A vida de piedade e a felicidade que nunca tem fim


DILETOS LEITORES, estou incumbido atualmente da revisão e projeto gráfico para o lançamento da obra "A Mulher Piedosa", de Mons. Landriot, pela editora Caritatem. O conteúdo do livro é composto das transcrições de uma série de vinte e nove conferências ministradas por Monsenhor Jean François-Anne Landriot, Bispo de La Roche e Saints, França, às damas de caridade da mesma diocese, nos anos 1863/64.

As exortações de Mons. Landriot primam por uma clareza e um calor humano admiráveis. É admirável, especialmente, o frescor de suas palavras, proferidas há mais e um século e meio, comprovando que a mensagem do Evangelho é sempre atual e nunca perde sua vitalidade.

A décima quinta conferência, em especial, é de tal modo bela, convidativa à vida de santidade e própria para a nossa época – e este tempo do Advento – que fiz questão de vir compartilhá-la convosco, para a nossa frutuosa meditação conjunta. Aos que se interessarem, a campanha de financiamento para o lançamento desta valorosa obra (que compõe com a obra precedente do mesmo autor, 'A mulher forte', um  primoroso conjunto) encontra-se a todo vapor – mais informações aqui.

Apesar de se dirigir a senhoras, o texto serve indistintamente a todo o povo cristão que procura com honestidade pela autêntica vida espiritual. Segue, portanto, a íntegra da referida conferência. Que seja de proveito a todos.


Senhoras,

Sempre me pergunto: O que é a verdadeira piedade cristã? O que é a devoção? Essa pergunta é mais séria do que pode parecer à primeira vista. Em todas as coisas, as definições verdadeiras, as ideias justas, são da maior importância; mas, sobretudo, quando se trata dessas ideias-mãe, desses princípios fundamentais, que são, na vida humana, como que as fontes abundantes de onde jorram os mil riachos que correm pelos campos. O sentido que se dá a esta palavra – piedade – é uma dessas ideias-mãe que dão origem a uma multidão de consequências práticas: se a ideia que se tem da palavra é reta, e o sentido conferido a essa palavra é verdadeiro e cristão, a vida inteira será delicadamente iluminada e fecundada de uma maneira divina; ela será semelhante, na ordem religiosa, a esses prados atravessados por mil riachos de águas frescas e cristalinas. Desgraçadamente, nisso – como em todas as coisas – cada um interpreta um pouco a piedade segundo a sua maneira de ver; e em lugar de moldar sua alma pelo belo modelo que nos é apresentado pela Igreja, muitas vezes o desfiguram querendo apequená-lo e desnaturá-lo à imagem de sua própria personalidade: nesse terreno pode-se satisfazer todas as pequenas paixões da ignorância, do amor próprio e do egoísmo espiritual.

Veja aquela pessoa piedosa: para ela a piedade consiste essencialmente em se sobrecarregar de práticas, de recitar uma multidão de preces vocais. Outra se considera muito avançada na perfeição por inscrever-se em todas as irmandades. Uma terceira se toma por santa, ou ao menos deixa que outros o façam, porque comunga várias vezes por semana.

Que mais vos direi eu? Cada um tem seu ídolo da piedade, o acaricia, o contempla com admiração, o incensa todos os dias. Por que se faz da piedade simplesmente um ídolo, isto é, uma coisa vã, um simulacro, uma representação sem realidade?

Em outra ocasião já expus as características da piedade, tal como as compreendia São Francisco de Sales, este grande mestre da vida espiritual; mas me parece que nos caiba ainda estudar certos horizontes desse belo assunto, e é isso o que me proponho fazer em algumas instruções, nas quais me esforçarei em desenvolver a definição da verdadeira piedade, tal como os Doutores sempre entenderam e a praticaram.

O que é, então, a piedade cristã, segundo o espírito da Igreja Católica? Poderíamos defini-la assim: um sentimento interior, um sentimento amoroso, um movimento da inteligência e do coração que nos une a Deus, que aperfeiçoa nossa natureza inteiramente e nos dá uma facilidade maravilhosa para cumprir com alegria e prontidão todos os deveres da vida cristã e social. Completaremos nosso comentário em cinco conferências; detenhamo-nos hoje às primeiras palavras: a piedade é um sentimento interior.

Sem dúvida as senhoras já viram formular essa objeção contra os católicos: sua religião é um assunto de formas, de práticas, de movimentos exteriores que sufocam o sentimento religioso sob uma capa de areia, de terra infecunda, enquanto que o verdadeiro Reino do Evangelho consiste tão somente na adoração em espírito e em verdade. Há algo de certo, senhoras, nessas acusações, no sentido de que muitos católicos dão lugar a essas acusações com uma conduta supersticiosa e uma devoção pouco refletida. Mas a doutrina da Igreja responde admiravelmente a esses ataques, e para isso basta manifestá-la. Tal é a posição inexpugnável do católico: ele não está obrigado a justificar os desvios humanos e lhe basta que a doutrina seja pura e irrepreensível.

A piedade cristã é um sentimento interior, um movimento da alma que nos eleva energicamente a Deus, quer dizer, até o Ser infinito, Fonte de tudo o que é belo, verdadeiro e bom, tudo o que aperfeiçoa a inteligência e o coração. Se quisesse falar a língua dos poetas, eu diria que a verdadeira piedade é uma música inefável que ressoa continuamente no santuário íntimo, e faz do ser piedoso uma harmonia viva, cujos sons intraduzíveis em línguas humanas formam uma parte do concerto invisível que o Evangelho chama de adoração em espírito e em verdade. E, como disse Santo Agostinho, quando ouvimos essa música superior, aqueles sons tão doces aos quais nada pode ser comparado, superni cuiusdam soni nimium delectabilis, et incomparabilis, et ineffabilis, fatigamo-nos do tumulto deste mundo. Se quisesse imitar a linguagem dos Profetas, eu acrescentaria que a verdadeira piedade é uma flor requintada, escondida no mais misterioso canteiro da alma, e cujo perfume é tão delicado que os anjos a dirigem quase que inteiramente para as regiões celestes: Quasi flos rosarum in diebus vernis... et quasi thus redolens in diebus æstatis. Por isso, na história dos Santos, a parte mais admirável e divina é também aquela que escapa da visão dos homens.

Todo ser tem duas vidas, aquela que é visível e aquela que está escondida: a primeira, nos Santos, é bela e admirável, mas não pode ser comparada à segunda. É nos recantos mais misteriosos do coração que se deve penetrar para conhecer o que há de puro, de elevado, de nobre e de delicado na vida íntima da alma evangélica. Ali são todos os dias celebradas as mais belas festas da Terra, ali se consome o incenso mais perfumado da oração invisível, ali reside substancialmente o Espírito de Amor, que rende a Deus mesmo o culto mais puro da criatura racional, e produz gemidos inefáveis e ternos suspiros que exalam no seio de Deus: Postulat gemitibus inenarrabilibus! Oh! Como são belas e ternas essas solenidades interiores da alma piedosa! Não há nada nas festas públicas com que possam ser comparadas.

Muitas vezes, nos templos católicos a alma se sente piedosamente comovida: o canto dos salmos, o espetáculo imponente das cerimônias, a presença dos anjos na Terra, prostrados diante de Deus, tudo o que se vê, tudo o que se ouve domina o espírito e o eleva do mundo. No entanto, tudo isso nos pareceria pouca coisa se pudéssemos ver a vida interior de um Santo, contar as pulsações do seu coração, ouvir essa música contínua que nada mais é que o movimento de sua alma!

O que é a música? É o ar em movimento, mas o ar animado por um sopro inteligente? O que sentiríamos se pudéssemos ver e ouvir os movimentos contínuos de uma alma cujos pensamentos são hinos contínuos a Deus, cujas aspirações são cânticos melodiosos, cujos sentimentos são luz, vida, calor?

Senhoras, reuni com a imaginação tudo o que podeis conceber de mais belo, nobre e divino, não apenas na vida exterior, mas sobretudo, na vida da alma, e começareis a formar uma ideia ajustada da piedade cristã; compreendereis quão estranhamente a desfiguram quando fazem dela um simulacro exterior e a reduzem a práticas. A piedade é, antes de tudo, algo do coração e do sentimento íntimo: é uma seiva cuja fonte está no Céu e que cai primeiro nas cavidades íntimas da alma, logo difundindo-se até as folhas, ou seja, as ações da vida exterior.

“Não se honra a Deus senão com o amor”, disse Santo Agostinho: Nec colitur ille nisi amando. Também poderíamos dizer, e isto seria a confirmação da nossa definição, que a verdadeira devoção é o Amor de Deus no coração. O amor quer dizer o sentimento mais interior, mais suave, mais delicado, mais penetrante, mais irresistível. Coloque o amor em um coração e, como a chama que não se extingue jamais, este o invadirá inteiramente e, em violentas e pacíficas invasões, nada destruirá, mas criará por todas as partes novas formas e dará a tudo outra vida mais bela e mais elevada.

