Como fui reconduzida à Igreja de Cristo por ação de Nossa Senhora


APRESENTAMOS A SEGUIR a história da conversão de Themis, – de inimiga da Igreja a fervorosa católica.

"Desde criança fui membro da Igreja Presbiteriana e me achava feliz. Trabalhava como superintendente na escola dominical e tinha um único filho do meu casamento, que não foi bem-sucedido. Meu esposo era doente mental e logo no primeiro ano de casamento precisou afastar-se.

Aos quatorze anos, meu filho começou a ficar doente: foi diagnosticada uma anemia, que não sarava nunca. Isso durou até o médico descobrir que não era anemia que ele tinha, mas sim uma leucemia que já estava bem adiantada e não tinha mais cura. Nesse tempo eu cuidava de 11 crianças carentes em casa; achava que essa era uma obra bastante grande em minha vida, e não imaginava as coisas que estavam para acontecer.

Comecei o tratamento do meu filho com o Dr. Simbra Neli, médico e cientista muito importante no Brasil. Meu filho já tinha tumores pelo corpo todo, inclusive no olho e no ouvido direito, não enxergava direito e já não ouvia mais. Quando se aproximava a Páscoa, para o meu espanto, meu filho me disse: 'Mãe, eu queria que você fosse ao colégio (em que ele estudava e no qual eu lecionava pela manhã). Ao fundo do jardim tem uma gruta, e lá há uma imagem que eu não sei de quem é, mas os meninos católicos acendem velas diante dessa imagem para passar de ano, e a imagem está muito suja'. – Nessa época eu pintava pequenas peças de gesso durante a noite para ajudar no sustento das onze crianças e do tratamento do meu filho. Ele continuou: 'Você pega aquela imagem e pinta, para eu deixar de lembrança para o colégio?'.

Naquele momento eu experimentei emoções muito contraditórias, pois o meu filho estava morrendo e eu não queria negar o pedido. Por outro lado, pintar uma imagem católica seria realmente muito desagradável para mim, uma evangélica de crenças bem enraizadas. Mesmo assim, eu fui buscar a imagem. Era uma imagem grande, de mais de 80 cm, e estava muito suja. Eu a peguei pela cabeça e pus embaixo do braço; a diretora do colégio me viu e disse: 'Themis, você não deveria levar a imagem de Nossa Senhora das Graças desta maneira!'...

Foi assim que fiquei sabendo que se tratava da imagem de Nossa Senhora das Graças. Para mim, pouca diferença fazia, eu queria mesmo era quebrar aquela imagem. Mas em consideração ao pedido do meu filho, levei-a para casa; colocando-a em cima da mesa de trabalho, comecei a limpá-la. Já era tarde; à meia-noite eu deveria dar remédio ao meu filho: ele tinha uma violenta febre que subia de repente. De duas em duas horas eu precisava lhe dar remédio, de dia e de noite. Quando o toquei percebi que estava queimando de febre. Ele então abriu os olhos, olhou para a imagem em cima da mesa e disse: 'Como a imagem está linda!'... Eu pensei que ele estivesse delirando por causa da febre, mas ele continuou: 'Eu vou fazer um voto para Nossa Senhora'.

Eu não queria acreditar no que estava ouvindo, pois era um menino criado desde bebê na doutrina protestante, e nunca tinha entrado numa igreja católica. Nesse momento me senti profundamente revoltada, porque 'crentes' não fazem votos. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele fez o seguinte voto: 'Pelo tempo que eu viver, seja muito ou pouco, quero que minha vida sirva a Deus, e quero ter uma imagem de Nossa Senhora igual a essa em casa, para sempre me lembrar disso'. Logo depois ele voltou a dormir.

Foi então que entrei num grande conflito de fé, porque eu não poderia ser fiel à minha igreja e deixar meu filho fazer um voto à Nossa Senhora, e muito menos ter uma imagem dela em casa. Eu era a primeira a fazer palestras na minha igreja sobre a inutilidade de pedir para Nossa Senhora!

Comecei a caminhar pela casa, muito nervosa, até chegarem as duas horas da manhã. Fui novamente dar o remédio ao meu filho, mas quando coloquei a mão nele, levei um susto! Achei que ele estivesse morrendo, porque a temperatura corporal tinha baixado, – estava normal, – mas então notei que haviam sumido todos os tumores do seu corpo, até mesmo os tumores do olho e do ouvido! Nesse momento ele abriu os olhos, enxergou bem e exclamou: 'Estou ouvindo! Não sinto dor, estou curado!'.

Depois desse acontecimento fui até minha igreja. Eu tinha um cargo importante lá, tinha que dar satisfações ao pastor e ao conselho da igreja. Chegando lá, ainda confusa, eu disse: 'Quero ficar aqui na igreja presbiteriana, porque gosto muito daqui. Não quero sair e acho que faço um bom trabalho, mas tenho um pedido: no domingo quero falar ao microfone, a todos os nossos irmãos, que Maria Santíssima quer e pode interceder por nós'.

'Ela só não nos faz isso porque nós não pedimos a ela. Ela é mãe dos católicos, e também é mãe dos evangélicos, dos espíritas, dos ateus... Maria Santíssima foi a mãe de Jesus e Ele quis, na última hora de sua vida, fazer dela a mãe de todos nós. Acontece que alguns filhos de coração duro não o percebem, são ingratos. É isso que nós, evangélicos, estamos fazendo, mas eu quero dizer para eles neste domingo que nós devemos voltar para nossa Mãe do Céu.'

O conselho não concordou com a minha ideia, e me disseram para voltar para casa e pensar por dois ou três meses, ler a Bíblia e tentar esquecer tudo aquilo. Aceitei, porque realmente eu precisava de um tempo. Fui para casa. Comecei a ler a Bíblia de novo, e foi só então que eu percebi que naquela mesma Bíblia, de onde eu já havia decorado trechos para atacar os católicos, estava claramente a instituição da Sagrada Eucaristia, que eu sempre desprezara. No Evangelho segundo João, Jesus disse para mim: 'O meu Corpo é verdadeiramente Alimento, o meu Sangue é verdadeiramente Bebida. Quem come da minha Carne e bebe do meu Sangue viverá para sempre'. E me senti apaixonar por Jesus como nunca antes em minha vida.

Então entendi que me aproximar de Maria não significa me afastar de Jesus, ao contrário; porque ela nos leva até Ele, e se aproximar dela é se aproximar dEle! Fui correndo para a igreja e disse aos irmãos do conselho: 'Eu quero muito ficar na igreja evangélica, mas agora em vez de um problema nós temos dois, porque eu não quero ficar só com Maria Santíssima, mas também descobri que preciso da Eucaristia! Quero colocar um Sacrário em nossa igreja e espero que nós possamos aprender alguma coisa sobre o Cristo maravilhoso que é Vida e vem comungar comigo em Corpo, Sangue, Alma... Que transforma a minha simples humanidade em verdadeiro Sacrário!”.

Evidentemente meus antigos irmãos não aceitaram o que tentava compartilhar com eles, porque aceitar seria se converter ao catolicismo. Então eu e minha família nos retiramos da igreja presbiteriana, fomos finalmente batizados como católicos e fizemos a nossa primeira Comunhão: eu, meu filho e as 11 crianças que moravam conosco! O colégio nos deu de presente aquela imagem que eu restaurei. O meu filho cursou o seminário até o 2° ano de Teologia, mas descobriu que sua vocação era outra: aconselhado pelo bispo, voltou para casa. Hoje é casado, tem três filhos e ajuda em nossa casa de acolhida. Atualmente temos um orfanato com trezentas crianças! Foi a partir do momento em que consagrei nossa casa à Nossa Senhora que me deixei levar de fato por Jesus, e desejei instalar um Sacrário dentro de casa, para que Jesus passasse a viver conosco de maneira mais íntima. Foi a partir desse momento que obtive a graça de poder cuidar não de onze crianças, mas de trezentas, – graças a Deus!

E atualmente estamos aumentando nossos trabalhos, estendendo o orfanato também para um asilo, com sessenta velhinhos desabrigados. A mensagem que eu deixo para todos os cristãos é a seguinte: Quer saber se a igreja que você frequenta é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo? Olhe bem na sua igreja; se tiver um Sacrário com o Corpo de Jesus, você está na verdadeira Igreja do Senhor. Se não, saia correndo daí, porque essa não é a Igreja que Jesus deixou na Terra!"
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Pérolas aos porcos


NAS REDES SOCIAIS, vemos muitos católicos a desperdiçarem um tempo precioso de suas vidas debatendo com pessoas extremamente hostis à sua fé. Alguns poucos, bem preparados, até ganham os debates, mas o fato é que dificilmente convencem alguém. Outro problema é que, via de regra, se comportam com agressividade exagerada, conseguindo apenas aumentar o ódio gratuito e atraindo aos fiéis católicos a pecha de intolerantes.

Pior ainda é que a maior parte dos católicos, sem o devido preparo para minar o falatório desonesto dos seus opositores, acaba ficando sem argumentos diante de meia dúzia de citações bíblicas (quando a controvérsia é com protestantes) ou pseudo-"verdades" científicas (quando se discute com ateus militantes): inadvertidamente, entregam aos seus inimigos toda a munição de que necessitam.

Sim, é duro ficar calado vendo nossa Igreja, nossa fé e valores mais sagrados sendo gratuita e injustamente atacados, profanados, caluniados. E temos mesmo que abrir a boca nas salas de aula, nos ambientes de trabalho, nas reuniões com amigos e com a família, como bons combatentes de Cristo que precisamos ser, até para exigir o devido respeito daqueles com quem convivemos. No mundo virtual, todavia, penso que 90% dessas discussões são uma grande perda de tempo e de energia. – Ainda que um católico bem formado seja habilidoso na defesa da fé e ganhe o debate (dizem que eu mesmo sou um desses), quase nunca o seu opositor reconhecerá que está errado. Sempre que eu entrei em debates deste tipo (às vezes, confesso, não resisto e ainda caio nestas esparrelas) e com argumentos sólidos calei a boca de algum desses sujeitos irresponsáveis, o que recebi em troca foi um simples e irritante "kkkkkk". Que me lembre, nunca, jamais alguém disse: "Obrigado por esclarecer, vou procurar me informar melhor sobre este assunto". E vemos que isto acontece, basicamente, por três motivos:

1. Nosso tempo apresenta um patético fenômeno: há uma multidão que, mesmo conhecendo determinado tema apenas “de orelhada” –, isto é, leram a orelha de algum livro, ou três linhas de algum artiguete de jornal, revista ou blog irresponsável sobre o assunto –, e já se consideram "doutores" altamente especializados, não só para opinar como também para "instruir" os outros. Vivemos dias em que pouquíssimos se dispõem a pesquisar a sério e estudar realmente a fundo (mesmo nas universidades), mas todos se veem como entendedores de tudo.

