nossa fé –, vemos as próprias estruturas da Casa de Deus profundamente abaladas. Naufragamos num vasto oceano de escândalos. Os numerosos casos de pedofilia, corrupção de todo tipo e a protestantização do catolicismo somam-se a uma verdadeira obsessão por um falso e anticatólico "ecumenismo" que sugere a igualdade entre todas as doutrinas (recentemente, uma estátua de Martinho Lutero, um dos maiores hereges de todos os tempos e responsável pela perdição de milhões de almas, foi exposta com toda a dignidade em uma igreja católica em Roma, diante da qual posava, sorridente como sempre, nosso pai o Papa).

Enquanto tantas ovelhas do rebanho vão se perdendo, confusas, não podemos deixar de tremer: é inegável que a autêntica fé cristã está ameaçada. Há abundantes sinais ao redor do mundo que parecem confirmar os nossos piores temores; há sinais nos céus, há sinais no mundo, em muitos países; há sinais em nossa cidade. Sabemos de muita coisa, que evitamos mencionar por prudência. Sofremos, cada vez mais, gravíssimos ataques e ofensas. O mais grave é ver que ninguém parece realmente preocupado. Estaremos vivendo agora nossas vidinhas vulgares, sem pensar em nada além das contas a pagar, enquanto que tais pequenos e grandes sinais estejam incessantemente a nos alertar quanto à proximidade de um poderoso evento que mudará nossas vidas para sempre?


* * *

Que os bebês muitas vezes acordam no meio da madrugada chamando seus pais, seja em razão de cólicas, pesadelos ou diversos outros motivos que ás vezes desconhecemos (eu que o diga), não é novidade. Porém, o caso da pequena Lily foi bem diferente, para dizer o mínimo. Sem nenhum motivo aparente, ela despertou durante a madrugada, surpreendendo sua mãe com o anúncio de algo que ela parecia considerar muito importante: “The King is coming!", isto é "O Rei está vindo”. A menina insistia sempre no mesmo alerta, com a expressão muito séria, enquanto que com o dedinho apontava para o céu.

O caso ocorreu em outubro de 2015. Por volta da meia noite, a criança – que tinha cerca de dois anos de idade – acordou seus pais e dizia enfaticamente: “Ele está vindo! Ele está vindo!”. Segundo a mãe, Chelsea Rebecca, ela "falava como que sobre uma visão (...). Eu ainda consegui gravar um vídeo (o qual disponibilizamos logo abaixo). Ela dizia: ‘Ele está vindo! Ele está vindo!’, e quando eu perguntei ‘quem?’, ela respondeu: ‘o Rei!’ e apontava para o alto”...



A mãe explicou que ficou surpresa com o ocorrido, porque a criança não havia aprendido nada sobre aquilo. “Eu não a ensinei a fazer isso. Ela acabou de fazer 2 anos e está começando a dizer palavras e frases”, explicou.

Quanto à “qualidade ruim do vídeo”, Chelsea explicou que estava tentando não deixar a filha descobrir que estava sendo filmada, para manter a naturalidade do momento. “Desculpem o ângulo ruim, mas eu estava tentando esconder a câmera”, explicou.

Chelsea ainda contou que, na manhã seguinte, Lily voltou a fazer o mesmo alerta. “Na manhã seguinte, enquanto estava começando seu café da manhã, ela me disse: ‘Mamãe, abra, porque Deus está chegando’ e então passou a bater na parede 3 vezes”, contou.

Apesar da surpresa que teve ao ver sua filha aparentemente alertando sobre a segunda vinda de Cristo, Chelsea entendeu o real valor daquele momento tão sincero.

E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões.
(Jl 2,28)

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Fonte:
Padre Augusto Bezerra, disp. em:
https://augustobezerra.wordpress.com/2016/10/18/bebe-acorda-em-plena-madrugada-dizendo-o-rei-esta-chegando/
Acesso 19/10/016

Milhares marcham em Paris em defesa do casamento formado por homem e mulher e contra a adoção por duplas homossexuais


NO DOMINGO, 16 de outubro, uma grande multidão marchou em Paris (França) para pedir a revogação da lei que aprova as uniões homossexuais e para defender a família como sempre foi –, formada pelo casamento entre homem e mulher –, e manifestar-se contra a exploração das "barrigas de aluguel".

