Prostrar-se ou ajoelhar-se é adorar?


UM LEITOR ANÔNIMO enviou-nos, ao post Veneração à Virgem Maria, o comentário que reproduzimos abaixo:

Os católicos dizem que não adoram Maria e os santos, mas vivem se ajoelhando para ela (eles). A Bíblia diz: 'Somente ao Senhor teu Deus adorarás' (Mateus 4: 10)! Portanto os católicos são idólatras sim!

A questão é muito simples, mas é recorrente, e já foi muito bem respondida em diversas publicações católicas, e também em outras páginas virtuais competentes, como é o caso do ótimo blog da Associação Diocesana Servos de Maria, ao qual recorremos como referência para esta nossa resposta. Ocorre que prostrar-se não significa, necessariamente, adoração, e a própria Bíblia Sagrada, única e exclusiva regra de fé dos nossos irmãozinhos afastados, ditos "evangélicos", está cheia de exemplos dessa verdade. As dificuldades se dão porque, via de regra, não leem as Escrituras de modo consciente e consistente, com o devido discernimento da noção de todo, mas apegam-se a determinadas coletâneas de passagens. Recorramos então às próprias Escrituras, para demonstrar alguns exemplos bem claros a esse respeito. Segue.


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No Livro de Josué, podemos ler:

Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da Arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel.
(Js 7,6)

• Por acaso Josué, então o sumo líder do povo de Deus, juntamente com os anciãos de Israel, estavam adorando a Arca, ou aos querubins esculpidos sobre a tampa da mesma Arca? Eram eles "idólatras"? Claro e evidente que não.


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Já no Primeiro Livro dos Reis, lemos:

O profeta Natã entrou e prostrou-se, com o rosto por terra, diante do rei Davi.
(1Rs 1,22-23)

• Natã, profeta de Deus, estava adorando o rei Davi? Era ele também, então, um idólatra?


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Um pouco mais adiante, no mesmo livro, está escrito:

O rei Salomão mandou mensageiros, e fizeram Adonias descer do altar. Ele então veio e prostrou-se diante do rei, que lhe disse: 'Volta para a tua casa'.
(1Rs 1,53)

• Vemos aqui uma simples descrição do antigo costume de se prostrar, isto é, ajoelhar-se, diante do rei. Se ajoelhar-se diante de um símbolo religioso (como a Arca da Aliança), ou diante do rei fosse sinônimo de adoração, todo o Israel, povo de Deus do Antigo Testamento, seria idólatra.


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No Segundo Livro dos Reis, vemos o seguinte:

Eliseu atravessou o rio. Os irmãos profetas (...) vieram ao seu encontro e prostraram-se por terra, diante dele.
(2Reis 2,14-15)

• Estavam os profetas de Deus "idolatrando", adorando a Eliseu? Deixaremos a resposta a cargo daqueles que nos questionam.


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Além destes, existem diversos outros exemplos nas páginas das Sagradas Escrituras que demonstram, com toda a clareza, que prostrar-se não é, necessariamente, um gesto de adoração, a qual devemos somente a Deus. Por vezes, é dever de todo temente a Deus prostrar-se diante de um símbolo ou mesmo de uma pessoa que representa o poder, a autoridade e/ou a glória de Deus. O ato de um cristão que se prostra diante da Cruz de Cristo, diante do Altar ou diante de algum símbolo religioso –, como é o caso das imagens sacras, sejam as que representam Nosso Senhor, a Santíssima Virgem ou os santos –, Santo Tomás de Aquino esclareceu com a sua peculiar maestria:

O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado (Cristo). Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a Realidade da qual é imagem (Deus).
(Suma 2-2. q. 81, a. 3, ad 3: Ed. Leon. 9, 180. / CIC §2132).


Cremos que a questão esteja mais do que respondida, com base na Bíblia Sagrada e na Tradição Cristã, que vem desde o início do Cristianismo e permanece até os nosso dias, como parte do Fidei Depositum da Sã Doutrina confiada à Igreja do Senhor – assim como também está escrito.


Os 'podres' da Igreja


RECEBEMOS DE UM (ou de alguns) leitor(es) anônimo(s) algumas mensagens breves e repetidas, ligeiramente diferentes entre si mas com idêntico teor e conteúdo. Todas trazem as mesmas afirmações, que de fato já foram indiretamente respondidas por aqui, em diversas de nossas postagens. Em todo caso, reproduzimos abaixo uma destas mensagens, seguida de nossa resposta. Esperamos que nossas reflexões sejam de proveito para quem vier a lê-las.