2. Nas redes sociais, o desejo de se construir uma boa imagem é enormemente potencializado. Todos querem passar a impressão de que são muito sábios, realizados, felizes, bem resolvidos. Assim, o anticatólico, ainda que não consiga sustentar os seus argumentos, nunca dará o braço a torcer, por causa da vaidade: fará de tudo para que a "plateia" online não perceba que ele é só um palpiteiro pretensioso e preconceituoso falando do que não sabe.

3. Vivemos tempos em que reina o relativismo. O gigante cardeal Ratzinger falou em "ditadura do relativismo", expressão cunhada por ele mesmo, brilhante por ser tão verdadeira. A verdade, em nossos dias, simplesmente não importa. As pessoas andam preocupadas em ter razão, em impor seus egos super inflados umas às outras, e estão realmente acreditando que "cada um tem a sua própria verdade". Assim, para a maioria, mais importante do que conhecer a verdade objetiva é impor a sua própria versão de verdade.

Vejamos o exemplo de uma situação muito comum num debate entre um católico e um anticatólico. O anticatólico diz que Pio XII foi "o Papa de Hitler". O católico prova ao sujeito, por "A + B", apresentando fontes confiáveis e documentação histórica, que Pio XII foi, isto sim, um herói do povo judeu, que salvou tantas vidas quanto pôde. O justo seria que o outro reconhecesse seu equívoco e, talvez, por boa educação, até agradecesse pelo esclarecimento. Mas o que normalmente acontece é coisa bem diferente: o caluniador não se dá por vencido, desvia o foco do assunto e começa a falar, por exemplo, da Inquisição ou da pedofilia de padres, vomitando gastos clichês sem o menor pudor. Como dissemos, a verdade, para ele, não importa. Importa apenas ter razão e "sair por cima", fazendo uma bela figura...

É muito importante, pois, desenvolver a sensibilidade necessária para entender com quem vale a pena debater ou não na web. É preciso reconhecer com quem se pode dialogar honestamente e quem está fechado em seu próprio mundo imaginário, tendo como únicos objetivos difamar a religião alheia e ter razão a qualquer custo.

De modo geral, sou pessimista quanto a debates em redes sociais. Já caí várias vezes na esparrela de discutir com amigos ou estranhos alienados no Facebook, Google Plus e outros canais. O resultado? Frustração e aborrecimento. Em muitas destas, honestamente posso dizer que ganhei o debate, mas não lucrei nada com isso. Comumente, sem conseguir sustentar suas teses absurdas, meus oponentes partem para a desqualificação pessoal, em desesperadas apelações ad hominem. Nas redes sociais, as "pérolas" que oferecemos – fatos históricos comprovados, bibliografia, documentação acadêmica, fontes confiáveis, ponderações teológicas e filosóficas bem fundamentadas – são tidas pelos anticatólicos como nada. Por não serem capazes de reconhecer o valor dessas coisas, não lhes tiram qualquer proveito. Antes, pisoteiam nossos tesouros e os afundam na imundície da lama intelectual e espiritual em que chafurdam.

Em toda página católica que se presta a debater Teologia e Doutrina, leitores rebatem os artigos apresentados, mas raramente ocorre uma troca de ideias realmente produtiva. Fato é que são poucos aqueles sinceramente interessados em compreender o catolicismo. Já dedicamos numerosas postagens especialmente para responder questões trazidas por pessoas que discordam de nós – principalmente "evangélicos", espíritas e pessoas sem religião – por se tratarem de ponderações pertinentes. Por outro lado, há uma multidão que vem até aqui para dizer que a Igreja é "a prostituta do Apocalipse" ou que crer em Deus é idiotice... Com estes, não perdemos tempo: diariamente, são muitos os comentários que vão direto para a lixeira. Hoje mesmo, depois de uma série de ofensas e provocações absolutamente gratuitas, um sujeito me desafiava a mostrar onde a Bíblia fala dessa "tal Maria"...

Considero mil vezes mais útil rezar pela conversão dos incrédulos e pecadores do que me desgastar em debates inúteis nas redes sociais, quando o meu oponente não está realmente interessado nem em trocar ideias nem em aprender algo de novo. As exceções são aquelas situações em que os ataques, por mais absurdos que sejam, trazem a oportunidade de esclarecer pontos importantes da fé para alguns outros, ou até para o conjunto total de nossos leitores. Deus nos ajude a prosseguir.
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Não há outra maneira de o celebrar!

Por Jorge Ferraz – Deus Lo Vult!

HÁ TODA AQUELA tendência moderna a que a religião seja considerada como uma questão de foro íntimo, subjetiva e que diga respeito somente às crenças internas de cada indivíduo, sem nenhum reflexo no mundo objetivo dos fatos empiricamente verificáveis. Sustentá-lo é um lugar-comum entre os que se consideram intelectuais e livre-pensadores, mas existe apenas um "pequeno" problema: o Cristianismo não se amolda a esta concepção religiosa de nenhuma maneira.

A Igreja é uma instituição histórica que nasce de fatos históricos: a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Deus e Homem Verdadeiro. No início do Cristianismo – a construção é de Bento XVI – não está uma grande ideia, nem uma grande descoberta, nem uma inspiração subjetiva profunda e nem nada do tipo: está uma Pessoa, a de Nosso Senhor – e, em particular, está o Seu Nascimento, celebrado em todo o mundo. O Cristianismo não é uma disposição de alma nem uma maneira abstrata de ver o mundo: o Cristianismo é uma realidade histórica, no sentido mais próprio que esta expressão é capaz de assumir.



Tudo na Igreja Católica tem esta orientação voltada para o sensível, para o empírico: aquilo que os primeiros Apóstolos anunciavam – é São João quem o diz (cf. 1Jo 1,1-3) – é o que eles viram e ouviram e tocaram com as suas mãos. Não se trata de uma ideia: a Fé “que recebemos dos Apóstolos” simplesmente não pode ser reduzida a uma questão de foro interno, a uma decisão meramente subjetiva e individual. Fazê-lo é destruir a própria Fé.

De fato, como sustentar que um Nascimento verdadeiro seja uma questão de foro íntimo? As ideias até podem nascer no universo privado de cada mente individual: os homens, no entanto, nascem no mundo exterior que é comum a todos os homens. Se um Menino verdadeiramente nos nasceu, se Ele veio ao mundo em Belém da Judeia, se isso se passou “na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; no ano setecentos e cinquenta e dois da fundação de Roma; no ano quinhentos e trinta e oito do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a Terra” – como cantam as Kalendas de Natal, – se tudo é assim, como é possível então que o Cristianismo seja questão subjetiva que só diga respeito às disposições interiores dos que têm Fé? O caráter histórico da Encarnação é parte constituinte da Fé Cristã! E por mais que as pessoas teimem em “não acreditar”, o Deus-Menino continua nascido em uma estrebaria. 

Por mais que os homens duvidem, os anjos continuam a cantar o Glória a uma turba de assustados pastores. Por mais que os cegos insistam em fechar os olhos, a Luz continua a refulgir nas Trevas, em uma noite fria de dezembro, e de lá a iluminar toda a História. Porque, independente daquilo em que creiam os homens, a realidade se lhes impõe inexorável; a realidade é que o Verbo Divino se fez Carne, e é esse o prodígio que nós celebramos ainda hoje.

Celebramos ad extra, no mundo exterior a nós mesmos, porque foi ao mundo que Ele veio. Celebramos de modo visível e perceptível, porque o dia de hoje é justamente Aquele Dia em que o Deus Invisível Se fez visível e Se colocou ao nosso alcance. Celebramos abertamente, diante de todos, porque a Boa Nova hoje anunciada é causa de “alegria para todo o povo” (cf. Lc II,10). Celebramos, enfim, o Natal em público – porque não há outra maneira de o celebrar.
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Galeria de imagens – Advento e Natal do Senhor

[Clique sobre as imagens para ampliar]


"Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lc 1, 29)
Anunciação, 1610 por Giovanni Lanfranco (1582-1647, Italy)
[Leia sobre o Advento do Senhor clicando aqui]


Virgem grávida 


Coroa do Advento [Leia sobre esta prática aqui]

Manjedoura 

Menino Jesus


Virgem e o Menino (1888) de William Bouguereau


Virgem Maria e São José adorando o Menino Jesus




Adoration of the Shepherds, de Jean Baptiste Marie Pierre














A Adoração dos Magos, Jean de Bray (1674)

















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** Veja mais imagens católicas em nossa galeria de imagens exclusivas

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Antifonas Maiores do Advento


O IMENSO DESEJO pela vinda do Cristo, que caracteriza todo o Advento, se exprime na Liturgia com uma impaciência tanto maior quanto se aproxima do Santo Natal.

"O Senhor vem de longe" (Introito do 1º Domingo Advento). – "O Senhor virá" (Introito do 2º Domingo do Advento). – "O Senhor está próximo" (Intróito do 3º Domingo do Advento)... E esta gradação se acentua cada vez mais. 

Assim começam, no dia 17 de dezembro, as Antífonas Maiores, também chamadas de "Antífonas do Ó" por causa de sua inicial. São um apelo vibrante ao Messias cujas prerrogativas e títulos gloriosos nos declaram.


Die 17 Decembris

O Sapientia

quæ ex ore Altissimi prodisti,

attingens a fine usque ad finem,

fortiter suaviter disponens omnia:

Veni ad docendum nos viam prudentiae
17 de dezembro

Ó Sabedoria

que saístes da boca do Altíssimo

atingindo de uma a outra extremidade

e tudo dispondo com força e suavidade:

Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

Die 18 Decembris

O Adonai

et Dux domus Israel,

qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti

et ei in Sina legem dedisti:

Veni ad redimendum nos in brachio extento
18 de dezembro

Ó Adonai

guia da casa de Israel,

que aparecestes a Moisés na chama do fogo

no meio da sarça ardente e lhe deste a Lei no Sinai

Vinde resgatar-nos pelo poder do vosso braço.

