A vida de piedade e a felicidade que nunca tem fim


DILETOS LEITORES, estou incumbido atualmente da revisão e projeto gráfico para o lançamento da obra "A Mulher Piedosa", de Mons. Landriot, pela editora Caritatem. O conteúdo do livro é composto das transcrições de uma série de vinte e nove conferências ministradas por Monsenhor Jean François-Anne Landriot, Bispo de La Roche e Saints, França, às damas de caridade da mesma diocese, nos anos 1863/64.

As exortações de Mons. Landriot primam por uma clareza e um calor humano admiráveis. É admirável, especialmente, o frescor de suas palavras, proferidas há mais e um século e meio, comprovando que a mensagem do Evangelho é sempre atual e nunca perde sua vitalidade.

A décima quinta conferência, em especial, é de tal modo bela, convidativa à vida de santidade e própria para a nossa época – e este tempo do Advento – que fiz questão de vir compartilhá-la convosco, para a nossa frutuosa meditação conjunta. Aos que se interessarem, a campanha de financiamento para o lançamento desta valorosa obra (que compõe com a obra precedente do mesmo autor, 'A mulher forte', um  primoroso conjunto) encontra-se a todo vapor – mais informações aqui.

Apesar de se dirigir a senhoras, o texto serve indistintamente a todo o povo cristão que procura com honestidade pela autêntica vida espiritual. Segue, portanto, a íntegra da referida conferência. Que seja de proveito a todos.


Senhoras,

Sempre me pergunto: O que é a verdadeira piedade cristã? O que é a devoção? Essa pergunta é mais séria do que pode parecer à primeira vista. Em todas as coisas, as definições verdadeiras, as ideias justas, são da maior importância; mas, sobretudo, quando se trata dessas ideias-mãe, desses princípios fundamentais, que são, na vida humana, como que as fontes abundantes de onde jorram os mil riachos que correm pelos campos. O sentido que se dá a esta palavra – piedade – é uma dessas ideias-mãe que dão origem a uma multidão de consequências práticas: se a ideia que se tem da palavra é reta, e o sentido conferido a essa palavra é verdadeiro e cristão, a vida inteira será delicadamente iluminada e fecundada de uma maneira divina; ela será semelhante, na ordem religiosa, a esses prados atravessados por mil riachos de águas frescas e cristalinas. Desgraçadamente, nisso – como em todas as coisas – cada um interpreta um pouco a piedade segundo a sua maneira de ver; e em lugar de moldar sua alma pelo belo modelo que nos é apresentado pela Igreja, muitas vezes o desfiguram querendo apequená-lo e desnaturá-lo à imagem de sua própria personalidade: nesse terreno pode-se satisfazer todas as pequenas paixões da ignorância, do amor próprio e do egoísmo espiritual.

Veja aquela pessoa piedosa: para ela a piedade consiste essencialmente em se sobrecarregar de práticas, de recitar uma multidão de preces vocais. Outra se considera muito avançada na perfeição por inscrever-se em todas as irmandades. Uma terceira se toma por santa, ou ao menos deixa que outros o façam, porque comunga várias vezes por semana.

Que mais vos direi eu? Cada um tem seu ídolo da piedade, o acaricia, o contempla com admiração, o incensa todos os dias. Por que se faz da piedade simplesmente um ídolo, isto é, uma coisa vã, um simulacro, uma representação sem realidade?

Em outra ocasião já expus as características da piedade, tal como as compreendia São Francisco de Sales, este grande mestre da vida espiritual; mas me parece que nos caiba ainda estudar certos horizontes desse belo assunto, e é isso o que me proponho fazer em algumas instruções, nas quais me esforçarei em desenvolver a definição da verdadeira piedade, tal como os Doutores sempre entenderam e a praticaram.

O que é, então, a piedade cristã, segundo o espírito da Igreja Católica? Poderíamos defini-la assim: um sentimento interior, um sentimento amoroso, um movimento da inteligência e do coração que nos une a Deus, que aperfeiçoa nossa natureza inteiramente e nos dá uma facilidade maravilhosa para cumprir com alegria e prontidão todos os deveres da vida cristã e social. Completaremos nosso comentário em cinco conferências; detenhamo-nos hoje às primeiras palavras: a piedade é um sentimento interior.

Sem dúvida as senhoras já viram formular essa objeção contra os católicos: sua religião é um assunto de formas, de práticas, de movimentos exteriores que sufocam o sentimento religioso sob uma capa de areia, de terra infecunda, enquanto que o verdadeiro Reino do Evangelho consiste tão somente na adoração em espírito e em verdade. Há algo de certo, senhoras, nessas acusações, no sentido de que muitos católicos dão lugar a essas acusações com uma conduta supersticiosa e uma devoção pouco refletida. Mas a doutrina da Igreja responde admiravelmente a esses ataques, e para isso basta manifestá-la. Tal é a posição inexpugnável do católico: ele não está obrigado a justificar os desvios humanos e lhe basta que a doutrina seja pura e irrepreensível.

A piedade cristã é um sentimento interior, um movimento da alma que nos eleva energicamente a Deus, quer dizer, até o Ser infinito, Fonte de tudo o que é belo, verdadeiro e bom, tudo o que aperfeiçoa a inteligência e o coração. Se quisesse falar a língua dos poetas, eu diria que a verdadeira piedade é uma música inefável que ressoa continuamente no santuário íntimo, e faz do ser piedoso uma harmonia viva, cujos sons intraduzíveis em línguas humanas formam uma parte do concerto invisível que o Evangelho chama de adoração em espírito e em verdade. E, como disse Santo Agostinho, quando ouvimos essa música superior, aqueles sons tão doces aos quais nada pode ser comparado, superni cuiusdam soni nimium delectabilis, et incomparabilis, et ineffabilis, fatigamo-nos do tumulto deste mundo. Se quisesse imitar a linguagem dos Profetas, eu acrescentaria que a verdadeira piedade é uma flor requintada, escondida no mais misterioso canteiro da alma, e cujo perfume é tão delicado que os anjos a dirigem quase que inteiramente para as regiões celestes: Quasi flos rosarum in diebus vernis... et quasi thus redolens in diebus æstatis. Por isso, na história dos Santos, a parte mais admirável e divina é também aquela que escapa da visão dos homens.