Você vive dizendo que a igreja romana é a certa, mas tem muitos podres na sua igreja romana , na história da sua igreja nem se fala. Vc me diz que não tem podres na história da igreja romana? Não tem padre pedófilo, padre fornicador ? Entao Quem é vc pra falar alguma coisa? sigo evangélico com muito orgulho

Bem, anônimo, para começar esta conversa, devo dizer que logo de início talvez eu não seja a pessoa mais indicada para responder às suas perguntas, porque eu não conheço "igreja romana". Conheço e integro, com a Graça de Deus, a Igreja Católica Apostólica Romana. Na história desta, sim, posso afirmar que houve páginas e/ou atos "podres" – para usar a sua expressão – começando pelo de Judas, que traiu o Senhor, o de Pedro, que o negou por três vezes, e o de Tomé, que depois de conviver longo tempo com o Cristo, mesmo assim não pôde crer na sua Ressurreição antes de tocar as suas santas chagas. Poderia somar a estes exemplos o de todos os outros Apóstolos, exceto João, que fugiram para salvar as próprias peles quando Jesus foi preso. Então, os homens que integram a Igreja, desde o começo, sempre foram imperfeitos, falhos, fracos, pecadores. Nenhum problema em admitir isso.

Nada disso, porém, afeta a santidade e a pureza da imaculada Esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a mesma Igreja. "Podres" no correr de sua história, sim, sempre existiram e continuam existindo, partindo de alguns de seus filhos ingratos e traidores. Podres ou manchas na própria Igreja, em sentido absoluto, não. Nenhum sequer.

Ocorre que "a Igreja é, aos olhos da fé, indefectivelmente (infalivelmente) santa. Unida a Cristo, é santificada por Ele e nEle se torna também santificante” (conf. const. Lumen Gentium n.39 / CIC §823-824).

E aqui você provavelmente estará se perguntando se esses tais olhos da fé precisam de óculos, ou se estarão totalmente cegos... Se a Igreja é santa, porque então ouvimos dizer de tantos escândalos e graves pecados envolvendo padres e bispos? Entenderá você que, se aos olhos da fé a Igreja não falha, então esses olhos devem estar precisando urgentemente de um oftalmologista! A verdade, porém, é o exato oposto desta impressão superficial. Não é que os olhos da fé não vejam bem; de fato, os olhos da fé vêem muito além das aparências, e enxergam que a Igreja é a continuidade da Encarnação do Cristo neste mundo. É por isso que ela não se desvia do seu Caminho, não naufraga, não se perde, ainda que muitos dos seus membros se desviem e se percam. O Espírito Santo a assiste, e mesmo com tantos pecados de filhos traidores, ela permanece fiel à sua missão e cumprindo plenamente o seu propósito.

É por meio da Igreja que nós chegamos à salvação, já que é por meio dela que temos acesso a todos os Sacramentos, desde o Batismo (porta de entrada para a vida cristã), a Comunhão no Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo (na sagrada e preciosa Eucaristia) e o perdão dos nossos pecados (pela Confissão, Penitência e Reconciliação), como Ele também determinou, dizendo aos primeiros pastores desta mesma Igreja una e indivisível: "Os pecados que perdoardes serão perdoados, e os que retiverdes serão retidos" (Jo 20,22-23).

É somente na Igreja –, sendo membros da Igreja –, que podemos ser cristãos de fato. A Igreja, então, continua cumprindo fielmente a sua missão, continua sendo fiel Esposa de Cristo, nos santos da Terra e nos do Céu, em perfeita Comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Assim, por mais bobagens ou mesmo barbaridades que alguns filhos da Igreja cometam, por mais pecados que acumulem, a autêntica Igreja continua pura e sendo divinamente conduzida. Ora, a Igreja não pode ser julgada a partir dos seus traidores, e sim a partir daqueles que lhe são fiéis. Isso não é óbvio? 