Um filósofo cristão dizia: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”. Esse pensamento parece a princípio errôneo, mas oculta uma profunda verdade. A virtude em si mesma, e segundo a etimologia da palavra, indica esforço, violência; e o esforço, sobretudo se é prolongado, se não for sustentado por uma força enérgica, acaba por fatigar a natureza. A virtude é o dever tomado por seu lado austero; mas a face austera do dever tem algo de espantoso: é a fisionomia do pai de família em seus dias de tristes preocupações; a piedade é, sem dúvida, o dever, e ainda mais que o dever, posto que abarca também o conselho evangélico. Ou seja, tudo o que não é estritamente controlado alegra o coração de Deus; a piedade é o dever, mas o dever com a fisionomia de uma mãe quando sorri para seus filhos; a piedade é o dever cumprido com amor, e é o amor que faz da virtude uma doce, fácil e agradável obrigação. Voluntariamente eu tomo emprestado um pensamento de São Francisco de Sales: “Seja a virtude uma planta, a piedade nela será a flor; seja ela uma pedra preciosa, a piedade nela será o seu brilho; seja ela um bálsamo, a piedade nela será seu perfume, suave perfume que conforta o homem e rejubila os anjos.

Estes princípios devem permitir que compreendam o pensamento de Joubert: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”. É difícil ser virtuoso por muito tempo sem ser piedoso, sem que a Religião seja uma prática de amor que envolva e transforme a vida inteira. O homem não pratica nada de bom se não o faz com amor. A piedade mesma, este sentimento interior que nos ensina a gostar e saborear a virtude; a piedade nos ensina amar a Deus e considerá-lo não como um ser abstrato que nos domina de tal modo que nunca se rebaixa ao nosso coração, mas como um pai, como uma mãe ternamente amada. A piedade nos ensina a tudo fazer para agradá-lo, como uma criança a quem nada é difícil no seio de sua família, que tudo sacrifica e contenta-se em seus sacrifícios porque sua mãe ali está e a recompensa com o seu olhar.

Portanto, não é de dever que falamos, é de amor, e isso é muito melhor até mesmo para fazer sólida a nossa virtude. A piedade cristã não é esta virtude seca e estoica dos antigos; não é tampouco esse sentimento austero e frio que existe em certas almas mais rígidas que a lei, mais “perfeitas” que os Santos. Não, a piedade é um sentimento pleno de doçura, que pacifica inteiramente o homem, alimenta-o de amor, sacia-o de ternura divina e une-o Deus com laços mais doces, mais fortes que todos os que podem ser expressos em línguas humanas. A piedade é o amor, e o amor mais verdadeiro, mais forte, mais penetrante que existe sobre a Terra; mas o amor, disse Santo Agostinho, é um peso que arrasta.

Considere um madeiro que tem um peso enorme em um dos flancos e pergunte por que ele submerge na água. Ele responderá: porque o peso me arrasta. Esta é, também, a razão pela qual o amor,

quando existe em alguma parte, faz o todo inclinar-se sobre esse ponto; o amor é a força que move os seres inteligentes, é o peso que inclina o coração e com frequência é o contrapeso das coisas do mundo: Pondus meum, amor meus. Aquilo que é pesado, o amor eleva facilmente para o alto; o que é leve, por outro lado, precipita-o no profundo abismo da caridade...

Mas quando o amor está ausente, não há força para suportar os fardos da vida e os pensamentos se evaporam na atmosfera secular cotidiana, porque não têm um lastro que os dirija. Sabeis porque há tão poucos homens verdadeiramente virtuosos? Porque há muito poucos sinceramente piedosos. Não amam o dever, porque a piedade não os habita para torná-los amáveis; e o dever ensimesmado é uma planta que seca rapidamente quando a piedade não umedece as suas raízes, e seu talo perde logo sua coroa de flores.

Pobre juventude! Por que não sois virtuosos? Por que todos os esforços aplicados a uma mais terna solicitude falham tão frequentemente? Não conheceis bem os encantos da piedade, as delícias do amor? Com demasiada frequência oferecem ao vosso coração, ávido de expansão e de amor, o talo seco e árido do dever, e vós o rejeitais. A Filosofia vos apresentará belas especulações sobre a virtude, quadros magníficos que deslumbrarão vossa imaginação e, contudo, na prática seu coração permanecerá frio. Frente ao perigo, não encontrará em si mesmo nada mais que uma desoladora debilidade: esse tem sido, continuará sendo o resultado das combinações da sabedoria humana! Tanto é verdade que o filósofo cristão tinha razão ao dizer: “Para ensinar a virtude não há senão um meio: ensinar a piedade”.

Poderíamos citar algumas exceções na prática das virtudes humanas, mas não fariam elas nada além de confirmar a regra.

A piedade é, portanto, um sentimento íntimo, um sentimento de amor que, partindo do interior, leva a vida ao exterior. Mas, então, para que servem todas essas práticas, todas essas cerimônias, orações e associações tão comuns na Igreja Católica? Parece, à primeira vista, que a Religião católica dá preferência às práticas, e que se dedica muito pouco a alimentar a alma.

Tratemos de compreender em toda sua perfeição o espírito da Igreja Católica: ele é dedicado plenamente a produzir almas esclarecidas e corações retos; mas quando a natureza das práticas católicas é alterada e, sobretudo, quando são praticadas sem que sejam compreendidas, facilmente julga-se encontrar nelas certa falsificação do Evangelho. O homem é composto de corpo e de alma, e geralmente as verdades e, de certo modo, as virtudes nos chegam através das coisas visíveis. Existe certa união entre o corpo e a alma, de tal forma que, reciprocamente, tudo o que se passa na vida material tem um caráter espiritual, e tudo o que se passa na vida espiritual tem uma manifestação material. Um olhar em direção ao Céu, uma palavra que transmita o perfume divino, uma atitude piedosa, uma genuflexão: estas são ações que podem ter a mais salutar influência sobre os nossos sentimentos interiores.

Pode-se dizer que certos pensamentos, certos afetos da alma são desenvolvidos sob os impulsos da vida corporal. Dessa maneira, as senhoras já devem ter reparado: geralmente saímos mais recolhidos de uma cerimônia religiosa na qual tudo nos tenha falado de Deus; quando o coração, farto dos desgostos da vida, se prostra ao pé da Cruz e recita uma dessas orações que a linguagem já não alcança, visto que é a explosão da vida interior, não é verdade que se levante mais forte, mais resignado e melhor? Além disso, a alma não é mesmo assim, ou seja, quando ela é fortalecida, deseja traduzir exteriormente o que não pode mais conter em si; e se o sentimento é reprimido no mais íntimo do coração, parece que não alcança sua perfeição e perde, em parte, a sua energia.

Aqui estão alguns dos motivos mais simples e ao mesmo tempo sérios que explicam perfeitamente o sentido das práticas de piedade, tal como são empregadas pela Igreja Católica. As práticas não são o fim, elas são o meio para alcançar a virtude. Assim nós não recitamos orações vocais apenas para mover os lábios, não comungamos para dar uma satisfação pueril ao nosso amor próprio. Rezamos para implorar o socorro do alto e o imploramos com todo o nosso ser, porque todo o nosso ser deve louvar a Deus, porque todas as nossas ações devem ter sempre, em razão de nossa natureza dual, alguma coisa que mantenha corpo e espírito. Comungamos a fim de receber a vida divina e exalá-la em todas as nossas obras.

Repetimos, com Pascal, que em alguns aspectos o homem é uma máquina. Sim, sobretudo depois de sua queda, o homem, muitas vezes, não passa de uma máquina bastante desorganizada. O homem tem de animal muito mais do que se crê, e tem muito do animal depravado; não compreendemos quanto imperam sobre nós os hábitos materiais. Nas comunidades religiosas, onde a vida cristã se encontra em toda a sua perfeição, alguns se admiram ao ver tantas cerimônias complicadas de coisas exteriores, de práticas, mortificações, de penitências, e são tentados a perguntar: esse é o Reino do Evangelho onde tudo é adoração em espírito e em verdade? Sim, esse é o Reino do Evangelho ou pelo menos sua preparação, um meio de domar o homem exterior e de atraí-lo progressivamente à adoração em espírito e em verdade.

Os Santos fundadores das ordens religiosas compreenderam que o homem caído tem algo de máquina, e que é necessário domar, amenizar e preparar essa parte animal do homem degradado. Os espíritos superficiais podem condenar esse sistema de educação; o homem ilustrado admira o que é profundamente verdadeiro. Assim como nos exercícios militares existem muitos movimentos com os braços, com a cabeça, com os pés, que à primeira vista parecem ridículos mas, no entanto, formam soldados valorosos e intrépidos capitães, do mesmo modo na vida religiosa existe uma preparação exterior, contínua, da parte inferior do nosso ser. Há também um sistema que se apodera do homem até em suas ações mais insignificantes, com uma vigilância que pode parecer exagerada, mas que o prepara para a prática das mais sublimes virtudes.

