O impressionante caso da conversão de Afonso Ratisbonne

Afonso Maria Ratisbonne

UM DOS fenômenos mais específicos da vida religiosa é o da conversão interior, espiritual, que para ser autêntica e sincera só pode acontecer pela Graça de Deus. É precisamente por causa disso que a conversão religiosa não pode ser explicada pelas ciências físicas. As tentativas de explicação baseadas somente em vias psicológicas, sem considerar o fator divino, jamais produziram algo convincente ou conclusivo.

Talvez o caso da conversão do banqueiro judeu Afonso Ratisbonne seja um dos mais impressionantes dos últimos séculos. Seu caso é digno de especial análise, pois foi acompanhado de perto por várias pessoas qualificadas. Um jovem judeu, de uma família de banqueiros de Estrasburgo, de notável projeção social pelas riquezas e pelo parentesco com os banqueiros Rothschild, pelo meio-dia do dia 20 de janeiro de 1842, caminhava aparentemente despreocupado por uma rua do centro histórico de Roma.

Seu nome era Afonso Ratisbonne. Seu irmão mais velho, Teodoro, em 1827 converteu-se ao catolicismo e se fez sacerdote, rompendo com a família. As esperanças dos Ratisbonne se concentraram então em Afonso, nascido em 1814. Ele completara o curso de Direito e pensava em casar-se com uma jovem judia. Contava 27 anos e, antes de casar, fez uma viagem pela Itália e pelo Oriente.

Afonso era judeu de religião, embora não praticante, e nutria pela Igreja Católica um ódio entranhado, sobretudo pelo ressentimento da família por causa da conversão do primogênito. Dizia que se algum dia mudasse de religião seria para protestante, jamais católico.

Em Roma, visitou por curiosidade cultural algumas igrejas católicas, saindo ainda mais consolidado em seu anticatolicismo. Encontrou também um antigo colega seu, de nome Gustavo de Bussières. Gustavo era protestante e tentava convencer Afonso de suas convicções religiosas, sem sucesso.

Na casa de Gustavo, Afonso conheceu um irmão deste, o Barão Teodoro de Bussières, havia pouco convertido ao catolicismo e amigo íntimo do Pe. Teodoro Ratisbonne. Tudo isso o tornava sumamente detestável aos olhos de Afonso.

Na véspera de sua partida da Cidade Eterna, Afonso foi deixar um cartão de visitas na casa do Barão, como ardil de despedida, para assim evitar um encontro. Porém, o criado italiano do Barão não entendeu o francês e o fez entrar no salão. Na conversa, o Barão procurou atraí-lo para a Fé católica. Conseguiu apenas, e com muita dificuldade, que Afonso Ratisbonne aceitasse uma Medalha Milagrosa e prometesse copiar o “Lembrai-Vos”, bela oração a Nossa Senhora.

O judeu não cabia em si de raiva pela ousadia do Barão, mas resolveu agir com civilidade. Pensava em escrever um livro com o relato da viagem, no qual o Barão seria um personagem singular.

A 18 de janeiro, faleceu em Roma um amigo íntimo do Barão de Bussières, o Conde de La Ferronays, ex-embaixador da França junto à Santa Sé e homem de grande virtude e piedade. Na véspera da morte, La Ferronays conversou com Bussières sobre Ratisbonne e rezou cem vezes o “Lembrai-Vos” por sua conversão, a pedido de Bussières.

Esses eram os antecedentes em volta de Afonso Ratisbonne naquele dia 20 de janeiro. Mas, eis que na rua encontra o Barão de Bussières que estava indo para a Igreja de Sant'Andrea delle Fratte para combinar as exéquias do falecido conde de La Ferronays. Ratisbonne decidiu acompanhá-lo, mas de mau humor, criticando violentamente a Igreja e zombando das coisas católicas.

Na igreja, o Barão entrou brevemente na sacristia para tratar do assunto das exéquias. Afonso ficou percorrendo uma das naves laterais, impedido que estava de passar para o outro lado da igreja, pelos preparativos em curso para as exéquias do conde na nave central.



Imagens de Sant'Andrea delle Frate, Roma: a igreja do milagre

O relato do acontecido do próprio Barão Teodoro de Bussières:

Quinta-feira, 20 de janeiro de 1842

Ratisbonne não deu sequer um passo rumo à Verdade, sua vontade permanece como sempre: ele não deixa de ridiculizar tudo e parece se importar somente das coisas terrenas. Perto do meio-dia ele entrou em um café na Piazza di Spagna para ler os jornais. Lá ele encontrou o meu cunhado, Edmund Humann; eles conversaram sobre as notícias do dia, com uma irreverência e uma facilidade que excluía qualquer preocupação séria.

Parece que a Providência queria dispor as coisas de modo a excluir até a possibilidade de dúvida quanto ao estado de espírito de Ratisbonne pouco antes de a Graça inesperada de sua conversão.

Cerca de meio-dia e meia, saindo do café, ele encontrou seu amigo de escola, o barão A. de Lotzbeck e começou a conversar com ele sobre os assuntos mais frívolos. Ele falou da dança, do prazer, da esplêndida festa dada pelo príncipe T. Em verdade, se alguém tivesse dito a ele naquele momento: dentro de duas horas você vai ser católico, ele certamente o teria julgado louco. Por volta de uma hora, eu tinha de combinar algumas coisas na igreja de S. Andrea delle Fratte para a cerimônia fúnebre do dia seguinte. Mas encontrei Ratisbonne descendo pela Via Condotti.

Ele aceitou vir comigo, iria me aguardar alguns minutos e, em seguida, iríamos passear juntos. Entramos na igreja. Ratisbonne percebeu os preparativos para um funeral, e perguntou para quem seria feito. "Para um amigo que acabo de perder, e que eu amava muito, M. de Laferronnays”, respondi.


Ele então começou a andar pela nave e seu olhar frio e indiferente parecia dizer: “Esta é certamente uma igreja muito feia.” Deixei-o do lado da epístola na igreja, à direita de um pequeno compartimento destinado a receber o caixão, e fui para o mosteiro.

Eu tinha apenas algumas palavras para dizer a um dos frades, porque eu queria uma tribuna preparada para a família do falecido. Eu me demorei não mais do que 10 ou 12 minutos. Quando voltei para a igreja, de início não achei Ratisbonne. Mas logo o vi ajoelhado em frente ao Altar lateral de São Miguel Arcanjo. Fui até ele, toquei-lhe três ou quatro vezes, sem que ele percebesse a minha presença. Finalmente ele se virou para mim, o rosto banhado em lágrimas, com as mãos juntas, e me disse com uma expressão que nenhuma palavra vai render: “Oh, como este senhor [M. de Laferronnays] orou por mim!”

Fiquei petrificado de espanto, naquele momento senti aquilo que as pessoas sentem na presença de um milagre. Levantei Ratisbonne, acompanhei-o, ou melhor, quase o levei para fora da igreja, e perguntei-lhe qual era o problema, e aonde ele queria ir.“Leva-me onde quiserdes”, respondeu ele, “depois que eu vi, eu obedeço”. Insisti para que me explicasse o que queria dizer, mas não conseguia por causa de uma emoção forte demais. Ele tirou de seu peito a Medalha Milagrosa, e a cobriu de beijos e lágrimas. Eu tentei trazê-lo de volta para si, e não obstante as minhas insistentes perguntas, não recebia dele senão exclamações interrompidas por soluços:

“Oh, como eu sou feliz! Oh, como é bom o Senhor! Que plenitude de Graça e felicidade! Como é lamentável o lote daqueles que não sabem!” Então ele começou a chorar ao pensar em hereges e descrentes. Finalmente, ele se perguntou se não estava louco. “Mas não”, acrescentou ele, “eu estou em meu perfeito juízo. Meu Deus, meu Deus, eu não estou louco, não. Todo mundo sabe que eu não sou louco!”


Busto de Ratisbonne no local
lembra a conversão milagrosa

Quando a delirante agitação foi se acalmando, com um olhar sereno, e, eu diria, quase transfigurado, Ratisbonne estendeu seus braços em volta de mim e me abraçou, me pediu para levá-lo a um confessor; queria saber quando ele poderia receber o Santo Batismo sem o qual ele não podia viver, suspirava de felicidade pelos mártires, cujos tormentos ele tinha visto retratados nas paredes da igreja de S. Stefano Rotondo.

Ele me disse que não poderia dar explicação alguma sem a permissão de um padre, “porque aquilo que eu tenho a dizer”, acrescentou, “é algo que não posso dizer nem devo dizer senão de joelhos”.