Este evento aconteceu aproximadamente seis meses antes das eleições presidenciais na França e no contexto das eleições primárias do centro e da direita francesa que escolherão o seu candidato.

Na marcha, organizada por "La Manif Pour Tous" ('Marcha para Todos'), estiveram presentes principalmente famílias, com crianças e pessoas da terceira idade. Haviam bandeiras com as silhuetas de uma família formada por pai, mãe e filhos e outras onde estava escrita a frase “Em 2017 voto pela família”.

Em um comunicado publicado em sua página, "La Manif Pour Tous" assinalou que “os manifestantes marcharam pacificamente com entusiasmo e determinação para pedir a François Hollande que detenha a desconstrução da família e da filiação”. Os organizadores da marcha esperam que haja um candidato que defenda a família natural e solicitam a revogação da lei que permite as uniões homossexuais.

“Após quatro anos de debate sobre o casamento e a adoção para todos, o movimento social de ‘La Manif Pour Tous’ está vivo, e muito vivo”, assinalaram no comunicado. Em 2013, convocaram uma marcha em Paris, da qual participaram mais de um milhão e meio de pessoas, para pedir ao governo socialista do então presidente François Hollande que retirasse o projeto de lei que permitia o casamento homossexual e a adoção de casais do mesmo sexo.

** Veja a página do movimento no Facebook

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Fonte:
ACI Digital, disp. em:
http://www.acidigital.com/noticias/fotos-200-mil-marcham-em-paris-em-defesa-do-casamento-formado-por-homem-e-mulher-27759/
Acesso 18/10/016
www.ofielcatolico.com.br

A Opus Dei em minha vida

Por Felipe MarquesAssoc. São Próspero e Movimento Somar para Vencer


SEGREDOS? TORTURAS? SANTO Graal? Cilícios penetrando a carne? Fanáticos religiosos? Um novo exército da Igreja Católica que planeja dominar o mundo? Definitivamente o Opus Dei ('Obra de Deus') NÃO tem nada a ver com essas coisas! Infelizmente, muitas pessoas associam a obra às palavras acima, criando um preconceito que não permite uma aproximação real e sincera com esse “membro” do Corpo de Cristo que é a santa Igreja Católica. Não é a intenção desse artigo definir o Opus Dei canonicamente. Este humilde texto é uma simples definição pessoal de alguém que conheceu verdadeiramente o Opus Dei e que tenta combater o bom combate da Fé usando de tantos ensinamentos que recebe dos membros dessa verdadeira Obra de Deus.

Defino essa fundação de São Josemaria Escrivá com as palavras que Scott Hahn usou em seu livro Trabalho Ordinário, Graça Extraordinária: O Opus Dei é “um caminho de santificação no trabalho profissional e no cumprimento dos deveres cotidianos do cristão”.

A humildade é a mãe de todas as virtudes, porém, atualmente essa mãe tem sido abandonada e menosprezada, principalmente na negligência dos deveres cotidianos por parte dos cristãos. Muitos querem fazer coisas extraordinárias e se esquecem de cumprir seus deveres mais incômodos e difíceis, esquecendo-se que “aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes” (Lc 16,10). Agradar a Deus é mais simples do que se imagina, pois o pouco feito com amor e oferecido a Deus de todo o coração vale mais que todos os tesouros materiais. Não podemos cair na armadilha de querer salvar o mundo esquecendo-nos das tarefas simples de todos os dias, como lavar a louça, arrumar a cama, ouvir verdadeiramente às pessoas, amar os nossos familiares, cumprir os deveres do trabalho com responsabilidade e qualidade, etc.

Na Obra (como é carinhosamente chamado o Opus Dei) aprendi que não devo ser ativista, mas apóstolo. Ora, um ativista age por si mesmo e na maioria dos casos é egoísta, movido por uma vaidade que exclui o outro e busca a vanglória. Já o apóstolo sabe que, antes de qualquer ação, é necessária a oração, senão todo o apostolado perde sentido, e sabe que o único sentido de toda sua vida é Deus. Além disso, emprega bem o ensinamento seguinte, que é associado à pessoa de Santo Inácio de Loyola:

Em tudo que fizerdes, eis a regra das regras a seguir: confiai em Deus, agindo, entretanto, como se o êxito de cada ação dependesse unicamente de vós e nada de Deus; mas, empregando assim vossos esforços para esse bom resultado, não conteis com eles, e procedei como se tudo fosse feito por Deus só e nada por vós.