Die 19 Decembris

O Radix Jesse

qui stas in signum populorum,

Super quem continebunt reges suum,

Quem gentes deprecabuntur:

Veni ad liberandum nos; jam noli tardare
19 de dezembro

Ó Raiz de Jessé

erguida como estandarte dos povos,

em cuja Presença os reis se calarão

e a Quem as nações invocarão,

Vinde libertar-nos; não tardeis jamais.

Die 20 Decembris

O Clavis David

et Sceptrum domus Israel:

qui aperis, et nemo claudit;

claudis et nemo aperit:

Veni, et educ vinctum de domo carceris,

sedentem in tenebris et umbra mortis
20 de dezembro

Ó Chave de Davi

o Cetro da casa de Israel

que abris e ninguém fecha;

fechais e ninguém abre:

Vinde e libertai da prisão o cativo

assentado nas trevas e à sombra da morte.

Die 21 Decembris

O Oriens

Splendor lucis æternæ, et sol justitiæ

Veni et illumina sedentes in tenebris

et umbra mortis.
21 de dezembro

Ó Oriente

Esplendor da luz eterna e sol da justiça

Vinde e iluminai os que estão sentados

nas trevas e à sombra da morte.

Die 22 Decembris

O Rex gentium

et desideratus earum

Lapisque Angularis,

qui facis utraque unum:

Veni et salva hominem quem de limo formasti
22 de dezembro

Ó Rei das nações

e objeto de seus desejos,

Pedra Angular

que reunis em Vós judeus e gentios:

Vinde e salvai o homem que do limo formastes

Die 23 Decembris

O Emmanuel,

Rex et legifer noster,

Exspectatio gentium,

et Salvador earum:

Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster
23 de dezembro

Ó Emanuel,

nosso Rei e Legislador,

Esperança e Salvador das nações,

Vinde salvar-nos,

Senhor nosso Deus.

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LEFEBVRE, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

Com "Em Defesa da Santa Fé", disponível em

http://emdefesadasantafe.blogspot.com.br/2014/12/17-de-dezembro-antifonas-maiores.html
Acesso 16/12/014
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Camilianos arriscam suas vidas na luta contra o ebola


EM MEIO À EPIDEMIA de ebola na África ocidental, – com mais de 17 mil casos e 6 mil mortes, – voluntários continuam pondo em risco suas vidas para ajudar a combater a terrível doença. Entre eles estão os religiosos camilianos, em Serra Leoa. A ordem dos clérigos regulares ministros dos enfermos, ou simplesmente camilianos, foi fundada em 1590 pelo religioso São Camilo de Lellis, e é voltada à assistência espiritual e corporal dos doentes (saiba mais).



 Em testemunho à agência Fides, o Padre Baby Ellickal, vigário da província da Índia, contou que quatro novos religiosos de sua equipe devem se juntar aos que já estão em Serra Leoa após um período de treinamento em Roma: “Nosso compromisso é particularmente focado em três áreas de intervenção: a reabertura do Hospital do Espírito Santo da Diocese de Makeni, (...) a assistência à força de trabalho diocesana (...) em matéria de mobilização social e prevenção em meio às comunidades locais, bem como o apoio humanitário às famílias e vilarejos afetados, e o apoio psicológico, individual e comunitário, (...) às famílias em quarentena e, em particular, às crianças vítimas do vírus”.

O religioso conclui seu depoimento afirmando que, como o trabalho é enorme, outros irmãos devem se juntar ao combate, vindos da Índia, da Itália e das Filipinas.

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Fonte:
• Sem. DAVID, Filipe. Arquidiocese de São Paulo, Semanário “O São Paulo” nº 3031, ano 59, seção "Pelo Mundo" p. 9.
Com Ag. News.Va, disponível em:
http://www.news.va/pt/news/africaserra-leoa-camilianos-indianos-em-partida-pa
Acesso 16/12/014

Menos Estado, mais caridade


UM CASAL DE CATÓLICOS norte-americanos aposta em iniciativas não governamentais e locais para ajudar os pobres. Agora com quase 80 anos de idade, John Saeman foi um importante executivo no setor de telecomunicações e foi nomeado Cavaleiro de São Gregório pelo Papa João Paulo II, por seu trabalho e dedicação à Igreja Católica e à sua missão.

John e Carolyn, sua esposa, têm três filhos e 14 netos. Ambos trabalharam no conselho da Papal Foundation, uma organização norte-americana criada para ajudar financeiramente o Santo Padre com obras pastorais e de caridade por todo o mundo. John também foi o diretor de outra fundação, a Daniels Found, com investimentos em educação e no combate à dependência de álcool e drogas, entre outas atividades. O casal lembra que o ensinamento social da Igreja se baseia nos princípios da dignidade humana, solidariedade e subsidiariedade:

"A solidariedade estipula que a sociedade deve se unir na busca do bem comum; a subsidiariedade requer que as mazelas sociais sejam tratadas no nível local."

Segundo o casal, os três princípios são ameaçados pela concentração ou centralização de poder. Um dos exemplos disso são os programas governamentais mal projetados, feitos de tal forma que promovem a dependência do auxílio financeiro em vez de ajudar as pessoas a ascender socialmente.

Com essa visão, eles concentram seus trabalhos e dinheiro em apoiar organizações católicas não governamentais, investindo no auxílio a pessoas sem moradia e em um programa chamado "Sementes da Esperança", que oferece bolsas de estudo a jovens de baixa renda, independentemente de raça. cor da pele ou nacionalidade.

O casal não tem medo de afirmar:

"Nossa convicção é a de que um governo [com poder] reduzido é mais conveniente para tirar as pessoas da pobreza"

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Fonte:
Sem. DAVID, Filipe. Arquidiocese de São Paulo, Semanário “O São Paulo” nº 3031, ano 59, seção "Pelo Mundo" p. 9.

O que é a Verdade? – conclusão do testemunho do ex-pastor protestante Marcus Grodi


Publicamos agora a segunda e conclusiva parte do testemunho de conversão completo (versão integral) do ex-pastor norte-americano Marcus C. Grodi, que é o fundador e presidente da organização “The Coming Home Network” e apresentador do programa semanal “The Journey Home”, transmitido pela EWTN (maior rede de comunicação religiosa do mundo). O site "O Fiel Católico" foi escolhido, como referência de pesquisa sobre Igreja Católica na internet, para a divulgação do texto estendido da história de sua conversão. A tradução é de Elton Netto, e a publicação do texto está autorizada pela assessoria de Marcus Grodi. Por ser extenso, publicamos o texto em duas partes, a primeira das quais pode ser lida aqui.



“Aprender muito faz você ficar exasperado”

Eu me senti nervoso assim que entrei no estacionamento daquela imensa estrutura Gótica. Nunca havia estado antes dentro de uma igreja católica, e eu não saiba o que esperar. Entrei rapidamente na igreja, passando em volta de uma pia de água benta, e andando rapidamente pelo corredor, sem ter certeza do protocolo correto para entrar e sentar no banco da igreja. Eu sabia que católicos inclinavam a cabeça ou faziam genuflexão ou algum tipo de reverência em direção ao Altar antes de entrar no banco para se sentarem. Mas eu simplesmente entrei e me sentei, torcendo para que eles não me reconhecessem como um protestante.

Depois de alguns minutos, quando nenhum semblante carrancudo me bateu no ombro, mostrando com o dedo indicador a direção da porta para eu me retirar, – “Vamos, amigo, já para a rua; nós sabemos que você não é católico”, – comecei então a relaxar. Olhei admirado o estranho, mas também incontestavelmente belo interior da igreja. Pouco tempo depois o Scott caminhou rapidamente, a passos largos, até o púlpito e começou sua palestra com uma oração. Quando ele fez o Sinal da Cruz, eu soube que ele havia verdadeiramente abandonado o barco. Meu coração apertou.

“Pobre Scott”, eu pensei, suspirando internamente. Os católicos o tapearam com seus argumentos engenhosos. Escutei atenciosamente sua fala a respeito da Última Ceia intitulada “o quarto cálice”, tentando com muito esforço detectar erros em seu modo de pensar. Porém, não consegui encontrar erro algum (a fala do Scott foi tão boa que eu plagiaria a maior parte no meu próximo sermão sobre comunhão).

Ao falar, ele utilizava em cada trecho a Escritura para apoiar o ensinamento católico sobre a Missa e a Eucaristia. Senti-me fascinado pelo que escutei. O Scott estava explicando o catolicismo de uma maneira que eu nunca havia imaginado que poderia ser possível: por meio da Bíblia! Da forma como ele explicava, a Missa e a Eucaristia não eram ofensivas ou estranhas para mim. No final de sua fala, quando o Scott exprimiu um inspirador chamado para uma conversão radical a Cristo, eu imaginei se talvez ele tivesse fingido uma conversão para poder se infiltrar na Igreja Católica a fim de trazer renovação e conversão aos católicos mortos espiritualmente. Não demorou muito para eu descobrir.

Após os aplausos da audiência diminuírem, fui até a frente para ver se ele me reconheceria. Uma multidão de pessoas com perguntas o rodeava. Fiquei poucos metros distante dele e estudei sua face enquanto ele falava para o grupo de pessoas, com seus típicos charme e convicção. Sim, aquele era o mesmo Scott que conheci no seminário. Agora ele usava um bigode e eu uma barba de estação (significativa mudança em relação aos nossos cortes limpos dos dias de seminário). Mas quando ele se virou para minha direção, seus olhos brilharam enquanto ele me cumprimentava silenciosamente com um largo sorriso. Logo ficamos próximos, nossas mãos se juntaram num caloroso aperto de mãos. Ele pediu desculpas caso tivesse me ofendido de alguma forma. “Não, claro que não!”, assegurei enquanto ríamos com o prazeroso desvio de curso que nos permitiu encontrar um ao outro novamente.