Levei-o imediatamente à igreja do Gesù para ver o Pe. Villefort, que he pediu para se explicar. Então Ratisbonne, estendeu a medalha, beijou-a, mostrou-nos, e exclamou: “Eu a vi, eu a vi!” E a emoção voltou a embargá-lo. Mas logo ele recuperou a calma e se exprimiu nestes termos: Eu passei um breve tempo na igreja, quando de repente eu senti uma agitação de espírito indescritível. Ergui os olhos: diante de mim o prédio todo tinha desaparecido, só tinha uma capela, por assim dizer, onde se concentrou toda a luz. E no meio desse esplendor apareceu para mim, em pé sobre o Altar, grande, cheia de majestade e de doçura, a Virgem Maria, tal como ela é representada na minha Medalha.

Uma força irresistível me atraiu para ela. A Virgem me fez sinal com a mão que deveria ajoelhar e, em seguida, ela parecia dizer: assim esta bem! Ela não falou uma palavra, mas eu entendi tudo.

Ratisbonne fez esta breve narração parando com freqüência como para tomar fôlego e reprimir a emoção que tomava conta dele. Ouvimos com uma reverência sagrada, misturada com alegria e gratidão, maravilhados com a profundidade das vias do Senhor e os tesouros inefáveis de Sua misericórdia.


Uma frase nos impressionou mais do que as outras pela profundidade do mistério: “Ela não falou uma palavra, mas eu entendi tudo”.



Afonso Ratisbonne tornou-se sacerdote e apóstolo da conversão dos judeus (ainda segundo a descrição de Bussières)

Aliás, agora basta ouvir a Ratisbonne. A fé católica emana de seu coração como um perfume precioso do vaso que a contém, mas não pode confiná-la. Ele falou da Presença Real como um homem que acreditava que com toda a energia de seu ser, mas a expressão é muito fraca, ele falava como aquele que teve uma percepção direta.

Ao deixar o Padre Villefort, fomos dar graças a Deus, em primeiro lugar em Santa Maria Maggiore, nossa cara basílica da Santíssima Virgem, e depois na de São Pedro.

É impossível transmitir uma ideia do transporte de Ratisbonne quando esteve nessas igrejas. "Ah”, dizia ele, apertando minhas mãos, “agora eu entendo o amor dos católicos por suas igrejas, e a devoção que os leva a embelezá-las e adorná-las! Como é bom estar aqui! Querer-se-ia nunca deixá-las! Aqui não estamos mais na terra; é o vestíbulo do Céu ...”

Diante do Altar do Santíssimo Sacramento, a Presença Real de Jesus o impressionava de tal maneira que ele ficaria quase fora de si se não fosse afastado logo e levado para longe. Ficava aterrorizado pela ideia de comparecer perante o Deus vivo maculado como estava pelo pecado original. Apressou-se a se refugiar na capela da Virgem. “Aqui não posso ter medo. Sinto-me sob a proteção de uma misericórdia ilimitada”, ele me disse. E rezou com grande fervor diante do túmulo dos santos Apóstolos. A história da conversão de Paulo, que eu lhe narrei, o fez derramar lágrimas abundantes.


Afonso e seu irmão Teodoro: sacerdotes

Ele ficou admirado pelo poderoso afeto, aliás póstumo, para usar sua própria expressão, que o unia a M. de Laferronnays, e pretendia passar a noite ao lado de seus restos mortais, pois, dizia ele, este era seu dever imposto pela gratidão. Mas o padre Villefort, vendo que ele estava exausto de fadiga, contrariando este desejo piedoso, aconselhou-o prudentemente a não permanecer além das 22 horas.

Em seguida, Ratisbonne nos disse que na noite anterior não havia sido capaz de dormir, que ele tinha sempre diante dos olhos uma grande cruz, de uma forma peculiar, sem a imagem de Cristo que ficava constantemente diante dele. ‒ “Eu fiz”, disse ele, “esforços incríveis para afastar essa visão, mas todos foram infrutíferos”. Algumas horas depois, observando casualmente o reverso da Medalha Milagrosa, ele reconheceu a mesma Cruz!

Enquanto isso, eu estava muito impaciente querendo voltar a ver a família Laferronnays. Eu levava notícias consoladoras para eles no momento em que se despediam dos restos venerados daquele que eles choravam. Entrei na câmara mortuária em um estado de agitação, quase se poderia dizer de alegria, que chamou a atenção de todos os presentes porque compreenderam que eu tinha algo gravemente importante para comunicar. Todos eles me acompanharam até uma sala adjacente, e eu às pressas relatei o acontecimento.

Eu tinha trazido boas novas do Céu. As lágrimas de dor em um momento foram transformadas em lágrimas de gratidão. Aqueles pobres corações aflitos podiam agora suportar com perfeita resignação cristã o mais cruel dos sacrifícios que cobra a morte, o último adeus aos restos daquele que eles tinham amado...

Mas eu estava ansioso para voltar a ver o filho que o Céu tinha acabado de me dar. Ele me implorou para não deixá-lo sozinho porque precisava de um amigo em cujo coração derramar as profundas emoções daquele dia. Perguntei-lhe uma e outra vez as circunstâncias da visão milagrosa. Ele próprio não sabia explicar como passou do lado direito da igreja para a capela que está à esquerda, sendo que entre a capela e o local onde estava se encontravam os preparativos para o serviço fúnebre. Tudo o que ele sabia era que se viu de repente de joelhos, prostrado diante desse Altar.

De início, ele pôde ver claramente a Rainha do Céu em todo o esplendor de sua beleza imaculada, mas seu olhar não conseguiu suportar o brilho daquela Luz Divina. Três vezes ele tentou olhar a Mãe de Misericórdia, e três vezes só foi capaz de elevar seus olhos até suas mãos abençoadas, a partir das quais brotava uma torrente de graças em forma de feixes luminosos. ‒ “Ó meu Deus”, exclamou ele, “mas eu, que meia hora antes estava blasfemando ainda! Eu, que sentia um ódio tão violento contra a religião católica!... Mas todos os que me conhecem sabem muito bem que, humanamente falando, eu tinha os mais soberbos motivos para continuar a ser um judeu... Minha família é judaica, minha noiva é judia, meu tio é um judeu... Ao me tornar católico, eu rompo com todos os interesses e todas as esperanças que tenho na terra e, entretanto, eu não sou louco, vê-se claramente que eu não sou louco, que eu nunca fui louco! Portanto, devem acreditar em meu testemunho”.


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Fonte:
BUSSIÈRES, Theodore. La conversione di Alfonso Maria Ratisbonne, Chieti: Ed. Amicizia Cristiana, 2008, pp. 18-25.
ofielcatolico.blogspot.com

Entendendo a Inquisição e as Inquisições

Eis uma das citações favoritas daqueles que têm por hobby caluniar a Igreja. Mas o que eles sabem realmente sobre a Inquisição?



QUE IMAGENS nos vêm à mente quando pensamos na palavra “Inquisição”? Há uma multidão que imediatamente visualiza cenas de tortura e pessoas inocentes sendo queimadas na fogueira. É comum ouvirmos gravíssimas acusações contra a Igreja toda vez que se toca neste assunto. Muitos acham que a Igreja, se cometeu atrocidades no passado, não merece crédito hoje. E por puro desconhecimento da História, muitos católicos não sabem o que responder. A primeira pergunta a se fazer para quem critica a Igreja por conta da Inquisição é: quais livros você leu sobre o assunto?

Muitas pessoas têm o péssimo hábito de afirmar categoricamente, como se fossem verdades absolutas, coisas das quais apenas ouviram falar, que viram em algum filme hollywoodiano ou leram em alguma revista. Não negamos que a Inquisição cometeu abusos – alguns graves –, mas lembramos ao leitor: se você quer ser honesto, precisa procurar conhecer a verdade dos fatos antes de formar opinião. Neste artigo, buscamos lançar alguma luz sobre a questão, com fundamentação na História real. Não na imaginação de um diretor cinematográfico em busca de alta bilheteria.


1. O primeiro passo

Para começar a entender a questão, é fundamental conhecer o contexto mental, histórico, cultural e político da época. O maior de todos os erros ao se analisar este assunto é querer julgar fatos ocorridos numa outra era usando os padrões de moral de hoje.

A mentalidade, os valores éticos e os conceitos de moral mudam (normalmente progridem) com o passar do tempo. Sem a consciência de que a moral humana evolui é inviável analisar acontecimentos antigos. Tomemos como exemplo o próprio Antigo Testamento da Bíblia: os hebreus aplicavam a pena de morte por apedrejamento aos membros da comunidade que transgredissem a lei de Moisés, até mesmo aos filhos desobedientes (conf. Dt 21,18-21 e outros). Nos dias de hoje, uma pena dessas seria vista como desumana, cruel, hedionda. Naquela época, dentro da mentalidade e da cultura daquele período histórico, era considerada um ato de justiça.

