Bento XVI revela que um fator decisivo para a sua renúncia foi a JMJ Rio 2013


O PAPA EMÉRITO Bento XVI explicou, em uma entrevista concedida ao jornal italiano "La Repubblica", que o fator decisivo para apresentar A sua renúncia ao pontificado (em fevereiro de 2013) foi a convicção de que não poderia viajar ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em julho daquele ano.

Na entrevista, o Sumo Pontífice Emérito disse que “tinha duas convicções bem precisas depois da experiência da viagem ao México e a Cuba: já não me sentia capaz de fazer uma viagem tão fatigante. Além disso, com a estrutura que São João Paulo II deu a essas jornadas, a presença física de um Papa era indispensável. Não se podia pensar em uma conexão televisiva ou outras formas respaldadas pela tecnologia”.

Disse ainda o atual Papa Emérito: “Esta era uma circunstância pela qual a renúncia era, para mim, um dever. Tinha finalmente a confiança de que sem a minha presença o Ano da Fé seguiria bem até o fim. A fé, de fato, é uma graça, um dom generoso de Deus para os fiéis”.

Bento XVI explicou que durante a viagem histórica que fez ao México e a Cuba, experimentou os limites da sua resistência: “Sobretudo, me dei conta de que não podia enfrentar no futuro vôos transoceânicos, pelo problema do fuso horário. (...) Naturalmente, falei sobre esses problemas também com meu médico, o Dr. Patrizio Polisca”.

“Ficou claro, deste modo, que não tinha capacidade de participar da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro no verão (europeu) de 2013, já que se opunha claramente o problema do fuso horário”, acrescentou e revelou que, “a partir de então, devia decidir em um tempo relativamente breve a data da minha aposentadoria”.

Nosso Santo Padre o grande Papa Bento XVI –, já Doutor da Igreja –, humilde até o fim; fazendo-se pequeno, reconheceu os seus limites e abriu mão do poder porque desejou sempre e antes de tudo o bem da Igreja, Corpo de Cristo. Suas atitudes o tornam ainda maior.

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Fonte:
ACI Digital, disp. em:
http://www.acidigital.com/noticias/bento-xvi-revela-que-jmj-rio-2013-foi-o-fator-decisivo-para-sua-renuncia-46184/
Acesso 29/8/016
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Congresso em colégio... católico?


UM INDIGNADO LEITOR nosso – e justamente indignado, digamo-lo claramente – cujo nome não estamos autorizados a divulgar, enviou-nos uma sugestão de pauta que a fundo se parece mais com uma denúncia e ao mesmo tempo um desabafo diante de um grande absurdo. Reproduzimos a seguir a íntegra da mensagem deste ex-aluno marista:

Escrevo com verdadeira inconformidade para relatar que um congresso educacional de uma importante congregação religiosa, com diversos colégios (supostamente católicos) no Brasil e mundo  –, a dos Irmãos Maristas –, terá como palestrantes senão um, mas três dos principais expoentes da dita 'teologia da libertação', inúmeras vezes condenada pelo Magistério da Igreja.
Segue abaixo o link da página do referido congresso, com a lista dos seus palestrantes já confirmados:


Contemplem o rol dos palestrantes e julguem os nossos leitores o mérito da questão. Pede ainda o leitor a todos os irmãos católicos, leitores nossos, que não fiquem calados diante de tal afronta à Fé da Igreja. "Como uma congregação católica pode dar voz a pessoas que propagam heresias que tanto mal fizeram à nossa Igreja?", pergunta ao final da sua mensagem.

De nossa parte, em nome de nossa Associação, já enviamos ao Instituto dos Irmãos Maristas a nossa carta de repúdio e indignação. Na própria página do evento, na coluna logo à esquerda há o botão "Fale conosco", que pode ser utilizado para este propósito. Possivelmente seria mais importante ou traria melhor resultato enviar uma carta em papel à diretoria do Instituto, para a sua sede: Rua Irmão José Otao, 11 – Independência, Porto Alegre - RS, CEP.: 90035-060.

Veja também:

** Dom Antônio Rossi Keller, o momento da Igreja e a 'teologia da libertação'

*** Dom Henrique Soares da Costa e a 'teologia da libertação'

**** Padre Paulo Ricardo fala sobre a 'teologia da libertação' e sua influência na Igreja
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Para bilionário Soros, aprovação do aborto na Irlanda seria o primeiro passo contra países católicos


VAZARAM RECENTEMENTE diversos arquivos contendo planos da Fundação Open Society, do globalista magnata George Soros, onde se vê claramente que ele e seu instituto financiam e promovem diversos movimentos de esquerda (sim, os movimentos revolucionários anticapitalistas são financiados por mega-capitalistas) que lutam pela legalização das drogas e legalização do aborto em vários países. O link a seguir remete aos arquivos que contém estes planos: Soros.DCLeaks.Com

Ao acessar o link, haverá diversas opções de regiões onde ocorre a influência de Soros e seu dinheiro; clicando sobre o nome de cada região serão disponibilizados os arquivos com os planos destinados para cada uma.

É óbvio que os globalistas odeiam a Igreja Católica e todos os valores cristãos, porém talvez agora esta realidade tenha se tornado mais evidente do que jamais foi. Soros e outros ricos financiadores do aborto poderiam usar o caso da Irlanda como modelo para mudar as leis pró-vida em outros países católicos, conforme sugere um aparente plano vazado da Fundação Open Society para o período entre 2016 e 2019.

“Com uma das leis de aborto mais restritivas no mundo, uma vitória aí poderia impactar fortemente outros países católicos na Europa, tais como a Polônia, e oferecer a prova tão necessária de que a mudança é possível, inclusive em lugares muito conservadores”, lê-se no documento, que também registra apoio aos esforços pró-aborto no México, Zâmbia, Nigéria e Tanzânia, assim como em outros países da América Latina e Europa. O documento aponta particularmente as proteções constitucionais do direito à vida desde a concepção.

A estratégia da Fundação Open Society (com sede em Nova Iorque, EUA) para o seu programa de "direitos das mulheres" estaria incluída entre os documentos publicados pelo DCLeaks.com. O site assegura que os documentos são da influente fundação internacional criada pelo multimilionário.

Em 2015, a revista Forbes estimou que a riqueza líquida de Soros é de 24,5 bilhões de dólares, colocando-o no posto de 16º homem mais rico dos Estados Unidos. Um dos três temas do programa é conseguir acesso ao "aborto legal", incluindo os esforços para derrogar a Oitava Emenda da Constituição da Irlanda.

A emenda, aprovada em 1983, reconhece “o direito à vida do não nascido e, com a devida consideração ao mesmo direito à vida da mãe, garante em suas leis respeitar e, tanto como seja viável, defender e reivindicar em suas leis esse direito”.

A suposta proposta de estratégia da Fundação Open Society diz que financiará as campanhas Direito ao Aborto, Anistia Internacional Irlanda e Associação de Planejamento Familiar Irlandesa “para trabalhar coletivamente em uma campanha para derrogar a emenda constitucional, concedendo direitos iguais tanto para um embrião implantado como para a mulher que está grávida”.

Cora Sherlock, vice-presidente do grupo irlandês Pro-Life Campaign (Campanha Pró-vida), advertiu que “se for verdade, estas são notícias devastadoras”.

Em declarações ao Grupo ACI, Sherlock indicou que “uma coisa é certa. Aqueles que impulsionam o aborto na Irlanda têm enormes recursos que não tinham há poucos anos. O dinheiro não está sendo arrecadado dos cidadãos irlandeses comuns. Com certeza”.

Para a líder pró-vida irlandesa, o fato de que uma fundação estrangeira “financie e organize grupos na Irlanda para desmantelar a proteção do não nascido no país representaria uma grave interferência e um total desprezo pelos irlandeses”.

Sherlock ainda lamentou que seja “extremamente difícil” para os pró-vida enfrentar estas campanhas, pelo financiamento de quem promove o aborto, e exigiu que estas organizações se pronunciem sobre o aparente financiamento internacional.

“Não é uma surpresa que os grupos pró-aborto internacionais estejam tentando impor sua agenda na Irlanda”, disse, pois “o excelente histórico da Irlanda quanto à segurança de gravidez de mulheres sem recorrer ao aborto é uma importante fonte de vergonha para os promotores do aborto, já que debilita completamente seu argumento de que o aborto ajuda as mulheres de algum jeito”.

A aparente estratégia da fundação de Soros para legalizar o aborto na Irlanda destaca também que a recente aprovação do chamado "casamento gay" naquele país oferece “oportunidades valiosas e oportunas para avançar na campanha”.

Nos próximos três anos de atividade, esperam deter, mitigar e reverter a maré de leis de caráter fetal e emendas constitucionais” e gerar “um conjunto robusto de organizações que avancem e defendam os direitos sexuais e reprodutivos e injetem novas ideias/estratégias no campo”.