Depois de alguns minutos do obrigatório bate-papo: “Como vão sua esposa e sua família?”, deixei escapar o pensamento que estava em minha mente: “eu acho que é verdade o que eu ouvi. Por que você abandonou o barco e se tornou católico?”. O Scott me deu uma breve explicação de seu empenho para encontrar a verdade sobre o catolicismo. A multidão de pessoas ao nosso redor ouvia atentamente a história resumida de conversão. Ele me sugeriu pegar uma cópia da gravação de sua história de conversão, a qual a aglomeração estava adquirindo na entrada. Trocamos os números de telefones e apertamos as mãos mais uma vez. Em seguida, me dirigi para o fundo da igreja. Encontrei uma mesa coberta com fitas K7 a respeito da fé católica, gravadas pelo Scott e sua esposa Kimberly, bem como fitas com o Steve Wood, outro convertido para o catolicismo que também estudou no seminário de teologia Gordon-Conwell. Comprei um exemplar de cada fita e uma cópia do livro que o Scott recomendou, escrito por Karl Keating: "Catolicismo e Fundamentalismo".

Antes de sair, fiquei em pé ao fundo da igreja, olhando por um momento os ainda incomuns e atrativos símbolos do catolicismo: ícones e estátuas, ornamentos do Altar, velas, cabine de confessionário. Fiquei lá por algum tempo imaginando porque Deus havia me chamado para aquele lugar. Então eu caminhei para a noite de ar frio, minha cabeça estava atordoada e meu coração inundado com a confusa mistura de emoções. Fui a um restaurante fast food, peguei um hambúrguer para a minha viagem de retorno a casa, e coloquei a fita com a gravação do Scott no toca-fitas. Presumi que facilmente eu descobriria em que ponto ele teria cometido o erro. Estava a metade do caminho de casa, todavia passei a ficar tão dominado pela emoção que tive de sair da rodovia para limpar minha mente.



 Ainda que a jornada do Scott para a Igreja Católica tenha sido muito diferente da que eu, sem saber, estava fazendo, as perguntas que ele e eu fizemos eram essencialmente as mesmas, – e ele encontrou as respostas, que mudaram drasticamente a sua vida. Elas eram muito convincentes. Seu testemunho me convenceu de que as causas da minha crescente insatisfação com o protestantismo não poderiam ser ignoradas. As respostas para minhas perguntas, ele afirmou, seriam encontradas na Igreja Católica. Essa ideia penetrou profundamente em mim.

Eu estava assustado e instigado pelo pensamento de que Deus poderia estar me chamando para dentro da Igreja Católica. Orei por algum tempo, com minha cabeça apoiada sobre o volante. Reuni meus pensamentos antes de ligar o carro novamente. Em seguida dirigi para casa.

No dia seguinte abri o livro “Catolicismo e Fundamentalismo” e o li completamente, terminando o último capítulo naquela noite. Enquanto me preparava para dormir, eu sabia que estava com problemas! Ficou claro para mim naquele momento em que os dois dogmas centrais da reforma protestante, Sola Scriptura (somente a Escritura) e Sola Fide (justificação somente pela fé), eram muito fracos em termos de fundamentação bíblica, e consequentemente também eu era fraco nos meus fundamentos.

Desse modo meu apetite ficou estimulado. Comecei a ler livros católicos, especialmente escritos pelos primeiros pais (padres) da Igreja. Seus escritos me ajudaram a entender a verdade a respeito da história da Igreja Católica antes da reforma protestante. Gastei incontáveis horas debatendo com católicos e protestantes, fazendo o meu melhor para submeter as afirmações católicas aos mais difíceis argumentos bíblicos que pude encontrar.

Marilyn, como você pode imaginar, não ficou contente quando eu disse a ela sobre a minha dificuldade com os argumentos da Igreja Católica. Embora inicialmente ela tenha dito para mim: “Isso tudo irá passar”, no final as coisas que eu estava aprendendo começaram a intrigá-la também. Então ela começou a estudar por conta própria. Enquanto eu investia bastante tempo e esforço lendo livro após livro, também compartilhava com ela os ensinamentos esclarecedores e de senso comum que eu estava descobrindo. Mais frequentemente do que não, nós podíamos concluir juntos quão mais sentido fazia e quão mais verdadeiro era o ponto de vista da Igreja Católica quando comparado com tudo o que havíamos encontrado na enorme variedade de opiniões protestantes. Existia profundidade, força histórica, uma consistência filosófica para os posicionamentos católicos com os quais nós nos deparamos. O Senhor trabalhou uma transformação surpreendente em nossas vidas, persuadindo a nós dois, lado a lado, passo a passo, juntos por todo o caminho.

Apesar de todas essas coisas boas que estávamos encontrando na Igreja Católica, também nos deparávamos com algumas situações confusas e perturbadoras. Encontrei padres que acharam estranho eu considerar a possibilidade de me converter à Igreja Católica. Eles achavam que a conversão seria desnecessária. Nós conhecemos católicos que sabiam pouco a respeito da fé católica e cujos estilos de vida conflitavam com os ensinamentos morais da Igreja. Quando nós participávamos das Missas, nos sentíamos malquistos e desassistidos por todos. Todavia, apesar desses obstáculos no caminho para a Igreja, continuamos estudando e orando para que o Senhor nos guiasse.

Após ouvir dúzias de fitas e digerir várias dúzias de livros, eu sabia que não mais poderia continuar protestante. Começou a ficar claro que a resposta protestante para a renovação da Igreja foi, acima de tudo, sem fundamentação bíblica. Jesus havia orado pela unidade entre os seus seguidores, e os Apóstolos Paulo e João haviam ambos ordenado a seus seguidores para se agarrarem firmemente na Verdade que eles haviam recebido, não deixando que opiniões os dividissem. Como protestantes, contudo, nós nos tornamos cegos de paixão com a nossa liberdade, colocando opiniões pessoais acima dos ensinamentos da autoridade da Igreja Católica.

Nós acreditávamos que a orientação do Espírito Santo era suficiente para guiar qualquer pessoa que estivesse sinceramente procurando pelo significado verdadeiro das Escrituras Sagradas. A resposta católica para esse ponto de vista é que a missão da Igreja é ensinar com certeza infalível. Cristo prometeu aos Apóstolos e a seus sucessores: “Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou.” (Lucas 10,16).

A Igreja primitiva acreditava nisso também. Uma passagem muito instigadora de Clemente, Bispo de Roma, saltou aos meus olhos um dia enquanto eu estudava a história da Igreja. Foi escrito aproximadamente na mesma época do evangelho de João: os Apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho para nós; e Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo, desse modo, é de Deus, e os Apóstolos são de Cristo. Ambas as combinações, então, são por vontade de Deus. Recebendo suas instruções e sendo plenamente confiantes, por causa da Ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo, e confirmados na fé pela Palavra de Deus, eles foram adiante na plena certeza do Espírito Santo, pregando a Boa Nova: o Reino de Deus está próximo. Eles pregaram de um extremo ao outro de áreas rurais e de cidades; e eles nomearam seus primeiros convertidos, testando-os pelo Espírito, para serem bispos e diáconos de futuros crentes. Isso também não era uma novidade: sobre bispos e diáconos tinha sido escrito a respeito muito tempo antes. De fato, as Escrituras em algum lugar dizem: “Eu prepararei os seu bispos na retidão e os seus diáconos na fé”. (Epístola aos Coríntios 42,1-5).

Outra citação patrística (primeiros escritores cristãos, também conhecidos como 'Pais da Igreja') que ajudou a quebrar a muralha das minhas pressuposições protestantes foi essa de Irineu, bispo de Lião, escrita aproximadamente no ano 180:

"Quando, por conseguinte, nós temos tais provas, não se faz necessário buscar entre os outros a Verdade, a qual é facilmente obtida por meio da Igreja. Os Apóstolos, como homem rico em um banco, guardaram nela tudo de mais abundante que pertence à Verdade; e todos, quem quer que seja, tiram dela a bebida da vida. Ela é a entrada para a vida, enquanto todo o resto são ladrões e assaltantes. Por isso que seguramente é necessário evitá-los, enquanto cuida com máxima diligência das coisas pertencentes à Igreja, e se agarra à tradição da verdade. O que fazer então? Caso haja uma disputa sobre algum tipo de questão, não devemos recorrer às igrejas mais antigas, nas quais os Apóstolos eram íntimos, e obter deles o que é claro e certo em relação àquela questão? O que aconteceria se os Apóstolos não tivessem de fato deixado documentos escritos para nós? Não seria necessário seguir a ordem da tradição, a qual foi transmitida para aqueles a quem eles confiaram às igrejas?" (Contra as Heresias, 3, 4,1)

Estudei as causas da reforma protestante. A Igreja Católica daquela época verdadeiramente precisava de uma reforma, mas Martinho Lutero e os demais reformadores escolheram o erro, o não bíblico, para lidar com os problemas que eles viram na Igreja. A rota correta era e continua sendo justamente o que meu amigo presbiteriano havia me dito: não deixe a Igreja; não quebre a unidade da fé. Trabalhe na reforma genuína baseada nos Planos de Deus, não nos planos do homem, alcançando-a através de orações, penitência e bom exemplo.

Eu não poderia mais continuar protestante. Permanecendo protestante eu obrigatoriamente estaria negando a Promessa de Cristo de guiar e proteger a Sua Igreja e de enviar o Espírito Santo para liderá-la dentro de toda a verdade (Mt 16,18-19, 18,18, 28,20; Jo 14,16, 14,25, 16,13). Porém, eu não poderia tolerar o pensamento de me tornar católico. Fui ensinado por tanto tempo a respeito do “romanismo” que, mesmo tendo intelectualmente descoberto que o catolicismo era a Verdade, vivi tempos difíceis para destruir meus preconceitos contra a Igreja.

Uma dificuldade chave era o ajuste psicológico à complexidade da Teologia católica. Diferentemente, minha forma de protestantismo era simples: admita que você seja um pecador, arrependa-se dos seus pecados, aceite Jesus como seu Salvador pessoal, confie Nele para perdoá-lo, e você será salvo. Continuei estudando as Escrituras e os livros católicos e investi muitas horas debatendo com amigos e colegas protestantes sobre questões difíceis como: Maria, orações para os santos, indulgências, Purgatório, celibato sacerdotal e a Eucaristia. Finalmente eu percebi que a questão mais importante era a autoridade. Toda essa discussão sobre como interpretar as Escrituras não chega a lugar nenhum se não houver um meio de saber com certeza infalível que determinada interpretação é a correta.