Sim, o tempo passa e os conceitos de moral e justiça vão se aperfeiçoando. E, como cristãos, cremos que é Deus mesmo Quem nos dá consciência e capacidade intelectual para que possamos evoluir e viver cada vez mais e melhor o Caminho de Salvação, preparado para toda a humanidade e cumprido plenamente em Cristo.

O primeiro passo neste estudo, portanto, é entender o óbvio: a Inquisição existiu num período histórico muito diferente do nosso, com padrões de moral e justiça completamente diversos dos que conhecemos atualmente. Diga-se que falar mal do rei ou falsificar a moeda era punido com a pena de morte, o que era visto por aquela sociedade como perfeitamente correto e justo. Dentro desse contexto, o que mereceriam os traidores de Deus?


2. O 'telhado de vidro' dos acusadores da Igreja Católica

Outro erro grave é imaginar que a Inquisição Católica foi a única inquisição religiosa que existiu. Nesse período histórico, os governos de todas as nações eram extremamente violentos, se comparados aos de hoje; a lei e a ordem eram mantidas com mão de ferro e as penas eram sanguinárias em todas as culturas, tanto cristãs quanto islâmicas, hindus e pagãs em geral. Parece que uma página muito especial é descartada deste capítulo da História, por muita gente, quando se discute o assunto Inquisição. Responda rápido:

1) Que instituição religiosa condenou mais de 300 pessoas pela prática de bruxaria, decretando tortura e pena de morte na forca às famosas "bruxas de Salem"?1

2) Que instituição religiosa levou à morte mais de 30.000 camponeses anabatistas na Alemanha?2

3) Sob que ordens o médico espanhol Miguel Servet Grizar, o descobridor da circulação sanguínea, foi condenado a morrer na fogueira?3

4) Quem mandou para a fogueira mais de mil mulheres escocesas, num período de seis anos (1555 - 1561)?4

Sem dúvida muita gente responderia rapidamente, sem pensar e sem medo de errar, que a responsável por todas as barbaridades citadas acima foi a Igreja Católica. Resposta errada: todos esses crimes foram cometidos pela Inquisição Protestante, que quase nunca é mencionada pelos maiores críticos da Igreja Católica, simplesmente porque esses críticos, na maioria das vezes, são protestantes. Conhecimento seletivo? Parece que sim. Para piorar a situação, certos "pesquisadores" de porta de boteco só procuram conhecer os fatos que parecem confirmar aquilo em que eles querem crer.

Ocorre que também aqui, em terra brasilis, a maior parte dos que atiram pedras contra os católicos por conta da Inquisição é formada por protestantes/"evangélicos", como é o caso do blogueiro Júlio Severo, que em sua página publicou um lamentável artigo intitulado, simplesmente: "Como querem combater a cultura da morte (...) quando se sentem à vontade com a cultura da tortura e morte da Inquisição?", julgando que pode se colocar, enquanto protestante, acima da questão e julgando-se moralmente apto a julgar, de camarote, a Igreja Católica.

O que mostra a História real, porém, é que o Sacro Imperador Romano-Germânico Fernando I deu liberdade aos luteranos na luta contra os anabatistas, e o próprio Lutero escreveu um discurso, em 1528, no qual encorajava a perseguição dos que considerava hereges2. Como resultado, grupos da Inquisição Protestante esfolaram vivos os monges da Abadia de São Bernardo (Bremen), e depois passaram sal em suas carnes vivas, antes de pendurá-los no campanário do mosteiro3. Em Augsburgo, em 1528, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados por ordem do poder público protestante, sendo que muitos deles foram queimados vivos e outros marcados com ferro em brasa nas bochechas ou tiveram a língua cortada.2 O célebre teólogo Johann Matthäus Meyfart (protestante ele próprio) descreveu a tortura aplicada pela Inquisição protestante, que ele presenciou, qualificando-a como uma intolerável “bestialidade”2, nos seguintes termos:

Nos países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a mais de uma hora de tortura. Na Alemanha protestante, porém, a tortura é mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias, outras vezes até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada. Esta é uma história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer
('Christliche Erinnerung, an Gewaltige Regenten und Gewissenhafte Prädikanten', 1629-32)

Fique bem claro, porém, que não mencionamos o "telhado de vidro" protestante com a intenção de buscar a nossa justificação nos pecados alheios (o que seria absurdo). Se o fazemos é apenas para demonstrar a veracidade incontestável do primeiro ponto que apresentamos neste estudo: não é possível julgar fatos ocorridos em outras eras usando os padrões de moral de hoje, e absolutamente ninguém tem autoridade para fazê-lo. Se agirmos assim, não restará pedra sobre pedra de instituição humana alguma; a única solução possível será renegar e demolir tudo aquilo que construiu a civilização até o presente. Como se pode imaginar, este é um assunto longo, que não cabe neste estudo. O leitor que quiser saber mais a respeito pode ler um estudo próprio, acessando o link abaixo:

** Só em nome da Igreja Católica cometeram-se crimes ao longo da História?


3. Das causas da Inquisição da Igreja Católica

A Inquisição da Igreja Católica foi estabelecida na França, pelo Papa Gregório IX em 1231, para combater a heresia cátara, uma seita cuja doutrina contrariava todos os princípios que os Evangelhos e a Igreja defenderam desde o início do cristianismo. Foi uma das maiores ameaças à fé cristã de todos os tempos, mas não apenas isso. Os cátaros também ameaçavam a própria ordem social, pois eram contra a procriação e o Matrimônio. Consideravam malditas as grávidas, defendiam o suicídio por inanição, pregavam a renúncia radical aos prazeres, negando a Igreja e o culto religioso. Viam o corpo como intrinsecamente mau (uma manifestação do mal), e ensinavam a salvação através de um ciclo de reencarnações4.

Os cátaros ensinavam que nossos corpos e o mundo material tinham sido criados por um deus mal, e que o homem não devia se reproduzir. Para o catarismo, dois princípios eternos dividiam o Universo: um bom, criador do mundo dos espíritos, e um mau, criador do mundo terreno6. Como todas as heresias, o catarismo afirmava que a sua doutrina era o “verdadeiro cristianismo”, usando alguns termos e conceitos cristãos mas distorcendo seus significados e renegando os dogmas. Viam a Cristo como um “anjo caído” e negavam a Ressurreição do Senhor, rejeitando todos os Sacramentos. O aborto e o suicídio eram alguns dos seus princípios básicos4.

O catarismo se expandiu muito: dominaram o Languedoc, a Provença, influenciaram o nordeste da Espanha, a Lombardia, a Itália, a atual Yugoslávia e os Bálcãs. Passaram a ameaçar a estrutura da sociedade ocidental como um todo, e o problema cresceu a níveis realmente alarmantes, já que proibiam o juramento de lealdade, que era o fundamento das relações. Combatidos pelo Estado, os cátaros se ocultaram, mas continuaram difundindo suas ideias e práticas7.

O catarismo tornou-se uma ameaça grande demais para ser tolerada. A população assustada clamava por uma providência firme, e o Estado passou a perseguir os cátaros com grande violência. Com o tempo, a situação ficou insustentável, havia uma histeria e pessoas inocentes estavam sendo perseguidas e executadas sob falsas acusações. Assim, por incrível que possa parecer aos nossos ouvidos, tão habituados a ouvir grandes calúnias com este pretexto, a Inquisição surgiu como uma providência da Igreja para combater a onda de violência e buscar a justiça no combate à heresia.


4. Simpósio Internacional sobre a Inquisição – dos métodos da Inquisição católica que realmente existiu (não a dos filmes)

Como dissemos no início, todo inimigo da Igreja em algum momento apela para o argumento da Inquisição (que nos ambientes acadêmicos já está bem ultrapassado). Por incrível que pareça, muitos desavisados ainda acreditam nas fábulas claramente tendenciosas (para dizer o mínimo) escritas por Voltaire e outros. Chegamos a ouvir e ler que a Igreja teria mandado matar 4 milhões de mulheres só na Inglaterra(!), quando a população de Londres do século XV era de aproximadamente seis milhões de pessoas... Bem, se ainda existem ingleses no mundo, hoje, aí está a prova cabal da ridícula calúnia.

O Papa João Paulo II afirmou certa vez: “Na opinião do público, a imagem da Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. E perguntou “Até que ponto essa imagem é fiel à realidade?”. Vamos, então, aos fatos: evidentemente, a elucidação da questão depende diretamente dos dados e números históricos; apresentamo-los abaixo.

Tomamos como referência as atas do Grande Simpósio Internacional sobre a Inquisição (L'inquisizione. Atti del Simposio internazionale (Città del Vaticano, 29-31 ottobre 1998 / 9788821007613 / cura di Agostino Borromeo, editora da Biblioteca Apostolica Vaticana, 2003) – do qual participaram 30 reconhecidos historiadores de diversas confissões religiosas –, com o objetivo de conferir um tratamento histórico e definitivo ao controverso tema Inquisição: uma proposta feita e motivada (atenção) pela própria "cruel" Igreja Católica.