A aparente estratégia da fundação de Soros assegura que financiará o grupo pró-aborto "Grupo de Informação em Reprodução Escolhida" (GIRE) do México, e reconhece que já intervêm na International Women’s Health Coalition, no Centro para os Direitos Reprodutivos, na National Advocates for Pregnant Women e Women on Web.

Outros grupos feministas financiados pela fundação do magnata Soros incluem o fundo FRIDA e "O Closet da Irmã Joana", que promove os “direitos sexuais e reprodutivos” de lésbicas e transexuais mulheres.

A Fundação Open Society reportou ao FBI uma violação da sua segurança em junho deste ano. Uma investigação de uma assinatura de segurança teria encontrado que a intrusão se limitou ao sistema da Intranet usado pelos diretores da fundação, assim como sua equipe e sócios.

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Fonte:
ACI Digital, disp. em:
http://www.acidigital.com/noticias/para-milionario-soros-aborto-na-irlanda-seria-primeiro-passo-contra-paises-catolicos-43596/
Acesso22/8/016
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Freiras derrotam mandato abortista de Barack Obama na Suprema Corte

Governo dos EUA queria obrigar religiosas a oferecer esterilizações e distribuir anticoncepcionais, além de outros serviços que contrariam suas convicções religiosas


As sempre felizes Irmãzinhas dos Pobres (ou Little Sisters of the Poor)

UMA CONGREGAÇÃO RELIGIOSA venceu o governo Obama num processo que corria na Suprema Corte do país. Em 2012, o governo norte-americano obrigou todas as empresas e instituições a oferecer plano de saúde aos seus empregados, incluindo controle de natalidade, esterilização e pílulas abortivas. Todavia a Suprema Corte daquele país decidiu recentemente (5/016), por votação unânime, que o governo não poderá multar a Congregação das Irmãzinhas dos Pobres por não obedecer à ordem arbitrária.

A Justiça determinou ainda que tribunais menores ajudem o governo a escolher métodos alternativos para prover serviços, sem exigir a participação das freiras naqueles que contrariem frontalmente a sua fé religiosa, conforme informou a agência ACI Prensa.


Madre Loraine Marie Maguire

As religiosas precisaram lembrar à Justiça o óbvio: que proporcionar tais serviços viola suas crenças. “Tudo o que queremos fazer é servir os mais necessitados entre nós como se fossem o próprio Cristo”, disse a simpaticíssima irmã Loraine Marie Maguire, madre provincial da congregação.

Para Mark Rienzi, conselheiro sênior do Fundo Becket para a Liberdade Religiosa e advogado das religiosas, o fracasso do governo Obama na Suprema Corte, por abir um importante precedente, pode “mudar o jogo” em casos semelhantes. “Essa decisão unânime é uma imensa vitória para as Irmãzinhas, para a liberdade religiosa e para todos os norte-americanos”, disse ele.

Segundo um comunicado de Rienzi, “a Corte eliminou todas as decisões equivocadas dos tribunais menores e protegeu as Irmãzinhas das multas do governo”.

A decisão da Corte é também uma vitória para outros defendidos pelo Fundo Becket, entre os quais estão dioceses, organizações e universidades cristãs.

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Com informações de ACI Prensa, disp. em:
https://www.aciprensa.com/noticias/religiosas-derrotan-mandato-abortista-de-obama-ante-la-corte-suprema-71147/
Acesso 22/8/016
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Fonte:

Portal 'Sempre{Família}, disp. em:
http://www.semprefamilia.com.br/freiras-derrotam-obama-na-justica-e-ganham-direito-de-nao-fazer-abortos-em-seus-hospitais/
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Acesso 22/8/016
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Regnum Dei intra vos est – O Reino de Deus está dentro de vós


Por Felipe Marques – Assoc. São Próspero e Movimento Somar para Vencer

CHESTERTON DISSE, CERTA vez, que a dificuldade que ele tinha em explicar o porquê de ser católico residia no fato de que havia mais de 10 mil razões para tal explicação... Entre estas, cito a seguinte: “(...) a Igreja Católica é a única que (...) assume a grande tentativa de mudar o mundo desde dentro; usando a vontade e não as leis...”[1]

Creio que esse grande autor, que possui o título de Defensor Fidei (Defensor da Fé), para afirmar isto, baseou-se especificamente na seguinte passagem do Evangelho:

“Naquele tempo, os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Ele respondeu: 'O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui, ou: Está ali, pois o Reino de Deus está no meio de vós'".” ² (Lc 17,20-21)

A tradução do grego ἡ βασιλεία τοῦ θεοῦ ἐντὸς ὑμῶν ἐστιν para o português do Brasil desta passagem muitas vezes é equivocada. O uso correto não é exatamente: “está no meio de vós” como muitas vezes se usa, dando sentido de que o Reino de Deus está no meio de um coletivo. O mais correto é que o Reino de Deus está realmente dentro de nós, no interior de cada um! Isso significa que Cristo deve reinar em nosso interior, que Deus deve ser o Rei de nossa morada interior! Se isso acontecer, Cristo reinará no mundo, pois toda mudança exterior deve ser consequência de uma mudança interior e não o contrário.

Essa admoestação dura é extremamente necessária, principalmente nos dias atuais onde vivemos em um mundo de aparências e superficialidade. Sim! Cada católico deve fazer com que Cristo reine em sua vida, em sua alma, em seu coração – metaforicamente falando – para que então o meio à sua volta seja santificado; em outras palavras, é necessário lutar por santidade para que o mundo seja mais católico, para que haja mais fraternidade e paz, pois, como ensina São Josemaria Escrivá: “Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens 'seus' em cada atividade humana. Depois... 'Pax Christi in regno Christi' – a paz de Cristo no Reino de Cristo.” (Caminho, 301)

Toda mudança deve partir do interior do homem que, se configurado à Deus, externará naturalmente o brilho e o “bom odor de Cristo”. Por isso as virtudes são tão importantes e deve ser um objetivo real de cada batizado alcançá-las, lutando até ao derramamento de sangue para vencer os vícios e a concupiscência da carne. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica:

A dignidade da pessoa humana radica na sua criação à imagem e semelhança de Deus (Artigo 1) e realiza-se na sua vocação à bem-aventurança divina (Artigo 2). Compete ao ser humano chegar livremente a esta realização (Artigo 3). Pelos seus atos deliberados (Artigo 4), a pessoa humana conforma-se, ou não, com o bem prometido por Deus e atestado pela consciência moral (Artigo 5). Os seres humanos edificam-se a si mesmos e crescem a partir do interior: fazem de toda a sua vida sensível e espiritual objecto do próprio crescimento (Artigo 6). Com a ajuda da graça, crescem na virtude (Artigo 7), evitam o pecado e, se o cometeram, entregam-se como o filho pródigo (1) à misericórdia do Pai dos Céus (Artigo 8). Atingem, assim, a perfeição da caridade.
(CIC 1700)

Quantas vezes agimos querendo que todos mudem (muitas vezes por razões até justas) porém, não mudamos a nós mesmos? Insistimos nos mesmos pecados que podem ser tidos como de “estimação”, não buscamos a mortificação mas exigimos isso de todas as outras pessoas? Não devemos abandonar a luta, não podemos desistir da santidade! Ser santo não é nunca ter pecado, é antes reconhecer-se necessitado da Graça de Deus, ser levantado por Ele (principalmente através do Sacramento da Confissão) e lutar para nunca mais cair. É uma caminhada de quedas e tropeços onde o ser humano nunca está sozinho, pois Deus está sempre com ele.



A mudança interior e a aquisição de virtudes não acontecem da noite para o dia; são um processo onde a pessoa deve ser paciente consigo mesma e com os demais, e deve lutar para, através dos seus bons hábitos, criar bons costumes que sejam impulsos naturais para boas ações. Tudo isso por amor ao Cristo e sua Santa Igreja e não por motivos pessoais e egoístas, pois, infelizmente muitos desejam ser perfeitos não porque Deus nos quer assim, mas porque querem vangloriar-se de sua própria perfeição.

Além do que foi dito acima, quero utilizar-me de mais uma passagem do Evangelho para que as coisas fiquem mais claras:

O Reino dos Céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. ”
(Mt 13, 44)

Para possuir esse incomparável Tesouro, o homem sábio de imediato se prontifica a desfazer-se de tudo o mais que possui. O mesmo exemplo pode ser utilizado também para tudo o que foi apresentado até aqui, pois, como diz Santo Agostinho:

Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro, e eu fora. Eu estava, Senhor, longe de Ti, porque estive longe de mim. Eu te procurava nas formosuras que criastes, chora o bispo de Hipona, Tu porém nunca me deixastes; eu é que me esqueci de Ti e procurei-te onde não estavas. [2]

Que possamos vender tudo o que temos, abrir mão de tudo o que nos afasta de Deus para podermos enfim, pertencer ao Bom Pastor! Para alargar as fronteiras do Reino dos Céus na terra é necessário que primeiro essas fronteiras tenham sido alargadas dentro de mim, dentro de você, caro leitor. É necessário que cada um seja de Cristo para que o mundo seja de Cristo; é necessário que Jesus viva dentro de nós para dizermos com o Apóstolo: “Não sou eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20)!