A formação católica que recebo no Opus Dei é de uma qualidade ímpar, tanto na parte espiritual quanto na parte doutrinal. Faz-se necessário ter em mente que é impossível dar aos outros aquilo que não possuímos. Por isso, a formação é tão importante e não só isso; é necessário lutar por santidade segundo a segundo, para que assim outros possam também trilhar esse mesmo caminho. A boa mudança deve surgir do nosso interior e refletir no exterior e nunca o contrário, “porque a boca fala do que lhe transborda do coração” (Mt 12, 34).

Contrariando aquilo que tantos pensam, quando iniciei meu caminho na Obra não me tornei "encostado" ou acomodado; pelo contrário, aprendi que devo dar o meu braço para ser perfurado pela seringa, ou seja, devo me doar ao próximo (principalmente aos que estão mais perto, seja em casa ou no trabalho), ir ao encontro de quem precisa, "dar a cara a tapa". No meu caso, isso se exprime de forma mais clara no serviço paroquial. Além disso, São Josemaria ensina que uma ótima forma de apostolado é o apostolado da amizade, ou seja, devo aproximar-me das pessoas buscando ser verdadeiramente amigo, ouvindo e auxiliando da forma que for possível, fazendo apostolado de coração a coração.

Aprendo que devo ser perseverante na caminhada com Cristo e que toda minha vida deve ser para Deus, pois, sou um filho de Deus. Sou amado pelo Criador, Ele quer o melhor para mim e, mesmo quando eu me afasto d'Ele, posso voltar como o filho pródigo arrependido de seus pecados. Sempre posso encontrar misericórdia no Sacramento da Confissão. E além de encontrar misericórdia, devo ser um agente da Misericórdia e do Amor de Deus para com os outros; não devo reter tudo para mim.

Começar é de todos; perseverar, dos santos. Que a tua perseverança não seja consequência cega do primeiro impulso, fruto da inércia; que seja uma perseverança refletida. ”
(Caminho, 983)

Devemos dar frutos onde Deus nos colocou, devemos ser sal da terra e luz do mundo! É um dever especial dos católicos leigos evangelizar o mundo, pois os leigos atuam diretamente no mundo, principalmente através de seu trabalho. Padres, Bispos, religiosos e religiosas, cada um tem sua função e seu campo de atuação específico de acordo com a sua vocação; assim também acontece com os católicos leigos e, na maioria dos casos, os campos de evangelização destes são: o trabalho e a família!

Enfim, no Opus Dei vi que devemos fazer o ordinário de forma extraordinária em nossas vidas, que devemos fazer o ordinário com um amor extraordinário e que a santidade é para todos. Não podemos nos esquecer de que há algo de divino nas menores coisas do dia a dia e que cabe a cada um de nós descobrir esse algo. Além disso, se não encontrarmos Deus no dia a dia, nas menores tarefas, por mais repetitivas que sejam, dificilmente iremos encontrá-Lo no Céu.

Deixo alguns pontos de algumas obras de São Josemaria Escrivá para ajudar o leitor a lutar diariamente por santidade nas menores coisas de sua vida:


São Josemaria Escrivá
A santidade 'grande' consiste em cumprir os 'pequenos deveres' de cada instante.
(Caminho, 817)

A santidade compõe-se de heroísmos. Por isso, no trabalho pede-se-nos o heroísmo de rematar bem as tarefas que nos cabem, dia após dia, embora se repitam as mesmas ocupações. Se não, não queremos ser santos!” 
(Sulco, 529)

A santidade está na luta, em saber que temos defeitos e em procurar heroicamente evitá-los. A santidade - insisto - está em superar esses defeitos..., mas morreremos com defeitos: se não, já to disse, seríamos uns soberbos.”
(Forja,312)

As tarefas profissionais - também o trabalho do lar é uma profissão de primeira ordem - são testemunho da dignidade da criatura humana; ocasião de desenvolvimento da própria personalidade; vínculo de união com os outros; fonte de recursos; meio de contribuir para a melhoria da sociedade em que vivemos, e de fomentar o progresso da humanidade inteira... Para um cristão estas perspectivas alongam-se e ampliam-se ainda mais, porque o trabalho - assumido por Cristo como realidade redimida e redentora - se converte em meio e em caminho de santidade, em tarefa concreta santificável e santificadora.” 
(Forja, 702)