A autoridade dos ensinamentos do Magistério da Igreja é centrada na Cátedra de Pedro. Se eu puder aceitar essa doutrina, sei que poderei confiar tudo mais na Igreja.

Eu li as obras do padre Stanley Jaki “And on This Rock” e “The Keys to the Kingdon”, bem como os documentos do Vaticano II e dos Concílios anteriores, especialmente o de Trento. Estudei cuidadosamente as Escrituras e os escritos de Calvino, Lutero e de outros reformadores para testar os argumentos católicos. Hora após hora, descobria que os argumentos protestantes contra o Primado de Pedro simplesmente não tinham fundamentação bíblica e nem histórica. Ficou claro que a posição católica era a posição bíblica.

O Espírito Santo desferiu literalmente um golpe de misericórdia nos meus remanescentes preconceitos anticatólicos quando eu li o marcante livro do abençoado John Henry Newman “An Essay on the Development of Christian Doctrine”. De fato, minhas objeções se evaporaram quando eu li uma passagem na metade do livro. Aqui, Newman explica o desenvolvimento gradual da autoridade papal dessa forma: “É uma menor dificuldade a supremacia papal não ter sido formalmente reconhecida no segundo século, se comparada com o não reconhecimento formal, por parte da Igreja, da doutrina da Trindade Santa até o século quarto. Nenhuma doutrina é definida até que seja violada” (4, 3, 4).

Meu estudo sobre os argumentos católicos levou aproximadamente um ano e meio. Durante este período, Marilyn e eu estudamos juntos, dividimos como um casal os temores, as esperanças, os desafios que nos acompanharam ao longo do caminho para Roma. Nós íamos às Missas semanalmente, fazendo o percurso de carro para uma paróquia longe o suficiente (minha igreja presbiteriana era menos de uma milha de casa) para evitar a controvérsia e a confusão que sem dúvida surgiria se meus membros da congregação anterior soubessem que eu estava investigando Roma.

Gradualmente, começamos a nos sentir confortáveis fazendo todas as coisas que os católicos faziam na Missa (com exceção de receber a Comunhão, é claro). Doutrinalmente, emocionalmente e espiritualmente, nós nos sentimos preparados para entrar formalmente na Igreja. Permanecia, contudo, uma barreira para superarmos. Antes da Marilyn e eu nos conhecermos e nos apaixonarmos, ela tinha se divorciado após um breve casamento. Como nós éramos protestantes quando nos conhecemos e nos casamos, essa situação não causava problemas segundo o ponto de vista nosso e da nossa denominação. Não até o momento em que nos sentimos preparados para ingressar na Igreja Católica, quando fomos informados que não poderíamos, a menos que o primeiro casamento da minha esposa Marilyn fosse considerado nulo.

Primeiramente pensamos que Deus estava fazendo uma brincadeira conosco! Então nós passamos do estado de choque para o de raiva. Parecia tão injusto e ridiculamente hipócrita: poderíamos ter cometido quase qualquer outro pecado, não importasse quão abominável, e com uma confissão seríamos adequadamente purificados para admissão na Igreja. Entretanto, por causa desse erro, nosso ingresso na Igreja Católica tinha "morrido na praia".

Mas então nós nos lembramos do que tinha nos trazido para esse ponto em nossa peregrinação espiritual: nós estávamos a confiar em Deus com todo nosso coração e não no nosso discernimento particular. Nós estávamos a aceitá-Lo e A acreditar que Ele poderia dirigir nossos caminhos. Ficou evidente que esse era um teste final de perseverança enviado por Deus. Então Marilyn iniciou a difícil investigação do processo de nulidade, e aguardamos. Nós continuamos indo às Missas, permanecendo sentados no banco da paróquia, nossos corações doloridos, enquanto aqueles que estavam em nossa volta iam adiante para receber o Senhor na Santa Eucaristia. Mas exatamente por não ser possível receber a Eucaristia, nós aprendemos a apreciar o impressionante privilégio que Jesus concedeu no seu imenso Amor de recebê-Lo, Corpo e Sangue, Espírito e Divindade, no Abençoado Sacramento. A promessa do Senhor na Escritura tornou-se real para nós durante aquelas Missas: “o Senhor disciplina aquele a quem Ele ama” (Hb 12,6).

Após nove meses aguardando, nós soubemos que a nulidade do primeiro casamento da Marilyn foi reconhecida(!). Sem mais atrasos, nosso casamento foi abençoado, e nós fomos recebidos com grande entusiasmo e celebração dentro da Igreja Católica(!). Era um sentimento tão inacreditavelmente bom de finalmente estar no lar ao qual pertencíamos. Chorei silenciosas lágrimas de alegria e gratidão naquela primeira Missa, quando pude caminhar adiante com os demais irmãos e irmãs católicos para receber Jesus na Sagrada Comunhão.

Eu havia pedido a Deus por muitas vezes em oração “o que é a Verdade?”. Ele me respondeu nas Escrituras, dizendo: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida”. Eu me alegro muito agora como católico, não só posso conhecer a Verdade, mas também recebê-La na Eucaristia.


Algumas Poucas Palavras para Finalizar

Penso ser importante mencionar mais um dos pensamentos do abençoado John Henry Newman, que fez uma diferença crucial no meu processo de conversão para a Igreja Católica. Ele, uma vez, bem observou: “Ir fundo na história é deixar de ser protestante”. Essa linha resume o motivo principal pelo qual eu abandonei o protestantismo, colocando de lado as Igrejas Ortodoxas do Oriente, e me tornado católico. Newman estava certo. Quanto mais leio a História da Igreja e as Escrituras, menos poderia permanecer confortavelmente protestante. Enxerguei que a Igreja Católica é que foi estabelecida por Jesus, e todas as outras que reivindicam o título “verdadeira igreja” deviam se colocar de lado e dar passagem. Foram a Bíblia e a História da Igreja que fizeram de mim um católico, contra a minha vontade (pelo menos no início) e para minha imensa surpresa.

Eu também aprendi que o outro lado do ditado de Newman é igualmente verdadeiro: parar de ir fundo na história é tornar-se protestante. Por isso nós católicos temos de conhecer por que nós acreditamos nos ensinamentos da Igreja, assim como conhecer a história por trás dessas verdades sobre a nossa salvação. Nós temos que nos preparar e a nossos filhos tal que nós possamos “sempre estar prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que vo-la pede” (1Pd 3,15).

Vivendo corajosamente e proclamando A nossa fé, muitos irão escutar Cristo falar através de nós e serão trazidos ao conhecimento da Verdade em toda a sua plenitude na Igreja Católica. Deus abençoe você em sua própria jornada de fé!

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Marcus Grodi é o fundador e presidente do “The Coming Home Network International”. Ele frequentemente profere palestras e é o anfitrião dos programas da EWTN (http://www.ewtn.com/) veiculados duas vezes por semana: “The Journey Home” (televisão) e “Deep in Scripture” (radio). Escreve para vários periódicos católicos e é autor dos livros “How Firm a Foundation” (CHResources, 2002) e “Thoughts for the Journey Home” (CHResources, 2010). Marcus vive com sua esposa, Marilyn e seus dois filhos mais jovens, Peter e Richard, em uma pequena fazenda próxima de Zanesville, Ohio.
Uma versão anterior dessa estória foi publicada no livro “Surprised By Truth: 11 Converts Give the Biblica and Historical Reasons for Becoming Catholic - Patrikc Madrid, ed. (Basilica, 1994)”.
Essa história está publicada no livro “Journeys Home”, editado por Marcus Grodi (CHR resources, ver. Ed. 2011). Para solicitar o livro, clique aqui.
A versão original da história de conversão do Marcus Grodi encontra-se em:
http://chnetwork.org/2011/01/marcus-c-grodi-what-is-truth/

www.ofielcatolico.com.br

O que é a Verdade? – o testemunho do ex-pastor protestante Marcus Grodi


Nosso apostolado publica agora, – com exclusividade no Brasil, – o testemunho completo (versão integral) do ex-pastor norte-americano Marcus C. Grodi, no qual relata o seu processo de conversão à Igreja Católica. Grodi é o fundador e presidente da organização “The Coming Home Network” e apresentador do programa semanal “The Journey Home”, que é transmitido pela EWTN (a maior rede de comunicação religiosa do mundo). O site "O Fiel Católico" foi escolhido, como referência de pesquisa sobre a Igreja Católica na internet, para a divulgação do texto estendido da história de sua conversão. A tradução é de Elton Netto, e a publicação do texto está devidamente autorizada pela assessoria de Marcus Grodi. Por ser extenso, publicaremos o texto em duas partes, a primeira das quais segue abaixo.



SOU UM EX-PASTOR protestante. Como muitos outros que trilharam o caminho que leva a Roma via o território conhecido como protestantismo, eu nunca imaginei que um dia me converteria ao catolicismo.

Pelo temperamento e treinamento, sou mais pastor que estudioso. Então minha história de conversão para a Igreja Católica talvez não tenha os detalhes técnicos nos quais teólogos trafegam e com os quais alguns leitores se encantam. Mas espero que eu consiga explicar de forma precisa por que fiz o que fiz, e por que acredito de todo o meu coração que todos os protestantes deveriam fazer o mesmo. Não irei me ater aos detalhes dos meus primeiros anos, limitando-me a dizer apenas que fui criado por pais maravilhosos em um lar protestante. Vivi a maioria das experiências da infância e da adolescência de um típico “baby-boomer” (geração nascida entre 1946 e 1963).

Fui ensinado a amar Jesus e ir para igreja no domingo. Cometia também a maioria dos erros tolos que outras crianças da minha geração cometiam. Mas, depois de um período de rebeldia da adolescência, quando tinha 20 anos de idade, experimentei uma reconversão radical para Jesus Cristo. Mudei minha atenção, que estava até então voltada às seduções do mundo, para me tornar uma pessoa seriamente dedicada às orações e ao estudo da Bíblia.