Todo ser tem duas vidas, aquela que é visível e aquela que está escondida: a primeira, nos Santos, é bela e admirável, mas não pode ser comparada à segunda. É nos recantos mais misteriosos do coração que se deve penetrar para conhecer o que há de puro, de elevado, de nobre e de delicado na vida íntima da alma evangélica. Ali são todos os dias celebradas as mais belas festas da Terra, ali se consome o incenso mais perfumado da oração invisível, ali reside substancialmente o Espírito de Amor, que rende a Deus mesmo o culto mais puro da criatura racional, e produz gemidos inefáveis e ternos suspiros que exalam no seio de Deus: Postulat gemitibus inenarrabilibus! Oh! Como são belas e ternas essas solenidades interiores da alma piedosa! Não há nada nas festas públicas com que possam ser comparadas.

Muitas vezes, nos templos católicos a alma se sente piedosamente comovida: o canto dos salmos, o espetáculo imponente das cerimônias, a presença dos anjos na Terra, prostrados diante de Deus, tudo o que se vê, tudo o que se ouve domina o espírito e o eleva do mundo. No entanto, tudo isso nos pareceria pouca coisa se pudéssemos ver a vida interior de um Santo, contar as pulsações do seu coração, ouvir essa música contínua que nada mais é que o movimento de sua alma!

O que é a música? É o ar em movimento, mas o ar animado por um sopro inteligente? O que sentiríamos se pudéssemos ver e ouvir os movimentos contínuos de uma alma cujos pensamentos são hinos contínuos a Deus, cujas aspirações são cânticos melodiosos, cujos sentimentos são luz, vida, calor?

Senhoras, reuni com a imaginação tudo o que podeis conceber de mais belo, nobre e divino, não apenas na vida exterior, mas sobretudo, na vida da alma, e começareis a formar uma ideia ajustada da piedade cristã; compreendereis quão estranhamente a desfiguram quando fazem dela um simulacro exterior e a reduzem a práticas. A piedade é, antes de tudo, algo do coração e do sentimento íntimo: é uma seiva cuja fonte está no Céu e que cai primeiro nas cavidades íntimas da alma, logo difundindo-se até as folhas, ou seja, as ações da vida exterior.

“Não se honra a Deus senão com o amor”, disse Santo Agostinho: Nec colitur ille nisi amando. Também poderíamos dizer, e isto seria a confirmação da nossa definição, que a verdadeira devoção é o Amor de Deus no coração. O amor quer dizer o sentimento mais interior, mais suave, mais delicado, mais penetrante, mais irresistível. Coloque o amor em um coração e, como a chama que não se extingue jamais, este o invadirá inteiramente e, em violentas e pacíficas invasões, nada destruirá, mas criará por todas as partes novas formas e dará a tudo outra vida mais bela e mais elevada.

Um filósofo cristão dizia: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”. Esse pensamento parece a princípio errôneo, mas oculta uma profunda verdade. A virtude em si mesma, e segundo a etimologia da palavra, indica esforço, violência; e o esforço, sobretudo se é prolongado, se não for sustentado por uma força enérgica, acaba por fatigar a natureza. A virtude é o dever tomado por seu lado austero; mas a face austera do dever tem algo de espantoso: é a fisionomia do pai de família em seus dias de tristes preocupações; a piedade é, sem dúvida, o dever, e ainda mais que o dever, posto que abarca também o conselho evangélico. Ou seja, tudo o que não é estritamente controlado alegra o coração de Deus; a piedade é o dever, mas o dever com a fisionomia de uma mãe quando sorri para seus filhos; a piedade é o dever cumprido com amor, e é o amor que faz da virtude uma doce, fácil e agradável obrigação. Voluntariamente eu tomo emprestado um pensamento de São Francisco de Sales: “Seja a virtude uma planta, a piedade nela será a flor; seja ela uma pedra preciosa, a piedade nela será o seu brilho; seja ela um bálsamo, a piedade nela será seu perfume, suave perfume que conforta o homem e rejubila os anjos.

Estes princípios devem permitir que compreendam o pensamento de Joubert: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”. É difícil ser virtuoso por muito tempo sem ser piedoso, sem que a Religião seja uma prática de amor que envolva e transforme a vida inteira. O homem não pratica nada de bom se não o faz com amor. A piedade mesma, este sentimento interior que nos ensina a gostar e saborear a virtude; a piedade nos ensina amar a Deus e considerá-lo não como um ser abstrato que nos domina de tal modo que nunca se rebaixa ao nosso coração, mas como um pai, como uma mãe ternamente amada. A piedade nos ensina a tudo fazer para agradá-lo, como uma criança a quem nada é difícil no seio de sua família, que tudo sacrifica e contenta-se em seus sacrifícios porque sua mãe ali está e a recompensa com o seu olhar.

Portanto, não é de dever que falamos, é de amor, e isso é muito melhor até mesmo para fazer sólida a nossa virtude. A piedade cristã não é esta virtude seca e estoica dos antigos; não é tampouco esse sentimento austero e frio que existe em certas almas mais rígidas que a lei, mais “perfeitas” que os Santos. Não, a piedade é um sentimento pleno de doçura, que pacifica inteiramente o homem, alimenta-o de amor, sacia-o de ternura divina e une-o Deus com laços mais doces, mais fortes que todos os que podem ser expressos em línguas humanas. A piedade é o amor, e o amor mais verdadeiro, mais forte, mais penetrante que existe sobre a Terra; mas o amor, disse Santo Agostinho, é um peso que arrasta.

Considere um madeiro que tem um peso enorme em um dos flancos e pergunte por que ele submerge na água. Ele responderá: porque o peso me arrasta. Esta é, também, a razão pela qual o amor,

quando existe em alguma parte, faz o todo inclinar-se sobre esse ponto; o amor é a força que move os seres inteligentes, é o peso que inclina o coração e com frequência é o contrapeso das coisas do mundo: Pondus meum, amor meus. Aquilo que é pesado, o amor eleva facilmente para o alto; o que é leve, por outro lado, precipita-o no profundo abismo da caridade...

Mas quando o amor está ausente, não há força para suportar os fardos da vida e os pensamentos se evaporam na atmosfera secular cotidiana, porque não têm um lastro que os dirija. Sabeis porque há tão poucos homens verdadeiramente virtuosos? Porque há muito poucos sinceramente piedosos. Não amam o dever, porque a piedade não os habita para torná-los amáveis; e o dever ensimesmado é uma planta que seca rapidamente quando a piedade não umedece as suas raízes, e seu talo perde logo sua coroa de flores.