Vou deixar aqui uma comparação muito simples, para facilitar a compreensão: imagine um time de futebol do qual um dos jogadores aceitou suborno para entregar a final do campeonato à equipe rival. Seja este jogador o goleiro ou o atacante principal, o responsável pela armação das jogadas ou um zagueiro, de qualquer jeito ele vai ter muitas oportunidades, durante a partida, para facilitar a vitória do time adversário. Certo. O seu time perde, e depois se descobre a falcatrua e a traição deste jogador vendido. Pois bem: será que este jogador infiel, vendido e traidor, representa aquele time? Poderia ele servir como exemplo daquela equipe de atletas? Se pedissem ao treinador que apontasse um jogador para simbolizar aquela equipe, será que ele escolheria o traidor? E se perguntassem ao patrocinador do time, ao diretor ou a algum membro da torcida? Será que alguém escolheria o traidor para ser o símbolo da equipe, o atleta que representaria "o espírito" dessa agremiação esportiva?

Claro que não. Só poderia representar o time um atleta que fosse dedicado, comprometido, um que tenha honrado sua camisa, que tenha sido fiel ao escudo no seu peito. Do mesmo modo, se você quer saber o que é a Igreja, não pode olhar para o padre acusado de pedofilia. Você deve olhar para Francisco de Assis, Vicente de Paulo, João Maria Vianney, Maximiliano Maria Kolbe, Filipe Neri, Pio de Pietrelcina, Gianna Beretta Molla, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce dos Pobres, etc, etc, etc... Você deve olhar para o exemplo de Pedro e de todos os Apóstolos (atenção) depois de Pentecostes, quando foram batizados no Espírito Santo e se tornaram de fato santos. Você deve olhar para São Paulo Apóstolo, para a Santíssima Virgem Maria, etc, etc, etc... São estes que representam a Igreja Católica Apostólica Romana.

São os milhões de santos da Igreja, canonizados ou anônimos, os do Céu e os da Terra, que a representam, simplesmente porque são estes que fizeram e fazem o que a Igreja manda fazer. São estes que a honram e lhe são fiéis. Os que a desobedecem, os que a traem, não podem de modo algum representá-la. Simples, não é?

Encerro deixando meus agradecimentos a todos os leitores anônimos que procuram me fazer perguntas embaraçosas e me dão a oportunidade para esclarecer as dúvidas daqueles que realmente querem aprender as coisas da fé. Todos vocês têm as minhas frequentes orações.

Henrique Sebastião
ofielcatolico.com.br

A Igreja Católica aceita a 'mediunidade' e/ou invocação dos mortos?

É COMUM NOS DEPARARMOS, em publicações espíritas diversas, impressas ou virtuais, com a divulgação de "noticias" dando conta de que a Igreja Católica teria de algum modo reconhecido e/ou aceitado a prática da invocação dos espíritos dos mortos, reconhecendo assim a veracidade da doutrina espírita. Tais notícias são sempre inconsistentes e confusas –, simplesmente por serem sempre totalmente falsas –, trazem fontes duvidosas, quando não simplesmente falsificadas. Recentemente, um padre da herética "Igreja Católica Brasileira" foi citado, desonestamente, como se fosse um sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana. A verdade é que não existe a menor possibilidade de que tal coisa venha um dia a acontecer, já que estamos falando de uma prática proibida categoricamente pelas Escrituras, pela Tradição, pela Teologia e por toda a doutrina cristã e católica desde sempre.

    O máximo que a Igreja pode pretender, com relação ao espiritismo, é a coexistência cordial e pacífica, na medida do possível, e isso já se tem buscado há um bom tempo. Todavia, conviver pacífica e respeitosamente com o diferente não é a mesma coisa que aceitar ou assumir os seus erros doutrinais. Quando uma pessoa declaradamente "católica" diz que também crê em reencarnação, ou quando procura um "médium" para evocar "espíritos" –, supostas "entidades" das quais ela, além de tudo, não tem como conhecer a origem –, comete grave pecado que precisará ser confessado. E se tal prática se torna habitual, esta pessoa cai no desvio ainda mais grave da contumácia, deixando mesmo de ser membro da Igreja Católica, excluindo-se automaticamente da Comunhão com o Corpo de Cristo.

    Diretamente relacionada a estas realidades é a seguinte mensagem, que recebemos do leitor Valdemir Faleiros, comentando nossa postagem sobre a vida de Chico Xavier:

Henrique, espero que meu comentário não seja ironizado por vc respeite as pessoas que aqui chegam amigo... Espero também, não ser chamado de sem educação, pois em nenhum momento fui... Quero ver agora, se vc tem peito de mostrar a verdade.