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Ref.:
1. CHESTERTON, G. K. "Por que sou católico". Grupo Chesterton Brasil, traduzido por Antonio Emilia Angueth de Araujo. - do site Chesterton Brasil
2. Confissões X, 27
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A Igreja e o Islã, uma crítica da Evangelii Gaudium – conclusão

Tradução de João Marcos – Associação São Próspero



** Ler a primeira parte deste artigo

Pontos que precisam de clarificação

Vamos aos pontos que demandam esclarecimentos. No parágrafo 252, o Papa cita um famoso documento do Concílio Vaticano II, a constituição Lumen Gentium, quando diz que “professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia”.

1. Os islâmicos “conosco adoram o Deus único e misericordioso” (parágrafo 252)

É preciso cautela neste ponto. É verdade que os islâmicos adoram o Deus único e misericordioso, no entanto, esta frase sugere que as duas concepções de Deus são iguais. No Cristianismo Deus é a Trindade, a pluralidade unida no amor: Ele é um pouco mais que clemência e misericórdia. Nós temos concepções bem diferentes de Deus: os islâmicos pensam Deus como inacessível, enquanto a visão cristã da Trindade enfatiza que Deus é Amor que se comunica: Pai e Filho e Espírito Santo, ou Amante - Amado - Amor, segundo Sto. Agostinho.

Além do mais, o que significa a misericórdia do Deus islâmico? Ele tem misericórdia de quem ele quer, mas não daqueles que pecam contra ele. “Para que Allah pudesse agraciar com sua misericórdia quem Lhe aprouvesse”: estas expressões estão, quase que literalmente, no Antigo Testamento, mas nunca concluem dizendo que “Deus é amor” , como disse S. João.

A misericórdia do Deus islâmico é aquela do homem rico que dá esmola ao pobre. Já o Deus cristão é Aquele que se rebaixa a si mesmo ao nível do pobre para elevá-lo; Ele não exibe a sua riqueza para ser respeitado (ou temido) pelos pobres, mas Ele dá a si mesmo para que os pobres vivam.

2. “Os escritos sagrados do Islã conservam parte dos ensinamentos cristãos” (parágrafo 252)

Esta é uma verdade ambígua. É verdade que os islâmicos conservam palavras ou fatos dos evangelhos canônicos, como a história da Anunciação, que é praticamente transcrita nos capítulos 03 (A Família de Inran) e 19 (Maria).

Mas o Corão se inspira mais frequentemente nas histórias piedosas dos evangelhos apócrifos, e assim não conseguem extrair deles seu sentido teológico, não por malícia, mas porque estes evangelhos não contêm a visão geral da mensagem cristã.

3. A figura de Cristo no Corão e nos Evangelhos (parágrafo 252)

O documento diz que no Corão, “Jesus Cristo e Maria são objeto de profunda veneração”. Na verdade, Jesus não é venerado na tradição islâmica. É Maria quem é venerada, especialmente pelas mulheres islâmicas.

A ausência de veneração por Cristo é provavelmente explicada pelo fato que, no Corão, Jesus é um profeta famoso por seus milagres em favor dos pobres e doentes, mas Ele não tem o mesmo status que Maomé. Apenas os místicos têm alguma devoção por Ele, bem como ao que eles chamam de “Espírito de Deus”.

O fato é que tudo que é dito sobre Jesus no Corão é o exato oposto dos ensinamentos cristãos. Ele não é o Filho de Deus, mas um profeta. Ponto. Ele não é nem mesmo o último dos profetas, porque o “último dos profetas” é Maomé . A revelação cristã é vista apenas como um passo na direção da revelação definitiva trazida por Maomé, ou seja, o Islã.

4. O Islã se opõe a todos os dogmas fundamentais do Cristianismo

A figura de Cristo como Segunda Pessoa da Trindade é condenada. No Corão está escrito sobre os cristãos:

Ó adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos Céus e na Terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião.

Assim, Deus salvou Jesus dos pecados dos judeus, mas Cristo não salvou o mundo! Em resumo, o Corão e todos os islâmicos negam o núcleo da fé cristã: a Trindade, a Encarnação e a Redenção. É preciso dizer que eles estão em seu direito, mas você não pode dizer que “os escritos sagrados do Islã conservam parte dos ensinamentos cristãos”. Você pode simplesmente falar do “Jesus do Corão”, que não tem nenhuma semelhança com o Jesus dos Evangelhos .

O Corão menciona Jesus porque ele pretende completar a revelação de Cristo para exaltar Maomé. Além do mais, o que Jesus e Maria fazem no Corão não é nada além de rezar e jejuar de acordo com o Corão. Maria certamente é a mais bela figura dentre todas do Corão: ela é a Virgem, que homem algum tocou. Mas ela não pode ser a Theotokos (Mãe de Deus), e sim apenas uma "boa islâmica".

5. Ética no Islã e no Cristianismo (n. 252)

A última frase desse parágrafo da Evangelii Gaudium diz sobre os islâmicos: “Reconhecem também a necessidade de Lhe responder com um compromisso ético e com a misericórdia para com os mais pobres”. Isto é verdade. A compaixão com o pobre é um requisito do Islã. Mas existem, em minha opinião, duas diferenças entre a ética islâmica e a ética cristã.

A primeira é que a ética islâmica não é sempre universal. Frequentemente ela é uma questão de solidariedade com a comunidade islâmica, enquanto, de acordo com a tradição cristã, a solidariedade é universal. Por exemplo: quando um desastre natural atinge uma região do mundo, os países cristãos enviam ajuda independente da religião do país atingido, enquanto países islâmicos ricos (como a Arábia Saudita) não fazem isso.

A segunda é que a ética islâmica é legalista. Aqueles que não jejuam no mês do Ramadan são considerados criminosos e acabam presos (em vários países). Se você jejua, do amanhecer ao anoitecer, você é perfeito, mesmo que você coma do pôr-do-sol até o nascer do dia seguinte, e coma mais e melhor do que o normal: “Os melhores alimentos, em imensa quantidade”, como me diziam alguns amigos egípcios muçulmanos. O jejum do Ramadan perde todo o sentido se ele se torna o período em que os islâmicos comem mais, e comem as melhores coisas. No dia seguinte, dado que ninguém dormiu porque passaram a noite toda comendo, ninguém trabalha. Entretanto, do ponto de vista formal, todos eles jejuaram por várias horas. É uma ética legalista: se você fizer X, você está correto. É uma ética exterior.

Já o jejum cristão pretende nos aproximar do Sacrifício de Cristo, em solidariedade com os pobres, e não permite comermos em outro período para “compensar” o jejum.

Para o Islã, enquanto os fiéis observarem a lei islâmica, tudo está em ordem. O fiel nunca procura ir além da lei. A justiça é requerida pela lei, mas nunca é superada. É por isso que não existe no Corão a obrigação de perdoar, enquanto no Evangelho Jesus nos diz para perdoar um número infinito de vezes. No Corão a misericórdia nunca chega a ser amor.

O mesmo se aplica à poligamia: você pode ter até 4 esposas. Se eu quero ter uma quinta esposa, tudo que eu preciso é repudiar uma das outras esposas, talvez a mais velha, e me casar com a mais nova. E como eu me mantive com 4 esposas durante todo o tempo, tudo isso é perfeitamente legal.

O Corão se opõe ao Cristianismo em relação ao homossexualismo. Todas as religiões consideram o homossexualismo pecado, mas para islâmicos é também um crime, punido com a morte. No Cristianismo isso é pecado, não crime. O motivo é óbvio: o Islã é um sistema religioso, cultural, social e político; uma visão integral da realidade. Isso é afirmado várias vezes no Corão. O Evangelho, por sua vez, claramente distingue as dimensões espirituais e éticas da vida sociocultural e política.

O mesmo acontece com a pureza, como Cristo ensina aos fariseus: “Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem”.

6. “...os fundamentalismos de ambos os lados” (n. 250 e 252)

Finalmente, existem dois pontos que eu gostaria de criticar. O primeiro é onde o Papa ajuntou todos os fundamentalismos. No parágrafo 250 ele diz: “Uma atitude de abertura na verdade e no amor deve caracterizar o diálogo com os crentes das religiões não-cristãs, apesar dos vários obstáculos e dificuldades, de modo particular os fundamentalismos de ambos os lados”.

O outro ponto é a conclusão da seção sobre as relações com o Islã: “Frente a episódios de fundamentalismo violento que nos preocupam, o afeto pelos verdadeiros crentes do Islã deve levar-nos a evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islã e uma interpretação adequada do Alcorão opõem-se a toda a violência” (n. 253).