Pobre juventude! Por que não sois virtuosos? Por que todos os esforços aplicados a uma mais terna solicitude falham tão frequentemente? Não conheceis bem os encantos da piedade, as delícias do amor? Com demasiada frequência oferecem ao vosso coração, ávido de expansão e de amor, o talo seco e árido do dever, e vós o rejeitais. A Filosofia vos apresentará belas especulações sobre a virtude, quadros magníficos que deslumbrarão vossa imaginação e, contudo, na prática seu coração permanecerá frio. Frente ao perigo, não encontrará em si mesmo nada mais que uma desoladora debilidade: esse tem sido, continuará sendo o resultado das combinações da sabedoria humana! Tanto é verdade que o filósofo cristão tinha razão ao dizer: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”.

Poderíamos citar algumas exceções na prática das virtudes humanas, mas não fariam elas nada além de confirmar a regra.

A piedade é, portanto, um sentimento íntimo, um sentimento de amor que, partindo do interior, leva a vida ao exterior. Mas, então, para que servem todas essas práticas, todas essas cerimônias, orações e associações tão comuns na Igreja Católica? Parece, à primeira vista, que a Religião católica dá preferência às práticas, e que se dedica muito pouco a alimentar a alma.

Tratemos de compreender em toda sua perfeição o espírito da Igreja Católica: ele é dedicado plenamente a produzir almas esclarecidas e corações retos; mas quando a natureza das práticas católicas é alterada e, sobretudo, quando são praticadas sem que sejam compreendidas, facilmente julga-se encontrar nelas certa falsificação do Evangelho. O homem é composto de corpo e de alma, e geralmente as verdades e, de certo modo, as virtudes nos chegam através das coisas visíveis. Existe certa união entre o corpo e a alma, de tal forma que, reciprocamente, tudo o que se passa na vida material tem um caráter espiritual, e tudo o que se passa na vida espiritual tem uma manifestação material. Um olhar em direção ao Céu, uma palavra que transmita o perfume divino, uma atitude piedosa, uma genuflexão: estas são ações que podem ter a mais salutar influência sobre os nossos sentimentos interiores.

Pode-se dizer que certos pensamentos, certos afetos da alma são desenvolvidos sob os impulsos da vida corporal. Dessa maneira, as senhoras já devem ter reparado: geralmente saímos mais recolhidos de uma cerimônia religiosa na qual tudo nos tenha falado de Deus; quando o coração, farto dos desgostos da vida, se prostra ao pé da Cruz e recita uma dessas orações que a linguagem já não alcança, visto que é a explosão da vida interior, não é verdade que se levante mais forte, mais resignado e melhor? Além disso, a alma não é mesmo assim, ou seja, quando ela é fortalecida, deseja traduzir exteriormente o que não pode mais conter em si; e se o sentimento é reprimido no mais íntimo do coração, parece que não alcança sua perfeição e perde, em parte, a sua energia.

Aqui estão alguns dos motivos mais simples e ao mesmo tempo sérios que explicam perfeitamente o sentido das práticas de piedade, tal como são empregadas pela Igreja Católica. As práticas não são o fim, elas são o meio para alcançar a virtude. Assim nós não recitamos orações vocais apenas para mover os lábios, não comungamos para dar uma satisfação pueril ao nosso amor próprio. Rezamos para implorar o socorro do alto e o imploramos com todo o nosso ser, porque todo o nosso ser deve louvar a Deus, porque todas as nossas ações devem ter sempre, em razão de nossa natureza dual, alguma coisa que mantenha corpo e espírito. Comungamos a fim de receber a vida divina e exalá-la em todas as nossas obras.

Repetimos, com Pascal, que em alguns aspectos o homem é uma máquina. Sim, sobretudo depois de sua queda, o homem, muitas vezes, não passa de uma máquina bastante desorganizada. O homem tem de animal muito mais do que se crê, e tem muito do animal depravado; não compreendemos quanto imperam sobre nós os hábitos materiais. Nas comunidades religiosas, onde a vida cristã se encontra em toda a sua perfeição, alguns se admiram ao ver tantas cerimônias complicadas de coisas exteriores, de práticas, mortificações, de penitências, e são tentados a perguntar: esse é o Reino do Evangelho onde tudo é adoração em espírito e em verdade? Sim, esse é o Reino do Evangelho ou pelo menos sua preparação, um meio de domar o homem exterior e de atraí-lo progressivamente à adoração em espírito e em verdade.

Os Santos fundadores das ordens religiosas compreenderam que o homem caído tem algo de máquina, e que é necessário domar, amenizar e preparar essa parte animal do homem degradado. Os espíritos superficiais podem condenar esse sistema de educação; o homem ilustrado admira o que é profundamente verdadeiro. Assim como nos exercícios militares existem muitos movimentos com os braços, com a cabeça, com os pés, que à primeira vista parecem ridículos mas, no entanto, formam soldados valorosos e intrépidos capitães, do mesmo modo na vida religiosa existe uma preparação exterior, contínua, da parte inferior do nosso ser. Há também um sistema que se apodera do homem até em suas ações mais insignificantes, com uma vigilância que pode parecer exagerada, mas que o prepara para a prática das mais sublimes virtudes.

Terminarei com uma bela ideia de Fénelon: “As manifestações exteriores são boas quando saem do coração. Mas, ó Deus, vosso culto essencial não é outro senão o amor, e vosso Reino está inteiramente no interior: é necessário que não nos enganemos buscando a mudança no exterior”.

Todo o cristianismo, senhoras, se encerra nessas palavras; elas satisfazem todas as necessidades do coração humano. Sim, as manifestações exteriores são boas porque compraz aos filhos testemunhar ao pai o seu amor. E este testemunho é ele mesmo um sustento para a sua vontade. Sem embargo, essas manifestações de nada valem se o coração não tem parte com elas; porém, à medida em que o coração ama mais profundamente, ele necessita de silêncio e de recolhimento, busca menos ao seu redor porque se sente fortemente atraído à sua colmeia interior, onde encontra um mel delicioso; as coisas exteriores lhe fatigam com seu rebuliço. Então começa um novo reino para a alma, mais perfeito que o primeiro, no qual, sem negligenciar as ações práticas e concedendo-as a importância que aconselha a sabedoria cristã, buscam-nas com menos força. Nisto, a inteligência e o coração se tornam simples e, nesse processo, aproximam-se cada vez mais desse centro universal das almas, cujas fronteiras, diz a Escritura, estão guardadas pela paz, cujos habitantes vivem da paz, da confiança, do silêncio amoroso, muito mais que dos movimentos exteriores.