O encontro realizou-se entre os dias 29 e 31 de outubro de 1998. Com a total abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do Índice. As atas deste Simpósio foram, alguns anos depois, reunidas e apresentadas ao público sob a forma de livro, contendo 783 paginas, intitulado originalmente “L’Inquisioni”, por Agostinho Borromeo, historiador, professor da Universidade de La Sapienza de Roma e presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos. 

As atas documentais do Simpósio já foram e continuam sendo utilizadas em diversas obras acadêmicas; tais documentos são o resultado de uma profundíssima pesquisa sobre os dados realmente históricos dos processos inquisitoriais: as seguintes afirmações foram proferidas pelo citado Agostinho Borromeo9:

• Sobre a “terrível” Inquisição espanhola: “A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7% (13) foram condenados em 'contumácia', ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou falecidos os quais, em seu lugar, simbolicamente se 'executavam' bonecos”. É fundamental entender que a Inquisição espanhola foi uma instituição principalmente civil, não controlada pela Igreja, e que a própria Igreja censurou e tomou medidas contra ela7. Também é fundamental saber que quase tudo o que se divulgou a respeito da Inquisição espanhola é fruto das calúnias difundidas pelo ex-padre Juan Antonio Llorente, um apóstata que produziu documentos sobre a Inquisição na Espanha com o interesse de ajudar a França de Napoleão a dominar aquele país. Llorente queimou todos os documentos que usou, para que não se descobrissem falsificações7.

• Sobre a famosa “caça às bruxas”: “Dos 125.000 processos ocorridos em toda a sua história, os tribunais da Inquisição espanhola condenaram à morte 59 pessoas” (a propaganda anticatólica diz que foram 'milhões'!).

Constatou-se que os tribunais religiosos eram indubitavelmente mais brandos que os tribunais civis; que tiveram poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que, estes sim, condenaram à morte milhares de pessoas.

• Sentenças de um famoso inquisidor – “Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou, em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 'entregas ao braço secular'”, isto é, ao Estado (AQUINO, 2009, p.23).

O Simpósio concluiu, ao final, que as penas de morte e os processos em que se usou de tortura foram raros e pouco expressivos, ao contrário do se imaginava e do que foi amplamente propagado, por séculos a fio. Tais dados históricos definitivos representam a verdadeira demolição das falsas e fantasiosas ideias sobre a Inquisição. 

• Sobre a tortura, que era imposta pelo Estado, e não pela Igreja - a Inquisição foi a primeira instituição jurídica no mundo a declarar que as confissões sob tortura não seriam válidas para a condenação de alguém. A Inquisição exigiu que a tortura fosse limitada, e que deveria ser usada apenas para a obtenção de informações, e não como instrumento de punição. Que não poderia violar a integridade física da pessoa; que deveria ser limitada a no máximo meia hora, que deveria ser assistida por um médico e que jamais poderia se repetir4.

• O recurso da tortura, que era usado sempre nos tribunais laicos, não era constante na Inquisição, que recorreu muito raramente a esse procedimento: ao todo, menos de 10% dos processos usaram tal método8. A Inquisição impôs uma regra que proibia aos eclesiásticos derramar qualquer gota de sangue dos réus, e confissões obtidas sob tortura perderam a validade. No fim, o tribunal religioso condenou pouco8.

Notemos como a verdade histórica é radicalmente diferente daquela que vemos nos filmes de Hollywood (EUA = protestantismo). Os fatos surpreendem os leigos, acostumados a ouvir grandes e absurdos exageros. O fato é que a Inquisição também tinha por finalidade controlar os excessos de violência cometidos pelo Estado, e este é um fato tão certo que muitos presos, julgados pelos tribunais do Estado, passavam a blasfemar contra Deus e contra a Igreja, na esperança de serem transferidos para os tribunais da Inquisição5!

• Fato: as ações repressoras da Inquisição foram bem menos implacáveis que as civis, e indubitavelmente os métodos aplicados pela Inquisição eram mais humanos que os da autoridade civil: um notário transcrevia o processo, os acusados não ficavam presos durante o inquérito, podiam recusar um juiz e apelar para Roma contra alguma decisão do tribunal6. Por quê, então, se mantém uma imagem tão terrível do Santo Ofício? Por vários motivos, mas foi sobretudo o fanatismo do inquisidor espanhol Tomás de Torquemada (século XV), que ficou gravado na memória popular. Daí veio o protestantismo, no século XVI, o antipapismo anglicano, o iluminismo e o anticlericalismo dos séculos XIX e XX... Um conjunto de eventos e adversários da Igreja que pintaram um quadro pavoroso da Inquisição, que, mesmo sendo falso, ainda repousa na mentalidade do nosso tempo.

Poucas pessoas conhecem esses detalhes importantíssimos a respeito da História, mas muitos se acham qualificados para criticar a Igreja, imaginando que sabem tudo o que é preciso saber para formar e expressar opinião.

Finalizando, publicamos abaixo uma interessantíssima palestra do Prof. Dr. Ricardo Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo, a respeito do tema preconceitos sobre a Idade Média.


Palestra do Prof. Dr. Ricardo Costa (UFES)




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Fontes e bibliografia:

1. ROSENTHAL, Bernard. Salem History, reading the withc trials of 1692. Cambridge: Cambridge, 1993.

2. HARVEY, Ralph V. & Verna, Ralph's Documents, artigo "Anabaptists and the Free Churches", disp. em
http://www.rvharvey.org/d-anabaptists.htm
Acesso 10/2/014.

3. MC'NEILL, John T. The History and Character of Calvinism, New York: Oxford University Press, 1954, p.176 
 [Miguel Grizar Servet foi queimado na fogueira como herege por ordem do Conselho de Genebra, presidido por João Calvino].

4. CAMMILIERI, Rino. La Vera Storia dell´Inquisizione, Piemme: Casale Monferrato, 2001.

5. GONZAGA, João Bernardino G. A Inquisição em seu Mundo. São Paulo: Saraiva, 1993.

6. AYLLÓN, Fernando. El Tribunal de la Inquisición; De la leyenda a la historia. Lima, Fondo Editorial Del Congreso Del Perú, 1997.

7. WALSH, William T. Personajes de la Inquisición. Madrid, Espasa-Calpe, S. A., 1963.

8. Revista "História Viva" nº 32 - especial Grandes Temas / A Redescoberta da Idade Média, São Paulo: Duetto março/2011, p. 52.

• BORROMEO, Agostino. L'inquisizione. Atti del Simposio internazionale (Atas do Simpósio sobre a Inquisição), Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, 1998/2003.

• FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo: Perspectiva S. A., 1977.

• PERNOUD, Régine. Luz Sobre a Idade Média. Sintra: Europa-América, 1981

 • MAISONNEUVE, Henri. L’Inquisition. Paris: Desclée, 1989.

• HEERS, Jacques. A Idade Média: uma Impostura. Lisboa: Asa, 1994.

• GIMPEL, Jean. A Revolução Industrial da Idade Média. Sintra: Europa-América, 2001.

** Download gratuito do livro "A Inquisição em seu Mundo", de João Bernardino Gonzaga

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5º Domingo do Tempo Comum, ano A, Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Mateus (5,13-16)


TEMOS DIANTE de nós, neste quinto domingo do Tempo Comum, a mensagem de Jesus aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra (...) Vós sois a luz do mundo”. Não se trata de um discurso público, como o do sermão da Montanha, mas de um colóquio íntimo com os doze apóstolos. Cristo está a indicar que, mais do que cada indivíduo sozinho, é a Igreja nascente o “sal da terra” e a “luz do mundo”, reunida em torno do colégio apostólico, juntamente com Pedro. A imagem é deveras familiar, posto que em nosso tempo, marcado por um processo de descristianização agressivo, a Igreja moderna assemelha-se muito mais à Igreja nascente que à da Idade Média, época em que o cristianismo estava espalhado por todos os territórios e dava o tom tanto da vida pública quanto da vida privada. É precisamente num contexto de dificuldades, no qual inexiste uma cristandade pujante; pelo contrário, é-se “uma sociedade depravada e maliciosa” - para usar a expressão de São Paulo aos Filipenses -, que Nosso Senhor encoraja a Igreja a ser “sal da terra” e “luz do mundo”, fazendo “todas as coisas sem murmurações nem críticas” (Cf. Fl 2, 14).

De fato, a mensagem de São Paulo aos Filipenses é um retrato fiel de nossa época. E, no entanto, somos desafiados a dar testemunho de nossa fé, sem objeções, a fim de sermos “irrepreensíveis e inocentes” (Cf. Fl 2, 15). Esse chamado, por sua vez, só pode acontecer dentro do Corpo Místico de Cristo, já que “fora deste corpo, desta unidade da Igreja em Cristo”, a fé perde sua medida, não encontrando “o seu equilíbrio, nem o espaço necessário para se manter de pé”1.