Pessoalmente eu não colocaria os dois fundamentalismos no mesmo nível: fundamentalistas cristãos não carregam armas; o fundamentalismo islâmico é criticado primeiramente pelos próprios muçulmanos, porque esse fundamentalismo armado tenta reviver o modelo maometano. Maomé lutou mais de 60 guerras, e se ele é o modelo perfeito (como diz o Corão 33:21), não surpreende que alguns islâmicos usem de violência para imitar o fundador do Islã.

7. Violência no Corão e a vida de Maomé (n. 253)

Finalmente, o Papa menciona a violência no Islã. No parágrafo 253 ele escreve: “O verdadeiro Islã e uma interpretação adequada do Alcorão opõem-se a toda a violência”.

É uma bela frase, que expressa uma atitude extremamente benevolente do Papa com o Islã. Entretanto, em minha humilde opinião, ela expressa mais um desejo do que uma realdade. Pode ser verdade que a maioria dos islâmicos se oponham à violência, mas dizer que “o verdadeiro Islã se opõe a qualquer violência” não parece verdade: há violência no Corão. Portanto, a frase do Papa precisa de muitas explicações.

[Nota do editor: objetivamente falando, não é verdade que a maioria dos islâmicos se opõem à violência; diversas pesquisas e censos internacionais demonstram este fato concreto, e até os próprios islâmicos o reconhecem, como se pode ver neste vídeo de Razeel Haza, jornalista paquistanesa radicada no Canadá. Este, na realidade, é um dos maiores obstáculos para a adoção de medidas eficientes contra o terrorismo e a extrema violência praticada em nome do Islã: a recusa dos grandes líderes mundiais – como se vê, até mesmo do Papa – em reconhecer um fato simples e evidente]

É o bastante ler os capítulos 02 e 09 do Corão.

(O que o Papa diz sobre uma 'interpretação adequada' do Islã é verdadeiro. Alguns teólogos escolheram esse caminho, mas não são muitos o bastante para contrariar o poder da maioria. Essa minoria de teólogos está tentando reinterpretar textos corânicos que falam de violência, mostrando que eles se referem ao contexto da Arábia daquela época e à visão político-religiosa de Maomé)[1]

Se o Islã pretende continuar com a visão dos tempos de Maomé, então sempre haverá violência. Mas se o islã – e existem alguns místicos que fizeram isso – pretende alcançar uma espiritualidade mais profunda, a violência não é aceitável.

O Islã está numa encruzilhada: ou é uma religião para a política e a organização política da sociedade, ou uma religião para inspirar a viver e amar mais plenamente.

Aqueles que criticam o Islã pela sua violência não fazem uma generalização injusta, como provam os conflitos sangrentos do mundo Islâmico.

Aqui no Oriente nós compreendemos muito bem que o terrorismo islâmico é religioso, com citações, orações e fatwas de imãs que encorajam a violência. O fato é que não existe uma autoridade central islâmica para conter essa manipulação. Isto significa que cada imã é considerado um mufti, isto é, uma autoridade nacional que pode julgar inspirado pelo Corão ou ordenar execuções.


Conclusão – Uma 'interpretação adequada' do Corão

O ponto realmente importante é a “interpretação adequada”. No mundo islâmico, o debate mais caloroso – e mais proibido – é precisamente sobre a interpretação do livro sagrado. Islâmicos acreditam que o Corão foi revelado a Maomé completo, do jeito que conhecemos. Existe o conceito de inspiração do texto sagrado, que deixa margem à interpretação do elemento humano presente na Palavra de Deus.

Vejamos um exemplo. Nos tempos de Maomé, das tribos que viviam no deserto, a punição a um ladrão era a amputação das suas mãos. Qual o propósito dessa prática? Impedir que o ladrão roubasse novamente. Então devemos perguntar: como podemos preservar esse propósito hoje, impedindo o ladrão de roubar? Podemos adotar outros métodos ao invés da amputação das mãos?

Todas as religiões de hoje têm esse problema: como reinterpretar os textos sagrados, que têm valor eterno, mas foram escritos há séculos ou até milênios?

Quando encontro amigos islâmicos, eu sempre explico que hoje devemos nos perguntar qual o “propósito” (maqased) das indicações do Corão. Os juristas e teólogos islâmicos dizem que você deve procurar pelos “propósitos da lei de Deus” (maqasid al-shari’a). Esta expressão corresponde ao que nós, cristãos, chamamos de “espírito do texto”, comparado à “letra”. Devemos buscar o propósito do texto sagrado do Islã.

Vários teólogos islâmicos falam sobre a importância de descobrir “o propósito” dos textos corânicos para ajustá-los ao mundo moderno. E isto, me parece, é muito parecido com o que o Santo Padre quis dizer ao escrever sobre a “interpretação adequada” do Corão.

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1. Nota do Editor: parece evidente que um aspecto essencial envolvido neste último tópico foi deixado em aberto pelo autor. Refiro-me ao questionamento que certamente se fará, da parte dos islâmicos, quanto à autoridade do Papa, líder da Igreja Católica, em apontar a 'interpretação adequada' do Corão. Ora, realisticamente falando, mesmo que alguns autores islâmicos concordem com o Santo Padre, quais as chances de os grupos que adotam interpretações mais radicais (que lamentavelmente, como já demonstramos, são maioria), venham a mudar de opinião mediante uma exortação do Pontífice dos cristãos? Mal comparando, isto seria o mesmo que o Magistério da Igreja resolver reavaliar algumas das suas interpretações doutrinais das Sagradas Escrituras, definidas dogmaticamente, baseado na opinião de algum imã islâmico.

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• O texto de Samir Khalil Samir foi publicado originalmente pela agência internacional Asia News, e encontra-se disponível em:
http://www.asianews.it/news-en/Pope-Francis-and-his-invitation-to-dialogue-with-Islam-29858.html
Acesso 17/8/016.
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A Igreja e o Islã, uma crítica da Evangelii Gaudium – parte I

Introdução e tradução por João Marcos – Associação São Próspero

DIANTE DA ONDA de atentados terroristas cometidos por islâmicos, julgo oportuno traduzir um texto sobre a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, um dos primeiros documentos escritos pelo Papa Francisco. O texto trata de esclarecer algumas afirmações sobre o Islã feitas na Exortação, afirmações estas que confundem o entendimento dos católicos sobre a religião islâmica. Para não cometer nenhuma injustiça, achei por bem traduzir todo o texto, e não apenas a sua parte crítica. O autor do texto é o padre jesuíta egípcio Samir Khalil Samir, especialista em Islã e Oriente Médio, professor por 12 anos do Pontifício Instituto Orientale em Roma. Mora no Líbano há 30 anos[1].



Samir Khalil Samir

Segundo a Evangelii Gaudium o Deus “compassivo e misericordioso” islâmico seria o mesmo Deus Trindade que adoramos. E Jesus e Maria, são os mesmos no Corão? O fundamentalismo cristão é igual ao fundamentalismo islâmico? 

Beirute – A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium é apresentada como o programa pastoral do Papa Francisco. Ela revela a alma aberta, amigável, positiva e alegre deste Papa na sua missão de espalhar a mensagem cristã no mundo atual. 

Pela minha experiência de contato constante com o Oriente Médio, eu fiquei muito impressionado com a seção sobre diálogo inter-religioso (parágrafos 250-254). Mas depois de reler e analisar essas passagens algumas vezes, especialmente aquela destinada ao Islã (252-253), eu pretendo destacar alguns pontos importantes, ao mesmo tempo em que abordo alguns aspectos problemáticos da relação com o Islã. Na Evangelii Gaudium, o Papa é muito otimista sobre o que é realmente benéfico em nossa sociedade globalizada.


Exigências de um diálogo genuíno

1. Amor e Verdade (n. 250)

A primeira coisa que deve caracterizar as relações com outras religiões está no parágrafo 250: “Uma atitude de abertura em verdade e amor”. Isto é importante porque vivemos num mundo globalizado, em contato frequente com outras religiões. O Papa sublinha que o caminho correto para dialogar requer amor e verdade: não existe amor em tomar posições inflexíveis, não existe verdade em diálogos ambíguos e vagos. Esta é a atitude correta, frequentemente em falta hoje em dia.

2. Diálogo e Anúncio (n. 251)

O mesmo tema está no n. 251: “Neste diálogo, sempre amável e cordial, nunca se deve descuidar o vínculo essencial entre diálogo e anúncio”.

Algumas vezes, ao dialogar, quando chega a hora do anúncio parece que nossos parceiros se desagradam, acusando-nos de fazer proselitismo. Mas isso não tem nada a ver com proselitismo, e sim com amor: é por amor que eu proclamarei a boa notícia que me liberta e me dá a felicidade. E você também deve me oferecer o bem que há em sua fé. Temos que evitar artimanhas, argumentos e práticas que visam conquistar o outro, e passar a dar testemunho da verdade.