Tudo por Amor! Este é o caminho da santidade, da felicidade. Enfrenta com este ponto de vista as tuas tarefas intelectuais, as ocupações mais altas do espírito e as coisas mais terra-a-terra, essas que necessariamente todos temos de cumprir, e viverás alegre e com paz.” 
(Forja, 725)
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Cardeal Sarah, pastor de almas exemplar e zeloso guardião da sagrada Liturgia


“CORREMOS O RISCO de reduzir o sagrado Mistério a bons sentimentos”, advertiu o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, em uma entrevista na qual recordou a importância do silêncio dentro da Liturgia como caminho para chegar a Deus, destacado inclusive pelo Concílio Vaticano II.

“O silêncio não é uma ideia; é o caminho que permite aos seres humanos chegar a Deus”, afirmou o Purpurado em declarações ao jornal francês “La Nef” por ocasião da publicação do seu livro intitulado “A força do silêncio: contra a ditadura do barulho”.

O Cardeal não hesitou em declarar que “o silêncio sagrado é uma lei fundamental em toda a celebração litúrgica” que permite aos fiéis ingressar no profundíssimo Mistério que se  está celebrando. “O Concílio Vaticano II enfatiza que o silêncio é um meio privilegiado para promover a participação do povo de Deus na liturgia”, afirmou durante a entrevista divulgada em inglês pelo “The Catholic World Report”.

Advertiu ainda: “Sob o pretexto de tornar mais fácil o acesso a Deus, alguns quiseram que tudo na Liturgia fosse imediatamente inteligível, racional, horizontal e humano. Mas, atuando desse modo, corremos o risco de reduzir o Mistério sagrado a [meros] bons sentimentos”. Relacionamos abaixo uma coletânea de suas inspiradoras – e principalmente necessárias – exortações/advertências, as quais nos permitem uma santa reflexão e um mergulho profundo no pensamento deste autêntico e digno pastor de almas dos nossos tempos:

Sob o pretexto da pedagogia, alguns sacerdotes permitem inúmeros comentários insípidos e mundanos. Esses pastores temem que o silêncio na Presença do Altíssimo possa desconcertar os fiéis? Acreditam que o Espírito Santo é incapaz de abrir os corações aos divinos Mistérios derramando sobre eles a luz da Graça espiritual?”

Deus é silêncio e o demônio é barulhento. Desde o princípio, Satanás procurou esconder as suas mentiras sob uma agitação falaciosa, ressonante.”

[Em nossa época] o ruído chegou a ser como uma droga da qual nossos contemporâneos são dependentes. Com sua festiva aparência, o ruído é um redemoinho que evita que cada pessoa se olhe cara a cara e enfrente o vazio interior. É uma mentira diabólica. O despertar pode ser somente brutal”.

Recuperar o sentido do silêncio é uma prioridade e uma necessidade urgente. A verdadeira revolução vem do silêncio, esta nos dirige a Deus e aos outros e assim podemos nos colocar humildemente a seu serviço.”

O silêncio é o tecido do qual nossas Liturgias devem ser cortadas. Nada nelas deveria interromper a atmosfera silenciosa, que é o seu clima natural.”

A Liturgia é mística. Enquanto nos aproximarmos dela com um coração ruidoso, terá uma aparência humana, superficial. O silêncio litúrgico é uma disposição radical e essencial; é uma conversão do coração.”

Como podemos entrar nesta disposição interior a não ser dirigindo o nosso olhar, todos juntos, sacerdote e fiéis, para o Senhor que vem, para o leste simbolizado pela abside, onde o Trono é a cruz?”

A orientação ao exterior nos leva à orientação interior que esta simboliza. Desde os tempos apostólicos, os cristãos foram familiarizados com esta maneira de rezar. Não é uma questão de celebrar de costas para o povo ou olhando para eles, mas para o Oriente, ad Dominum, para o SENHOR! (...) Esta forma promove o silêncio. Olhando para Deus, o celebrante está menos tentado a ser um professor que faz leituras durante toda a Missa, reduzindo o Altar a um pódio, centrado já não na Cruz, mas no microfone. O sacerdote deve se recordar sempre de que ele é somente um instrumento nas mãos de Deus e que nossas palavras humanas são ridículas comparadas à única Palavra Eterna. E isto não deve chegar a ser ocasião de um choque ideológico entre facções, pois estamos falando da nossa relação com Deus.”