Naturalmente, o chamado da vocação universal à santidade pode suscitar dúvidas acerca de algumas propostas de métodos pastorais. Ser “sal da terra” e “luz do mundo”, com efeito, exige uma fuga tenaz da tentação moralista; um risco eminente para as almas cristãs, sobretudo nesta época em que “a vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora”2. O moralismo certamente não é o caminho correto a seguir-se. E é Bento XVI a explicar-nos o porquê. Diz o Papa Emérito: “O cristianismo não é um moralismo, não somos nós que temos de realizar aquilo que Deus espera do mundo, mas em primeiro lugar temos que entrar neste mistério ontológico: Deus entrega-se a si mesmo.”3 Com essas palavras, o Papa Emérito está a esclarecer que a conduta reta de um ser humano não depende exclusivamente de uma ação pessoal, mas da graça que a nós chega como dom dos céus. Deus é quem opera a mudança em nossas vidas. Um agir de acordo com a consciência cristã depende, portanto, muito mais de um encontro com Deus, com a Sua Pessoa, do que de atitudes puramente humanas. Não se pode, por isso, impor à sociedade uma moral exigente sem antes lhe apresentar uma espiritualidade de vida interior; caso contrário, terminar-se-ia esmagado por esse jugo.

Jesus é quem nos transforma e capacita a ser “sal da terra” e “luz do mundo”, através da água do batismo e dos demais sacramentos. Vê-se essa realidade com clareza na vida e no testemunho dos santos que, com o “olhar global de Cristo sobre o mundo”4, atravessaram as piores dores e perseguições - muitas vezes com heroica resignação -, chegando até mesmo a alegria de entregar-se em holocausto pelo nome de Jesus. Pense-se nos exemplos dos mártires japoneses, São Paulo Miki e companheiros, no rosto resplandecente de um João Bosco enquanto dormia, ou no de um Maximiliano Kolbe, a poucas horas antes de ser morto pelas mãos dos nazistas. Nas lágrimas de gratidão do pequeno Beato José Sanches del Río, martirizado pelos algozes do governo mexicano. Trata-se da graça operante, não de uma força humana. É assim que entendemos o mistério de Santo Antônio, rezando luminoso com Cristo nos braços. Como intuiu Santa Teresinha do Menino Jesus, não somos nós que amamos a Deus, mas é Deus que nos dá o seu amor, para que possamos amá-Lo de volta. Amamos a Deus com o Seu próprio amor.

Com efeito, para que cheguemos a este nível de santidade, faz-se imperioso a vida interior, em que se renuncia a um ativismo desenfreado, tal qual o de Marta, nas páginas do Evangelho. É a vida interior o segredo por trás de um apostolado eficaz. Essa verdade está contida, a título de exemplo, num dos livros mais importantes para a espiritualidade católica, no século XX. Na obra de cabeceira de São Pio X, “A alma de todo apostolado”, o monge trapista Dom Jean-Baptiste Chautard indica precisamente a vida interior como instrumento de irradiação da Palavra de Deus para o mundo. É a vida interior a porta de entrada para as virtudes infusas: a fé, a esperança e a caridade.

De igual modo, Santa Teresa d’Ávila recordá-nos a oração como a ponte de acesso ao interior do castelo, ou seja, a nossa alma. Deve-se rezar, pedindo a Deus por sua graça. Mas esta oração não pode ser um mexer com os lábios apenas - Santa Teresa chega até mesmo a negar a validade desse tipo de oração -, mas um relacionamento amoroso com o Deus vivo5. Como ensina Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est, “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa”6. Mais do que repetição de palavras, a oração é um encontro, um diálogo de amor com o Pai. Com efeito, a primeira atitude efetiva a tomar-se nesta busca pela vida interior é a da humilhação. Apenas a consciência de que somos vasos na mão de Deus é que nos pode auxiliar neste trajeto. Além disso, devemos ansiar pelo amor de Deus até o instante em que a esperança nos faça sair da atitude efetiva para entrar na atitude afetiva: amar verdadeiramente a Deus, através de uma autêntica mudança de vida, a metanoia, abandonando todas as ações que, de per si, são ofensas ao Senhor. Ao termo desta jornada, chegamos então as três virtudes teologais, embasadas pelo alicerce de todas as virtudes: a fé, a esperança, a caridade e a humildade.

Este é caminho para a santidade, este é caminho de todos aqueles que desejam ser “sal da terra” e “luz do mundo”.

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Referências



3. Bento XVI, "Lectio Divina" com os Seminaristas (12 de fevereiro de 2010)

4. « Vom Wesen katholischer Weltanschauung (1923) », in: Unterscheidung des Christlichen. Gesammelte Studien 1923-1963 (Mainz 1963), 24.

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Fonte:
Site Padre Paulo Ricardo, artigo "Vós sois a luz do mundo", homilia do 5º Domingo do Tempo Comum, ano A, disponível em
http://padrepauloricardo.org/episodios/5-domingo-do-tempo-comum-vos-sois-a-luz-do-mundo
Acesso 8/2/014
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Virgindade perpétua de Maria, Mãe de Jesus Cristo

O que significa este dogma? Trata-se de uma invenção da Igreja ou possui fundamento bíblico e histórico? Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos? Quem eram os irmãos de Jesus, citados na Bíblia?



PARA NÓS, CATÓLICOS, “Jesus é o único filho de Maria” (CIC §501). Cremos que Jesus não teve irmãos de sangue, e isso testemunha o dogma da Perpétua Virgindade de Maria. Todavia essa verdade de fé é muito contestada por “evangélicos” que, lendo superficialmente o Evangelho, encontram trechos aparentemente incompatíveis e menções aos "irmãos de Jesus". Vejamos o que diz o Evangelho segundo S. Mateus:

Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? (Mt 13,55-56).

Sim, o texto sagrado cita "irmãos de Jesus", e em outras passagens ainda revela os seus nomes: Tiago, José, Simão e Judas. A versão de S. Marcos também nomeia os ditos irmãos de Jesus (Mc 6,3), e o Evangelho segundo S. Lucas diz: “Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos...” (Lc 8,19). Já o 4º Evangelho (S. João) relata: “Depois disto desceu Ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,12). Também nos Atos dos Apóstolos encontramos referências aos irmãos de Jesus: “...Perseveraram unânimes em oração, com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os seus irmãos” (At 1,14).

E agora? Como podemos crer ainda na virgindade perpétua de Maria, se as Escrituras são tão claras em afirmar que o Senhor tinha irmãos?

Como sabemos, as passagens citadas acima são sempre usadas para atacar a fé dos católicos, e podem provocar mesmo certa confusão: Jesus teve ou não irmãos de sangue? Acontece que a resposta nos é dada pela própria Bíblia Sagrada. Vejamos...

Como visto, os irmãos de Jesus seriam Tiago, José, Judas e Simão – mas seriam eles filhos de Maria e de José? A resposta é não, não eram. Os Evangelhos testemunham que todos eles tinham outro pai e outra mãe. Pesquisando, vemos que a Bíblia cita dois Tiagos: um é filho de Alfeu (Cleofas) e outro é filho de Zebedeu. Lemos em S. Mateus (atenção para os grifos):

Eis os nomes dos doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. (Mt 10,2-3)

E S. Mateus ainda nos revela o nome da mãe de Tiago e de José: “Entre elas, se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56).

Vemos então que Alfeu (Cleofas) era o pai de Tiago e de José, os mesmos que são chamados "irmãos de Jesus". A mãe deles se chamava, sim, Maria, um nome que já era comum naquele tempo. Essa Maria era a mãe de Jesus? Não. Sabemos isso com certeza porque o Evangelho segundo S. João mostra esta Maria ao lado da Virgem Maria, mãe de Jesus, na hora da crucificação: “Junto à Cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cleofas, e Maria Madalena.” (Jo 19,25).

Se a Mãe de Jesus estava junto com Maria de Cleofas, que era a mãe de Tiago e de José, então sabemos, sem nenhuma dúvida, que não se trata da mesma pessoa. E vemos que João chama à outra Maria de “irmã da mãe de Jesus”: – “... a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas...”.

Logo, se o que o Evangelho diz é verdade (como católicos, cremos que é) está demonstrado que Maria de Cleofas era irmã da Maria mãe de Jesus, Nossa Senhora. Logo, segundo a Bíblia, Tiago e José, que são chamados irmãos de Jesus, eram na realidade seus primos.

