Jose Luis Sanchez del Rio – vida e exemplo de santidade


Por Igor Andrade – Assoc. São Próspero e Movimento Somar para Vencer

É DE MEU COSTUME escrever sobre temas geralmente voltados à filosofia, à política e à crítica. Contudo, este é o primeiro artigo de uma série, provavelmente nada longa, sobre um santo que me fala muito ao coração: o Mártir Jose Sanchez del Río, que será canonizado, com a Graça do Bom Deus, em outubro do ano 2016 de Nosso Senhor Jesus Cristo. Primeiramente vou falar um pouco de sua vida e seu martírio, depois, tratarei de alguns pontos de sua vida que creio serem absolutamente importantes para a cristandade atual.

O presente artigo trata da vida deste que é um dos Amigos que tenho no Céu. Não tratarei de nossa amizade em particular –, embora me seja muito prazeroso –, mas sim de como este menino de “quinze anos incompletos” chegou ao Céu em odor de santidade como “um servo bom e fiel”. Por isso, há aqui muitas datas e nomes-chave que nos situarão em sua época e nos ajudarão a entender como Jose Sanchez passou pela “Porta estreita”.

Jose Luis Sanchez del Rio é um Mártir de Cristo Rei que, junto com seus companheiros, deu sua vida generosamente por Cristo, por sua Igreja e por sua pátria; que suportou as dificuldades de sua época, não se omitindo mas lutando em um ambiente de ódio à fé e de perseguição sangrenta. Junto com os seus, o beato “Joselito” é um dos belos tesouros que o México e a América Latina deram à Igreja e ao mundo, já que ofereceu um exemplo de heroísmo e de amor, como os primeiros mártires das perseguições romanas.



Os Mártires Cristeros formam um grupo dos melhores filhos que o México deu à Igreja

Jose Sanchez del Rio nasceu em 28 de março de 1913, na cidade se Sahuayo, Michoacán, em pleno caos da Revolução Mexicana iniciada em 1910 e que derrubou o presidente Porfírio Diaz – que estava há trinta anos no poder.

Como é sabido, o espírito revolucionário é em si mesmo anticristão, por isso, com o triunfo da revolução, triunfaram também a miséria e o anticlericalismo exacerbado e as lutas pelo poder. Esse é o contexto no qual se desenrolou a infância de nosso santo mártir.

Apesar da instabilidade política e social da nação, é necessário destacar que as famílias mexicanas mantinham sua Fé católica, e as associações seculares cresciam em toda a nação, junto com as atividades de apostolado. Nas regiões verdadeiramente cristãs, as pessoas tinham o forte hábito da récita do santo Rosário, o que –, junto com o catecismo e os livros de piedade –, formava na Fé aquela geração.

Jose Luis teve a graça de viver em uma família com profundas raízes cristãs, e não é de duvidar que este foi o lugar onde se construiu o templo do futuro soldado de Cristo. Seus pais – Macário Sanchez e Maria del Rio – o educaram cristãmente, junto com seus irmãos.

Em 1917, entra em vigor uma nova constituição para o México, redigida por um grupo minoritário – isso mesmo, por uma minoria – que pretendia excluir o sentido geral da nação (qualquer semelhança com o que grupos minoritários ditos 'libertários' tentam implantar no Brasil, não à força as armas, mas interferindo em toda a nossa produção cultural, será mera coincidência). Junto com a nova Carta Magna, veio uma intolerância extrema à Igreja Católica no México. Nos anos seguintes, a perseguição se fortaleceria com atos esporádicos de repressão, ainda que nada “oficial”, por assim dizer.

Por conta da instabilidade política, a família Sanchez del Rio se mudou de Sahuayo para Guadalajara, onde Jose Luis deu continuidade aos seus estudos e recebeu a Primeira Comunhão. Se destacou pela devoção mariana, indiscutível prenda de salvação, e pertenceu às vanguardas da Associação Católica da Juventude Mexicana, grupo apostólico importante na resistência contra as perseguições do governo.