Terminarei com uma bela ideia de Fénelon: “As manifestações exteriores são boas quando saem do coração. Mas, ó Deus, vosso culto essencial não é outro senão o amor, e vosso Reino está inteiramente no interior: é necessário que não nos enganemos buscando a mudança no exterior”.

Todo o cristianismo, senhoras, se encerra nessas palavras; elas satisfazem todas as necessidades do coração humano. Sim, as manifestações exteriores são boas porque compraz aos filhos testemunhar ao pai o seu amor. E este testemunho é ele mesmo um sustento para a sua vontade. Sem embargo, essas manifestações de nada valem se o coração não tem parte com elas; porém, à medida em que o coração ama mais profundamente, ele necessita de silêncio e de recolhimento, busca menos ao seu redor porque se sente fortemente atraído à sua colmeia interior, onde encontra um mel delicioso; as coisas exteriores lhe fatigam com seu rebuliço. Então começa um novo reino para a alma, mais perfeito que o primeiro, no qual, sem negligenciar as ações práticas e concedendo-as a importância que aconselha a sabedoria cristã, buscam-nas com menos força. Nisto, a inteligência e o coração se tornam simples e, nesse processo, aproximam-se cada vez mais desse centro universal das almas, cujas fronteiras, diz a Escritura, estão guardadas pela paz, cujos habitantes vivem da paz, da confiança, do silêncio amoroso, muito mais que dos movimentos exteriores.

Sob esse ponto de vista a piedade corresponde a todos os sentimentos nobres das almas elevadas. Não é questão de formas; é um princípio divino que, apoiando-se com sabedoria e sobriedade nas formas, eleva-se gradualmente a um trono de glória e virtudes, onde se empenha cada dia em imitar a perfeição de Deus: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito”, disse Jesus Cristo.

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Fonte:
LANDRIOT, Jean François-Anne. A mulher piedosa vol. II, Rio de Janeiro: Caritatem, 2019, pp. 13-22.

Sobre o cachorro do Carrefour e a desumanização nacional


Por Elício Nascimento
Colaborador da Frat. Laical S. Próspero


DE TEMPOS EM TEMPOS, que em nossa era digital duram cada vez menos [o caso em questão ocorreu há poucos dias e já cai no esquecimento], novas polêmicas surgem para nos fazer refletir sobre a sociedade e, observando-as mais a fundo, sobre a natureza humana. Das mais recentes dessas polêmicas é a que colocou, no centro do debate, a rede de supermercados Carrefour. 

A grande mídia e a internet têm divulgado de modo sensível e quase panfletário a covardia realizada por um segurança de uma unidade do grupo Carrefour, localizada em Osasco, grande São Paulo. Ele é acusado de ter espancado um cachorro até a morte e de, antes disso, ter tentado envenená-lo. O animal, segundo a denúncia postada em vídeo nas redes sociais, aparece com as patas traseiras feridas e marcas de sangue no chão da loja.

O cachorro chegou a ser socorrido pelo Centro de Controle de Zoonoses, mas não resistiu às agressões, vindo a óbito no local. Segundo a matéria veiculada no site da Revista Exame[1] o animal estava a alguns dias na unidade de Osasco do Carrefour. Chegou, inclusive, a ser alimentado por funcionários. As denúncias alegam que o segurança agrediu o animal a pauladas após ter recebido ordens superiores para "limpar" o estabelecimento por conta da visita de executivos naquele dia.

Ativistas de defesa dos animais protestaram na unidade no dia do ocorrido e, em pouco tempo, esse caso assumiu uma grande repercussão nacional que gerou enorme comoção.

Até aí, nada demais. Eu também defendo o respeito e a proteção aos animais. Contudo, manifesto aqui a minha discordância quanto à desproporção e à inversão de valores que me saltaram à (pouca) inteligência, a partir desse ocorrido.



No dia último 17 de novembro, a Sra. Antônia Conceição da Silva, de 106 anos (foto), foi morta a pauladas em Feira Nova do Maranhão, por um homem que invadiu a residência da idosa e, segundo a conclusão da investigação policial, realizou o crime porque foi reconhecido pela vítima. No fim, nada foi roubado.

Afinal, onde eu quero chegar? Talvez seja essa a pergunta do leitor. Bem, eu quero chegar à tamanha comoção pelo cachorro morto. Quero chegar aonde não chegou a comoção pela morte de uma indefesa cidadã honesta em avançada idade. Quero chegar, também, aos quase 1.700 abortos legais praticados no Brasil[2] por ano e aos anuais 850.000 abortos clandestinos[3]. Quero chegar ao número de homicídios praticados no Brasil que supera, em trinta vezes, os números de toda a Europa[4]. Eu quero chegar à humanização animal e à animalização humana.

Como assim? Sem querer generalizar, boa parte dos ativistas da causa animal também defende a descriminalização do aborto como um meio de proteção à vida das “mães”. Mas antes de pensar nas “mães” não se deveria pensar na parte mais indefesa da história, ou seja, o feto? Qual é o sentido do veganismo que abomina comer carne, por ser contra a morte dos animais, e aplaude ao direito feminista de exterminar vidas humanas intrauterinas? Qual é o sentido do humanismo que não se importa com a matança dos animais? E qual é a lógica do amor aos animais que “passa por cima” da quantidade de assassinatos que alcançam a todos, em nome da nova “modinha” cotista que só conta a morte dos indivíduos que integram o seu círculo de interesses?

Há duas formas de se enxergar a vida. Uma com e outra sem transcendência. Essas propostas visam explicar o mecanismo do mundo e o valor que pode ser dado à existência. Não há uma terceira via nessa abordagem. Onde não há nada além da matéria, toda vida se iguala. Assim, essa visão dá aos homens (pelo acaso) o mesmo valor das árvores, dos cães ou das formigas.

Mas se há transcendência no homem, há hierarquia. Imagine uma situação em que não há outra forma de sobreviver senão comendo cães e gatos – como, por exemplo, ocorre na Venezuela. Você deixaria seus familiares morrerem à míngua para proteger vidas de cães e gatos? Eu não. Em situações ordinárias, não comemos carne humana, correto? Mas alguns já comeram para não morrer. Caso não conheça, examine o caso do avião que despencou nos Andes chilenos no ano 1972. O uruguaio Roberto Canessa, um dos sobreviventes, disse em entrevista sem qualquer pudor: “Comi os meus amigos para sobreviver”[5].

Mais vale um humano morto ou um vivo? Animais são maravilhosos e, com certeza, devem ser amados. Mas entre salvar a vida de um cachorro e a de um ser humano, qual seria a sua escolha caso não fosse possível salvar as duas? Em nome da visão sem transcendência, eu salvaria à vida humana a favor da preservação da minha espécie. Em nome da transcendência eu salvaria a vida humana, por ser ela a expressão máxima de um Criador.

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Referências:
[1] BARBOSA, Vanessa. Morte de cachorro em loja do Carrefour gera onda de protestos. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/marketing/morte-de-cachorro-a-pauladas-em-loja-do-carrefour-gera-onda-de-protestos/>Acesso: 05/12/18.


[2] FERNANDES, Marcella. Aborto no Brasil. Como os números sobre abortos legais e clandestinos contribuem no debate da descriminalização. Disponível em: Acesso: 06/12/18. 

[3] AUN, Heloísa. 8 fatos chocantes sobre o aborto no Brasil que você precisa saber. Disponível em: Acesso: 06/12/18. 

[4] SALGADO, Daniel. Atlas da Violência 2018: Brasil tem taxa de homicídio 30 vezes maior do que Europa. Disponível em: Acesso: 28/11/18.


[5] BRASIL, News. “Comi meus amigos para sobreviver”, relembra vítima de acidente aéreo. Disponível em:

Acesso: 06/12/18. 


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Sobre Damares Alves – uma brevíssima reflexão para hoje


Por Padre Silvio Roberto

A NOSSA FUTURA Ministra da Família e dos Direitos Humanos – Damares Alves – é mulher, foi vítima de violência sexual na infância e adotou uma criança indígena. Teria tudo, portanto, para ser respeitada pela esquerda, se nos basearmos naquilo que eles costumam defender com veemência e em que se baseiam para atacar Bolsonaro (machista, racista, intolerante, etc.). Soma-se a isso, ainda, a sua formação técnica.

Mas, na prática, nada disso vale para os esquerdistas. Como ela não é feminista, nem defensora do aborto e/ou da destruição da família, então não serve para eles, e por isso é atacada e desrespeitada de todas as formas, principalmente por meio do deboche.

[Esclarecendo que os eles aqui são "artistas", políticos do PT, PC do B e PSOL, alguns comentaristas famosos como Leandro Karnal, etc.]

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'João de deus'(?) e o espiritismo


Por Bruno Braga e Henrique Sebastião

UMA CONSIDERAÇÃO A MAIS sobre as denúncias que envolvem o charlatão João Tarado, chamado "médium 'João de Deus'". Na realidade, o nome dele é João Teixeira de Faria. De nossa parte, ficamos impressionados com a desfaçatez com que toda a mídia trata esse patife por 'médium' – como se essa invenção espírita fosse um fato inquestionável – e, mais além, como continuam chamando um maníaco que usa e abusa da crença e da fragilidade das pessoas de "João de Deus".