Sob esse ponto de vista a piedade corresponde a todos os sentimentos nobres das almas elevadas. Não é questão de formas; é um princípio divino que, apoiando-se com sabedoria e sobriedade nas formas, eleva-se gradualmente a um trono de glória e virtudes, onde se empenha cada dia em imitar a perfeição de Deus: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito”, disse Jesus Cristo.

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Fonte:
LANDRIOT, Jean François-Anne. A mulher piedosa vol. II, Rio de Janeiro: Caritatem, 2019, pp. 13-22.

Sobre o cachorro do Carrefour e a desumanização nacional


Por Elício Nascimento
Colaborador da Frat. Laical S. Próspero


DE TEMPOS EM TEMPOS, que em nossa era digital duram cada vez menos [o caso em questão ocorreu há poucos dias e já cai no esquecimento], novas polêmicas surgem para nos fazer refletir sobre a sociedade e, observando-as mais a fundo, sobre a natureza humana. Das mais recentes dessas polêmicas é a que colocou, no centro do debate, a rede de supermercados Carrefour. 

A grande mídia e a internet têm divulgado de modo sensível e quase panfletário a covardia realizada por um segurança de uma unidade do grupo Carrefour, localizada em Osasco, grande São Paulo. Ele é acusado de ter espancado um cachorro até a morte e de, antes disso, ter tentado envenená-lo. O animal, segundo a denúncia postada em vídeo nas redes sociais, aparece com as patas traseiras feridas e marcas de sangue no chão da loja.

O cachorro chegou a ser socorrido pelo Centro de Controle de Zoonoses, mas não resistiu às agressões, vindo a óbito no local. Segundo a matéria veiculada no site da Revista Exame[1] o animal estava a alguns dias na unidade de Osasco do Carrefour. Chegou, inclusive, a ser alimentado por funcionários. As denúncias alegam que o segurança agrediu o animal a pauladas após ter recebido ordens superiores para "limpar" o estabelecimento por conta da visita de executivos naquele dia.

Ativistas de defesa dos animais protestaram na unidade no dia do ocorrido e, em pouco tempo, esse caso assumiu uma grande repercussão nacional que gerou enorme comoção.

Até aí, nada demais. Eu também defendo o respeito e a proteção aos animais. Contudo, manifesto aqui a minha discordância quanto à desproporção e à inversão de valores que me saltaram à (pouca) inteligência, a partir desse ocorrido.



No dia último 17 de novembro, a Sra. Antônia Conceição da Silva, de 106 anos (foto), foi morta a pauladas em Feira Nova do Maranhão, por um homem que invadiu a residência da idosa e, segundo a conclusão da investigação policial, realizou o crime porque foi reconhecido pela vítima. No fim, nada foi roubado.

Afinal, onde eu quero chegar? Talvez seja essa a pergunta do leitor. Bem, eu quero chegar à tamanha comoção pelo cachorro morto. Quero chegar aonde não chegou a comoção pela morte de uma indefesa cidadã honesta em avançada idade. Quero chegar, também, aos quase 1.700 abortos legais praticados no Brasil[2] por ano e aos anuais 850.000 abortos clandestinos[3]. Quero chegar ao número de homicídios praticados no Brasil que supera, em trinta vezes, os números de toda a Europa[4]. Eu quero chegar à humanização animal e à animalização humana.

Como assim? Sem querer generalizar, boa parte dos ativistas da causa animal também defende a descriminalização do aborto como um meio de proteção à vida das “mães”. Mas antes de pensar nas “mães” não se deveria pensar na parte mais indefesa da história, ou seja, o feto? Qual é o sentido do veganismo que abomina comer carne, por ser contra a morte dos animais, e aplaude ao direito feminista de exterminar vidas humanas intrauterinas? Qual é o sentido do humanismo que não se importa com a matança dos animais? E qual é a lógica do amor aos animais que “passa por cima” da quantidade de assassinatos que alcançam a todos, em nome da nova “modinha” cotista que só conta a morte dos indivíduos que integram o seu círculo de interesses?

Há duas formas de se enxergar a vida. Uma com e outra sem transcendência. Essas propostas visam explicar o mecanismo do mundo e o valor que pode ser dado à existência. Não há uma terceira via nessa abordagem. Onde não há nada além da matéria, toda vida se iguala. Assim, essa visão dá aos homens (pelo acaso) o mesmo valor das árvores, dos cães ou das formigas.

Mas se há transcendência no homem, há hierarquia. Imagine uma situação em que não há outra forma de sobreviver senão comendo cães e gatos – como, por exemplo, ocorre na Venezuela. Você deixaria seus familiares morrerem à míngua para proteger vidas de cães e gatos? Eu não. Em situações ordinárias, não comemos carne humana, correto? Mas alguns já comeram para não morrer. Caso não conheça, examine o caso do avião que despencou nos Andes chilenos no ano 1972. O uruguaio Roberto Canessa, um dos sobreviventes, disse em entrevista sem qualquer pudor: “Comi os meus amigos para sobreviver”[5].

Mais vale um humano morto ou um vivo? Animais são maravilhosos e, com certeza, devem ser amados. Mas entre salvar a vida de um cachorro e a de um ser humano, qual seria a sua escolha caso não fosse possível salvar as duas? Em nome da visão sem transcendência, eu salvaria à vida humana a favor da preservação da minha espécie. Em nome da transcendência eu salvaria a vida humana, por ser ela a expressão máxima de um Criador.

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Referências:
[1] BARBOSA, Vanessa. Morte de cachorro em loja do Carrefour gera onda de protestos. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/marketing/morte-de-cachorro-a-pauladas-em-loja-do-carrefour-gera-onda-de-protestos/>Acesso: 05/12/18.


[2] FERNANDES, Marcella. Aborto no Brasil. Como os números sobre abortos legais e clandestinos contribuem no debate da descriminalização. Disponível em: Acesso: 06/12/18. 