Distintivo da Associação Católica da Juventude Mexicana

Em 1926, o presidente Plutarco Elias Calles, conhecido maçon e –, por conseguinte, anticatólico –, principiou a aplicar leis perseguidoras à Igreja, legislando a favor de ideias anticlericais, dando início às mais fortes perseguições aos cristãos de todo o México. A Igreja, ante a impossibilidade de exercer o seu Ministério, fecha templos com a aprovação de Sua Santidade o papa Pio XI. Em pouco tempo, os mexicanos começam a se levantar em todo o território mexicano, sobretudo na região central.

Estabelecida a revolta pela liberdade religiosa, sentiram-se os fiéis no dever de estabelecer a Realeza de Cristo no México. Seu “grito de guerra” foi “VIVA CRISTO REI!” – e é por isso que foram inicialmente chamados de “Cristo Reieros” e, posteriormente, de “Cristeros”.

Macário e Miguel, os irmãos mais velhos de Jose Luis, se alistaram nas filas do Exército Libertador com autorização e bênção de seus pais, sob o comando do General Ignacio Sánchez Ramírez, líder da resistência local. Por sua pouca idade, apesar da sua insistência por ser um soldado de Cristo, “Joselito” não conseguiu permissão para entrar na guerra.

Em Guadalajara, teve a oportunidade de conhecer o testemunho do martírio do beato Anacleto Gonzalez Flores e, diante de seu túmulo, pediu a graça do martírio. Depois de inúmeras cartas ao general e de gigantesca insistência com os seus pais, afinal conseguiu autorização para marchar nas filas do exército cristero.

“Nunca foi tão fácil ganhar o Céu como agora; não posso perder essa oportunidade!”, disse o futuro mártir à sua mãe. Diante de tão ardente e heroico desejo de santidade, dona Maria del Rio não lhe pôde negar a bênção.

Em 1927, Jose se alinhou às hostes cristeras sob as ordens do General Prudêncio Mendonça, integrando o grupo liderado pelo General Rubén Guizar Morfin, em Cotija, Michoacán. Como Jose era muito novo, não lhe foi permitido pegar em armas, então ele servia aos soldados: cuidava dos cavalos, dos feridos, servia comida; todo o monótono trabalho ordinário de um acampamento militar lhe foi dado, o que santificou muito tão nobre espírito. Posteriormente, devido ao seu empenho, sua disciplina, sua edificante piedade e fidelidade à causa cristera, lhe foi permitido ser porta-estandarte e corneteiro do regimento.


Fotografia da Primeira Comunhão de Jose Sanchez del Rio, aos seus 9 anos de idade

Em 6 de fevereiro de 1928, se deu uma batalha onde o cavalo do General Guizar, morreu com um tiro. Joselito correu em seu socorro dizendo “meu general, aqui está meu cavalo, o senhor faz mas falta à causa que eu”; relutante, o general aceitou bater em retirada com o cavalo de nosso herói, que continuou disparando contra o inimigo até acabarem as munições. Pela caridade, o menino pagaria com seu sangue. Foi feito prisioneiro e levado a Cotija, onde se destacou por sua valentia e firmeza frente as ameaças e promessas de liberdade por parte dos federais, o que nos recorda os testemunhos dos mártires da igreja primitiva. Entre seus atos de coragem, disse: “Por que me oferecem liberdade? Sou seu inimigo! Fuzilem-me! Viva Cristo Rei!”. Com ele foi preso outro jovem, chamado Lorenzo, de origem indígena.

Logo que foi preso, escreveu à sua mãe dizendo: “Minha querida mãe, fui feito prisioneiro de combate neste dia. Creio que vou morrer. Mas não importa, mamãe, resigna-te à vontade de Deus. Não se entristeça por minha morte, antes diga a meus irmãos que sigam o exemplo de seu irmãozinho. E a senhora, faz a vontade de Deus, e manda-me tua bênção junto com a de meu pai. E tu, recebe o coração deste teu filho que tanto te quer”.

Em 7 de fevereiro, os dois jovens foram conduzidos a Sahuayo e postos à disposição do deputado federal Rafael Picazo, com a ordem de mata-los. Picazo era padrinho de Jose e muito próximo da família Sanchez, duas de suas irmãs eram religiosas. O deputado pediu pela liberdade de seu afilhado. A família do mártir estava disposta a pagar uma grande quantidade de dinheiro, mas Jose negou, porque já havia oferecido sua vida a Cristo.