Como tive a oportunidade de dizer recentemente, durante uma entrevista privada com o Santo Padre, aqui só estou fazendo as sugestões sinceras de um pastor preocupado com o bem dos fiéis. Não tenho a intenção de colocar uma prática contra a outra. Se não for fisicamente possível celebrar ad Orientem, é absolutamente necessário pôr uma cruz no Altar, em plena vista, como um ponto de referência para todos. Cristo na cruz é o Oriente cristão.”

É tempo de aprender do Concílio Vaticano II, em vez de utilizá-lo para justificar nossas preocupações sobre a criatividade ou defender nossas ideologias mediante a utilização das sagradas armas da Liturgia. Reler o Concílio permitiria que evitemos que os ofertórios sejam desfigurados por demonstrações que estão mais relacionadas com o folclore do que com a Liturgia.”

A Liturgia sempre deve ser reformada a fim de ser mais fiel a sua essência mística. O que é chamado ‘reforma da reforma’ e que nós talvez devamos chamar ‘mútuo enriquecimento dos ritos’, para adotar uma expressão do magistério de Bento XVI, é uma necessidade espiritual. Portanto, isto corresponde a ambas as formas do rito Romano.”

* * *

Após esta luminosa e poderosa enxurrada de necessárias verdades, lançadas corajosamente e sem meios tons às faces dos homens que ultimamente vêm conduzindo a Igreja de Cristo, tantas vezes empenhados, sim, em manifestar a Caridade, porém negligenciando a pregação da Verdade – e esquecendo-se que na dimensão da Igreja uma não subsiste sem a outra – Cardeal Sarah não se esqueceu de nos exortar a todos, fiéis católicos, a não desperdiçarmos precioso tempo contrastando uma Liturgia com a outra, ou o rito antigo ao do Beato Paulo VI: “O diabo quer que estejamos uns contra os outros e não no verdadeiro Sacramento da unidade e da Comunhão fraternal”, assinalou. “É tempo de acabar com esta desconfiança, desprezo e suspeita. É tempo de redescobrir um coração católico. É tempo de redescobrirmos juntos a beleza da Liturgia”, concluiu.

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Fonte:
ACI Digital, 'Cardeal Sarah adverte risco de reduzir a Missa a bons sentimentos', disp. em
www.acidigital.com/noticias/cardeal-sarah-adverte-risco-de-reduzir-a-missa-a-bons-sentimentos-45546
Acesso 11/10/016
www.ofielcatolico.com.br

Como S. Francisco é diferente de Lutero – ou Reforma Católica vs. Reforma Protestante


Por Dr. Taylor Marshall
– tradução livre de Henrique Sebastião


ESSENCIALMENTE, FRANCISCO de Assis nos ensina que não podemos lutar contra heresias através da criação de novas heresias. São Francisco sempre se submeteu à Igreja, aos Papas e aos Bispos.

Sempre que a dita "reforma" começa com ações contra a Igreja institucional, mais heresia surge. Por exemplo, em muitos aspectos, a heresia monofisita (ou seja, Cristo tem uma só natureza) foi uma reação exagerada à heresia nestoriana (Cristo tem duas pessoas). A Igreja Católica sempre procurou apontar diretamente para a verdade, e não apenas à destruição de erro. Demasiadas vezes a refutação do erro leva para outro erro.

Da mesma forma, Lutero e Calvino buscavam deslocar mal-entendidos sobre a Graça e mérito (ou seja, o nominalismo com defeito gerado por William de Ockham), criando uma visão alternativa de Graça e mérito (assim, ironicamente, abraça o nominalismo de Ockham, apenas 'reembalando-o'). A "solução" de Lutero era, na verdade, herética. Uma solução rápida é frequentemente defeituosa. A fita adesiva pode "consertar" quase tudo – mas, eventualmente, dará lugar a outros problemas.