    Aqui nos concentraremos na justificativa mais comum, que sempre ouvimos e lemos – até da parte de cristãos de boa-fé – para tentar distanciar o acusado do espiritismo como um todo: a prática das obras de caridade. Antes, porém, convém refletir: ora, se os atos praticados em Abadiânia são contrários àquilo em que creem os espíritas e vão contra as determinações da Federação Espírita Brasileira (FEB), que vem agora emitir nota (leia) dizendo que não recomenda o tipo de "atendimento" individual que fazia o tal João, então por que nenhum representante do espiritismo se manifestou antes, publicamente, condenando o farsante?

    Há realmente muitíssimos casos semelhantes a este (como por exemplo o de um outro 'médium' paranaense acusado de abuso sexual por mais de 60 menores), que, se não envolvem necessariamente crimes sexuais, estão sempre ligados a charlatanismo, abuso da voa vontade alheia e, principalmente, enriquecimento ilícito. Quem não se lembra, entre tantos, do engenheiro Rubens de Faria Júnior, outro "médium" que dizia incorporar o espírito do "Doutor Fritz" (um fictício médico alemão que teria ajudado judeus durante a 1ª Guerra Mundial) e fez uma fortuna milionária em curto espaço de tempo, cobrando, à época, R$20,00 de cada uma das mais de 2 mil pessoas que diariamente procuravam os galpões que mantinha no Rio de Janeiro e em São Paulo? Rubens se fingia de "humilde" e andava em carros simples, sem que ninguém soubesse que possuía uma coleção de automóveis Mercedes, em nome de terceiros. Na época, foi comprovado que tinha sete carros importados, apartamentos no Rio e em Miami, e seus bens não-declarados à Receita superavam R$ 1 milhão.

    Fato é que a nossa podre grande mídia ajudou o quanto pôde no estabelecimento de toda essa situação, em inúmeras reportagens e "documentários" que faziam uma verdadeira apologia do espiritismo e nos quais o tal "João de deus" era sempre tendenciosamente retratado como um grande homem, um exemplo de amor ao próximo, um santo desapegado que só sabia fazer o bem e a caridade... Algo muito parecido com o que fizeram com Chico Xavier. Aliás é esta, como dissemos, a bandeira e a tese mais comum dos que tentam justificar o espiritismo, alegando que se trata de uma doutrina válida: a das "obras de caridade".

    "Os espíritas realizam muitas obras sociais", "os espíritas ajudam muita gente", etc., etc. Sim, é verdade que os espíritas têm suas "boas obras", e é verdade também que uma obra de caridade é, em si, uma coisa boa. No entanto, a obra de caridade não pode ser o critério último para atestar uma prática ou ação, sobretudo no âmbito da fé. Dou um exemplo que pode, em princípio, ser visto como radical, mas ao qual se aplica o mesmo princípio fundamental. A famigerada "Church of Satan" também realiza determinadas obras de caridade. Porém, é preciso no mínimo especular, tomando-se um horizonte mais amplo: como a "igreja de Satanás" conduz e coloca as pessoas envolvidas por essas obras diante da perspectiva da eternidade?

    A mesma pergunta deve ser feita com relação ao espiritismo ou, de forma mais apropriada, com relação ao espírita em pessoa. Sabe-se – por meio da experiência e do testemunho de autoridades eclesiásticas – que a invocação de espíritos expõe tanto o médium quanto o seu eventual "paciente" a influências maléficas e em muitos casos à possessão demoníaca[1].

    Quanto ao juízo referente a tal prática, ele é bastante claro:

Não recorrais aos que evocam os espíritos, nem consulteis os adivinhos, para não vos tornardes impuros. Eu sou o SENHOR vosso Deus.
(Lv. 19, 31)

Quando tiveres entrado na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não imites as práticas abomináveis dessas nações. Não haja em teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem quem consulte adivinhos, ou observe sonhos ou agouros, nem quem use a feitiçaria; nem quem recorra à magia, consulte oráculos, interrogue espíritos ou evoque os mortos. Pois o SENHOR abomina quem se entrega a tais práticas. É por tais abominações que o SENHOR teu Deus deserdará diante de ti estas nações.
(Dt. 18, 9-12)

    Ademais, é preciso considerar que a obra de caridade supre uma necessidade temporal; mas em última análise, o que está em jogo, aí, é a eternidade – dado o contexto acima, determinada obra pode conduzir a uma situação de risco a pessoa e o seu destino eterno. Por isso, importa recordar a lição do Papa Bento XVI, que não hesitou em afirmar:

Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé.[2]

    Enfim, óbvio que nem todo alegado "médium" – ou espírita – é um abusador sexual ou é desonesto. Evidente que não. Mas é igualmente evidente que, se João de deus, por conta da própria natureza da prática de invocar e de se submeter a espíritos, pode ter sido exposto à influência maléfica e à possessão demoníaca, da mesma forma se expõe todo e qualquer espírita, e todas as pessoas que de alguma forma se aproximam dessa prática [3].



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Ref.s e bibliografia

[1]. Cf. [http://bit.ly/2Ed5S4B]; [http://bit.ly/2UF4q0I];
LARA, Duarte Sousa. Demônio, exorcismo e oração de libertação em 40 questões. São Paulo: Canção Nova, 2014. pp. 61-63, questões 7, 8, 9, 10.

[2]. Bento XVI, Caritas in Veritate, 3 [http://w2.vatican.va/…/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-v…].

[3]. Idem à nota 1.

* Blog do Bruno Braga
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Mensagem aberta de Bernardo P. Küster aos católicos do Brasil


Recebida ontem, 11/12/2018

MUITOS, CONTRASTANDO as denúncias que faço sobre problemas na Igreja Católica no Brasil, abrem os braços para o desespero e um pessimismo quase insuperável. 

Comunico que um grande número de fiéis, religiosos e membros da hierarquia nunca estiveram tão ávidos para resgatar o melhor do Catolicismo em nossa terra. São tempos alvissareiros! Desde agosto do ano passado até dezembro do presente ano, realizei mais de sessenta viagens dentro e fora do Brasil. Vi, ouvi e senti a temperatura dos católicos em dezenas de cidades e pontuo sem medo: o futuro é promissor. Muito promissor.

Centros católicos brotam em todos os estados da União, artistas talentosíssimos surgem sem medo, jovens escritores audaciosos e historiadores sérios estão por toda parte. Teólogos, futuros filósofos, uma miríade de vidas consagradas. Santo Tomás de Aquino tem guiado mentes curiosas, Santos místicos inspirado e ensinado a intimidade com Nosso Senhor e Sua Mãe, editoras e mais editoras católicas publicam em profusão; há congressos, fóruns, reuniões de oração e terço, ardente devoção mariana e ao Sagrado Coração de Jesus, um ímpeto militante pelo Reinado Social de Cristo, congregações renovadas, igrejas restauradas, iconógrafos brilhantes, compositores inspiradores, apego à Doutrina e à Tradição, estudo meticuloso das Sagradas Escrituras, turmas e professores de latim por toda parte, famílias numerosas, comunhão diária, confissão frequente e corações até dispostos ao martírio. 

Ninguém me contou. Eu vi!

Dito isto, acrescento: há problemas e desafios nababescos pela frente, sim. Jamais fechemos nossos olhos para estes. Encaremo-los, todavia, como motivo ainda maior de esforço na busca da santidade, para a maior glória de Deus.

Meus caros, Deus tem atendido as orações dos que clamam com fé. Fiquemos firmes e confiantes. Não desanimemos. Progridamos sem medo, pois Deus é conosco!

Uma semana de muita oração e trabalho a todos.

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A Igreja de Cristo dividida em grupos?


QUANTOS GRUPOS EXISTEM, hoje, na Igreja Católica? Logo de imediato, ao ouvir essa pergunta, qualquer católico minimamente atento poderia mencionar dois: o dos modernistas e o dos tradicionais. Porém a questão é muito mais complexa. Vejamos...

Ocorre que, inseridos dentro desses mencionados dois grandes grupos, temos uma variação de subgrupos que os compõem, como por exemplo os adeptos e simpatizantes da herética “'teologia' da libertação” (TL), que se incluem no grupo dos modernistas. Claro, nem todo modernista é, necessariamente, adepto da TL, embora todo simpatizante da TL seja necessariamente um modernista. Por outro lado, existem católicos favoráveis a toda sorte de inovação na Igreja e “invenções” na Liturgia, mas que não adotam nem apoiam a deturpação marxista da Doutrina sagrada.

Por outro lado, não é conveniente e nem é correto citar o grupo que adere à TL como um grupo "católico", porque de fato não é. Para dizer de modo claro e sem embromações, estamos tratando, aqui, de um grupo de hereges excomungados latae sententiae; simples assim. Descontados aqueles que apoiam o movimento por ingenuidade e/ou mera ignorância, trata-se de gente que não têm fé católica, que não crê na autoridade da Igreja, na materialidade dos Sacramentos, nos milagres de Deus, etc. Por fim, não creem nem sequer na Ressurreição de Nosso Senhor.