Além do mais, os termos “proclamação” e “boa notícia” estão na Bíblia e no Corão. “Boa notícia”, do grego euanghelos, é encontrada em Isaías, Marcos, Lucas... No Corão, encontramos o verbo bashshara, ou seja, “trazer as boas notícias”. É dito frequentemente que Maomé foi enviado para “trazer as boas notícias” (mubashshiran). E é Cristo, de acordo com o Corão, que diz aos israelitas: “Eu vim para trazer as boas notícias (mubashshiran) de um profeta que virá depois de mim, chamado Ahmad”. Os islâmicos interpretam “Ahmad” como Maomé .

O ato de trazer boas notícias é tabshir em árabe, e é uma função típica de profetas. Islâmicos usam essa palavra para criticar os cristãos, acusados de fazer tabshir no sentido de proselitismo, distorcendo o significado da palavra árabe. O verso 61,6 do Corão é frequentemente citado como prova de que o próprio Jesus anunciou a vinda de Maomé. O proselitismo deve ser criticado, porque é um meio de conquistar uma pessoa com truques. Mas a proclamação é o propósito da fé que me libertou, e você, por sua vez, deve proclamar sua verdade a mim.

Cada um de nós está convencido de que trazemos as “boas novas” à humanidade. O islâmico, a comunidade islâmica, têm a obrigação de propagar o Islã através da Da’wa, do “chamado” para se tornar islâmico, de forma que todo estado islâmico tem um ministro de Da’wa. Da mesma forma, o cristão e a comunidade cristã têm a obrigação de proclamar a fé, de convidar outros a descobrir o Evangelho (as Boas Notícias). Compreendida corretamente, a proclamação é um ato de amor pelo outro. É por isso que o Papa nos chama a proclamar o Evangelho em diálogo, num gesto de amor e verdade. Já o sincretismo não respeita nem o amor, nem a verdade. Por isso o Papa condena o sincretismo: “Um sincretismo conciliador seria, no fundo, um totalitarismo”.

3. Acolher os imigrantes islâmicos (n. 253)

O Papa falou corajosamente: “Nós, cristãos, deveríamos acolher com afeto e respeito os imigrantes do Islã que chegam aos nossos países”. Esta é a consequência do “amor e verdade”: devemos acolher os imigrantes, não fechar nossas fronteiras com acontece frequentemente no Ocidente.

Ele mesmo deu o exemplo ao ir à Lampedusa, em julho de 2013, onde fez um discurso que começa com as seguintes palavras: “Emigrantes mortos no mar; barcos que em vez de ser uma rota de esperança, foram uma rota de morte. Assim recitava o título dos jornais. Desde há algumas semanas, quando tive conhecimento desta notícia (que infelizmente se vai repetindo tantas vezes), o caso volta-me continuamente ao pensamento como um espinho no coração que faz doer. E então senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor”

4. Os países islâmicos devem acolher os cristãos (n. 253)

Ao mesmo tempo, o Papa diz (no parágrafo 253): “Rogo, imploro humildemente a esses países que assegurem liberdade aos cristãos para poderem celebrar o seu culto e viver a sua fé, tendo em conta a liberdade que os crentes do Islão gozam nos países ocidentais”.

O Papa teve coragem de dizer aos países mais ricos do mundo, Arábia Saudita e alguns países do Golfo, a garantir liberdade de culto. Mas ele não menciona liberdade de consciência ou de conversão. A liberdade de culto é importante, visto que há mais de 2 milhões de cristãos na Península Arábica sem direito de ter ao menos sua própria capela!

Parece-me óbvio que a liberdade de consciência é garantida em todos os países ocidentais. Cedo ou tarde teremos de pedir liberdade de consciência até mesmo nas nações islâmicas: esta é a condição para uma verdadeira coexistência, respeitosa do indivíduo, em verdade e amor.


O propósito do diálogo

1. A serviço da paz (n. 250)

O propósito do diálogo inter-religioso é garantir a paz no mundo: “Este diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos e também para outras comunidades religiosas.” Mais adiante o Papa continua: “Com este método, poderemos assumir juntos o dever de servir a justiça e a paz, que deverá tornar-se um critério básico de todo o intercâmbio”. Serviço é um dever, particularmente o serviço da paz e justiça. É um dever a todos os cristãos.

Na minha opinião, a palavra “juntos” é muito importante. Diálogo não é “eu falo e você escuta” e depois “você fala e eu escuto”, mas é nos colocarmos “juntos” a serviço da paz e da justiça. Esta é a visão prática e pastoral do Papa.

Finalmente, o uso das palavras “justiça” e “paz” é notável. Não se pode alcançar a paz sem justiça. Enquanto alguém se sentir injustiçado não haverá paz. Penso no conflito entre palestinos e israelenses. Os primeiros pensam que o fato de uma grande parte do seu território, onde eles viveram por séculos, ter sido tomada deles, sem culpa de sua parte, e dada a outros, é uma injustiça. Enquanto essa injustiça não for reconhecida e reparada, não haverá paz!

2. Aceitar as diferenças de cada um (ns. 250-252)

Uma consequência prática desse diálogo é o respeito pelas diferenças.

Ele diz no parágrafo 250: “Assim aprendemos a aceitar os outros, na sua maneira diferente de ser, de pensar e de se exprimir”. Este aceitar das diferenças é, para mim, crucial. Por ele, “ambas as partes encontram purificação e enriquecimento.”

O diálogo não deve ser usado para atacar o outro, ou humilhá-lo, mas para me purificar e enriquecer. A diferença é vista de um ângulo positivo.

Este tema aparece várias vezes. Por exemplo, ao falar dos islâmicos, o Papa diz algumas coisas muito positivas: “É admirável ver como jovens e idosos, mulheres e homens do Islã são capazes de dedicar diariamente tempo à oração e participar fielmente nos seus ritos religiosos” (n. 252).

Como cristãos, devemos aprender deles a devotar tempo à oração. O Papa enfatiza a positividade do testemunho islâmico diante de um certo relaxamento da Cristandade Ocidental.

Ele elogia também a religiosidade islâmica, sua dependência de Deus: “Muitos deles têm uma profunda convicção de que a própria vida, na sua totalidade, é de Deus e para Deus”. Isto devia servir de exemplo ao Ocidente, tentado pelo individualismo.

No parágrafo 253, o Papa lembra uma condição para o diálogo: “Para sustentar o diálogo com o Islã é indispensável a adequada formação dos interlocutores, não só para que estejam sólida e jubilosamente radicados na sua identidade, mas também para que sejam capazes de reconhecer os valores dos outros, compreender as preocupações que subjazem às suas reivindicações e fazer parecer as convicções comuns”.

O que o Papa diz do Islã é verdadeiro, e é vivenciado por muitos islâmicos. Por exemplo, muitos deles levam as orações bem a sério. Poucos dias atrás eu estive com uma família islâmica de Tripoli, no Líbano. Toda a família – pais e 2 filhos – respeitava os horários de oração. Foi apenas em respeito a mim que eles não interromperam suas atividades para rezar. Mas o seu celular sempre tocava na hora da oração, para lembrá-los do momento.

O sentimento religioso é mais forte entre os islâmicos do que entre os cristãos. E Bergoglio enfatiza esses aspectos positivos do Islã para corrigir omissões entre os cristãos.




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1. Nota do Editor: conforme explicado pelo autor, este é um artigo opinativo sobre um documento papal. As opiniões aí expressas não estão diretamente ligadas aos dogmas ou à Doutrina da Igreja; também não representam, necessariamente, as opiniões do nosso apostolado. Por se tratar de assunto tão espinhoso e delicado, sabemos bem que a polêmica é inevitável. As considerações de Samir Khalil Samir servem, entretanto, como válidos pontos de partida para uma reflexão mais madura a respeito dos pontos essenciais contidos nesta Exortação apostólica.
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O renascimento que ninguém esperava – o catolicismo ganha novo fôlego no Reino Unido

Com uma nova catedral, novas ordenações e novos Oratórios, estaria a Igreja Católica na Inglaterra entrando em um tempo de renovação?


– Cena do filme Henrique V –

QUE A FÉ CRISTÃ atravessa um péssimo momento em toda a Europa, isto não é segredo para nenhum católico minimamente informado. Ainda assim, apesar de toda a tragédia da situação, Nosso Senhor parece ouvir as súplicas de sua Mãe Santíssima e vem dando sinais de ainda manter a sua Mão misericordiosa estendida sobre o Velho Continente. As notícias nos dão um panorama de um movimento ainda modesto, mas firme e crescente, que se mantém na direção de uma renovação, como se pode perceber nos dados abaixo:

• Os católicos britânicos verão, em breve, a idílica e histórica cidade de Preston ainda mais bela com a edificação de uma nova catedral (para os católicos siro-malabares), que há longa data vinha sendo esperada.

• Em junho último (2016), a ordenação de um diácono na Diocese de Southwark atraiu manchetes em publicações católicas de todo o mundo: a vocação de Joice James Pallickamyalil é um belíssimo fruto do programa de formação da Universidade de St Mary. 