[3] AUN, Heloísa. 8 fatos chocantes sobre o aborto no Brasil que você precisa saber. Disponível em: Acesso: 06/12/18. 

[4] SALGADO, Daniel. Atlas da Violência 2018: Brasil tem taxa de homicídio 30 vezes maior do que Europa. Disponível em: Acesso: 28/11/18.


[5] BRASIL, News. “Comi meus amigos para sobreviver”, relembra vítima de acidente aéreo. Disponível em:

Acesso: 06/12/18. 


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Sobre Damares Alves – uma brevíssima reflexão para hoje


Por Padre Silvio Roberto

A NOSSA FUTURA Ministra da Família e dos Direitos Humanos – Damares Alves – é mulher, foi vítima de violência sexual na infância e adotou uma criança indígena. Teria tudo, portanto, para ser respeitada pela esquerda, se nos basearmos naquilo que eles costumam defender com veemência e em que se baseiam para atacar Bolsonaro (machista, racista, intolerante, etc.). Soma-se a isso, ainda, a sua formação técnica.

Mas, na prática, nada disso vale para os esquerdistas. Como ela não é feminista, nem defensora do aborto e/ou da destruição da família, então não serve para eles, e por isso é atacada e desrespeitada de todas as formas, principalmente por meio do deboche.

[Esclarecendo que os eles aqui são "artistas", políticos do PT, PC do B e PSOL, alguns comentaristas famosos como Leandro Karnal, etc.]

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'João de deus'(?) e o espiritismo


Por Bruno Braga e Henrique Sebastião

UMA CONSIDERAÇÃO A MAIS sobre as denúncias que envolvem o charlatão João Tarado, chamado "médium 'João de Deus'". Na realidade, o nome dele é João Teixeira de Faria. De nossa parte, ficamos impressionados com a desfaçatez com que toda a mídia trata esse patife por 'médium' – como se essa invenção espírita fosse um fato inquestionável – e, mais além, como continuam chamando um maníaco que usa e abusa da crença e da fragilidade das pessoas de "João de Deus".

    Aqui nos concentraremos na justificativa mais comum, que sempre ouvimos e lemos – até da parte de cristãos de boa-fé – para tentar distanciar o acusado do espiritismo como um todo: a prática das obras de caridade. Antes, porém, convém refletir: ora, se os atos praticados em Abadiânia são contrários àquilo em que creem os espíritas e vão contra as determinações da Federação Espírita Brasileira (FEB), que vem agora emitir nota (leia) dizendo que não recomenda o tipo de "atendimento" individual que fazia o tal João, então por que nenhum representante do espiritismo se manifestou antes, publicamente, condenando o farsante?

    Há realmente muitíssimos casos semelhantes a este (como por exemplo o de um outro 'médium' paranaense acusado de abuso sexual por mais de 60 menores), que, se não envolvem necessariamente crimes sexuais, estão sempre ligados a charlatanismo, abuso da voa vontade alheia e, principalmente, enriquecimento ilícito. Quem não se lembra, entre tantos, do engenheiro Rubens de Faria Júnior, outro "médium" que dizia incorporar o espírito do "Doutor Fritz" (um fictício médico alemão que teria ajudado judeus durante a 1ª Guerra Mundial) e fez uma fortuna milionária em curto espaço de tempo, cobrando, à época, R$20,00 de cada uma das mais de 2 mil pessoas que diariamente procuravam os galpões que mantinha no Rio de Janeiro e em São Paulo? Rubens se fingia de "humilde" e andava em carros simples, sem que ninguém soubesse que possuía uma coleção de automóveis Mercedes, em nome de terceiros. Na época, foi comprovado que tinha sete carros importados, apartamentos no Rio e em Miami, e seus bens não-declarados à Receita superavam R$ 1 milhão.

    Fato é que a nossa podre grande mídia ajudou o quanto pôde no estabelecimento de toda essa situação, em inúmeras reportagens e "documentários" que faziam uma verdadeira apologia do espiritismo e nos quais o tal "João de deus" era sempre tendenciosamente retratado como um grande homem, um exemplo de amor ao próximo, um santo desapegado que só sabia fazer o bem e a caridade... Algo muito parecido com o que fizeram com Chico Xavier. Aliás é esta, como dissemos, a bandeira e a tese mais comum dos que tentam justificar o espiritismo, alegando que se trata de uma doutrina válida: a das "obras de caridade".

    "Os espíritas realizam muitas obras sociais", "os espíritas ajudam muita gente", etc., etc. Sim, é verdade que os espíritas têm suas "boas obras", e é verdade também que uma obra de caridade é, em si, uma coisa boa. No entanto, a obra de caridade não pode ser o critério último para atestar uma prática ou ação, sobretudo no âmbito da fé. Dou um exemplo que pode, em princípio, ser visto como radical, mas ao qual se aplica o mesmo princípio fundamental. A famigerada "Church of Satan" também realiza determinadas obras de caridade. Porém, é preciso no mínimo especular, tomando-se um horizonte mais amplo: como a "igreja de Satanás" conduz e coloca as pessoas envolvidas por essas obras diante da perspectiva da eternidade?

    A mesma pergunta deve ser feita com relação ao espiritismo ou, de forma mais apropriada, com relação ao espírita em pessoa. Sabe-se – por meio da experiência e do testemunho de autoridades eclesiásticas – que a invocação de espíritos expõe tanto o médium quanto o seu eventual "paciente" a influências maléficas e em muitos casos à possessão demoníaca[1].

    Quanto ao juízo referente a tal prática, ele é bastante claro:

Não recorrais aos que evocam os espíritos, nem consulteis os adivinhos, para não vos tornardes impuros. Eu sou o SENHOR vosso Deus.
(Lv. 19, 31)

Quando tiveres entrado na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não imites as práticas abomináveis dessas nações. Não haja em teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem quem consulte adivinhos, ou observe sonhos ou agouros, nem quem use a feitiçaria; nem quem recorra à magia, consulte oráculos, interrogue espíritos ou evoque os mortos. Pois o SENHOR abomina quem se entrega a tais práticas. É por tais abominações que o SENHOR teu Deus deserdará diante de ti estas nações.
(Dt. 18, 9-12)

    Ademais, é preciso considerar que a obra de caridade supre uma necessidade temporal; mas em última análise, o que está em jogo, aí, é a eternidade – dado o contexto acima, determinada obra pode conduzir a uma situação de risco a pessoa e o seu destino eterno. Por isso, importa recordar a lição do Papa Bento XVI, que não hesitou em afirmar:

Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé.[2]

    Enfim, óbvio que nem todo alegado "médium" – ou espírita – é um abusador sexual ou é desonesto. Evidente que não. Mas é igualmente evidente que, se João de deus, por conta da própria natureza da prática de invocar e de se submeter a espíritos, pode ter sido exposto à influência maléfica e à possessão demoníaca, da mesma forma se expõe todo e qualquer espírita, e todas as pessoas que de alguma forma se aproximam dessa prática [3].