Ainda entre os modernistas, não há como não se mencionar o povo da Renovação Carismática Católica (RCC). Um grupo modernista, sim, porém com peculiaridades distintivas. Conheço gente da RCC que é fidelíssima no estudo da Doutrina, lê Sto. Tomás de Aquino e as vidas dos santos, manda carta para o bispo criticando atitudes de padres marxistas, etc. Ainda assim, claro, não podem se incluir entre os tradicionais por dois motivos bastante evidentes: os abusos na Liturgia e a protestantização da fé.

Muito, e em muitos lugares, já se falou sobre a grande polêmica envolvendo a RCC. Nós, da Fraternidade Laical São Próspero, apesar de não nos identificarmos com esse tipo de espiritualidade e nem com esse tipo característico de pregação (que apela sempre ao sentimentalismo, com musiquinha emotiva tocada ao fundo) respeitamos o movimento carismático na Igreja por alguns motivos: 1) porque é um movimento majoritariamente composto por pessoas de boa vontade, que têm uma fé viva e autêntica; 2) porque, catolicamente, ali não se faz acepção de pessoas, como ocorre em outros grupos; 3) principalmente porque esse movimento não deixa de ser uma grande porta de entrada e de retorno à Igreja Católica: já o foi, de fato, para uma verdadeira multidão (em nossa fraternidade temos gente que retornou à Igreja por essa via, ainda que hoje viva uma outra experiência de fé).

Nada disso, porém, anula a realidade dos abusos litúrgicos da RCC, que em muitos casos são realmente graves. Também é impossível negar que a responsabilidade maior por esse problema é dos padres muito “criativos” (muitos destes igualmente bem intencionados) que se portam como verdadeiras “estrelas”, fazendo-se o centro das celebrações.

Sobre esse problema, particularmente incomoda-nos o fato bastante óbvio de que seria muito fácil resolver tudo e de uma vez por todas, se todas as expressões que provocam a polêmica (os louvores gritados, a música agitada tocada com instrumentos no volume máximo, a liberdade de expressão total durante o culto, etc.), fossem realizadas em encontros de oração próprios, organizados pela mesma RCC. Aí, sim, seria o momento e o ambiente ideais para se dar vazão a toda essa energia especialmente característica dos brasileiros (já que em outros países os encontros da RCC são bem mais moderados do que os nossos). Bastaria não confundir esses eventos de louvor com a celebração da santa Missa e a renovação do Santo Sacrifício, compreendendo-se que são realidades distintas, e assim, de modo realmente simples, tudo se resolveria.

Outro problema sério da RCC é a nítida protestantização da fé da Igreja, se não na Doutrina teórica, certamente na prática, com certas deturpações (ainda que pontuais) e na ideia de que novas “revelações” divinas surjam a todo momento entre eles (‘Deus me falou agora que tal irmão deve fazer isso e aquilo...’), em cada reunião desses grupos.

Mas esta reflexão não é sobre a RCC. É sobre divisões na Igreja. E entre os católicos tradicionais temos também algumas subdivisões. Temos aqueles mais radicais, que só assistem Missa em latim, rezam em latim e recusam qualquer valor no Concílio Vaticano II; estes são geralmente chamados tradicionalistas ou radtrads (tradicionais radicais). Há outros ainda mais radicais, os que adotam o sedevacantismo e creem que o Trono de Pedro está vago; são os sedevacantes (a maioria destes crê que o último papado válido foi o de Pio XII, mas há outros que creem que Bento XVI foi o último papa eleito canonicamente, rejeitando apenas Francisco).

Quanto aos sedevacantes, porém, como no caso do povo da TL, torna-se difícil chamá-los ainda “católicos”, mesmo que pela minha experiência (como diretor de apostolado há mais de dez anos) eu perceba, conheça e reconheça que muitos dentre eles são sérios e procuram honestamente santificar suas vidas. Acreditam piamente e com pureza de alma que estão fazendo o certo, e (alguns dentre estes) o fazem por amor a Cristo. Fato é que Deus julgará a todos.

Para não deixar este artigo sobre grupos longo e enfadonho demais, não falaremos em detalhes sobre os populares católicos “isentões”, aqueles que apreciam se manter sempre "em cima do muro", em todas as situações difíceis, nem dos chamados “católicos jujuba”, aqueles que, muito bonitinhos e sempre "politicamente corretos", têm para si o respeito humano como se fosse o principal de todos os mandamentos. Confundem a ordem de Cristo sobre não julgar com aceitar tudo, achar tudo normal e viver um catolicismo que se assemelha muito, na prática, ao espiritismo: questões relativas à moral e à Doutrina objetivamente não importam; para eles, basta "fazer o bem" e praticar a caridade para ser um bom cristão.

Não falaremos em detalhes, ainda, dos católicos “vaquinhas de presépio”, que elevam o respeito à hierarquia eclesiástica acima da própria obediência aos Mandamentos de Deus e os da Igreja, achando que absolutamente tudo que o padre ou o bispo dizem é verdade inquestionável e dogma imutável (muitos destes são verdadeiros 'papólatras'), nem dos tradicionalistas fariseus” ou legalistas, que se preocupam e se empenham muitíssimo em todas as aparências de santidade e com a Liturgia em suas minúcias, mas que não têm noção do significado da palavra caridade, odeiam os pobres e não são capazes de mover sequer um dedo para ajudar algum irmão que sofre e que legitimamente lhes pede auxílio.


* * *

Apresentados, desse modo breve e geral, os grupos e subgrupos em que vem se dividindo a Igreja, cabe concluir expondo aquilo que identificamos como uma grande tragédia, um dos maiores problemas que vivemos em nossos tempos: ocorre que, dos dois grandes grupos principais, com suas particularidades e desafios, a imensa maioria dos nossos pastores vêm valorizando, assistindo e incentivando apenas um, o dos modernistas. Por que isso acontece? Por um lado, porque há uma dificuldade de se identificar a realidade objetiva; não se enxerga ou não se quer enxergar essa diversidade. Por outro lado, há, da parte de membros poderosos e infiéis do clero, o desejo (já antigo) de superar definitivamente todo o passado santo e glorioso da Igreja pré-Vaticano II, enterrá-lo bem fundo e esquecê-lo, como se nunca tivesse existido. Note-se que essa corrente existe e atua já desde bem antes do próprio Concílio e foi o que motivou, em grande medida, a realização deste.

Além disso, há a grande novidade imposta após o mesmo Vaticano II (ainda que o próprio Concílio não o tenha determinado em nenhum momento): a novidade de elevar a comunidade – “o povo, o povo” – como centro e ápice da vida litúrgica. De fato, na Igreja tal como era antes, não seria possível ocorrer essas divisões e subdivisões em grupos, porque havia um conjunto de regras realmente muito claras, uma doutrina moral muito bem definida, uma celebração Eucarística (que é o centro da vida da Igreja) igual em todas as igrejas e a absoluta submissão e discrição dos sacerdotes. E os que não o aceitassem ou se insubordinassem contra bispos fiéis, eram rapidamente afastados.

Sim, é inescapável: se refletirmos por alguns instantes em cada um desses grupos, torna-se inegável que o seu surgimento não seria possível na Igreja que existia antes do Concílio.

Porém o mais importante é manter em mente que essa Igreja dita “pós-conciliar” simplesmente não existe. Ora, Cristo e os Apóstolos são “pré-conciliares”! E a Igreja, enquanto continuidade histórica da Encarnação do Cristo, assim como Ele é sempre a mesma, ontem, hoje e eternamente (conf. Hb 13,18).

Logo, que não se pense que existam “duas Igrejas”, uma modernista, com os subgrupos que a compõem, e outra “tradicional”, com seus próprios subgrupos. Só há uma Igreja, como só há um Corpo santo, e essa Igreja persiste naqueles que lhe são fiéis. É a esta Igreja-Cristo que queremos servir, é a esta que amamos tão profundamente, é desta que queremos ser membros e instrumentos no mundo. E ela perdurará e triunfará sobre o Inferno –, em Cristo com Cristo e por Cristo –, até o fim dos tempos, porque assim nos prometeu Nosso Senhor (Mt 16, 18; 28,19-20).

...E, ainda que para a nossa fé não fosse necessário, assim também confirmou Nossa Senhora a permanência e o triunfo da Igreja, em Fátima, na aparição de 13 de julho de 1917, depois de mostrar o inferno aos Pastorinhos e de prometer que viria pedir a consagração da Rússia, a Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados e lhes mostrar o futuro apocalíptico: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.


* * *

Em qual grupo nós, da Fraternidade Laical São Próspero, nos incluímos? Frequentemente nos perguntam. E a resposta não varia: a nenhum. Somos católicos. Ponto.