• No mês passado uma nova Eparquia católica para a Grã-Bretanha – que é uma espécie de diocese sem fronteira – foi anunciada. 

Tudo isso a partir de uma comunidade britânica siro-malabar de aproximadamente 40 mil membros que, até recentemente, a maioria dos católicos daquele país nem sequer sabia que existia. 


Católicos siro-malabares (de origem indiana e que segundo a Tradição tem origem na evangelização de São Tomé) são fiéis e vivem a fé da Igreja ativamente. Ganharão uma catedral em Preston, Reino Unido

• Todo segundo sábado do mês, cerca de 3 mil almas convergem para um centro de convenções em West Bromwich, onde permanecem por um dia, com a récita do Terço, celebração da Santa Missa, adoração do Santíssimo Sacramento e a participação da catequese em dois idiomas. Este é certamente o maior encontro regular de católicos em toda a Grã-Bretanha. Um evento realizado na arena de Nottingham, em julho passado e organizado pelo mesmo grupo – o SehionUK – atraiu mais de 5.000 pessoas.

Disse o correspondente do "Catholic Herald": "Estamos vendo os primeiros frutos de um verdadeiro ressurgimento, talvez até mesmo uma ressurreição (com tudo o que isso implica), do catolicismo britânico".

• Outro exemplo é a Escola da Anunciação, em Buckfast, Devon, um dos vários novos (ou renovados) estabelecimentos educacionais que tomam a fé católica muito a sério.

• Enquanto isso, em Orkneys (Norte da Escócia), a congregação dos Irmãos do Santíssimo Redentor foi aprovada como Instituto de Direito Diocesano pelo bispo Hugh Gilbert, no início deste ano, estando já reconciliados com Roma desde 2008 (um movimento que, se os relatórios recentes vierem a se concretizar, podem ter pavimentado o caminho para um possível regresso definitivo da FSSPX).

• Falando da vida religiosa no Norte, há as Congregações das Irmãs do Evangelho da Vida, em Glasgow (estabelecida no ano 2000), a dos Irmãos de Santo Ambrósio e São Carlos, em Carlisle (estabelecida em 2014), dois novos Oratórios em York e Manchester (e outro a caminho de ser reconhecida em Bournemouth) e três freguesias históricas que vem ganhando força, por dois grupos tradicionalistas: o Instituto de Cristo Rei (Preston, New Brighton) e o da Fraternidade Sacerdotal são Pedro (FSSP - Warrington).

Novas catedrais, novos centros de aprendizagem, novas ordens religiosas... Soa como um tempo de renovação católica em pleno coração da Europa?

Parece temerário ou imprudente, eu sei, falar de renovação e ressurreição em um momento de fechamento de paróquias e estatísticas desanimadoras em todo o Velho Continente. É verdade que todo e exposto até aqui pode parecer uma débil esperança em comparação com os quatro milhões de católicos de berço que não frequentam mais a Igreja. Mas, embora isso possa soar como loucura, períodos de renovação sempre começam no meio da crise; o próprio reconhecimento de que algo precisa ser feito, e com urgência, é muitas vezes o que inspira e energiza. E como Chesterton certa vez observou, ser católico nos liberta de restringir nossos horizontes ao presente. 

Segundo o Catholic Herald, para a maioria dos católicos britânicos, os problemas pastorais de hoje são o fruto dos erros graves que vieram e continuam ocorrendo há décadas e se intensificaram após o CVII (embora não tenham sido necessariamente causados por este). A julgar pelo que está ocorrendo agora, então, poderíamos dizer que daqui há algumas décadas um novo amanhecer poderá surgir de fato.

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Fonte:
The Catholic Herald, disp. em:
http://www.catholicherald.co.uk/issues/august-12th-2016/the-revival-no-one-expected/
Acesso 12/8/016
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Mulher recupera a visão por intercessão de São Charbel


SÃO CHARBEL (Charbel Makhlouf – 8 de maio de 1828 - 24 de dezembro de 1898), monge maronita canonizado pelo Beato Papa Paulo VI, terá logo um santuário em sua honra em Phoenix (EUA), consequência da grande devoção que segue crescendo entre os fiéis, especialmente depois que Dafne Gutiérrez, por sua intercessão, recentemente (janeiro/2016) recuperou a visão de maneira milagrosa.


Dafne Gutiérrez

A impressionante cura dessa mulher cega vem fazendo com que a reputação de cura do santo eremita se espalhe por todo o mundo. Sobre o caso, disse a médica Dra. Anne Borik: “Fizemos tudo o que foi possível para explicar o caso de Dafne e devemos nos perguntar: pode ser explicado medicamente? A resposta é que não temos uma justificação médica para explicar como ela pôde estar completamente cega num dia e, em seguida, 48 horas depois, ter recuperado a visão”.

Um dia depois de visitar uma relíquia sagrada associada ao santo, Dafne acordou com os olhos coçando muito e sentindo uma espécie de pressão na região da cabeça e olhos. Ao abri-los, enxergou o brilho de uma lâmpada(!). Espantada, gritou para o marido: "Eu posso ver! Eu posso ver!".

Diagnosticada com a idade de 13 anos, Gutierrez desenvolveu um papiledema (inchaço do disco óptico) no final do nervo óptico. A cirurgia para corrigir a malformação foi inútil. No outono de 2014, ela perdeu o uso de seu olho esquerdo, que vinha enfraquecendo gradualmente. Em novembro de 2015, o olho direito também estava perdido, e assim ela mergulhou na total e irreversível escuridão. Nem mesmo olhando o sol diretamente ela era capaz de enxergar qualquer coisa. Um relatório médico atestou que a sua cegueira era incurável e que ela necessitaria de assistência médica permanente. Dafne vinha considerando a possibilidade de ir viver em um asilo de cegos, porque não queria ser um fardo para a sua família.

A relíquia de São Charbel, que já percorreu as diversas paróquias desde o início de outubro de 2015, é composto por uma amostra de osso mantido em uma caixa de cedro. Esta peregrinação marca o 50º aniversário da beatificação dos santo libanês.

O anúncio da construção do santuário foi feito pelo sacerdote de origem libanesa, Pe. Wissam Akiki, que dirige a igreja católica de culto maronita S. Joseph, em Phoenix. “Ontem completou um mês que eu toquei na relíquia e que Deus finalmente me escutou”, disse Dafne à rede Univisión.

___
Fontes:
• Asia News, disp. em:
http://www.asianews.it/news-en/The-healing-of-a-blind-woman-broadens-Saint-Charbel%E2%80%99s-fame-to-the-United-States-36565.html
Acesso 12/8/016
• ACI Digital, dip. em:
http://www.acidigital.com/noticias/mulher-recupera-visao-por-intercessao-de-santo-e-constroem-santuario-em-sua-honra-99457/
Acesso 12/8/016
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Mulher recupera a visão por intercessão de São Charbel


SÃO CHARBEL (Charbel Makhlouf – 8 de maio 1828 - 24 dezembro 1898), monge maronita canonizado pelo Beato Papa Paulo VI, terá logo um santuário em sua honra em Phoenix (EUA), consequência da grande devoção que segue crescendo entre os fiéis, especialmente depois que Dafne Gutiérrez, por sua intercessão, recentemente (janeiro/2016) recuperou a visão de maneira milagrosa.


Dafne Gutiérrez

A impressionante cura de uma mulher cega vem fazendo com que a reputação de cura do santo eremita se espalhe por todo o mundo. Sobre o caso, disse a médica Dra. Anne Borik: “Fizemos tudo o que foi possível para explicar o caso de Dafne e devemos nos perguntar: pode ser explicado medicamente? A resposta é que não temos uma justificação médica para explicar como ela pôde estar completamente cega num dia e, em seguida, 48 horas depois, ter recuperado a visão”.

Um dia depois de visitar uma relíquia sagrada associada ao santo, Dafne acordou com os olhos coçando muito e sentindo uma espécie de pressão na região da cabeça e olhos. Ao abri-los, enxergou o brilho de uma lâmpada(!). Espantada, gritou para o marido: "Eu posso ver! Eu posso ver!".

Diagnosticada com a idade de 13 anos, Gutierrez desenvolveu um papiledema (inchaço do disco óptico) no final do nervo óptico. A cirurgia para corrigir a malformação foi inútil. No outono de 2014, ela perdeu o uso de seu olho esquerdo, que vinha enfraquecendo gradualmente. Em novembro de 2015, o olho direito também estava perdido, e assim ela mergulhou na total e irreversível escuridão. Nem mesmo olhando o sol diretamente ela era capaz de enxergar qualquer coisa. Um relatório médico atestou que a sua cegueira era incurável e que ela necessitaria de assistência médica permanente. Dafne vinha considerando a possibilidade de ir viver em um asilo de cegos, porque não queria ser um fardo para a sua família.

A relíquia de São Charbel, que já percorreu as diversas paróquias desde o início de outubro de 2015, é composto por uma amostra de osso mantido em uma caixa de cedro. Esta peregrinação marca o 50º aniversário da beatificação dos santo libanês.