Como jovem adulto, renovei meu compromisso com Cristo, aceitando-O como meu Senhor e Salvador, orando para que Ele pudesse me ajudar a realizar a missão em vida que Ele havia escolhido para mim. Quanto mais eu procurava orar e estudar para seguir Jesus e moldar minha vida para Ele, mais eu sentia o desejo ardente de dedicar minha vida totalmente para servi-Lo. Gradualmente, de forma semelhante aos primeiros raios do sol que preenchem o horizonte escuro, a convicção de que o Senhor estava me chamando para me tornar pastor começou a surgir.

Essa convicção aumentava continuamente enquanto eu estava na faculdade e em seguida durante meu trabalho como engenheiro. Até que finalmente não pude mais ignorar o chamado. Eu estava convencido de que o Senhor queria que eu me tornasse um pastor, então deixei meu emprego e me matriculei no seminário teológico de Gordon-Conwell, nos arredores de Boston. Formei-me em Teologia e logo em seguida fui ordenado ministro protestante. Meu filho de seis anos de idade, Jon-Marc, recentemente memorizou o juramento de Lobinho (fase iniciante para se tornar escoteiro), que diz: “Eu ..... prometo fazer o meu melhor para realizar o meu dever para com Deus e para com meu país”. Essa promessa séria na juventude mais nitidamente expressa a importância da minha razão de desistir da minha carreira de engenheiro para servir, com essa atitude de abandono, inteiramente ao Senhor, exercendo o ministério em tempo integral.

Assumi meus deveres como pastor com seriedade, e queria executá-los corretamente e fielmente. Então, quando estivesse no final da minha vida, face a Face com Deus, eu poderia escutá-Lo dizer estas palavras muito importantes: “Muito bem, bom e fiel servidor” (Mt 25,21). Exercendo essa prazerosa vida de pastor protestante, sentia-me feliz e em paz comigo e com Deus. – Finalmente senti que havia chegado ao fim de uma jornada.


Eu não havia chegado


 Em pouco tempo me deparei com um grande número de confusões teológicas e questões administrativas. Existiam dilemas exegéticos sobre como interpretar corretamente passagens bíblicas difíceis, bem como decisões litúrgicas difíceis que poderiam dividir a congregação. Meus estudos no seminário não haviam me preparado adequadamente para tratar de tamanha complexidade de opções.

Eu simplesmente gostaria de ser um bom pastor. Porém, não conseguia encontrar para minhas questões respostas consistentes nem por meio dos meus colegas ministros, nem dos livros “como fazer” disponíveis na minha estante, nem dos líderes da minha denominação presbiteriana. Parecia ser normal que cada pastor tivesse suas próprias ideias sobre essas questões.

Essa mentalidade de “reinventar a roda toda vez que você precisar”, que é o coração da prática pastoral do protestantismo, estava me perturbando profundamente. “Por que eu precisaria ter que reinventar a roda?”, fiz essa pergunta a mim mesmo aborrecidamente. “O que teria acontecido com ministros cristãos dos séculos anteriores que passaram por essas mesmas questões? O que eles fizeram?”.

Nós fomos ensinados no seminário a enxergarmos o “triunfo” da Reforma sobre o “romanismo” como a emancipação do protestantismo sobre as leis e dogmas e costumes “artificialmente estabelecidos” por Roma que “acorrentaram” os cristãos por séculos. No entanto essa “emancipação” começou a parecer muito mais uma anarquia do que uma liberdade verdadeira.

Eu não obtive as respostas que precisava, ainda que orasse constantemente pedindo por orientação. Senti que meus recursos haviam se esgotado e não sabia para onde ir. Ironicamente, essa sensação de frustração por não ter respostas foi providencial. Isso me fez ficar aberto para as respostas oferecidas pela Igreja Católica. Tenho certeza de que se tivesse a sensação de ter todas as respostas, eu não teria tido a capacidade ou a disposição para investigar as coisas com maior nível de profundidade.


Uma brecha em minha defesa

No mundo antigo, cidades eram construídas nos topos dos morros e circundadas por fortes muralhas que protegiam os habitantes contra invasores. Quando tropas invasoras sitiavam a cidade (por exemplo, quando o exército de Nabucodonosor sitiou Jerusalém (2 Reis 25,1-7), os habitantes estavam salvos enquanto houvesse alimento e água e as muralhas pudessem resistir aos ataques realizados, por exemplo, por meio de catapultas. Porém, se surgisse alguma brecha na muralha, a cidade estaria perdida.

Minha disposição em considerar os ensinamentos da Igreja Católica teve início como resultado de uma brecha na muralha da teologia da reforma protestante que envolvia a minha alma. Por aproximadamente 40 anos trabalhei para construir aquela muralha, pedra sobre pedra, para proteger minhas convicções protestantes. As pedras foram formadas a partir das minhas experiências pessoais, da formação no seminário, dos relacionamentos, e sucessos e fracassos no ministério. A argamassa que firmou as pedras no lugar foram minha fé e minha filosofia protestantes. Minha muralha era alta, espessa e impenetrável, pensei.

Eu comecei a ficar preocupado. A argamassa ficou fraca, as pedras começaram a se mover e deslizar, no início imperceptivelmente, mas depois com uma velocidade alarmante. Tentei com empenho discernir a razão da minha crescente falta de confiança na doutrina protestante. Não estava certo sobre o que eu estava procurando para substituir minhas crenças calvinistas. Porém, eu sabia que minha teologia não era invencível. Li mais livros e consultei teólogos no esforço de remendar a muralha, mas não obtinha qualquer êxito.

Refleti bastante sobre Provérbios 3,5-6: “Confia no Senhor com todo o teu coração, não te fies em tua própria inteligência; em todos os seus caminhos reconhece-O, e Ele endireitará as tuas veredas”. Essa exortação tanto me assombrava quanto me consolava, enquanto tentava tratar das confusões doutrinais e do caos procedural dentro do protestantismo.

Os Reformadores tinham defendido a ideia da interpretação pessoal, individualizada, da Bíblia. Eu comecei a me sentir cada vez mais incomodado com aquela passagem em Provérbios 3,5-6. Protestantes crentes na Bíblia afirmam que eles de fato seguem os ensinamentos nessa passagem ao buscarem a orientação do Senhor. O problema é que os protestantes sentem que o Senhor os está orientando a transitar por milhares de diferentes caminhos de doutrina. E essas doutrinas diferem enormemente entre elas dependendo da denominação protestante.

Eu me debatia com várias perguntas: como posso saber qual vontade de Deus é aplicável para minha vida e para as pessoas da minha congregação? Como posso saber que o que estou pregando está correto? Como posso saber qual é a verdade?

Na luz da confusão acompanhada da desordem doutrinal que existe dentro do protestantismo, – cada denominação baseando o seu posicionamento doutrinal na pessoa que fundou aquela denominação, – o ostentador padrão protestante “eu acredito somente no que a Bíblia diz” começa a soar não verdadeiro. Segui a crença protestante de “somente a Bíblia” para determinar a verdade, mas as doutrinas originárias da Reforma Protestante que eu herdei de João Calvino, João Knox e dos puritanos eram bastante diferentes em muitos aspectos em relação àquelas defendidas por amigos luteranos, batistas e anglicanos.

Nos Evangelhos, Jesus explica o que significa ser um discípulo verdadeiro (veja Mt 19,16-23). É mais do que ler a Bíblia ou ter o seu nome na lista de membros de uma igreja ou regularmente estar presente nos cultos dominicais, ou mesmo fazer uma oração de conversão para aceitar Jesus como o Senhor e Salvador. Essas coisas, apesar de serem boas, isoladamente não nos tornam discípulos de Jesus. Ser discípulo de Jesus Cristo significa fazer um compromisso radical de amor e obediência ao Senhor em cada palavra, ação e atitude, buscando irradiar o amor Dele nos outros. O verdadeiro discípulo, Jesus disse, está disposto a desistir de tudo, até mesmo da própria vida se necessário, para seguir o Senhor.

Eu estava totalmente convencido dessa ideia. Da mesma forma que tentava colocar isso em prática (nem sempre com muito sucesso), fiz meu melhor para convencer minha congregação que aquele chamado para o discipulado não é uma opção, mas sim algo para o qual cristãos são chamados a se esforçar intensamente a realizar. A ironia foi que minha teologia protestante me fez impotente para chamá-los a um discipulado radical, e essa mesma teologia os tornou impotentes para escutar esse chamado e prestar atenção nele.

Alguém pode perguntar: “Se tudo o que é necessário para ser salvo é confessar com tua boca que Jesus é o Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos (Rom 10,9), então por que eu devo mudar? Oh, com certeza, eu devo mudar meus caminhos de pecador. Eu devo me esforçar para agradar a Deus. Porém, se eu não o fizer, o que importa? Minha salvação está assegurada”.

Um repórter de um jornal da cidade de Nova Iorque, – então a história segue, – queria escrever um artigo sobre qual invenção as pessoas consideravam a mais surpreendente do século vinte. Ele foi às ruas, entrevistando pessoas aleatoriamente, e recebeu uma variedade de respostas: o avião, o telefone, o automóvel, o computador, a energia nuclear, a viagem espacial e os antibióticos. As respostas seguiram essa linha até que uma pessoa deu uma resposta incomum. “É óbvio”, ele falou, “a invenção mais surpreendente foi a garrafa térmica”. “A garrafa térmica?”, perguntou o repórter, com as sobrancelhas levantadas. “É claro. Ela mantém as coisas quentes aquecidas e as frias resfriadas”. O repórter, demonstrando surpresa: “e daí?” – “Bem, como saber qual é realmente a invenção mais surpreendente?”...
Essa anedota teve um significado especial para mim. Já que era minha tarefa e meu dever ensinar a Verdade de Jesus Cristo para minha congregação, minha crescente preocupação era simples: “Como eu sei o que é e o que não é a Verdade?”.

Todo domingo eu ficava no meu púlpito e interpretava as escrituras para a minha assembleia, sabendo que em um raio de 25 km da minha igreja existiam dezenas de outros pastores protestantes. Todos eles acreditavam que somente a Bíblia era a única autoridade para a doutrina e a prática, ainda que cada um deles estivesse ensinando alguma coisa diferente do que eu ensinava. Estaria a minha interpretação das Escrituras correta ou não? Eu pensava... Talvez algum desses outros pastores esteja certo, e eu esteja guiando erradamente esse povo que acredita em mim. Eu também tinha a compreensão – não, a aterrorizante certeza – de que um dia eu morreria e me apresentaria diante do Senhor Jesus Cristo, o Juiz Eterno. Eu seria solicitado a responder como liderei as pessoas que Ele me entregou para pastorear.