Sabemos todavia o que não somos: não somos modernistas e nem queremos inovações daquilo que é atemporal, pois a Igreja não admite modismos e nem precisa "evoluir" enquanto tal, e sim permanecer firme na Tradição recebida dos Apóstolos. Somos, então, tradicionais, sim, porquanto a verdadeira Igreja é a que observa a Tradição dos Apóstolos (2Ts 2,15). Mas não nos consideramos tradicionalistas radicais; tudo o que queremos é que a verdadeira Igreja de Cristo, que é Una e que reúne os santos do Céu (muitíssimo mais numerosos) e os que agora caminham sobre a Terra, assuma e viva aquilo que é: o Corpo Místico de Cristo, a Casa do Deus Vivo, que tem um só Senhor e professa uma só Fé e um só Batismo (conf. Ef 4,5).

Não nos arrogamos o direito ou a autoridade – assim como não poderíamos mesmo fazê-lo – de ditar regras ou dizer quem está ou não em Comunhão com a Igreja. Isso é diferente de denunciar os erros, onde existam e sejam claros, o que se configura, aí sim, em uma prerrogativa dos leigos garantida inclusive pelo Código de Direito Canônico (Cân 212, §§ 2-3).

Sendo assim, a nossa postura é a da prudência e da busca diária, incessante – nas súplicas e na perseverança – da Fé, da Esperança e da verdadeira Caridade. Entristecemo-nos com a situação cada vez mais difícil e sofremos junto com a Santíssima Virgem que, em tantas aparições, como em La Salete, chora por seus filhos. Indignamo-nos com a falta de zelo de tantos dos nossos pastores, e com as verdadeiras traições de outros tantos. Queremos apenas e tão somente servir como um útil instrumento para todo aquele que busca a Verdade e erra confuso nestes nossos dias de tempestades.


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Estátua satanista é levantada no Capitólio de Ilinois, EUA, para as festas de Natal e Ano-novo


ENTRE UMA BELA ÁRVORE de Natal e uma exposição de menorás (castiçais judaicos tradicionais) na capital do estado de Illinois, EUA, foi instalada uma estátua do Templo Satânico para representar, igualmente, a temporada de festas de final de ano.

Trata-se da representação de uma maçã sustentada por um braço cercado por uma serpente, referência direta a Satanás, "inimigo de Deus" e da humanidade. As palavras “Conhecimento é o maior presente” estão escritas defronte de sua base negra. Pretendem significar que o que o diabo tinha  – ou tem – a oferecer à humanidade é o conhecimento, que nos fará "iguais a Deus".

O tributo satânico foi erguido na rotunda do Estado, em Springfield. Próximo da exibição está afixada uma explicação oficial do governo local. Diz o documento:

O Estado de Illinois é exigido pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos a permitir exibições temporárias e públicas no Capitólio do Estado, desde que essas exibições não sejam pagas pelos dólares dos contribuintes. Como o primeiro andar da Rotunda do Capitólio é um lugar público, as autoridades estaduais não podem censurar legalmente conteúdos de fala ou exibições.

O Templo Satânico em Chicago fez uma campanha no "GoFundMe", chamanda "Snaketivity" (em oposição à 'Nativity'/Natividade de Jesus, celebrada pelos cristãos). O projeto conseguiu obter um financiamento ainda maior que a meta estabelecida pelos satanistas, sendo que as receitas restantes devem ser doadas ao Templo Satânico.

Os organizadores disseram que o objetivo da exibição é "não mais permitir que uma perspectiva religiosa domine o discurso na rotunda do Capitólio do Estado de Illinois durante a temporada de férias".

O Templo Satânico foi fundado em 2012, em Salem, Massachusetts. O grupo se descreve como não teísta e afirma não crer em um Satanás literal. No seu website, a organização diz que o objetivo do grupo é "exercitar um agnosticismo razoável em todas as coisas". Em outras palavras, o que eles defendem e representam é um ateísmo militante e anticristão.

O grupo lançou campanhas semelhantes no passado. Em 2015, propôs uma outra exibição satânica nos terrenos da capital do estado de Oklahoma. Pouco tempo depois, , a pedido do mesmo templo, um tribunal ordenou a remoção de um monumento aos Dez Mandamentos de Deus no terreno do Capitólio.

Eles também entraram com uma ação contra o estado do Missouri, em razão dos panfletos informativos que o Estado exige que os provedores do aborto  distribuam, argumentando que a exigência violava a "liberdade religiosa" de seus membros.

Professem ou não uma literal devoção espiritual a Satanás e aos demônios, de fato e sem nenhuma dúvida o o templo satânico norte-americano está fazendo, e muito bem feito, o trabalho do diabo no mundo, a começar pela propagação da teoria de que o próprio diabo não existe – que é a maior meta de Satanás em nosso mundo nos nossos tempos. Se você, leitor fiel católico, chegou a este ponto da leitura, faça uma breve pausa para rezar ao menos a breve fórmula de desagravo ensinada em Fátima pelo Anjo de Portugal, seguida da oração de Leão XIII a São Miguel Arcanjo:

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e os do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores. Amém.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio! Ordene-lhe Deus, instantemente o suplicamos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela Virtude divina, precipitai ao inferno Satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

_____
Fonte:
Catholic Herald
Satanist statue erected for the holidays in Illinois-Capitol, em:
catholicherald.co.uk/news/2018/12/06/satanist-statue-erected-for-the-holidays-in-illinois-capitol/
Acesso 5/11/2018

Lutador campeão do UFC descreve sua jornada de conversão ao catolicismo


Bas Rutten diz que o famoso ator Kevin James, católico, desempenhou um papel fundamental em atraí-lo de volta à fé

BAS RUTTEN, um talentosíssimo lutador campeão do UFC (Ultimate Fighting Championship, o maior campeonato de artes marciais mistas do mundo na atualidade), descreveu sua jornada à fé católica em um vídeo postado no YouTube (assista ao final).

Rutten, que cresceu na Holanda e agora vive nos Estados Unidos, fora já um campeão de artes marciais nos anos 1990, antes de se tornar o campeão dos pesos pesados ​​no UFC. Ele foi introduzido no Hall da Fama do violento esporte em 2015.

Em um vídeo produzido sob o patrocínio da Arquidiocese de Filadélfia (produzido por Anthem Philly), ele descreve ter sido intimidado na infância por causa de uma doença de pele (um eczema grave). Outras crianças o chamavam de "leproso", segundo o seu testemunho. A coceira era tão feroz que ele a tentava aliviar golpeando repetidamente um azulejo (!) que mantinha ao lado de sua cama. 

Expulso de várias escolas, aos 12 anos de idade Rutten foi ao cinema assistir o filme "Enter the Dragon", estrelado por Bruce Lee, um dos maiores artistas marciais de todos os tempos. Inspirado, persuadiu seus pais a permitirem que ele treinasse o Taekwondo, uma arte marcial coreana que enfatiza os golpes com os pés. O bullying terminou, conta Rutten, depois que ele quebrou o nariz de um valentão...

Rutten foi batizado e crismado quando criança, mas, quando tinha 12 anos, sua família parou de ir à Igreja. Ele mesmo, por sua vez, também não estava interessado o suficiente para continuar a praticar a Religião por conta própria: "Quando uma criança vai à igreja, é uma espécie de coisa intimidadora", disse ele; – "há todas essas estátuas estranhas olhando para você, e ninguém está feliz...", conclui com bom humor.

O retorno do lutador à fé aconteceu depois de trabalhar com o famoso ator católico Kevin James (foto), na comédia de luta livre "Here Comes the Boom". James convidara alguns oradores católicos para palestrar no set de filmagens, e Rutten foi a uma dessas palestras. “Eu fui sugado! – foi isso, isso mudou minha vida!”, disse o Rutten. A partir daí, ele passou a ouvir uma versão da Bíblia Sagrada em áudio, e ao mesmo tempo iniciou leituras bíblicas.

A primeira vez que a Bíblia realmente o mudou, ele disse, foi quando percebeu que estava escravizado pelo vício do alcoolismo. Disse ele: “Eu era um bebedor pesado – e esses estudos me impediam de beber. Agora tenho moderação, algo que nunca tive em minha vida!”.

Rutten ficou fascinado por reaprender sobre a fé. "Assim que você começa a aprender sobre o catolicismo, ou reaprendê-lo, você está viciado", diz o atleta, em seu costumeiro tom bem humorado.

A minha pergunta, que eu sempre faço aos meus alunos, é: como você quer ser lembrado? Aplique isso para lutar: como você quer ser lembrado? Como um bom lutador, um cara que nunca desistiu. Não se trata de ganhar o cinturão de campeão – aí você está recebendo o reconhecimento de seus colegas. Se isso é muito importante para mim, por que eu não quero obter o reconhecimento de Deus e ser o melhor cara que puder? (...) Eu Eu acho que não há nada mais importante do que isso.



____
Fonte:
CatholicHerald.co.UK, 'Champion UFC fighter describes his journey to Catholicism', disp. em:
https://catholicherald.co.uk/news/2018/11/23/champion-ufc-fighter-describes-his-journey-to-catholicism/
Acesso 23/11/2018

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Bispos italianos querem revogar o Summorum Pontificum


BISPOS ITALIANOS sugeriram, durante o seu atual encontro autunal, abolir o Motu Proprio Summorum Pontificum, que autoriza a celebração da santa Missa no rito tradicional em latim, conforme relatado pelo MessaInLatino.it (16 de novembro/2018).