O anúncio da construção do santuário foi feito pelo sacerdote de origem libanesa, Pe. Wissam Akiki, que dirige a igreja católica de culto maronita S. Joseph, em Phoenix. “Ontem completou um mês que eu toquei na relíquia e que Deus finalmente me escutou”, Dafne à Univisión.

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Fontes:
• Asia News, disp. em:
http://www.asianews.it/news-en/The-healing-of-a-blind-woman-broadens-Saint-Charbel%E2%80%99s-fame-to-the-United-States-36565.html
Acesso 12/8/016
• ACI Digital, dip. em:
http://www.acidigital.com/noticias/mulher-recupera-visao-por-intercessao-de-santo-e-constroem-santuario-em-sua-honra-99457/
Acesso 12/8/016
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O game 'Pokémon GO' e a vida cristã


QUAL DE NÓS ainda não ouviu falar em "Pokémon GO"? O jogo rapidamente se tornou mania em nosso país, e espanta ver que não só crianças e adolescentes, mas também homens feitos e até pessoas de meia idade andam encantadas com a brincadeira. Nas redes sociais, muitos cristãos andam postando textos dizendo que este passatempo é perigoso, que desperta sentimentos ou instintos negativos, contrários à fé, que aqueles que o jogam cometem pecado... Não faltam aqueles mais radicais que chegam a demonizar o jogo, alguns até vendo nos personagens a tipificação de demônios ou deuses pagãos... 

Alguns dos nossos leitores e assinantes vêm nos pedindo, até com certa insistência, que tratemos deste assunto "da moda", o que num primeiro momento pareceu-nos desnecessário, afinal é só mais um joguinho de smartphone, com a diferença de ter se tornado um verdadeiro fenômeno mundial. Em todo caso, como a repercussão da coisa parece ter assumido proporções realmente incomuns, e vemos cada vez mais pessoas dedicando cada vez mais tempo a caçar monstrinhos virtuais por aí, consideramos que talvez seja mesmo o caso de refletir moralmente sobre o uso saudável desse tipo de diversão a partir da doutrina e da moral cristã e católica.

Para começar a tratar o assunto, dizemos que os entretenimentos saudáveis são válidos e mesmo importantes para a mente e a alma humanas –, que precisam de descanso tanto quanto o corpo físico necessita de repouso após um cansativo dia de trabalho. Nossos irmãos do apostolado Christo Nihil Praeponere, tratando sobre o mesmo tema, foram bastante felizes ao lembrar que grandes teólogos católicos já se debruçaram sobre esta questão. João Cassiano exemplificou de modo magistral, usando um episódio da vida do Apóstolo S. João comentado por Sto. Tomás de Aquino na Suma Teológica:

O bem-aventurado João Evangelista, ao ver que alguns se escandalizavam de o ver jogando com seus discípulos, mandou um deles, que trazia consigo um arco, disparar uma flecha. Depois que ele repetiu isso muitas vezes, o santo perguntou-lhe se poderia fazê-lo continuamente. O outro respondeu que, se assim procedesse, o arco se quebraria. O apóstolo então observou que, da mesma forma, a alma humana se romperia se jamais relaxasse a sua tensão."[1]

Os jogos e a diversão não são, portanto, necessariamente pecaminosos, pelo contrário. Relaxar um pouco, de vez em quando, é uma necessidade humana. O problema começa quando exageramos nesses pequenos prazeres e diversões, e fazemos deles o objetivo maior das nossas vidas. Quanto tempo diário é saudável dedicar à diversão, aos jogos, às pequenas alegrias que nos fazem relaxar da tensão do trabalho e das nossas duras obrigações? Cabe a cada um de nós a resposta, segundo a nossa própria consciência – mas não temos nenhuma dúvida de que muita gente anda exagerando e perdendo a noção da importância que cada coisa deve ter.

Será o caso de se pensar se muitos jogadores compulsivos do tal "Pokémon GO" não estarão inconscientemente substituindo a busca humana essencial – a grande busca por Deus para a qual nascemos e pela qual ansiamos desde o nosso nascimento – por uma coisa tão tola e fútil quanto um joguinho virtual, procurando  preencher o vazio profundo da sua existência e satisfazer os impulsos da sua alma pelo Criador pela caça infantil a seres imaginários como os "pocket monsters" japoneses.

Se por um lado não há pecado nos jogos lúdicos, também é verdade que muitos caem na armadilha (esta sim, diabólica) de viver a vida como se fosse um grande jogo ilusório; isto ocorre quando falta a necessária moderação. Assim, muitos transformam a sua passagem pelo mundo num grande recreio, como se estivessem por aqui "a passeio". Sobre este perigo já nos advertiu S. Francisco de Sales, lá no século XVI: "Se dás muito tempo aos jogos, eles já não são divertimento, mas tornam-se uma ocupação"[2]. Aí, sim, está o perigo para a alma e o pecado contra Deus. Desperdiçar exageradamente o tempo precioso diante de uma telinha de celular em busca de fúteis glórias imaginárias é desperdiçar o dom da vida dada por Deus.
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Notas:
1. Suma Teológica, II-II, q. 168, a. 2.
2. Filoteia ou Introdução à Vida Devota (III, 31). 8.ª ed. Petrópolis: Vozes, 1958, p. 257.
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Ref.:
Existe algum problema com o jogo 'Pokémon GO'?, Apostolado Christo Nihil Praeponere, disp. em:
https://padrepauloricardo.org/blog/existe-algum-problema-com-o-jogo-pokemon-go
Acesso: 11/8/016

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A mitra dos bispos e papas e o simbolismo pagão

RECEBEMOS DO LEITOR que se identifica com o nome "Emerson" a pergunta que reproduzimos abaixo, seguida de nossa resposta:
(...) uma coisa me deixou muito em dúvida. Vi um desses vídeos onde acusam a igreja católica de adorar o Deus Mitra e até distorceram uma explicação de um padre sobre o natal para comprovar o culto ao Deus mitra.
Até ai tudo bem estava me divertindo com as heresias ai então o autor falou que presta serviço a várias instituições catolicas e que a razão social da maioria começa com mitra e o nome da instituição comprovando o culto ao tal deus sol.
Fiz uma rápida busca e realmente percebi que varias dioceses tem o mitra antes do nome e também percebi o termo mitra diocesana.
Sei que mitra é o chapel cônico que os bispos e o papa usa.
Gostaria de saber qual o verdadeiro significado do termo mitra para igreja e se tem alguma ligação com o deus pagão e porque o nome aparece na frente do nome das dioceses."




Salve Maria, Emerson!

Muitas vezes, optamos por nem sequer abordar questões deste tipo, não só por se tratarem de temas que, teologicamente falando, são realmente muito rasteiros, mesquinhos mesmo. Além disso, sabemos que apenas o falar sobre tais coisas pode se tornar uma maneira de ajudar esses verdadeiros maníacos na divulgação das suas criminosas mentiras e calúnias contra a Igreja de Cristo; e o objetivo do nosso trabalho por aqui é exatamente o contrário: buscamos o esclarecimento das questões da fé. Em todo caso, como você infelizmente nos diz que se deixou perturbar por esta grande tolice, consideramos por bem publicar esta resposta em forma de post.

A mitra (do grego μίτρα) significa "turbante", "coroa" ou "diadema" e é a cobertura de cabeça usada como insígnia pontifical e episcopal pela Igreja Católica – assim como o anel, a cruz peitoral e o báculo. Sim, é o "chapéu" cerimonial prelatício usado por abades, bispos, arcebispos, cardeais e o papa. Com o mesmo significado, a mitra é usada também pelas igrejas ortodoxas e anglicanas.

Na internet é possível encontrar estudos sérios, completos e bastante elucidativos sobre o significado e a origem da mitra católica. Falaremos sobre isso também, embora de modo mais resumido. Entendemos que, no seu caso, para aquietar o seu espírito, o mais importante é esclarecer logo se existe a possibilidade de a mitra enquanto símbolo católico, pelo nome, ter algo a ver com o paganismo e o deus Mitra. 

Pelo seu depoimento, vemos que algum desonesto usou o fato de a Igreja usar o termo "mitra" para designar as dioceses, e isso o deixou confuso. Em primeiro lugar, saiba que disseminar tais bobagens é parte de um conjunto de táticas deliberadamente pensadas e maliciosamente planejadas para confundir os católicos, e que são usadas à exaustão pelos soldados do diabo. Alguns ingênuos as difundem sem saber do que estão falando, o que piora toda a situação, e é o caso de se perguntar se estes são menos culpados: não sabendo do que falam, deveriam ser pelo menos responsáveis e ter a decência de não repetir algo sobre o que não têm conhecimento. 