    Logo em seguida, Valdemir acrescenta ao seu comentário o link para uma página espírita-esotérica  (que por motivos óbvios não divulgaremos) que apresenta uma matéria ida ao ar há alguns anos pelo programa "Fantástico" da rede Globo de televisão (que notoriamente sempre promoveu o espiritismo), intitulada "Museu das Almas do Purgatório" (veja do que se trata).

    Antes de entrar na questão do referido museu e do que ele significa, gostaríamos de reafirmar o que é evidente, ao Sr. Valdemir e a todos os nossos leitores: entre os mais de duzentos comentários que aquela postagem sobre Chico Xavier recebeu, em nenhuma das nossas respostas fomos desrespeitosos. Fomos nós, isto sim, muito desrespeitados, sendo que diversas mensagens foram pessoalmente ofensivas (boa parte sequer pôde ser publicada). Todos os participantes, entretanto, receberam respostas puramente informativas. Portanto, não entendemos a preocupação de Valdemir quanto a ter o seu comentário "ironizado".

O Santo Cristo de Límpias


A História

NA ROTA COMPOSTELANA que passa pela província espanhola de Cantábria, está a Vila de Límpias, famosa pelo Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia.

O nome de Límpias provém das águas térmicas que brotam no local, e que eram conhecidas como Águas de Límpias. A vila é pequena, mas tem uma bela igreja paroquial em honra de São Pedro. No seu Altar-Mor se venera uma prodigiosa imagem do Cristo da Agonia, – crucifixo que traduz uma profunda meditação nos sofrimentos de Nosso Senhor, apresentando-o nos momentos finais de sua agonia. A imagem do Cristo é em tamanho natural: mede aproximadamente um metro e oitenta e dois de altura e está colocada sobre uma cruz de dois metros e trinta. Os braços parecem relaxados, como os de um homem que os tivesse aberto sem esforço; os dedos indicador e médio em ambas as mãos estão estendidos, como dessem a bênção final.

Seu rosto tem uma expressão indescritível, de uma particular beleza: olha para o céu e, segundo o ângulo de onde se olhe, a expressão é diferente, não apenas de dor, mas de oração e contemplação a Deus Pai. Colocadas aos lados de Cristo estão outras duas imagens: a da Virgem Mãe Dolorosa e de São João Evangelista, – que permaneceram junto ao Senhor até o momento da morte.

Pouco se sabe da origem desta antiga, preciosa e impressionante imagem. Acredita-se que tenha sido venerada em Cádiz, na igreja dos padres franciscanos, e que na ocasião em esta veio a ser derrubada por inundações, a imagem do Cristo passou ao Oratório de Don Diego de la Piedra, cavaleiro professo da Ordem de Santiago. Conta-se que um maremoto ameaçou a cidade de Cádiz, e que quando o povo cristão levou em procissão as imagens mais veneradas da cidade, as águas se detiveram e começaram a retroceder somente diante da imagem do Cristo da Agonia, que se encontra agora em Límpias. Diante de tal prodígio, o povo agradecido pediu que a imagem do Santo Cristo fosse deixada para veneração em alguma das igrejas de Cádiz.

Don Diego faleceu no ano de 1755, não sem antes outorgar em seu testemunho diversas linhas nas quais recorda sua vila natal de Límpias:

"Mando assoalhar a Paróquia de São Pedro de Limpias, custeando a decoração do Altar-Mor e seu esplendor, colocando nele três imagens: a de Nosso Redentor agonizando na Cruz, a de Sua Mãe Santíssima e a do Evangelista S. João (...)"

Assim é que esta paróquia se converte no Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia. A partir do dia 30 de março de 1919, passou a correr a notícia de que em Límpias aconteciam eventos extraordinários. Diziam que a belíssima imagem do Santo Cristo movia os olhos, dando a sensação de estar ali um corpo vivo, – que empalidecia, sangrava e suava. – O nome de Límpias foi se tornando famoso, e suas ruas começaram a receber as visitas de peregrinos provenientes de todas as partes do mundo.