O arcebispo de Gorizia, Carlo Radaelli (foto), de 62 anos, disse que Bento XVI cometeu um "erro" ao escrever, no Summorum Pontificum, que a Missa Antiga nunca foi revogada. Em vez disso, Radaelli afirma que a Missa Romana teria sido abolida por Paulo VI. A partir disso e em consequência, o Motu Proprio de Bento XVI seria nulo ou inválido.

Não é surpresa que muitos prelados apoiem as afirmações de Radaelli. Dentre estes, o modernista padre Luigi Girardi, que dirige o Instituto Romano da liturgia pastoral; o bispo de Novara, Franco Brambilla, e outros bispos anônimos do sul da Itália.

Radaelli e Brambilla foram, ambos, nomeados por Bento XVI.


* * *

Eu, Henrique Sebastião, tenho dito e repetido que se aproxima um novo cisma para a história da Igreja. Não estou só nessa análise: por exemplo o Padre Paulo Ricardo me disse, há alguns anos, que considera essa hipótese totalmente viável caso as coisas continuem no rumo em que se encontram. Há tempos, realmente desde antes do CVII – e com intensidade e fúria redobradas depois deste – temos o choque entre "duas igrejas" dentro da Igreja: uns querem a Igreja antiga, outros querem uma Igreja (literal e totalmente) nova. Diga-se, de passagem, que o mais lamentável é que poucos queiram a Igreja atemporal e de sempre.

De fato, ao assistir a Missa no rito tradicional (Missa de sempre) e a chamada "missa nova" de Paulo VI (da forma como é mais comumente celebrada hoje, com toda a sorte de inovações e total liberdade sobre a liturgia), temos a clara impressão de que não se trata da mesma celebração; sem nenhum exagero, alguém que nada conhecesse de catolicismo poderia duvidar seriamente de que fossem, ambas, expressões da mesma religião, e menos ainda do mesmo evento sagrado (o santo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo no Calvário). 

Acho difícil que venha a acontecer, ao menos por enquanto, mas a decisão de revogar o Summorum Pontificum de Bento XVI seria, sem dúvida, um marco importantíssimo, senão o ato central na concretização desse novo cisma. E pelo andar da carruagem, mesmo sabendo que a divisão jamais foi a vontade de Deus para os seus filhos, com honestidade tenho que dizer que já não sei se isso seria bom ou mau.

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Desabafo do Padre Luis Fernando Alves Ferreira

Diocese de Itumbiara – GO



SOU PADRE HÁ quase 5 anos. Fui seminarista por 7 anos. Já estive em vários lugares Brasil afora, já celebrei em tantos outros e guardo no meu coração uma tristeza profunda. Quando eu era criança, na roça, e ia com minha família à Missa uma vez por mês, eu sabia que naquela Hóstia "tinha Jesus". 

Eu sentia o cheiro da vela queimando e aprendi a me persignar toda vez que passava diante de uma Igreja. Eu achava tudo meio estranho, porque não entendia a Missa, mas sentava no primeiro banco e respondia a todas as perguntas que o padre fazia na hora do sermão. 

Daí eu cresci, fomos pra cidade e eu continuava inocente. Fui pro seminário e as escamas de meus olhos caíram. A Missa pela qual eu sempre nutri o maior religioso respeito

virou palco;

virou show;

virou passeata;

virou passarela;

virou camarim de estrela;

virou sambódromo;

virou terreiro;

virou tudo e suportou tudo;

menos ser de fato, Missa.

Já vi tanto desleixo… Alfaias pruídas, vasos sagrados zinabrados, Hóstias Consagradas carunchadas dentro do sacrário, um sacrário no meio de uma reforma de Igreja com Hóstias Consagradas dentro, consagração de vinho em tamanha quantidade que as sobras Eucarísticas precisaram de um exército de MESC para consumi-las, porque o padre não poderia fazê-lo sem ficar bêbado, e outros tantos abusos.

Capitaneada pelo dualismo marxista de tipo maniqueísta, a reinterpretação que a Missa sofreu nas décadas que sucederam o Concílio Vaticano II seguiu as pegadas da subjetividade humana. É odioso ouvir: “Ah, o jeito do outro padre é diferente...”. Isso denota uma personalização que a Missa não comporta. A Missa nunca foi a Missa do padre, mas a Missa da Igreja!

Essa mentalidade impregnou tanto a liturgia que quando um Padre quer celebrar a Missa da Igreja, aquela do Missal Romano, é chamado de retrógrado. O respeito às normas litúrgicas agora é sinônimo de "opressão". A Missa pura e simples foi esvaziada para poder ser enchida pela ideologia da enxada, da faixa, do cartaz, da freira, do padre TL… A Missa se transformou… Virou manifestação e protesto contra o Governo e o Sistema e

• contra a Igreja;

• contra os padres;

• contra a fé católica de sempre;

• contra a liturgia de sempre.

Enfiaram bananeiras, berrantes, espeto de churrasco, cuia de chimarrão, pão de queijo, cachaça, coco, faca e facão, pipoca, balões e ervas de cheiro na Missa, enfiaram panos coloridos para todos os lados, colocaram mães de santo manuseando o turíbulo e leigos lendo preces seminus. 

Para essa CORJA, a Missa já deixou há muito tempo de ser o Sacrifício redentor de Cristo PRO MULTIS e se tornou só mais uma mesa para comensais na qual vale o discurso e não a fé, na qual o que importa é o que o homem diz aos seus iguais e não o que Deus diz ao homem.

Lembro-me de um professor contando, todo garboso, que certa feita utilizou-se de uma Adoração ao Santíssimo Sacramento para dar uma aula de teologia ao povo – aos seus moldes é claro – porque para ele aquela Hóstia era "pobre de significado".

Aquela Hóstia pobre…

tão pobre quanto o cocho de Belém;

tão pobre quanto a cama em Nazaré;

tão pobre quanto a casa de Pedro em Cafarnaum;

tão pobre quanto a casa de Lázaro em Betânia;

tão pobre quanto o coração do Filho de Deus.

Ela só pôde se tornar Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Cristo porque Ele se fez pobre!

Sua pobreza não comporta reduções, tampouco acréscimos desnecessários.

Ele é aquele que é e nada mais.

Mas, só para quem tem fé!

Aos meus irmãos padres um apelo: que nós diminuamos e que Ele apareça. Não somos o noivo, apenas amigos do noivo! Rezemos a Missa da Igreja, a Missa do Missal. Que Ele fale aos corações e às mentes, inclusive às nossas mentes e corações! Que Ele toque as vidas, inclusive as nossas. Que sua voz ecoe nas consciências, também nas nossas. Que toda a nossa Liturgia seja feita Por Cristo, Com Cristo e em Cristo ao Pai, na Unidade do Espírito Santo. Só isso. Se fizermos isso bem feito, teremos feito tudo o que nos compete nesta vida.

Ter religião é ser irracional?

ALGUNS AUTODENOMINADOS "racionalistas" argumentam que a religião é sempre irracional, na medida em que afirma que existe uma realidade além da razão e, logo, a sua própria base seria um tipo de fé cega. Há alguns anos, Alessandro Lima deu uma resposta bastante simples e didática a um de seus consulentes, na qual se baseia este nosso artigo.


    Você pode se autodeclarar "um racionalista", mas isso não faz com que as posições que você assume sejam razoáveis. Na verdade, apesar de todo esse discurso sobre razão contrária à fé cega, os racionalistas estão muitas vezes entre as pessoas mais irracionais.

    O Cristianismo afirma que existem verdades que vão além do poder da razão necessário para demonstrá-las, mas isso não significa que sejam irracionais. Existe uma diferença entre o que é irracional (aquilo que vai contra a razão) e o que é suprarracional (aquilo que está além da razão). Considere isto: as proposições da física quântica estão acima das habilidades racionais da maioria das pessoas que nunca estudaram a fundo as suas questões. Isso faz com que física quântica seja irracional? Não.

    Ou então pense nisso: conhecer tudo o que existe sobre ciência moderna está além das capacidade de qualquer ser humano. Por isso é que existem especialidades e especialistas: divide-se a coisa toda em partes e várias mentes que seriam incapazes, sozinhas, de compreender o todo, especializando-se cada um em uma dessas partes. Pois bem: nós não dizemos que a ciência é irracional porque a totalidade do conhecimento científico vai além do poder que uma pessoa tem para a conhecer.

    Em outras palavras, o fato de uma pessoa ser limitada naquilo que ela não compreende não significa que não possa existir algo além do que aquilo que ela compreende. Se passarmos do indivíduo para a raça humana como um todo, podemos dizer que um fato pode ser limitado para um homem, como criatura finita que é; isso, porém, não significa que algo que vá além daquilo que ela pode compreender não possa existir.