“Estou pregando a verdade ou o erro?”, eu perguntava a Deus repetidamente. “Eu acho que estou certo, mas como posso ter certeza?”. Esse dilema me atormentava frequentemente. Comecei a questionar cada aspecto do meu ministério e da teologia proveniente da Reforma Protestante, desde as questões insignificantes até às mais importantes. Olho para trás agora com perplexo humor; como eu me inquietava durante aqueles dias difíceis de incerteza.

Cheguei até a ficar em dúvida sobre vestir ou não o colarinho clerical. Ministros presbiterianos não possuem um código de vestimenta clerical. Alguns vestem colarinhos; alguns, terno de negócios; alguns, toga; outros, uma combinação de tudo. Um amigo pastor mantinha o colarinho clerical no porta-luvas do carro, na expectativa de trazer de alguma forma vantagem para ele ao colocá-lo. “Algo como dar uma desculpa para evitar uma multa por excesso de velocidade”, ele confidenciou uma vez com um largo sorriso conspirador. Por fim eu decidi não usar o colarinho clerical. No culto de domingo, vesti uma toga preta, utilizada pelo coral, por cima do meu terno.

Sobre o formato e o conteúdo da liturgia de domingo, cada igreja tinha sua própria visão sobre como as coisas deveriam ser feitas, e cada pastor era livre para fazer quase tudo que ele quisesse dentro dos limites do que era aceitável e possível. Sem normas estabelecidas pela denominação religiosa para me orientar, eu fazia o que todos os outros pastores faziam: improvisava. Hinos, sermões, escolha das passagens da Escritura, participação da congregação, administração do Batismo, casamento e a Ceia do Senhor eram todas partes da liturgia nas quais me sentia livre para realizar experimentos. Eu me arrepio com a lembrança de um domingo em particular, quando no esforço de tornar mais interessante e “relevante” a participação dos jovens, falei as palavras de consagração do Senhor, “Este é o Meu Corpo, este é o Meu Sangue, fazei isto em memória de Mim”, utilizando um jarro de refrigerante e uma tigela de batatas fritas.

Questões teológicas eram o que mais me aborrecia. Lembro-me de estar em um hospital ao lado da cama onde um homem estava próximo de morrer, após sofrer um ataque cardíaco. Sua esposa extremamente preocupada me perguntou: “meu marido irá para o Paraíso?”. Eu hesitei por um momento antes de dar minha memorizada resposta presbiteriana. Considerei a grande diversidade de respostas alternativas que poderia dar, dependendo se quem perguntava era metodista, batista, luterano, da assembleia de Deus, nazareno, cientista cristão, do evangelho quadrangular, testemunha de Jeová ou qualquer outra denominação. Tudo o que eu podia fazer era falar, da boca para fora, um conjunto de palavras piedosas, porém, vagas, “nós devemos confiar no Senhor”, com a intenção de fazê-la se sentir menos preocupada sobre a salvação do marido. Ela talvez tenha sido confortada, mas a pergunta dela, emocionada e repleta de lágrimas, atormentou-me. Afinal, como um pastor, seguidor da reforma protestante, eu acreditava nas doutrinas calvinistas da predestinação e na perseverança dos santos. Esse homem entregou sua vida a Cristo, estava regenerado e confiante de que era um dos eleitos por Deus. Porém, ele realmente era?

Eu estava profundamente preocupado por saber que não importa quão sério ele tivesse pensado que era predestinado ao Paraíso (é interessante que aproximadamente todos que pregam a doutrina da predestinação acreditem firmemente que eles próprios fazem parte dos eleitos), e não importa quão sinceramente aqueles ao redor dele acreditam que ele tenha sido, ele poderá não ter ido para o Paraíso.

O que aconteceria se ele secretamente “tivesse uma recaída” cometendo pecado grave e vivendo em um estado de rebelião contra Deus no momento em que o ataque cardíaco o pegou de surpresa? A teologia da reforma protestante me disse que se esse fosse o caso, então a pobre pessoa foi simplesmente enganada por uma falsa segurança, pensando que ele estava regenerado e predestinado para o Paraíso, quando de fato ele não havia sido regenerado ao longo de sua vida e estava na verdade em sua caminhada para o inferno. Calvino ensinou que os eleitos do Senhor irão, – obrigatoriamente, – perseverar na Graça e eleição. Se uma pessoa morre em estado de rebelião contra Deus, ele prova que jamais foi um dos eleitos. Que tipo de certeza absoluta é essa? Eu me perguntei.

Achei difícil dar claras e confiáveis respostas para perguntas que minha comunidade eclesial me fazia, como por exemplo: “Meu marido irá para o paraíso?”. Todo pastor protestante que eu conheci tinha um conjunto diferente de critérios que ele listava como “necessários” para a salvação. Como calvinista, eu acreditava que se alguém publicamente aceitava Jesus como seu Senhor e Salvador, ele estava salvo pela Graça através da fé. Porém, mesmo consolando outros com essas palavras que soavam bem, incomodava-me o estilo de vida mundano e algumas vezes extremamente pecaminoso desses agora falecidos membros da minha congregação.

Após alguns poucos anos de ministério, eu comecei a ter dúvidas se deveria continuar.


Contemplando os pardais


 Levantei-me numa manhã antes do alvorecer e, pegando uma cadeira dobradiça, meu jornal e uma Bíblia, saí para um campo silencioso próximo da minha igreja. Era o período do dia que mais gostava, quando os pássaros estão cantando o despertar do mundo.

Frequentemente me admiro com a exuberância dos pássaros no início da manhã. Quão admiravelmente curtas memórias eles têm! Iniciam cada dia de suas simples existências com uma sinfonia de louvor para o Senhor que os criou, completamente desprendidos de preocupações ou planos. Algumas vezes eu “contemplava os pardais” e meditava sobre a simplicidade de suas vidas.

Sentando silenciosamente no meio de um campo coberto de orvalho, aguardando o sol aparecer, eu lia as Escrituras e meditava sobre as questões que me atormentavam, colocando minhas preocupações diante do Senhor. A Bíblia me alertou a não “confiar em (meu) próprio discernimento”, então estava determinado a confiar em Deus para me guiar. Eu estava imaginando deixar a função de pastor e visualizava três opções. Uma era me tornar o líder de um ministério jovem de uma igreja presbiteriana grande que havia me oferecido essa posição. Outra era deixar todo o ministério e voltar para a engenharia. A outra possibilidade seria retornar para a escola e aprimorar minha qualificação científica em uma área que pudesse abrir profissionalmente ainda mais as portas para mim: eu havia sido aceito em um programa de biologia molecular na Universidade do Estado de Ohio.

Pensei por muito tempo sobre essas opções, pedindo a Deus que guiasse meus passos. Uma voz audível seria ótimo, eu pensei, sorrindo, enquanto fechava meus olhos e esperava pela resposta do Senhor. Não fazia ideia de que forma A Resposta viria, mas não demorou muito para vir.

Meu devaneio terminou abruptamente quando um pardal cantando alegremente voou sobre mim e seu excremento atingiu a minha cabeça! “O que está me dizendo, Senhor?”, eu clamei com angústia por aquele Trabalho. A cantoria dos pássaros foi a única resposta. Não houve Voz vinda do Céu (nem sequer uma risada), mas somente os sons da natureza acordando do sono aquela região de Ohio.

Aquilo teria sido um sinal divino ou meramente um comentário no editorial do irmão pássaro sobre minhas preocupações? Com desgosto fechei minha cadeira, peguei minha Bíblia e fui para casa. Mais tarde, naquele dia, quando contei à minha esposa, Marilyn, sobre as três opções que eu estava considerando e o incidente sujo com o pássaro, ela riu e exclamou com sua típica sabedoria: “O significado é claro, Marcus: Deus está dizendo 'nenhuma das opções acima!'”.

Embora preferisse um método menos humilhante de comunicação, eu sabia que nada ocorre acidentalmente, e que nem os pardais, nem o que eles deixaram cair na Terra, ocorrem sem o conhecimento de Deus. Considerei isso pelo menos como uma dica cômica dada por Deus para eu permanecer no ministério. Porém, ainda sabia que minha situação não estava endireitada. Talvez eu precisasse de uma igreja maior, com mais verba e com mais assistentes. Certamente, então, eu estaria feliz. Assim, parti em direção de “a igreja maior é melhor”, pensando que satisfaria meu coração inquieto.

Em seis meses eu encontrei uma que gostei, e na qual o grande número de congregados parecia ter gostado de mim também. Eles me ofereceram uma posição de pastor sênior, com assessores e uma verba dez vezes superior a da minha igreja anterior. Melhor de tudo, essa era uma igreja evangélica robusta, com muitos membros, que eram ativamente interessados no estudo da Escritura e no ministério de leigos. Eu apreciava pregar diante dessa grande e, em grande parte, aprovadora congregação a cada domingo. Inicialmente pensei que tivesse resolvido o meu problema. Mas após somente um mês percebi que maior não significava melhor. Minha frustração simplesmente cresceu proporcionalmente. 

Sorrisos educados se apresentavam para mim durante cada sermão. Porém, eu não estava cego para o fato de que para muitos na congregação as minhas exortações apaixonadas sobre viver uma vida virtuosa simplesmente moviam-se rapidamente de um lado para o outro pela camada superficial da religiosidade como uma pequena gota de água sobre uma frigideira quente. Muitos diziam: “Ótimo sermão! Ele realmente foi uma benção para mim!”. Entretanto, parecia óbvio que eles quiseram dizer na realidade: “Aquele sermão é bom para as outras pessoas, pastor, – para os pecadores, – mas eu já alcancei a salvação. Meu nome já está na lista dos que irão para o Paraíso. Eu não preciso me preocupar com todas essas coisas, mas certamente concordo com você, pastor, que devemos falar a todos os pecadores para se endireitarem com Deus”.