O primeiro testemunho concreto e registrado do prodígio foi o do Padre Antonio López, honrado professor do Colégio São Vicente de Paula, que escreveu:

"Um dia, no mês de agosto de 1914, fui à igreja para instalar uma iluminação elétrica no Altar-Mor. Encontrava-me sozinho na igreja, em uma escada apoiada sobre um andaime improvisado sobre a parede que serve de cenário para a imagem do Cristo Crucificado, e depois de duas horas de trabalho comecei a limpar a imagem para que esta pudesse ser vista mais claramente. Minha cabeça estava no mesmo nível da do Cristo, a pouco menos de dois pés de distância. Fazia um dia muito bonito e pela janela atravessavam raios de luz que iluminavam completamente o Altar. Sem notar a menor anormalidade e depois de um longo tempo de trabalho, detive minha vista nos olhos da imagem e observei que estavam fechados. Por vários minutos, eu o vi com toda a clareza, de modo que duvidei se habitualmente eles eram abertos. Não podia acreditar no que meus olhos viam, comecei a sentir que me faltavam as forças; perdi o equilíbrio, desmaiei e caí da escada, do andaime até o chão, levando um grande tombo. Ao recobrar os sentidos, pude confirmar, de onde estava, que os olhos da imagem do crucifixo permaneciam fechados (...). Saí rapidamente da igreja, contando o fato à minha comunidade. Minutos depois de sair da igreja, encontrei-me com o sacristão, que se dispunha a tocar os sinos para o Ângelus. Ao me ver tão agitado, perguntou-me se estava me acontecendo algo. Relatei a ele todo o ocorrido e ele não se surpreendeu, pois já havia escutado que o Cristo havia fechado seus olhos em mais de uma ocasião."


Passado o susto, o racional professor não tardou a elaborar a tese de que o movimento que havia testemunhado se devia a algum tipo de mecanismo instalado no interior da imagem, por trás dos olhos. Deste modo, procurou diminuir a importância da visão que tivera, e se incumbiu de examinar pessoalmente a imagem, tão minuciosamente quanto lhe fosse possível. – E por seus próprios exames pôde confirmar que a escultura de fato não possui nenhum mecanismo embutido, e que seus olhos são fixos, sendo que nem ao pressioná-los fortemente pode-se fazer com que se movam(!). Posteriormente, este fato veio a ser comprovado por diversas vezes, em variadas oportunidades.

A pedido de seus superiores, Pe. Antonio López escreveu então o relato do acontecido, em detalhes, mantendo a prudência e a discrição, por ordem de seu diretor espiritual. Foi somente no dia 16 de março de 1920, um ano depois do ocorrido, que sua declaração se tornou pública.

Ainda no início do ano de 1919, aconteceram as missões na Paróquia de Límpias. No último dia da missão, enquanto o sacerdote celebrava a Santa Missa, proferindo uma homilia baseada nas palavras de Provérbios (23,26), outros dois sacerdotes se encontravam aos confessionários. Uma menina de 12 anos entrou no confessionário e comunicou que a imagem do Santo Cristo estava com os olhos fechados. O sacerdote, pensando tratar-se de fruto da imaginação, naquele instante ignorou o acontecimento. Terminada porém a homilia do celebrante, aproximou-se deste o referido sacerdote, e ambos olharam para o crucifixo e notaram que algo extraordinário acontecia. Ao mesmo tempo, um dos fiéis que se encontrava na igreja exclamou em alta voz: "Olhem o crucifixo!"; e em poucos minutos os presentes confirmaram com entusiasmo o que a criança tinha visto primeiro. Houve muita emoção e choro, enquanto outros gritavam que haviam testemunhado um milagre e outros ainda caíam de joelhos.



Para verificar o fenômeno, quando se conseguiu esvaziar o templo o pároco subiu com uma escada de mão até a santa imagem, tocando o rosto e o colo com um pano, e pôde comprovar que a imagem transpirava, confirmando o fato mostrando a todos ali presentes seus dedos umedecidos.

A segunda manifestação aconteceu em 13 de abril de 1919, Domingo de Ramos, quando duas personalidades importantes de Límpias se aproximaram do Altar duvidosas do que ali acontecia, considerando que tudo fosse resultado de histeria coletiva e alucinação. Ao aproximarem-se, puderam ver os olhos e a boca do Cristo se moverem. Simultaneamente caíram de joelhos, pedindo perdão e clamando por misericórdia.