Talvez – e é bem provável – Maria de Cleofas não fosse irmã direta de Maria Santíssima. Na realidade seria imprudente crer literalmente na afirmação de Maria de Cleofas como "irmã" (adelphé : αδελφή no texto bíblico) de Maria, mãe de Jesus, pois é improvável (embora não impossível) que um pai judeu colocasse o mesmo nome em duas de suas filhas. A esse respeito disse o historiador Hegesipo, ainda no século II, que ambas eram cunhadas, pois seus maridos, estes sim, eram irmãos de fato (cf. Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Lv III, XI,1). Sendo cunhadas (parentes próximas), são chamadas "irmãs", e aqui estamos diante de outra forte evidência de que o significado do termo era plural: a terminologia "irmão/irmã" era utilizada de modo geral para a designação de parentesco.

O mais importante e que mais nos interessa, aqui, é justamente isto: acabamos de provar que, na linguagem bíblica, o termo "irmão" pode designar parentesco, e não quer dizer necessariamente que duas pessoas sejam filhas do mesmo pai e da mesma mãe. Isso não é nenhuma novidade ou segredo para qualquer especialista em disciplinas como Sagrada Escritura, História de Israel, Hebraísmo ou outras. Quem insiste em querer interpretar literalmente as passagens que se referem a "irmãos de Jesus" é ignorante do assunto ou desonesto. 

Mas e quanto a Judas Tadeu, que também é citado na lista dos “irmãos de Jesus”? Este caso é bem interessante, porque o próprio S. Judas esclarece a dúvida, logo no início da sua Epístola, quando se apresenta: “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago...” (Jd 1,1).

Portanto, S. Tiago, que é diversas vezes chamado "irmão de Jesus", assim como José e Judas, eram irmãos entre si, e portanto sobrinhos de Nossa Senhora; logo, eram primos de Jesus Cristo. Fica aqui, mais uma vez, "biblicamente provado" o costume dos autores dos Evangelhos de se referir a primos e primas, ou em alguns casos até a parentes mais distantes, como "irmãos".

Quanto a Simão, contamos com os registros históricos de Hesegipo, historiador do primeiro século (que possivelmente conheceu os descendentes dessas pessoas) que incluem Simão entre os filhos de Maria e Alfeu. Então por que, exatamente, a Bíblia chama essas pessoas de “irmãos de Jesus”? É bem simples: são chamados “irmãos” porque na língua hebraica falada na época não havia um termo específico para “primos”. Nos textos originais, a grafia AH é empregada para designar parentes de até segundo grau.


As evidências escriturísticas são abundantes

Além de tudo isso, muitas outras evidências demonstram que a Sagrada Família de Nazaré era composta por três membros apenas – Jesus, Maria e José – como o início do Evangelho segundo S. Mateus, que diz, literalmente

Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e retorna à Terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do Menino. José levantou-se, tomou o Menino e sua mãe e foi para a Terra de Israel.
(Mateus 2, 19-21)

Entre historiadores e biblistas não há consenso, mas sabemos que a fuga para o Egito transcorreu durante o período de perseguição de Herodes, e que a volta ocorre somente depois da sua morte. São propostas várias datas para esse período de exílio, a partir de documentação e dados diversos. Para alguns seria algo entre dois e três anos, outros calculam um período de sete anos[1]. Em todo caso, se Maria tivesse tido outros filhos com José, conforme o que era a prática habitual da época, de famílias numerosas com filhos que vinham em sequência, certamente já haveria ao menos mais uma criança, que seria mencionada pelo anjo. Mas o mensageiro de Deus manda que José tome Maria e o Menino (no singular) e os leve de volta para Israel, sem mencionar nenhum irmão ou irmãos.

Também o Evangelho segundo S. Lucas atesta a mesma verdade, na passagem que apresenta Jesus sendo encontrado no Templo de Jerusalém, já aos 12 anos de idade, pregando aos doutores. De acordo com a lei judaica, toda a família devia peregrinar a Jerusalém, pela Páscoa (conf. Dt 16,1-6; 2Cr 30,1-20; 35,1-19; 2Rs 23,21-23; Esd 6,19-22). E a Escritura diz que somente José, Maria e Jesus foram a Jerusalém.

Maria, então, afirma que ela e José procuraram Jesus, quando se perderam d'Ele: “Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura” (Lc 1,48). Mais uma vez, se houvessem irmãos de Jesus, seriam mencionados aqui, mas não são.

Outro trecho bíblico que prova que Maria não tinha outros filhos: no momento da crucificação, em meio às terríveis dores, Jesus confere ao discípulo João a tarefa de acolher Maria em sua casa (Jo 19,27). Se Jesus tivesse irmãos de sangue, ele não deixaria sua mãe com João, até porque a Lei mandava que, no caso da morte do filho mais velho, o irmão mais moço assumisse os cuidados da mãe. Jesus não tinha irmãos e deixou sua mãe com João. Mais uma vez, está na Bíblia.

A verdade pura e simples é que outros filhos não são literalmente mencionados entre os integrantes da Sagrada Família, em nenhuma – absolutamente nenhuma – parte da Bíblia.


Outras contestações

1. Outra argumentação, esta bastante infantil, baseia-se em um trecho do Evangelho segundo S. Mateus, que diz: “(José) a recebeu (Maria) em sua casa sua esposa; e não a conheceu até que ela deu à luz o Filho” (Mt 1,25)... Alguns querem ver aí uma insinuação de que José e Maria não coabitaram no período da gravidez, mas que depois disso tiveram uma vida conjugal normal.

Ocorre, porém, que a palavra do texto original traduzida por “até” não tem essa conotação. Para tirar qualquer dúvida, basta observar que se trata do mesmo vocábulo usado em 2Samuel (6, 23), que diz o seguinte: “Mical, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte”. Fica bem demonstrado que, no contexto que estamos estudando, a preposição “até” pode indicar continuidade. Mical não teve filhos até a morte. E será que depois da morte ela teve filhos? Óbvio que não. A palavra “até”, nesse caso, sugere que a situação de Mical permaneceu a mesma depois da morte. O mesmo pode perfeitamente valer –, como de fato vale –, para a sentença “José não a conheceu até que ela deu à luz o Filho”. Virgem antes, permaneceu depois, assim como Mical não teve filhos até a morte, e, evidentemente, nem depois.

2. Jesus, o Filho primogênito" – Outra contestação recorrente é aquela que se baseia, mais uma vez, na interpretação equivocada de um único adjetivo: "primogênito". Porque e Evangelho segundo S. Lucas diz que Jesus foi o primogênito, alguns são rápidos em supor que Maria teve outros filhos.

Vamos entender muito bem o que isso quer dizer: o Evangelho diz: "Maria deu à Luz seu Filho primogênito" (Lc 2,7). Como sabemos, a palavra "primogênito" significa primeiro filho – e apenas isto, podendo esse primeiro ser filho único ou não. O estudo da filologia revela que na redação dos Evangelhos a palavra "primogênito" significava, literalmente, "o filho que abriu o útero" (cf. Ex 13,2). Assim, no Livro de Números (Nm 3,40), lemos: "O Senhor disse a Moisés: 'Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e o levantamento dos seus nomes'".

Se a palavra primogênito indicasse a existência de outros irmãos, poderiam haver primogênitos "da idade de um mês para cima"? Claro que não, já que os bebês de poucos meses, sendo os primeiros filhos, não tinham nenhum irmão. Mesmo assim, são chamados primogênitos. Muito simples.

Mais ainda, se considerássemos que o termo primogênito significasse necessariamente o primeiro filho, seguido de mais um ou mais alguns irmãos, então seríamos obrigados a dizer, em consequência, que Jesus também não é o único Cristo Filho de Deus(!). Sim, pois o livro de Hebreus diz que é Ele o Filho primogênito de Deus Pai:

E novamente, ao introduzir no mundo o seu Primogênito, diz: ‘Todos os Anjos o adorem!’.
(Hb 1,6)

Sim. A Epístola aos Hebreus diz, com todas as letras, que Jesus Cristo é o Primogênito do Pai, por isso é adorado por todos os Anjos. Pergunta aos protestantes: se a palavra "primogênito" significa "o primeiro irmão", então nós temos um outro Filho de Deus, outro Senhor, algum Irmão celeste de Jesus? Temos mais  uma Pessoa divina, além do Pai e do Filho e do Espírito Santo? Há mais de um Messias adorado por todos os Anjos?

Se a resposta para todas essas perguntas é não, pois Jesus Cristo é o único Filho de Deus e Deus, o único Salvador e Mediador entre Deus e os homens, então você, querido "evangélico", é obrigado a reconhecer que o termo "primogênito", aplicado a Jesus, não implica, de maneira nenhuma, que Ele tenha tido outros irmãos, filhos da mesma mãe.

Dizemos e proclamamos mais uma vez, com a autoridade da única Igreja instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo: em lugar absolutamente nenhum da Bíblia Sagrada está escrito que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos; ao contrário: todo o contexto do Livro Sagrado indica com clareza que Jesus foi e é o seu único Filho.