Estes casos servem, de fato, como provas de que boa parte das seitas ditas "cristãs" e "evangélicas" de maneira nenhuma pertencem a Cristo, mas estão a serviço do pai da mentira. Assim, já vou tranquilizá-lo logo de cara e dizer que a palavra "mitra" é a mesma que se encontra na Bíblia, no Livro do Êxodo (28, 4.37.39; 29,6; 39, 28.31), Levítico (8,9 e 16,4) e Ezequiel (21,26), para significar, exatamente, a cobertura de cabeça ou chapéu distintivo usado pelo sumo sacerdote. Originalmente era de linho, com uma fita de ouro atada à testa por um laço de fita azul, com a inscrição: "Santidade ao Senhor". As traduções atuais destas passagens para o português podem trazer as palavras "turbante" e "diadema". Estas informações constam também da página protestante "Dicionário Bíblico", que você pode conferir neste link.

Vemos, assim, que não há absolutamente nenhuma relação entre a mitra usada pelos bispos e papas, que é utilizada no culto a Deus desde os tempos do Antigo Testamento, e o paganismo.


As insígnias episcopais e pontifícias e os símbolos pagãos

O termo "mitra", na sua origem, significa defesa ou proteção, pois simboliza também um capacete de guerra que atesta poder e serve de alerta aos inimigos da Verdade. Sua origem se perde no tempo, mas uma teoria diz que deriva de um símbolo militar. É pelo fato de ser um símbolo de autoridade que se usa para designar territórios administrativos da Igreja. Por isso é que se diz "Mitra Diocesana"  ou "Mitra Arquidiocesana" de tal e tal lugar.

É muito importante saber e manter sempre em mente que muitos símbolos, rituais e objetos usados no culto a Deus desde o Antigo Testamento (e que permanecem no Novo Testamento) eram parecidos com os usados no paganismo. Nestes casos, obviamente o que vale é a intenção e o contexto, e não a forma ou a aparência

A aspersão de água abençoada, o uso dos castiçais, os sacrifícios de animais, dentre muitos outros elementos que estavam presentes no antigo ritual judaico segundo as Ordens do Deus Vivo, conforme as descrições bíblicas (Nm 8,7; Gn 46,1), também eram usados pelos pagãos. Sobre a mitra e as vestes sacerdotais, vemos a Ordem divina direta na própria Bíblia Sagrada:

Estas, pois, são as vestes que farão: um peitoral, um éfode, um manto, uma túnica bordada, uma mitra e um cinto; farão, pois, vestes santas a Arão, teu irmão, e a seus filhos, para Me administrarem o ofício sacerdotal.
(Ex 28,4 – tradução protestante Almeida)

Um pouco mais adiante, no mesmo Livro, esta série de orientações divinas para os rituais do culto se conclui (também na tradução protestante, que é igual à católica) da seguinte maneira:

(…) para que não levem iniquidade e morram; isto será estatuto perpétuo para ele e para a sua semente depois dele.
(Ex 28,43)

Observe-se, ainda, que o "éfode" citado no trecho mais acima também era sinônimo de divindade pagã ou estátua/estatueta de um ídolo – o que pode se confirmar pela leitura de algumas passagens do Livro dos Juízes (8,27; 17,5). A coincidência entre os nomes dados aos símbolos, vestes e objetos usados no paganismo e no culto dos cristãos não deve nos escandalizar. Isto é coisa de ignorantes, como aqueles que nos acusam pelo fato de existirem alguns feiticeiros que levam imagens e retratos de santos católicos para os terreiros de seitas africanas. Acaso seríamos nós os culpados por eles raptarem as nossas imagens e fazerem mal uso delas?

Outro exemplo é o do Patriarca Jacó – filho de Isaac e futuro Israel – que viajando por uma terra estranha, dormiu na estrada, em Luza, perto do vale do Jordão, usando uma pedra como travesseiro. Ali, sonhou com uma escada que se erguia até o Céu, com anjos que subiam e desciam entre o Reino celeste e o terrestre. No alto da escada, viu El (o 'Deus do Céu', nome que também era usado pelos pagãos e foi adotado pelos israelitas para se referir ao único Deus verdadeiro), que o abençoou e repetiu as promessas feitas a Abraão: os seus descendentes se tornariam uma grandiosa nação e possuiriam a terra de Canaã. É Jacó pensou: "Que temível é este lugar! Outa coisa não é senão a 'Casa de El' ('Beth-El' ou Betel, isto é, Casa de Deus) e a porta do Céu". O patriarca expressou-se na linguagem religiosa do seu tempo e cultura: a Babilônia, morada dos deuses pagãos, chamava-se "porta dos deuses" (Bab-ili). Jacó então resolveu consagrar aquele solo santo à maneira pagã tradicional da região, botando de pé a pedra sobre a qual repousara a cabeça durante o sono (e o sonho), e libando-a com óleo. Pedras eretas eram símbolo comum dos cultos cananeus de fertilidade, que aconteciam na própria Betel. Os isralitas, depois, viriam  a condenar veementemente esse tipo de religião, mas o santuário pagão de Betel estava associado, nas lendas antigas, a Jacó e seu Deus[1].



Outro exemplo (que outras páginas ditas 'evangélicas' sensacionalistas também usam) é que os filisteus adoradores do deus-peixe Dagon tinham na figura do peixe o seu ídolo. Seus sacerdotes, portanto, usavam chapéus imitando uma cabeça de peixe, que em certas ilustrações se assemelha à mitra episcopal-pontifical. Usar algo que pudesse lembar uma forma de peixe, na imaginação destes pobres ignorantes, seria uma prova do paganismo da Igreja(!)... Mas, ora, Nosso Senhor Jesus Cristo também não foi, desde o início da Igreja, simbolizado com a figura de Peixe? Basta conhecer o mínimo de História Eclesiástica para saber que o peixe era usado pelos primeiros cristãos simbolizando o Cristo, devido à sigla que dizia Quem era Ele: IXTUS = PEIXE, sendo "I" de Iesous (Jesus); "X" de Xristos (Cristo); "T" de Theou (Deus); "U" de Uiós (filho); "S" de Soter (Salvador). Assim Iesous Xristos, Theou Uiós, Soter = Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.

Tanto isto é fato bem conhecido que diversas dessas novas comunidades supostamente cristãs utilizam o peixe como símbolo, e o vemos em suas placas, adesivos de carro, etc. Também a própria mitra católica traz sempre um símbolo cristão tradicional, como o próprio Peixe, o Cordeiro, a Cruz, o Cálice, a Estrela de Davi (pois Jesus é chamado Filho de Davi) e muitos outros.


Se um símbolo católico lembra um peixe é "idolatria", mas...

Citamos apenas alguns exemplos acima. Há muita aparente similaridade ou semelhança entre os símbolos, nomes, usos e costumes cultuais pagãos e aqueles autênticos, isto é, dirigidos ao Deus verdadeiro, por vezes até nos títulos atribuídos à divindade – e nem por isso os patriarcas e sacerdotes de Israel eram adoradores de ídolos, muito pelo contrário: eram eles os legítimos servidores do Altíssimo, tanto que o próprio Cristo é chamado Sacerdote Eterno segundo a Ordem de Melquisedec. Insistimos: o que realmente importa é a intenção e a finalidade para as quais tais símbolos, paramentos e materiais são utilizados, e não as formas e matérias em si mesmas.

Assim, Emerson, precisamos preveni-lo para que não se deixe abalar por tão pouco. No dia em que você vir um bispo ou padre da Igreja Católica Apostólica Romana, validamente ordenado, adorando ou prestando culto a um deus pagão, aí sim é motivo para se preocupar. Enquanto tudo o que você tiver for o testemunho desses fanfarrões que se consideram mestres, ria deles. Melhor ainda, ignore-os e reze pela sua conversão.

Por fim, por favor, use o seu tempo para coisas mais úteis e produtivas do que navegar nessas páginas mentirosas mantidas por verdadeiros servidores de Satanás! Mesmo as mentiras mais ridículas e infantis acabam desviando muita gente, tanto que você mesmo diz que ficou "muito em dúvida" e veio nos procurar. Damos graças a Deus, se nos permite às vezes intervir para que estas querelas fúteis não se tornem motivo de escândalo.

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Nota
1. ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus, São Paulo: Companhia das Letras (Bolso), 2008, pp. 30-31.
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Ref.:
• SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO, Cerimonial dos Bispos (CB)/Cerimonial da Igreja, Paulus, 2001.
• RODRIGUES, Rafael. Refutando mentiras sobre o paganismo na Igreja Católica, publicado em 'Apologistas Católicos', disp. em:
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/protestantismo/502-refutanto-mentiras-sobre-o-paganismo-na-igreja
Acesso 10/8/016
• ACADÊMICO ARAUTOS, As Insígnias Episcopais: anel, cruz peitoral, mitra e báculo, disp. em:
http://academico.arautos.org/2013/09/as-insignias-episcopais-anel-cruz-peitoral-mitra-e-baculo/
Acesso 10/8/016
• BOULENGER. Doutrina Catholica. Rio de Janeiro; São Paulo: Francisco Alves , 1927.
www.ofielcatolico.com.br
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