"Dilexi Te": o frustrante primeiro documento de Leão XIV


NO DIA 4 de OUTUBRO de 2025, o Papa Leão XIV publicou sua primeira exortação apostólica, intitulada Dilexi Te ('Eu te amei'), documento que se propõe a refletir sobre o amor pelos pobres, inspirado nas palavras de Cristo. À primeira vista, o texto parece uma meditação piedosa sobre a caridade cristã, invocando figuras como São João da Cruz e São John Henry Newman. No entanto, para tradicionalistas fiéis à Doutrina imutável da santa Igreja, essa escolha inaugural revela uma continuidade no mínimo preocupante com o legado altamente problemático (para dizer o mínimo) de seu predecessor, Francisco, priorizando questões temporais e sociais em detrimento da urgente necessidade de reafirmar as verdades eternas da Fé.


    Em um momento de profunda confusão eclesial – marcado por ambiguidades doutrinais, escândalos litúrgicos e uma erosão da ortodoxia católica –, uma parte expressiva do povo católico acalentava uma suave esperança de que o novo pontífice iniciasse o seu magistério com uma declaração firme e solidamente ancorada nas raízes perenes da Tradição. Afinal, a Igreja enfrenta desafios que vão além das desigualdades materiais: a relativização da moral sexual, a diluição da sacralidade no culto, a infame supressão da Missa Tridentina que deixou órfã uma multidão de fiéis exemplares ao redor do mundo, a infiltração de ideologias mundanas que ameaçam a pureza da Fé.

    Apesar de tantos males cuja solução urge, Dilexi Te opta por um caminho que ecoa o "humanismo integral" caoticamente promovido por Francisco, centrando-se quase exclusivamente em temas materiais-imanentes como a luta contra a pobreza, a oposição à "escravidão moderna" e o cuidado com doentes e marginalizados. Esses são, sem dúvida, aspectos importantes da doutrina social católica, mas tratados de forma isolada, induzem ao risco de reduzir o Evangelho a uma mera agenda filantrópica, desvinculada da salvação das almas.

    O documento, que foi de fato iniciado por Francisco e concluído agora por Leão XIV, reforça essa infeliz continuidade. Cardeais próximos ao Vaticano admitem que o texto é "100% de Leão", mas que sua gênese apoiada no legado de seu predecessor é inegável, refletindo o mesmo viés progressista que prioriza o "diálogo com o mundo" sobre a defesa intransigente da Revelação. Em vez de invocar grandes papas tradicionais como São Pio X ou Leão XIII – que combateram o modernismo e reafirmaram a soberania de Cristo Rei –, Leão XIV cita passagens bíblicas e santos de forma seletiva, enfatizando o amor pelos pobres como se fosse este o cerne da Fé, sem ligá-lo explicitamente à necessidade de conversão espiritual. Menção à Missa como Sacrifício Propiciatório? Condenação das heresias contemporâneas que minam a vida sacramental e a família? Nada.

    Essa ênfase em problemas temporais chega a ser irônica em um contexto de crise profundamente espiritual como o atual. A Igreja não precisa de mais exortações vagas sobre "levantar os humildes", mas de uma liderança que restaure a ordem divina e o Reinado de Cristo sobre a sociedade humana, reafirmando verdades eternas como a imutabilidade da moral cristã, a primazia da graça sobre as obras humanas e a rejeição de qualquer sincretismo com o secularismo ou diálogo com revolucionários.

    Tradicionalistas como nós, que aderem ao Depósito da Fé transmitido pelos Apóstolos, veem nessa escolha mais um sinal alarmante dos nossos tristes dias: o de um pontificado que vai minando todas as frágeis esperanças, por um momento reavivadas (quem não suspirou ao ouvir pela primeira vez a escolha do nome do novo papa?). Em vez de corrigir os gravíssimos desvios do passado recente, este Leão perpetua um "triste legado" de mundanização, onde a caridade social suplanta a caridade teologal.

...Vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai busca tais adoradores. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. (João 4,23s)


    Em espírito, não na mera busca pela solução dos problemas econômicos e das mazelas materiais, o que não é nem nunca foi a missão principal da santa Igreja. Em verdade, conforme a Verdade revelado por Deus a nós homens, para a nossa salvação, não na política nem das ideologias humanas. Como disse também Nosso Senhor:


Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas vos serão dadas por acréscimo. (Mateus 6,33)



    
Que Leão XIV ouça o clamor dos fiéis tradicionais, volte seus olhos para as fontes perenes da Igreja e deixe de ser mais um papa da igreja do Vaticano II para se tornar verdadeiro Papa da Igreja de Cristo. Somente assim poderemos superar essa era de confusão e alcançar a paz perdida e o bem eterno, já aqui neste mundo e depois, eternamente, no Céu.


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