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Ref.s e bibliografia

[1]. Cf. [http://bit.ly/2Ed5S4B]; [http://bit.ly/2UF4q0I];
LARA, Duarte Sousa. Demônio, exorcismo e oração de libertação em 40 questões. São Paulo: Canção Nova, 2014. pp. 61-63, questões 7, 8, 9, 10.

[2]. Bento XVI, Caritas in Veritate, 3 [http://w2.vatican.va/…/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-v…].

[3]. Idem à nota 1.

* Blog do Bruno Braga
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Mensagem aberta de Bernardo P. Küster aos católicos do Brasil


Recebida ontem, 11/12/2018

MUITOS, CONTRASTANDO as denúncias que faço sobre problemas na Igreja Católica no Brasil, abrem os braços para o desespero e um pessimismo quase insuperável. 

Comunico que um grande número de fiéis, religiosos e membros da hierarquia nunca estiveram tão ávidos para resgatar o melhor do Catolicismo em nossa terra. São tempos alvissareiros! Desde agosto do ano passado até dezembro do presente ano, realizei mais de sessenta viagens dentro e fora do Brasil. Vi, ouvi e senti a temperatura dos católicos em dezenas de cidades e pontuo sem medo: o futuro é promissor. Muito promissor.

Centros católicos brotam em todos os estados da União, artistas talentosíssimos surgem sem medo, jovens escritores audaciosos e historiadores sérios estão por toda parte. Teólogos, futuros filósofos, uma miríade de vidas consagradas. Santo Tomás de Aquino tem guiado mentes curiosas, Santos místicos inspirado e ensinado a intimidade com Nosso Senhor e Sua Mãe, editoras e mais editoras católicas publicam em profusão; há congressos, fóruns, reuniões de oração e terço, ardente devoção mariana e ao Sagrado Coração de Jesus, um ímpeto militante pelo Reinado Social de Cristo, congregações renovadas, igrejas restauradas, iconógrafos brilhantes, compositores inspiradores, apego à Doutrina e à Tradição, estudo meticuloso das Sagradas Escrituras, turmas e professores de latim por toda parte, famílias numerosas, comunhão diária, confissão frequente e corações até dispostos ao martírio. 

Ninguém me contou. Eu vi!

Dito isto, acrescento: há problemas e desafios nababescos pela frente, sim. Jamais fechemos nossos olhos para estes. Encaremo-los, todavia, como motivo ainda maior de esforço na busca da santidade, para a maior glória de Deus.

Meus caros, Deus tem atendido as orações dos que clamam com fé. Fiquemos firmes e confiantes. Não desanimemos. Progridamos sem medo, pois Deus é conosco!

Uma semana de muita oração e trabalho a todos.

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A Igreja de Cristo dividida em grupos?


QUANTOS GRUPOS EXISTEM, hoje, na Igreja Católica? Logo de imediato, ao ouvir essa pergunta, qualquer católico minimamente atento poderia mencionar dois: o dos modernistas e o dos tradicionais. Porém a questão é muito mais complexa. Vejamos...

Ocorre que, inseridos dentro desses mencionados dois grandes grupos, temos uma variação de subgrupos que os compõem, como por exemplo os adeptos e simpatizantes da herética “'teologia' da libertação” (TL), que se incluem no grupo dos modernistas. Claro, nem todo modernista é, necessariamente, adepto da TL, embora todo simpatizante da TL seja necessariamente um modernista. Por outro lado, existem católicos favoráveis a toda sorte de inovação na Igreja e “invenções” na Liturgia, mas que não adotam nem apoiam a deturpação marxista da Doutrina sagrada.

Por outro lado, não é conveniente e nem é correto citar o grupo que adere à TL como um grupo "católico", porque de fato não é. Para dizer de modo claro e sem embromações, estamos tratando, aqui, de um grupo de hereges excomungados latae sententiae; simples assim. Descontados aqueles que apoiam o movimento por ingenuidade e/ou mera ignorância, trata-se de gente que não têm fé católica, que não crê na autoridade da Igreja, na materialidade dos Sacramentos, nos milagres de Deus, etc. Por fim, não creem nem sequer na Ressurreição de Nosso Senhor.

Ainda entre os modernistas, não há como não se mencionar o povo da Renovação Carismática Católica (RCC). Um grupo modernista, sim, porém com peculiaridades distintivas. Conheço gente da RCC que é fidelíssima no estudo da Doutrina, lê Sto. Tomás de Aquino e as vidas dos santos, manda carta para o bispo criticando atitudes de padres marxistas, etc. Ainda assim, claro, não podem se incluir entre os tradicionais por dois motivos bastante evidentes: os abusos na Liturgia e a protestantização da fé.

Muito, e em muitos lugares, já se falou sobre a grande polêmica envolvendo a RCC. Nós, da Fraternidade Laical São Próspero, apesar de não nos identificarmos com esse tipo de espiritualidade e nem com esse tipo característico de pregação (que apela sempre ao sentimentalismo, com musiquinha emotiva tocada ao fundo) respeitamos o movimento carismático na Igreja por alguns motivos: 1) porque é um movimento majoritariamente composto por pessoas de boa vontade, que têm uma fé viva e autêntica; 2) porque, catolicamente, ali não se faz acepção de pessoas, como ocorre em outros grupos; 3) principalmente porque esse movimento não deixa de ser uma grande porta de entrada e de retorno à Igreja Católica: já o foi, de fato, para uma verdadeira multidão (em nossa fraternidade temos gente que retornou à Igreja por essa via, ainda que hoje viva uma outra experiência de fé).