As páginas da História da Igreja estão repletas de reformadores católicos: desde Paulo, Atanásio, passando por João Crisóstomo, João Damasceno, o Papa Gregório VII, Francisco de Assis, Domênico, Catarina de Sena, Inácio de Loyola, Teresa de Ávila, etc. Cada um desses reformadores católicos manteve a unidade da Igreja de Cristo submetido à liderança da Igreja, e pacientemente trouxeram renovação. Em muitos casos, esses renovadores sofreram a perseguição de outros cristãos e até mesmo caíram em suspeita de heresia. No entanto, sua humildade e silêncio finalmente vieram a confirmar a sua causa como defensores da verdade evangélica da Doutrina de Cristo.

São Francisco de Assis é talvez um dos melhores exemplos de paciência aplicada na causa da Reforma. Quando ele foi a Roma buscar o reconhecimento do Papa, este despediu-o com impaciência e disse-lhe para ir "deitar-se com os porcos".

Sim... Eram outros tempos. Mas, depois de algum tempo, Francisco voltou, todo sujo, roupas manchadas e fedorentas das fezes de suínos. Quando o Papa se opôs à sua entrada, Francisco respondeu: "Obedeci tuas palavras e apenas fiz o que disseste; deitei-me com os porcos". De repente, o Sumo Pontífice percebeu que estava diante de um santo homem, disposto a obedecer mesmo em face da humilhação. Assim, o Papa ouviu o que Francisco tinha a dizer para uma necessária renovação dos usos e e práticas dos filhos da Igreja naquela época, e o resto é História.

Quando rejeitado pelo Papa, S. Francisco de Assis poderia ter apelado à Sagrada Escritura, mostrando que este seu padrão de vida pobre e humilde era como o de Cristo. Ele poderia até ter contrastado sua própria "vida bíblica" contra a extravagância da corte papal da época. Francisco tinha razão para estar angustiado, bem o sabemos, e poderia ter repreendido aqueles abades, bispos e cardeais por sua falta de testemunho evangélico. Mas, em vez disso, seguiu o caminho de Cristo; aceitou ser incompreendido e caluniado, sabendo que Deus responderia por ele e às suas reivindicações, se fossem mesmo justas. e Deus nunca desampara (uma causa justa como a sua).

Contraste entre São Francisco de Assis e Martinho Lutero: Lutero não visitou Roma para a confirmação da sua causa, nem procurou respeitar as estruturas da Igreja. Na verdade, o cardeal Cajetan reuniu-se em particular com Lutero e explicou-lhe como poderia modificar a sua mensagem para que fosse aprovada pela Cúria Romana e consequentemente considerada. Se Lutero tivesse se movido com mais cautela e caridade, poderia até – quem sabe – ter se tornado "São" Martinho Lutero.

Infelizmente, Lutero foi inflexível e orgulhoso. Ele não considerou seu compromisso de obediência para com a Igreja de Cristo. Se o Papa não estava de acordo com ele, então ele iria rejeitar a própria instituição do papado (desde Pedro). Lutero não iria tolerar qualquer autoridade que se recusasse a apoiá-lo, imediatamente e sem questionar. Consequentemente, quando a Bula papal chegou, Lutero a queimou publicamente e começou a amaldiçoar o Papa como Anticristo.

Observe a diferença entre Francisco e Lutero. O primeiro movia-se com paciência e humildemente. O último agiu de forma independente e precipitadamente. Consequentemente, a história do protestantismo é marcada por paixão cega, imprudência e divisão precipitada – como resultado, agora existem 36.000 denominações protestantes(!).

Como escreveu S. Tiago Apóstolo: "A ira do homem não produz a Justiça de Deus" (Tg 1,20). A História mostra que Deus não usa "cabeças-quentes" para guiar sua Igreja na justiça. Deus escolhe os pequenos, mansos e humildes – para tais é o Reino dos Céus.

Aí reside o mistério da autêntica Reforma Católica.

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Fonte:
MARSHAL, Taylor, 'How St Francis differed from Martin Luther or Catholic Reform vs. Protestant Reform', disp. em:http://taylormarshall.com/2016/10/how-st-francis-differed-from-martin-luther-or-catholic-reform-vs-protestant-reform.html?utm_source=Taylor+Marshall%27s+Updates&utm_campaign=ec98bc26bd-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email&utm_term=0_64accbc3c7-ec98bc26bd-59435393&ct=t(Regular_Blog_Updates_Campaign)
Acesso 4/10/016
www.ofielcatolico.com.br
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