    O Cristianismo afirma possuir uma mensagem que ultrapassa o horizonte intelectual de um homem. Tal mensagem afirma que Deus – cuja existência, por sua vez, é cognoscível apesar das nossas habilidades racionais limitadas –, revelou coisas que vão além da nossa razão, mas que não conflitam com ela. Essa mensagem também afirma que a realidade conforme a conhecemos evidencia, embora não prove empiricamente, que as verdades transcendentais existem. Tanto o afirmar categórico que isso é real, quanto afirmar que não é real, são ambas posições irracionais.

    A partir da ótica cristã, o racionalismo é como um homem que possui o mapa da estrada, mas que, acreditando que o mapa é confiável da forma como foi retratado, conclui que apenas aquela imagem é real. O racionalista pensa que a estrada termina nos pontos em que o mapa não apresentam mais nenhuma estrada: esse é o racionalismo que provém de uma fé cega e que termina com a morte.

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Ref.:
LIMA. Alessandro.
A religião é irracional porque ela afirma que existe uma realidade além da razão?
disp. em:
https://veritatis.com.br/a-religiao-e-irracional-porque-ela-afirma-que-existe-uma-realidade-alem-da-razao/
Acesso 14/05/2023

Gírias do submundo no Enem é o de menos – a normalização do anormal


Por Carlos Ramalhete

VI TANTA BESTEIRA por aí, sobre a questão do Enem sobre a gíria do submundo hoje dito transgênero, que resolvi dar um pitaco.

Basta ler a pitomba da questão para ver que não se está cobrando conhecimento da gíria dos caras. Do mesmo modo, tampouco é aquilo um incentivo a aprendê-la, mesmo porque, quando a molecada sai do Enem, a última coisa que ela quer fazer é ampliar seu conhecimento da bibliografia citada.

Aquilo é parte de outro joguinho: a normalização do anormal. O objetivo da questão é simples e, a seu modo tão eficiente quanto a Globo exibir ad nauseam o Pablo Vitar; o que eles querem é "mostrar que é normal" aquele submundo, tratar a prostituição de pessoas com sérios problemas mentais (duvida? Vai dar uma volta no balcão da delegacia de uma área onde esses caras fazem ponto pra ver) como se fosse uma coisa tão absoluta e completamente natural quanto um rapaz se apaixonar por uma mocinha e querer passar o resto da vida com ela.

É a mesma política que faz com que não se tenha sequer tentado criar mecanismos de união civil que servissem para, por exemplo, duas irmãs solteironas que moram juntas, criando ao invés disso uma falsa equiparação entre relações sexuadas entre pessoas do mesmo sexo e a constituição de uma família que gera e cria as futuras gerações (e por isso merece proteção e reconhecimento por parte da sociedade, inclusive do Estado), no dito "casamento gay".

Os pobres prostitutos que falam aquelas gírias todas enquanto quebram garrafas e avançam para cima dos próprios companheiros com o gargalo-arma na mão, assim como as pessoas que têm amizades sexuadas com gente do mesmo sexo, são meras buchas de canhão. A bucha, para quem não sabe, é um monte de pano que se coloca entre a bala e a pólvora, servindo para dar pressão e propelir a bala para mais longe, caindo contudo toda queimada e gasta a poucos metros do cano. O que se deseja, ao incentivar esse tipo de coisa, é diminuir a força da normalidade dita burguesa [tanto que até já criaram o bizarro termo 'heteronormatividade' para dar a entender que no que se refere às relações sexuais nada, absolutamente nada pode ser considerado anormal, nem mesmo pedofilia ou zoofilia].

Isso porque, na sua ignorância, os neomarxistas tomam fenômenos naturais e que existiram desde sempre – e que sempre perdurarão em qualquer sociedade, como a constituição de uma unidade familiar – por meros fenômenos transitórios de uma sociedade burguesa em decadência, na qual temos o desprazer de viver. 

Eles tratam, assim, a constituição de família exatamente do mesmo modo como tratam, por exemplo, as cadernetas de poupança, o uso de terno ou outras roupas "de representação", etc. Estes, sim, fenômenos burgueses. Como eles querem "apressar a passagem da sociedade burguesa para a próxima etapa do desenvolvimento", na sua visão materialista dialética, os bocós incentivam a destruição de tudo o que identificam como "burguês". A família inclusive, a civilidade inclusive.

Ao apresentar com ares de normalidade ou mesmo de "cultura alternativa e mais genuína" – verdadeiros Bons Selvagens de Rousseau! – por exemplo a prostituição e os psicóticos, o alvo é a família. É um alvo negativo, não positivo. Quanto é alcançado o objetivo de bagunçar as relações familiares, como o divórcio o fez, como o sistema pelo qual o único dever de um pai é dar uns caraminguás todo mês para o bebê, os que foram usados como bucha de canhão são deixados de lado. Eles não têm valor intrínseco aos olhos dos neomarxistas frankfurtianos; só servem como arma. Como buchas de canhão, descartadas no próprio ato do tiro.

Na verdade – e isso é perfeitamente previsível e aceito pelos próprios neomarxistas como inevitável e até desejável – o efeito imediato desse tipo de campanha e apresentação é o crescimento, não a diminuição, dos maus-tratos aos que foram usados. O papel deles, na dialética neomarxista, é justamente serem gastos, serem descartáveis, para aumentar os conflitos sociais e assim apressar o fim (que os neomarxistas consideram inevitável e conducente a algo melhor. O prostituto, a pessoa com atração sexual pelo mesmo sexo, etc., servem apenas para desmanchar a família (o que aliás é impossível, por ela ser intrínseca à natureza humana; mas como as antas dos neomarxistas não acreditam em natureza humana, eles não entendem o óbvio); não se busca como um valor em si a equiparação da família de verdade com a convivência sexuada de pessoas do mesmo sexo, assim como não se busca como um valor em si que haja, sei lá, lojas de prostituição masculina nos shoppings. O papel "histórico", no delírio neomarxista, desse pessoal que estaria teoricamente sendo "prestigiado", é apenas confundir, irritar e, depois, ser jogado no lixo quando não for mais útil.

Assim, não se preocupe com a ideia de que o seu filho estaria aprendendo gírias de prostitutos; preocupe-se com o fato de que ele está sendo condicionado a achar que o anormal é normal, de que ele está sendo treinado para ver no desmanche da sociedade em que vive um "passo à frente". O problema é esse, bem mais que algumas palavrinhas esquisitas que nem sei se existem de verdade.

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Agora, no Brasil... sobre filmar aulas, dialeto travesti e pornografia nas escolas


FILMAR AULAS NÃO pode... Minha esposa é professora e, assim como diversos amigos que tenho, também professores, dizem que não se importariam em ter suas aulas filmadas (até para que se mostre a falta de educação de boa parte dos alunos e o desrespeito a que são submetidos diariamente). De fato, é um argumento invencível o de que só pode ter tanto pavor da ideia aqueles que porventura estejam usando da sala de aula para ensinar o que não devem. Por outro lado, colocar questão sobre dialeto secreto de travesti em Exame Nacional do Ensino Médio, aí pode, sem problemas. Afinal, ninguém quer ser taxado de "preconceituoso" ou "homofóbico", não é mesmo?

Polícia na Universidade para fiscalizar denúncia de crime eleitoral, não pode... Mas usar página institucional para propaganda política, trocar ementa do curso por militância "Elenão", criar polícia ideológica autointitulada "Ação antifascista" para perseguir quem votou em Bolsonaro, o novo Presidente da República democraticamente eleito, aí pode.

Alguns conservadores estão lidando com os movimentos de resistência ao totalitarismo psicopedagógico como se vivêssemos em uma pura normalidade que veio a ser perturbada por "polêmicas" como o Escola Sem Partido (quem leu?) e pelas denúncias que o STF veio a público para tentar deslegitimar.

A realidade dos fatos é outra. Vivemos sob o império do culto à devassidão. A escola real é aquela da qual seu filho de sete anos volta implorando para você não votar no Bolsonaro porque ele é contra os negros e é fascista; é aquela em que uma professora desvairada dá aula de educação sexual para crianças de nove anos e expõe suas próprias fotos no Facebook manipulando pênis de borracha e simulando sexo oral em alunos; é aquela em que você se depara com livros paradidáticos indicados pelo MEC em que há um conto no qual o pai resolve se casar com uma de suas filhas ('Enquanto o sono não vem', editora Rocco) ou em que há uma crônica que conta a história de uma criança que vai a um passeio no lago vê uma mulher fazendo sexo oral em um homem ('Nu de botas', de Antonio Prata).

Não há como combater tantos e tão graves abusos sem ferir a fina delicadeza dos nossos tempos, em que a maioria dos homens têm vergonha de ser o que é, de pessoas adultas que sofrem uma epidêmica síndrome coletiva de Peter Pan, querendo permanecer adolescentes a vida inteira; gente tão frágil que não suporta que nenhuma medida um pouquinho mais áspera seja tomada da parte dos que ainda se atrevem a entrar em campo para defender nossos valores sagrados e as nossas crianças, os nossos (verdadeiros) adolescentes e jovens contra a tara ideológica da esquerda.

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