Para encerrar, lembramos que a Virgindade Perpétua de Maria não é fé somente católica. Todos os cristãos antigos, os católicos como também os ortodoxos, professam essa mesma verdade, e até os islâmicos. E assim também fizeram os primeiros chamados "reformadores" protestantes, que terminaram por dar origem àquelas que hoje são chamadas erroneamente “igrejas evangélicas”, dando o seu testemunho pessoal deste dogma católico, como vemos nos escritos do próprio Lutero:

O Filho de Deus se fez homem, concebido do Espírito Santo, sem o auxílio de varão, a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.
(Martinho Lutero, 'Artigos da Doutrina Cristã')

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1. LEAL, Juan e outros, La Sagrada Escritura, Evangelhos I, BAC Madrid 1964, pp. 30-31; ELLI, Alberto, Vida (e morte) de José, o carpinteiro, em Revista Terra Santa n°. 4 2012, pp.31-32, Jerusalém, Israel.

• Ref. bibliográfica:

MADROS, Peter H. Fé e Escritura - 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1989, pp. 140-153

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Cristianismo e felicidade


O PROBLEMA CENTRAL da existência humana é ser feliz. E não é difícil compreender que o grande “segredo” para se atingir uma vida verdadeiramente feliz começa pelo conhecimento de que essa felicidade não pode depender de qualquer coisa externa ao próprio ser; não deve ser criada por circunstâncias, e sim brotar da profundeza interna da própria pessoa. É assim porque a pseudofelicidade, criada por circunstâncias externas, também está sujeita, claro, a ser destruída pelas mesmas circunstâncias; é precária, incerta, fugaz. Por isso mesmo não é a verdadeira, duradoura e plena felicidade.

    Alguém, por exemplo, que goste muito de praia, sol e mar, vai se sentir feliz quando estiver em uma destas, admirando a enormidade do oceano e experimentando o calor do sol em sua pele; mas, se logo vem uma frente fria e chuva persistente, essa "felicidade" acaba. Ora, assim percebe-se que aquele bem estar que tal pessoa experimentava em desfrutar a praia não era verdadeira felicidade, mas apenas uma sensação agradável totalmente efêmera e circunstancial.

    Para o Cristianismo, a única possibilidade de ser verdadeiramente feliz está em Deus, porque só Deus é eterno, imutável e permanente, além de ser a própria Fonte da vida e o Doador de todos os bens, além de único Possibilitador de toda realização humana possível.

    Pois para se estar e permanecer em Deus é preciso ser santo (conf. Lv 11, 44; 19, 2; 20, 7; 1Pd 1,16).

    Existem dois modos principais de ser santo: pode o ser humano ser sacrificialmente santo e pode ser jubilosamente santo.

    É preciso reconhecer que este segundo tipo é ainda muito mais raro – dentro de um universo já restrito – e também mais difícil de se obter, sim. Mas também é preciso reconhecer que somente este segundo tipo de santidade poderá resolver, definitivamente, o problema central da felicidade humana. Porque enquanto ser santo ainda for difícil, algo como uma busca angustiosa e sofrida, ou como aceitar tomar um remédio muito amargo pensando apenas no bem que fará; enquanto ser santo for um ato exclusivamente sacrificial, então estará o ser humano a caminho da felicidade, mas não será plenamente feliz.

    Enquanto o homem sobre a Terra não fizer a Vontade de Deus assim como o fazem os homens nos Céus (os Santos), isto é, espontânea e jubilosamente, não estará garantida a sua felicidade. Ele poderá – e deverá – empurrar o pesado arado que preparará a terra de sua alma para o florescimento de uma vida nova e realmente feliz (Lc 9,62), mas ainda se sentirá constantemente tentado a olhar para trás, para a sua antiga vida e costumes. E, como diz Nosso Senhor, “quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Sentirá saudades de sua vida antiga, do falso prazer que propiciavam os seus antigos "pecados de estimação" os quais precisou deixar para trás quando resolveu se converter.

    O cumprimento feliz e pleno da Vontade de Deus é impossível ao homem que não tenha vivido a experiência íntima e direta de Deus. E essa experiência de Deus coincide com a experiência do verdadeiro “eu” do próprio homem, se é verdade que é nesse eu central que “o Espírito de Deus habita o homem” (1Cor 3,16-23), no dizer de São Paulo, como disse também o Cristo que “o Reino de Deus dentro do homem” (Lc 17, 21): a experiência do nosso interior, do nosso verdadeiro "eu", é necessária à experiência do próprio Deus.

    Santa Teresa de Jesus advertiu-nos, em sua obra clássica "O Castelo da Alma" da importância de o ser humano conhecer-se a si mesmo, no que ficou conhecido como "socratismo teresiano". Nos segundo capítulo de suas "Primeiras Moradas" (§8-9), ela diz:

Oh, e como é absolutamente necessário o conhecimento de si mesmo! Vejam se me entendem. Por mais que a alma tenha se elevado (refiro-me inclusive àquela que o Senhor já acolheu na morada onde Ele está), não lhe cumpre fazer outra coisa senão buscar conhecer-se a si mesma. Nem poderia deixar de fazê-lo, se quisesse, porque a humildade sempre fabrica o seu mel, como a abelha na colmeia. Sem isso, está tudo perdido. Tal como a abelha, que não deixa de sair para colher o néctar das flores, assim é a alma, no que se refere ao conhecimento de si mesma. O conhecimento de si mesmo é tão importante que não queria que vocês se descuidassem dele, por mais adiantadas [fala às suas irmãs de hábito] que estejam no caminho dos Céus. (...)  Procurem empenhar-se ao máximo no conhecimento de si mesmas.1

    O ênfase de Santa Teresa está na comparação que, diante de Deus, inevitavelmente faremos por meio da contemplação de nossa realidade mais íntima e profunda: a Plenitude de Deus e as nossas limitações; a Perfeição de Deus e as nossas fraquezas; a Fidelidade de Deus e as nossas constantes traições; a extrema humildade de Deus (Jesus no Getsêmani, por exemplo) e o quanto estamos longe de ser realmente humildes... Isso nos levará a ver o quanto somos agraciados e quão grande é o Amor de Deus por cada um de nós. Aquele que chega a essa experiência vital, quase que como uma espécie de efeito colateral chega ao conhecimento da Verdade – que liberta. Finalmente livre e independente de todos os fatores externos, somente tal pessoa é, sólida e irrevogavelmente, feliz.

    Sem essa profunda experiência do conhecimento de si mesmo, o ser humano será infeliz mesmo em meio a todos os prazeres e confortos que este mundo é – ou será um dia – capaz de oferecer. Ao contrário, com essa experiência e consciência, a felicidade se mantém, mesmo em meio às maiores provações e aparentes sofrimentos deste mundo.

    Felicidade ou infelicidade são estados do nosso espírito. Felicidade ou infelicidade são coisas que os seres humanos são/estão, e não estão relacionadas a algo que possuam. Ninguém “tem” felicidade ou tristeza. Uma pessoa é feliz ou infeliz. Ser feliz não está absolutamente relacionado ao ter, mas sim ao ser.

    A perfeita harmonia do espírito, do “eu” humano, com a Realidade divina: eis a plena felicidade. Isto é moldar-se à Vontade de Deus, que –, quer tenhamos consciência disto quer não –, é sempre o melhor para nós mesmos. O misticismo judaico intuiu que cada ser humano pode ser definido, em certo sentido, por aquilo que deseja. O desejo é a força que move e define os seres humanos: por essa perspectiva, pode-se dizer que em um nível profundo somos feitos dos nossos desejos.

    Pare e pense um pouco sobre estas duas questões:

    1) Qual o seu maior desejo?

    2) De que maneiras você poderia definir o seu viver neste mundo?

    Faça realmente uma pausa e reflita com honestidade sobre essas duas perguntas, antes de respondê-las, de si para si mesmo. Depois, analise suas conclusões e veja se as duas respostas estão intimamente relacionadas. Sim? Você vive de acordo com aquilo que deseja? O ter ou não o que você deseja define o estado geral de sua vida? Pois bem. Esse experimento simples demonstra que a verdadeira e perene felicidade só pode ser possível a partir do momento em que você alinhar a sua vontade com a Vontade Perfeita da Consciência Suprema que é Deus, porque somente esta é o nosso verdadeiro bem, porque esta se concretizará infalivelmente e porque esta permanecerá para sempre. Este é o meio cristão de ser feliz. É o único meio. Outros tipos de felicidade podem existir, mas não representam a felicidade plena/integral, pois são naturalmente efêmeros, temporários, incertos. Quem deposita a sua felicidade em posses ou criaturas não poderá nunca se considerar realmente feliz, mas alguém que vive momentos de alegria.

    Por felicidade não entendemos alguma sensação passageira, mas um estado de realização integral, que se reflete concretamente na vida do indivíduo.