Nada disso, porém, anula a realidade dos abusos litúrgicos da RCC, que em muitos casos são realmente graves. Também é impossível negar que a responsabilidade maior por esse problema é dos padres muito “criativos” (muitos destes igualmente bem intencionados) que se portam como verdadeiras “estrelas”, fazendo-se o centro das celebrações.

Sobre esse problema, particularmente incomoda-nos o fato bastante óbvio de que seria muito fácil resolver tudo e de uma vez por todas, se todas as expressões que provocam a polêmica (os louvores gritados, a música agitada tocada com instrumentos no volume máximo, a liberdade de expressão total durante o culto, etc.), fossem realizadas em encontros de oração próprios, organizados pela mesma RCC. Aí, sim, seria o momento e o ambiente ideais para se dar vazão a toda essa energia especialmente característica dos brasileiros (já que em outros países os encontros da RCC são bem mais moderados do que os nossos). Bastaria não confundir esses eventos de louvor com a celebração da santa Missa e a renovação do Santo Sacrifício, compreendendo-se que são realidades distintas, e assim, de modo realmente simples, tudo se resolveria.

Outro problema sério da RCC é a nítida protestantização da fé da Igreja, se não na Doutrina teórica, certamente na prática, com certas deturpações (ainda que pontuais) e na ideia de que novas “revelações” divinas surjam a todo momento entre eles (‘Deus me falou agora que tal irmão deve fazer isso e aquilo...’), em cada reunião desses grupos.

Mas esta reflexão não é sobre a RCC. É sobre divisões na Igreja. E entre os católicos tradicionais temos também algumas subdivisões. Temos aqueles mais radicais, que só assistem Missa em latim, rezam em latim e recusam qualquer valor no Concílio Vaticano II; estes são geralmente chamados tradicionalistas ou radtrads (tradicionais radicais). Há outros ainda mais radicais, os que adotam o sedevacantismo e creem que o Trono de Pedro está vago; são os sedevacantes (a maioria destes crê que o último papado válido foi o de Pio XII, mas há outros que creem que Bento XVI foi o último papa eleito canonicamente, rejeitando apenas Francisco).

Quanto aos sedevacantes, porém, como no caso do povo da TL, torna-se difícil chamá-los ainda “católicos”, mesmo que pela minha experiência (como diretor de apostolado há mais de dez anos) eu perceba, conheça e reconheça que muitos dentre eles são sérios e procuram honestamente santificar suas vidas. Acreditam piamente e com pureza de alma que estão fazendo o certo, e (alguns dentre estes) o fazem por amor a Cristo. Fato é que Deus julgará a todos.

Para não deixar este artigo sobre grupos longo e enfadonho demais, não falaremos em detalhes sobre os populares católicos “isentões”, aqueles que apreciam se manter sempre "em cima do muro", em todas as situações difíceis, nem dos chamados “católicos jujuba”, aqueles que, muito bonitinhos e sempre "politicamente corretos", têm para si o respeito humano como se fosse o principal de todos os mandamentos. Confundem a ordem de Cristo sobre não julgar com aceitar tudo, achar tudo normal e viver um catolicismo que se assemelha muito, na prática, ao espiritismo: questões relativas à moral e à Doutrina objetivamente não importam; para eles, basta "fazer o bem" e praticar a caridade para ser um bom cristão.

Não falaremos em detalhes, ainda, dos católicos “vaquinhas de presépio”, que elevam o respeito à hierarquia eclesiástica acima da própria obediência aos Mandamentos de Deus e os da Igreja, achando que absolutamente tudo que o padre ou o bispo dizem é verdade inquestionável e dogma imutável (muitos destes são verdadeiros 'papólatras'), nem dos tradicionalistas fariseus” ou legalistas, que se preocupam e se empenham muitíssimo em todas as aparências de santidade e com a Liturgia em suas minúcias, mas que não têm noção do significado da palavra caridade, odeiam os pobres e não são capazes de mover sequer um dedo para ajudar algum irmão que sofre e que legitimamente lhes pede auxílio.


* * *

Apresentados, desse modo breve e geral, os grupos e subgrupos em que vem se dividindo a Igreja, cabe concluir expondo aquilo que identificamos como uma grande tragédia, um dos maiores problemas que vivemos em nossos tempos: ocorre que, dos dois grandes grupos principais, com suas particularidades e desafios, a imensa maioria dos nossos pastores vêm valorizando, assistindo e incentivando apenas um, o dos modernistas. Por que isso acontece? Por um lado, porque há uma dificuldade de se identificar a realidade objetiva; não se enxerga ou não se quer enxergar essa diversidade. Por outro lado, há, da parte de membros poderosos e infiéis do clero, o desejo (já antigo) de superar definitivamente todo o passado santo e glorioso da Igreja pré-Vaticano II, enterrá-lo bem fundo e esquecê-lo, como se nunca tivesse existido. Note-se que essa corrente existe e atua já desde bem antes do próprio Concílio e foi o que motivou, em grande medida, a realização deste.

Além disso, há a grande novidade imposta após o mesmo Vaticano II (ainda que o próprio Concílio não o tenha determinado em nenhum momento): a novidade de elevar a comunidade – “o povo, o povo” – como centro e ápice da vida litúrgica. De fato, na Igreja tal como era antes, não seria possível ocorrer essas divisões e subdivisões em grupos, porque havia um conjunto de regras realmente muito claras, uma doutrina moral muito bem definida, uma celebração Eucarística (que é o centro da vida da Igreja) igual em todas as igrejas e a absoluta submissão e discrição dos sacerdotes. E os que não o aceitassem ou se insubordinassem contra bispos fiéis, eram rapidamente afastados.

Sim, é inescapável: se refletirmos por alguns instantes em cada um desses grupos, torna-se inegável que o seu surgimento não seria possível na Igreja que existia antes do Concílio.

Porém o mais importante é manter em mente que essa Igreja dita “pós-conciliar” simplesmente não existe. Ora, Cristo e os Apóstolos são “pré-conciliares”! E a Igreja, enquanto continuidade histórica da Encarnação do Cristo, assim como Ele é sempre a mesma, ontem, hoje e eternamente (conf. Hb 13,18).