Um dos atos que, digamos, foi a “gota d’água” para seus algozes foi porque o deputado Rafael havia importado galos finos de briga do Canadá e os colocado no templo profanado da paróquia de São Tiago Apostolo, onde prenderam Joselito. Diante de tal impiedade, indignado por tamanha falta de respeito à Casa de Deus, Jose matou todos os galos e os colocou no comungatório. Quando interrogado pelo deputado enfurecido, o menino mártir respondeu “aqui é uma igreja, lugar para orar, não para criar animais!”.

Na manhã de 8 de fevereiro, os dois jovens foram levados à praça principal, onde enforcam um jovem chamado Lázaro na presença de Jose. O corpo de Lázaro é entregue a um encarregado, que percebe que o jovem NÃO HAVIA MORRIDO, e o leva para sua casa. Alguns dias depois, Lázaro volta à frente de batalha. Jose continua preso no batistério paroquial, aqueles que o visitavam o viam tranqüilo, aceitando a morte, rezando o rosário e cantando louvores. Nestes dias, recebia secretamente a Sagrada Eucaristia escondida entre os alimentos... Era seu viático para a viagem definitiva.

Em 10 de fevereiro, quando foi dada a sentença de sua morte, escreve à sua tia, Maria Sanchez, sua última carta, conforme se segue:

Estou sentenciado à morte. Às oito e meia da noite chegará o momento que tanto tenho desejado. Te agradeço por todos os favores que me fizeste, tu e Madalena. Não me encontro capaz de escreve à minha mamãe: Faz-me o favor de lhe escrever. Diz à Madalena que consegui que me permitissem vê-la por última vez e creio que não se negará a vir [para que lhe levasse a Sagrada Comunhão], antes do martírio. Saúde a todos e tu receba, como sempre, a última vez o coração de teu sobrinho que muito te quer… Cristo Vive, Cristo Reina, Cristo Impera, e Santa Maria de Guadalupe!

Firmado: José Sánchez del Río, que morreu em defensa da Fé

Já avançada a noite, os algozes lhe tiraram, com facas, as plantas dos pés. A Graça do Espirito Santo, com sua Fortaleza, trabalhava neste mártir para a edificação dos fiéis e o assombro dos inimigos da Cruz.

Foi conduzido descalço pelas ruas de Sahuayo, até o cemitério municipal. Durante esta Via Crucis, o jovem vai rezando e gritando “QUE VIVA CRISTO REI! E VIVA A VIRGEM DE GUADALUPE!”. Tendo chegado ao cemitério, aos pés de sua tumba, e os soldados lhe apunhalaram diversas vezes e a cada golpe gritava com mais força e vigor “VIVA CRISTO REI! VIVA SANTA MARIA DE GUADALUPE!”.

Já agonizante, os soldados lhe perguntam com sarcasmo: “O que quer que digamos aos seus pais?” – “Que nos veremos no Céu! Viva Cristo Rei! Viva a Santa Maria de Guadalupe!”, responde o jovem santo. Um disparo terminou com sua vida e ali mesmo foi sepultado.

Independentemente do seu martírio, sua vida era a de um autêntico discípulo de Cristo. Seus restos mortais foram levados à paróquia de São Tiago Apóstolo, em Sahuayo, e hoje se constrói um santuário em sua honra, pois se prepara a festa de sua elevação aos Altares.
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3 comentários:

  1. Que o senhor Jesus nos fortaleça a todos nós, a ponto de que se for preciso possamos testemunhar a nossa FÉ com a mesma disposição do jovem marte cistão: José Sanches...

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  2. Uma família católica que criou esse jovem mártir concordou com tudo numa boa, e o próprio padrinho que facilitou o seu martírio. História muito mal contada. Claro, isso não tira o mérito de santidade desse pequenino, mas põe em dúvida o destino das almas de seus familiares. Não creio que Deus tenha se agradado com a atitude deles.

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    1. Bom dia! No filme fica melhor explicado. Claro que a família não concordou, embora não houvesse muito o que fazer. Isso se chama fé. Quanto ao padrinho, aparentemente era um político... Sabemos bem, olhando alguns exemplos do Brasil, que não são as pessoas mais confiáveis... Ele aparentava ser uma pessoa boa, mas não tinha fé, era materialista, e isso vai sendo revelado aos poucos.

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