Certo dia me encontrei diante do presbitério local como um porta-voz de um grupo de pastores e leigos que estavam defendendo a ideia de que ao usarmos a língua paterna para Deus numa oração pública, nós devemos chama-Lo “Pai”, não “Mãe”. Defendi essa posição apelando para a Escritura e a tradição cristã. Para meu espanto, percebi que o grupo que eu representava era minoria e que estávamos lutando em uma batalha perdida. Essa questão não seria solucionada por algum argumento claro que considerasse cuidadosamente a Escritura ou a história da igreja, mas sim por uma votação – a maioria dos votos sendo pró-linguagem-gênero-neutro liberal. Foi nessa reunião que reconheci pela primeira vez o princípio anárquico em que se encontra centrado o protestantismo.

Esses liberais (gravemente errados nos seus planos de reduzir Deus a uma mera função de “criador, redentor e santificador” ao invés de considerarem as Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo) estavam sendo simplesmente bons protestantes. Eles estavam simplesmente seguindo o curso do protesto idealizado para eles por seus antecessores Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores. A máxima (o princípio) da reforma de “eu não aceitarei um ensinamento a menos que eu acredite que ele esteja correto e seja bíblico” foi sendo invocado por esses liberais protestantes em favor de seus protestos contra o nome masculino para se referir a Deus. Subitamente reparei que eu estava observando o protestantismo na plena glória da doutrina egocêntrica do seu habitat natural: o protesto. “Em que tipo de igreja eu estou?”. Perguntei a mim mesmo, desapontado com a votação realizada e com o meu grupo derrotado.

Sobre este período, minha esposa, Marilyn, que estava sendo diretora de um centro pró-vida de crise de gravidez, passou a me questionar a respeito da inconsistência entre nossas firmes convicções pró-vida e a postura pró-escolha da nossa denominação protestante. “Como você pode ser ministro de uma denominação que aprova o assassinato de bebês que estavam por nascer?”, ela me perguntou. A liderança da minha denominação protestante havia se curvado perante a pressão de feministas radicais, homossexuais, pró-aborto e outros grupos extremistas pertencentes àquela denominação. Não obstante, aparentemente, para que membros de determinadas congregações pudessem se manter pró-vida e também com outros pontos de vista tradicionais, estes membros impuseram normas liberais rigorosas como critério para contratação de novos pastores. Quando Marilyn me despertou para o fato de que uma parcela das contribuições da minha congregação para a Assembleia Geral Presbiteriana era muito provavelmente para pagar abortos, – e não havia nada que eu ou minha congregação pudesse fazer a respeito, – fiquei chocado.

Marilyn e eu sabíamos que tínhamos que deixar essa denominação, mas para aonde iríamos? Essa pergunta me levou a outra: onde eu encontraria um emprego como pastor? Comprei um livro que listava detalhes de todas as principais denominações cristãs e comecei a avaliar muitas das que me interessavam. Eu lia os resumos doutrinais e pensava: essa denominação é legal, mas não gosto do ponto de vista deles sobre o Batismo. Essa aqui está "ok", mas o ponto de vista deles sobre o final dos tempos é exageradamente aterrorizador. Essa soa exatamente do jeito como estou procurando, mas me sinto desconfortável com o estilo deles realizarem adoração.

Após examinar todas as possibilidades e não encontrar nenhuma que eu gostasse, fechei o livro me sentindo frustrado. Eu sabia que estava deixando o presbiterianismo, mas não tinha ideia de qual denominação era a “certa” para me unir. Parecia-me que cada uma delas tinha algo de errado. “Muito ruim, eu não posso customizar minha igreja perfeita”, pensei comigo tristonhamente. Durante essa época, um amigo de Illinois me telefonou. Ele também era um pastor presbiteriano, e havia escutado um rumor de que eu estava planejando deixar a denominação presbiteriana. “Marc, você não pode deixar a igreja!”, ele me repreendeu. “Você nunca deve deixar a igreja; você está comprometido com a igreja. Não importa se alguns teólogos e pastores são excêntricos. Nós temos que permanecer com a igreja e trabalhar pela renovação com as pessoas que pertencem a ela! Nós temos que preservar a unidade a todo custo!”. “Se isso é verdade”, eu respondi aborrecidamente, “por que nós protestantes nos separamos primeiramente da Igreja Católica?”.

Não sei de onde saíram aquelas palavras. Nunca em minha vida tive sequer um pensamento passageiro sobre os reformistas estarem ou não corretos por terem deixado de fazer parte da Igreja Católica por discordar dela. Essa era a natureza fundamental do protestantismo: tentar trazer renovação por meio de divisão e fragmentação. O lema do presbiterianismo é “Reformada e sempre reformando”. (Dever-se-ia acrescentar: 'e reformando, e reformando, e reformando, e reformando...').

Eu poderia ir para outra denominação, sabendo que mais tarde possivelmente mudaria para outra, quando me tornasse insatisfeito; ou eu poderia decidir permanecer onde estava, convivendo com todos aqueles problemas. Mas então, como eu poderia justificar minha permanência onde estava? Por que eu não deveria retornar para o grupo da denominação anterior da qual nós, presbiterianos, desafiadoramente nos separamos por discordarmos dela? Nenhuma dessas opções me parecia correta, então decidi que deixaria o ministério até resolver a questão de alguma forma.

Retornar para a escola parecia a forma mais fácil para pegar um fôlego diante de tudo isso. Então eu me matriculei em um programa de pós-graduação em biologia molecular na Universidade Case Western Reserve. Minha meta era combinar meus conhecimentos científicos e teológicos em uma carreira de bioética. Eu esperava que um doutorado em biologia molecular me desse uma melhor condição entre os cientistas que uma graduação em Teologia ou ética.

As idas até o campus de Cleveland me tomavam uma hora. Então, durante os oito meses seguintes eu tive bastante período de silêncio para introspeção e para oração. Logo fiquei profundamente imerso em um projeto de pesquisa em engenharia genética, o qual envolvia a remoção e a reprodução de DNA humano retirado de rins homogeneizados. O programa era bastante desafiador, mas eu amava isso. Ainda assim, comparando com a complexidade dos aminoácidos e dos ciclos de bioquímica, debater-me com as conjugações latinas e declinações alemãs parecia ser bem mais fácil. – O projeto me fascinava e também me assustava. Eu sentia prazer com o estimulo intelectual da pesquisa científica. Porém, também via quão desumanizante poderia ser a pesquisa no laboratório. Tecido genético, colhido de cadáveres de pacientes mortos na Clínica de Cleveland, era enviado para nosso laboratório para pesquisa de DNA. Eu me sentia profundamente comovido pelo fato desses tecidos terem vindo de pessoas, – mães e pais, crianças e avós, – que tinham vivido, trabalhado, sorrido e amado. Dentro do laboratório, esses numerosos e organizados frascos de tecido eram simplesmente tubos de “coisas”, material “experimental” que era completamente dissociado da pessoa humana a quem pertenceu algum dia.

Escrevi um artigo sobre os problemas éticos relacionados com transplante de tecido fetal e comecei a falar para grupos cristãos sobre os perigos e as virtudes da tecnologia biológica moderna. As coisas pareciam caminhar conforme o plano – pelo menos até eu perceber que minha verdadeira razão para voltar à escola não era me graduar. Foi até o dia que comprei um exemplar do jornal local de Cleveland.

Em uma manhã de sexta-feira, após dirigir por muito tempo até Cleveland, estava tomando meu café da manhã e matando tempo antes da aula, tentando me manter acordado. Normalmente eu estaria utilizando meu tempo para estudar um pouco, mas naquela manhã fiz algo não usual: comprei um exemplar do jornal "The Plain Dealer". Coloquei os vinte e cinco centavos de dólar na máquina de venda de jornais. Eu não tinha como saber que estava chegando num ponto de bifurcação da Estrada. Estava para enveredar por um caminho que me levaria para fora do protestantismo (suponho que se tivesse sabido a priori para onde isso me levaria, teria corrido para outro caminho). Passando os olhos com pouco interesse, deparei-me com um pequeno anúncio que me chamou a atenção: “O teólogo católico Scott Hahn falará na paróquia católica local neste domingo à tarde”.

Fiquei extremamente surpreso: “Teólogo católico Scott Hahn?”. Não poderia ser o Scott Hahn que eu conheci! Frequentamos juntos, no início dos anos 80, o seminário teológico Gordon-Conwell. Naquela época ele era um calvinista anticatólico convicto, o mais convicto do campus. Estive participando superficialmente de um intenso grupo de estudo calvinista liderado pelo Scott. Mas enquanto o Scott e outros passavam horas investigando a Bíblia como detetives, tentando desvendar cada ângulo de cada implicação teológica, eu jogava basquete.

Ainda que não visse o Scott desde sua graduação em 1982, escutei um rumor negro acerca de ele ter se tornado católico. Eu não havia pensado muito sobre isso. Ou o rumor era falso, inventado por alguém que se sentiu ofendido pela (ou que sentiu inveja da) intensidade das convicções do Scott, ou então o Scott mudou. Decidi fazer a viagem de uma hora e meia para descobrir. Eu estava completamente despreparado para o que viria a descobrir.

** Leia a segunda e conclusiva parte deste depoimento

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Marcus Grodi é o fundador e presidente do 'The Coming Home Network International'. Ele frequentemente profere palestras e é o anfitrião dos programas da EWTN (www.ewtn.com/) veiculados duas vezes por semana: 'The Journey Home' (televisão) e 'Deep in Scripture' (rádio). Escreve para vários periódicos católicos e é autor dos livros 'How Firm a Foundation' (CHResources, 2002) e 'Thoughts for the Journey Home' (CHResources, 2010). Marcus vive com sua esposa, Marilyn e seus dois filhos mais jovens, Peter e Richard, em uma pequena fazenda próxima de Zanesville, Ohio.
Uma versão anterior dessa estória foi publicada no livro 'Surprised By Truth: 11 Converts Give the Biblica and Historical Reasons for Becoming Catholic' (Patrikc Madrid, ed. Basilica, 1994).
Essa história está publicada no livro 'Journeys Home', editado por Marcus Grodi (CHRresources, ver. Ed. 2011). Para solicitar o livro, clique aqui.
A versão original da história de conversão do Marcus Grodi encontra-se em:
http://chnetwork.org/2011/01/marcus-c-grodi-what-is-truth/

www.ofielcatolico.com.br
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