Logo, que não se pense que existam “duas Igrejas”, uma modernista, com os subgrupos que a compõem, e outra “tradicional”, com seus próprios subgrupos. Só há uma Igreja, como só há um Corpo santo, e essa Igreja persiste naqueles que lhe são fiéis. É a esta Igreja-Cristo que queremos servir, é a esta que amamos tão profundamente, é desta que queremos ser membros e instrumentos no mundo. E ela perdurará e triunfará sobre o Inferno –, em Cristo com Cristo e por Cristo –, até o fim dos tempos, porque assim nos prometeu Nosso Senhor (Mt 16, 18; 28,19-20).

...E, ainda que para a nossa fé não fosse necessário, assim também confirmou Nossa Senhora a permanência e o triunfo da Igreja, em Fátima, na aparição de 13 de julho de 1917, depois de mostrar o inferno aos Pastorinhos e de prometer que viria pedir a consagração da Rússia, a Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados e lhes mostrar o futuro apocalíptico: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.


* * *

Em qual grupo nós, da Fraternidade Laical São Próspero, nos incluímos? Frequentemente nos perguntam. E a resposta não varia: a nenhum. Somos católicos. Ponto.

Sabemos todavia o que não somos: não somos modernistas e nem queremos inovações daquilo que é atemporal, pois a Igreja não admite modismos e nem precisa "evoluir" enquanto tal, e sim permanecer firme na Tradição recebida dos Apóstolos. Somos, então, tradicionais, sim, porquanto a verdadeira Igreja é a que observa a Tradição dos Apóstolos (2Ts 2,15). Mas não nos consideramos tradicionalistas radicais; tudo o que queremos é que a verdadeira Igreja de Cristo, que é Una e que reúne os santos do Céu (muitíssimo mais numerosos) e os que agora caminham sobre a Terra, assuma e viva aquilo que é: o Corpo Místico de Cristo, a Casa do Deus Vivo, que tem um só Senhor e professa uma só Fé e um só Batismo (conf. Ef 4,5).

Não nos arrogamos o direito ou a autoridade – assim como não poderíamos mesmo fazê-lo – de ditar regras ou dizer quem está ou não em Comunhão com a Igreja. Isso é diferente de denunciar os erros, onde existam e sejam claros, o que se configura, aí sim, em uma prerrogativa dos leigos garantida inclusive pelo Código de Direito Canônico (Cân 212, §§ 2-3).

Sendo assim, a nossa postura é a da prudência e da busca diária, incessante – nas súplicas e na perseverança – da Fé, da Esperança e da verdadeira Caridade. Entristecemo-nos com a situação cada vez mais difícil e sofremos junto com a Santíssima Virgem que, em tantas aparições, como em La Salete, chora por seus filhos. Indignamo-nos com a falta de zelo de tantos dos nossos pastores, e com as verdadeiras traições de outros tantos. Queremos apenas e tão somente servir como um útil instrumento para todo aquele que busca a Verdade e erra confuso nestes nossos dias de tempestades.


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Estátua satanista é levantada no Capitólio de Ilinois, EUA, para as festas de Natal e Ano-novo


ENTRE UMA BELA ÁRVORE de Natal e uma exposição de menorás (castiçais judaicos tradicionais) na capital do estado de Illinois, EUA, foi instalada uma estátua do Templo Satânico para representar, igualmente, a temporada de festas de final de ano.

Trata-se da representação de uma maçã sustentada por um braço cercado por uma serpente, referência direta a Satanás, "inimigo de Deus" e da humanidade. As palavras “Conhecimento é o maior presente” estão escritas defronte de sua base negra. Pretendem significar que o que o diabo tinha  – ou tem – a oferecer à humanidade é o conhecimento, que nos fará "iguais a Deus".

O tributo satânico foi erguido na rotunda do Estado, em Springfield. Próximo da exibição está afixada uma explicação oficial do governo local. Diz o documento:

O Estado de Illinois é exigido pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos a permitir exibições temporárias e públicas no Capitólio do Estado, desde que essas exibições não sejam pagas pelos dólares dos contribuintes. Como o primeiro andar da Rotunda do Capitólio é um lugar público, as autoridades estaduais não podem censurar legalmente conteúdos de fala ou exibições.

O Templo Satânico em Chicago fez uma campanha no "GoFundMe", chamanda "Snaketivity" (em oposição à 'Nativity'/Natividade de Jesus, celebrada pelos cristãos). O projeto conseguiu obter um financiamento ainda maior que a meta estabelecida pelos satanistas, sendo que as receitas restantes devem ser doadas ao Templo Satânico.

Os organizadores disseram que o objetivo da exibição é "não mais permitir que uma perspectiva religiosa domine o discurso na rotunda do Capitólio do Estado de Illinois durante a temporada de férias".

O Templo Satânico foi fundado em 2012, em Salem, Massachusetts. O grupo se descreve como não teísta e afirma não crer em um Satanás literal. No seu website, a organização diz que o objetivo do grupo é "exercitar um agnosticismo razoável em todas as coisas". Em outras palavras, o que eles defendem e representam é um ateísmo militante e anticristão.

O grupo lançou campanhas semelhantes no passado. Em 2015, propôs uma outra exibição satânica nos terrenos da capital do estado de Oklahoma. Pouco tempo depois, , a pedido do mesmo templo, um tribunal ordenou a remoção de um monumento aos Dez Mandamentos de Deus no terreno do Capitólio.

Eles também entraram com uma ação contra o estado do Missouri, em razão dos panfletos informativos que o Estado exige que os provedores do aborto  distribuam, argumentando que a exigência violava a "liberdade religiosa" de seus membros.

Professem ou não uma literal devoção espiritual a Satanás e aos demônios, de fato e sem nenhuma dúvida o o templo satânico norte-americano está fazendo, e muito bem feito, o trabalho do diabo no mundo, a começar pela propagação da teoria de que o próprio diabo não existe – que é a maior meta de Satanás em nosso mundo nos nossos tempos. Se você, leitor fiel católico, chegou a este ponto da leitura, faça uma breve pausa para rezar ao menos a breve fórmula de desagravo ensinada em Fátima pelo Anjo de Portugal, seguida da oração de Leão XIII a São Miguel Arcanjo:

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e os do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores. Amém.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio! Ordene-lhe Deus, instantemente o suplicamos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela Virtude divina, precipitai ao inferno Satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

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Fonte:
Catholic Herald
Satanist statue erected for the holidays in Illinois-Capitol, em:
catholicherald.co.uk/news/2018/12/06/satanist-statue-erected-for-the-holidays-in-illinois-capitol/
Acesso 5/11/2018

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