A terceira manifestação aconteceu em 20 de abril de 1919, Domingo da Ressurreição, na presença de um grupo de irmãs religiosas da ordem das Filhas da Santa Cruz, que viram os olhos e a boca do Santo Cristo se moverem enquanto rezavam o santo Rosário.

A partir de 14 de abril do mesmo ano, as manifestações se repetiram quase que diariamente, e como era de se esperar a igreja se mantinha abarrotada de gente que queria ver o milagre. Conta o Revmo. Pe. Barón Von Kleist, sacerdote da vila, que muitas eram as pessoas que testemunhavam que Nosso Senhor havia olhado para elas, a uns de forma sutil, a outros com certa tristeza, e inclusive a alguns com um olhar penetrante e de través. Muitos viram lágrimas em seus olhos, outros relatam ter visto gotas de sangue caírem das feridas produzidas pelos espinhos de sua coroa. Foram muitas e variadas as manifestações que se relataram, desde a imagem do Cristo a mover seus olhos na hora da bênção e pousando seu olhar cativante sobre toda a assembléia ali presente, até mover sua cabeça coroada de espinhos e suspirar.


Peregrinações e mais testemunhos

Peregrinações de todo lugar começaram a chegar à vila de Límpias. Jornais repletos de relatos detalhados sobre os acontecimentos inundaram a Imprensa de todas as regiões da Espanha e do exterior. Ao final de 1921, o número de peregrinos havia crescido de tal forma que o volume do tráfego de estrangeiros em Límpias superou a dos visitantes do Santuário de Lourdes. Príncipes, bem como dignitários da Igreja da Espanha, incluindo bispos e cardeais, visitaram o Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia. Também vieram arcebispos de México, Peru, Manila, Cuba e outros países. São muitos os registros que se encontram na sacristia da igreja de Límpias, que contêm 8000 testemunhos de pessoas que atestam as manifestações. 2500 destes testemunhos foram dados "sob juramento". Entre as testemunhas, se encontravam membros de ordens religiosas, sacerdotes, médicos, advogados, professores, catedráticos, oficiais, vendedores, boiadeiros, descrentes e ateus.

O primeiro bispo a ser favorecido com a graça de poder presenciar as manifestações foi Dom Manuel Ruiz y Rodríguez, bispo de Cuba, que foi a Límpias após uma visita a Roma. De volta a seu país, escreveu uma carta pastoral a todos os membros de sua diocese, na qual expunha sem reservas tudo o que se relacionava ao crucifixo milagroso. Relatou como os olhos do Cristo se moviam de lado a lado e como o rosto, em dado instante, tomou uma expressão agonizante. Aqui começou uma grande devoção ao Cristo de Límpias também em Cuba.

Em 29 de julho de 1919, o Pe. Celestino María de Pozuelo, monge capuchinho, visitou a paróquia de Límpias e escreveu um relato que incluía a seguinte declaração: "O rosto apresenta uma expressão viva de dor, o corpo descolorido como se houvesse recebido cruéis chicotadas, e totalmente banhado de suor".

O Rev. Valentín Incio de Gijón conta que visitou Límpias em 4 de agosto de 1919. À sua chegada se uniu a um grupo de peregrinos que, nesse momento, estavam sendo testemunhas do milagre. Haviam nessa ocasião entre trinta e quarenta pessoas, mais outros dois sacerdotes, dez marinheiros e uma mulher que não parava de chorar. Padre Incio registrou por escrito:

"Ao chegar contemplei Nosso Senhor como se estivesse vivo; mais tarde sua cabeça conservou sua posição de costume e seu contorno a expressão natural, mas seus olhos estavam cheios de vida e olhavam em várias direções. (...) Em certo momento, seu olhar se centrou sobre os marinheiros, a quem contemplou por muito tempo, logo olhou languidamente em direção à sacristia por algum tempo. Nesse instante ocorre o momento mais comovedor de todos: Jesus pousa seu olhar sobre todos nós, mas de uma forma tão doce, tão suave, tão expressiva, tão amorosa e divina, que todos ali presentes caímos de joelhos, choramos e adoramos ao Cristo...

Nosso Senhor continuou movendo seus olhos e pálpebras, que brilhavam como se estivessem cheios de lágrimas, e moveu seus lábios suavemente como se estivesse dizendo algo ou rezando. Ao mesmo tempo, a mulher que mencionei anteriormente estava ao meu lado e viu o Mestre tratando de mover seus braços, lutando por relaxá-los da Cruz."