    Concluímos, a partir daí – porque a verdadeira felicidade reside verdadeiramente em Deus – que o segredo da felicidade é, então, o Amor, se é que cremos e sabemos que Deus é Amor. Foi isso o que afirmaram todos os Santos, e esta é uma maneira de resumir e simplificar a resposta. Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face (nossa 'Santa Terezinha') parece ter chegado a estas conclusões, quando disse:

Ó Farol Luminoso do Amor, eu sei como chegar a Ti; encontrei o segredo de me apropriar da Tua Chama! (...) Compreendi que o Amor engloba todas as vocações, que o Amor é tudo! (...) Como estou longe de ser conduzida pela via do temor, sei sempre encontrar o meio de ser feliz e aproveitar de minhas misérias...
(História de uma Alma, n.s 255 e 256)

    A vida interior magistralmente resumida por esta doce menina santa. Se aceitamos que a condição mínima de Jesus para quem deseja segui-lo é renunciar a si mesmo e incondicionalmente dedicar-se a segui-lo, e se compreendemos e assumimos que Deus é Amor, de fato entendemos que o caminho para a felicidade é também o caminho do Amor, o único que leva a Deus.

    Sim, o ser humano nasceu para ser feliz, embora o mundo não entenda nada de felicidade, na medida que a confunda com riquezas e posses. Deus é a Fonte da felicidade. Por isso, dizemos também que o segredo da felicidade está em “deixar” Deus ser Deus em nossas vidas, não somente aceitando, mas modelando-nos e alinhando-nos, dia a dia, passo a passo, à sua santa Vontade. Assim seja para cada um de nós.

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1. Santa Teresa prega o constante e perpétuo aperfeiçoamento do ser humano no conhecimento de si mesmo como meio de busca da profundíssima humildade que é fundamental ao cristão: 'A meu ver', diz ela, 'jamais nos conheceremos realmente sem antes conhecer a Deus: contemplando a sua Grandeza, enxergamos a nossa baixeza; mirando a sua Pureza, reconhecemos a nossa impureza; refletindo sobre a sua Humildade, entendemos como estamos longe de ser humildes'.

A ‘corrente dos Arcanjos’, a autêntica devoção aos Santos Anjos e a Coroa Angélica de S. Miguel Arcanjo


RECEBEMOS RECENTEMENTE o pedido de orientação de um nosso leitor –, o qual não terá o seu nome divulgado –, querendo saber sobre a posição da Igreja quanto à adesão de católicos a uma tal "corrente dos Arcanjos", da qual consta a invocação a certos "anjos" que não são reconhecidos pela Igreja e não constam das Sagradas Escrituras e nem da Tradição cristã.

De fato, esta e outras falsas devoções, travestidas de práticas católicas, voltam à baila de tempos em tempos, levando uma quantidade incalculável de almas à perdição. Acreditando que esse assunto (adesão de católicos a rituais, orações e práticas estranhas à doutrina cristã) seja do interesse de outros leitores, achamos por bem compartilhar nossas orientações. Que sejam úteis:

Eis aí um grande problema dos chamados "católicos mornos", que pensam mais ou menos assim: "Sou católico(a), mas não vejo problema em experimentar essa pequena magia que estão me recomendando"... "Sou católico(a), mas não vejo mal em ir ao centro espírita, de vez em quando"... "Sou católico(a), mas acredito nesta 'simpatia' que estão me ensinando"... São estes os que comprometem e mancham a imagem dos verdadeiros fiéis católicos, pois os adeptos de outras religiões veem o seu mau exemplo e pensam que é a Igreja Católica que ensina a agir assim.

Na verdade, a tal "corrente dos Arcanjos" é pura prática de magia, do tipo que numa primeira análise pende mais para aquilo que em ocultismo se chama "magia branca", que pretende manipular forças e "entidades" da natureza em troca de favores pessoais.

Mais grave do que isso, porém, constatamos com bastante clareza que essa corrente contém fortes elementos de puro satanismo em suas práticas. Elencamos abaixo, resumida e brevemente, algumas delas:

• Pacto com forças sobrenaturais com dia e hora marcados;

• A invocação de um suposto anjo com o título de "Príncipe do mundo", título este que Nosso Senhor atribuiu ao próprio Satanás (conf. Jo 12-31. 14-30. 16-10-11);

• Horários para determinadas orações e gestos que tem paralelo idêntico nos usos da umbanda e da quimbanda;

• Atribuição de onipotência ou grande poder aos supostos "anjos", para conceder prosperidade e bens materiais aos adeptos da corrente;

• Uso de oferendas e frutos (inclusive com forte relação com o fruto proibido usado pelo Diabo como instrumento de tentação, conforme descrito no livro do Gênesis).

As invocações pressupõem crenças que têm origem no misticismo judaico, em supostos anjos que não são invocados pela Igreja (Uriel e ‘Metatron’) e são utilizadas em práticas ocultistas. Atenção: a prática consciente de rituais como este, segundo a doutrina católica, é pecado mortal. Diz o seguinte, a esse respeito, o Catecismo da Igreja Católica:

É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado. (...) A gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo. (...) Para que o pecado seja mortal, tem de ser cometido com plena consciência e total consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, da sua oposição à Lei de Deus. E implica também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma opção pessoal. A ignorância simulada e o endurecimento do coração não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado. (...) O pecado cometido por escolha deliberada do mal é o mais grave. O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, tal como o próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade para fazer escolhas definitivas, irreversíveis.” (CIC §1857 - §1861)

Assim, alguns dos principais pecados mortais são: a prática sexual fora do casamento, os atos homossexuais, a prática de magia, a blasfêmia, o maltrato aos pais, o roubo, o assassinato, a calúnia e outros relacionados (10 Mandamentos).

“Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Quisera que fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” (Ap 3,16)

Se alguém tem o desejo de pedir a intercessão e a proteção dos santos anjos, é louvável, mas que faça do jeito certo, conforme orienta a santa Igreja Católica, que é "a coluna e o fundamento da Verdade" para todo cristão (1Tm 3,15). Publicamos abaixo uma bela e piedosíssima sugestão: a Coroa de São Miguel Arcanjo, o Príncipe da Milícia Celeste:



Coroa Angélica de São Miguel Arcanjo

Esta devoção foi ensinada e pedida pelo próprio Arcanjo Miguel à religiosa carmelita portuguesa Antónia de Astónaco, em Portugal. A devoção passou para outros países, foi aprovada por bispos e até pelo Santo Papa Pio IX, que a enriqueceu de indulgências, a 8 de Agosto de 1851. Abaixo, o método para rezar:


Dedicação:

DEUS vinde em nosso auxílio.
SENHOR socorrei-nos e salvai-nos.
Glória ao Pai, ao Filhos e ao Espírito Santo,
assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos.
Amém.

Primeira Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Serafins, fazei-nos SENHOR dignos do fogo da perfeita Caridade.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Segunda Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Querubins, pedimos SENHOR a graça de trilharmos a estrada da perfeição cristã.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Terceira Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Tronos, pedimos SENHOR que nos deis o espírito da verdadeira humildade.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Quarta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Dominações, pedimos ao SENHOR nos conceda a graça de dominar nossos sentidos, e de nos corrigir das nossas más paixões.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Quinta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Potestades, pedimos ao SENHOR se digne de proteger nossas almas contra as ciladas e as tentações de Satanás e dos demônios.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Sexta Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste das Virtudes, pedimos ao SENHOR a graça de sermos vencedores no perigoso combate das tentações.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Sétima Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste dos Principados, pedimos ao SENHOR que nos dê o espírito de uma verdadeira e sincera obediência a Ele.
Um PAI Nosso ... Três Ave Marias ...

Oitava Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os Arcanjos, pedimos ao SENHOR nos conceda o dom da perseverança na Fé e nas boas obras, a fim de que possamos chegar a possuir a glória do Paraíso.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

Nona Saudação:

Pela intercessão de São Miguel e do coro celeste de todos os Anjos, pedimos ao SENHOR que estes espíritos bem-aventurados nos guardem sempre, principalmente na hora da nossa morte, e nos conduzam à glória do Paraíso.
(Um PAI-Nosso - Três Aves-Maria)

No final reza-se nas quatro contas grandes:
Um PAI Nosso em honra de São Miguel Arcanjo
Um PAI Nosso em honra de São Gabriel
Um PAI Nosso em honra de São Rafael
Um PAI Nosso em honra do nosso Anjo da Guarda

Termina-se rezando a antífona:

Glorioso São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da Casa de DEUS, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção que nos adiantemos, cada dia mais, na fidelidade em servir a DEUS.
Amém.

- Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
- Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oração: DEUS, Todo Poderoso e Eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens escolhesses para príncipe de vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós Vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora de nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e Augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Amém!
ofielcatolico.blogspot.com
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