Dando testemunho sobre este relato estiveram três sacerdotes, os dez marinheiros e a mulher. Em 15 de setembro de 1919, dois bispos acompanhados de dezoito sacerdotes contaram o que ocorreu ao se prostrarem diante do crucifixo:

"Todos vimos o rosto do Santo Cristo entristecer-se ainda mais. Sua boca também estava mais aberta que o usual, Seus olhos se fixaram suavemente sobre os bispos e logo em direção à sacristia. Seus gestos simultaneamente tomaram expressão como os de um homem que está lutando para sobreviver."

Em 24 de dezembro de 1919, em companhia de um grupo de pessoas, o padre confessor da Igreja do Pilar em Zaragoza, Dom Manual Cubi, viu o Santo Cristo na agonia da morte: "Nosso Senhor tratava de soltar-se da cruz com movimentos violentos e convulsivos; levantou sua cabeça, moveu seus olhos e fechou sua boca. Em alguns momentos, pude ver sua língua e dentes. Por aproximadamente meia hora Ele nos mostrou o quanto lhe havia custado nossa salvação e quanto havia sofrido por nós no momento de seu abandono na Cruz."


Milagres de cura e o reconhecimento oficial da Igreja

Vários relatórios médicos foram apresentados. As manifestações milagrosas da imagem do Santo Cristo não foram as únicas relatadas, houve também muitas curas milagrosas. Em julho de 1920, houve mais de 1000 curas certificadas por médicos. Muito poucas destas curas aconteceram em Límpias, mas quando os peregrinos regressavam às suas casas e se colocavam em contato com objetos que haviam tocado o crucifixo.

O bispo de Santander, diocese à qual pertence Límpias, introduziu o processo canônico em 20 de julho de 1920. Um ano e um dia depois, foram dadas indulgências plenárias por um período de sete anos a todos os fiéis que visitassem o santo crucifixo.

O Núncio Papal visitou Límpias em setembro de 1921. Rezou em frente ao crucifixo e o examinou de todos os ângulos. O núncio declarou ao clero e aos nativos que a imagem lhe havia causado uma impressão muito profunda, e congratulou-os por terem sido escolhidos pelo Mestre, para que se revelasse através dessa imagem em sua igreja.

Os fenômenos públicos cessaram totalmente vários anos depois. Uma guerra nacional parecia que deixaria no esquecimento a imagem do Santo Cristo de Límpias, mas aquela devoção nascida do calor de eventos, ao que parece prodigioso, ainda perdura. É surpreendente a existência, em qualquer época, tanto de turistas como de peregrinações que continuam chegando atraídos pela fama dos prodígios e da formosura da santa efígie.

Atualmente, padres paulinos estão encarregados da Paróquia/Santuário, tratando de seguir a linha de seus antecessores e párocos do clero secular. Além da vida ordinária de uma paróquia, procura-se sempre fomentar o culto ao Santíssimo Cristo.

Todos os depoimentos apresentados até aqui poderiam ser concluídos com um registro muito breve, redigido por um jornalista que assim relatou os fatos acontecidos em sua presença:

"Pude perceber movimentos no queixo, como se estivesse pronunciando poucas sílabas em seus lábios. Fechei meus olhos fortemente e me perguntei: 'O que terá dito?' A resposta não se fez esperar; do mais profundo de meu coração pude escutar claramente estas palavras tão significativas e ungidas: 'AMA-ME'. É por esta razão que Nosso Senhor realizou tantas maravilhas diante dos olhos de crentes e não crentes. Em Límpias Ele demonstrou a agonia de sua morte e a magnitude de seu amor por nós, não somente para evocar sentimentos de compaixão e arrependimento, mas também para pedir que o amemos em resposta. Em nossa peregrinação de Miami ao Santo Cristo de Límpias, experimentamos uma grande consciência do Amor de Jesus e um desejo de responder a Ele com todo o coração."

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** Adaptado do artigo "O Cristo de Límpías", disponível no website "Aparições de Jesus e Maria", em:
http://aparicoes.leiame.net/reconhecidas/cristo-limpias.html
Acesso 27/6/014

• Ref. bibliográfica:
KLEIST, Ewald von. The Wonderful Crucifix of Limpias: Remarkable Manifestations. Charleston: Nabu Press, 1922.
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