A Igreja santa e o pedido de perdão do Papa – conclusão


** Ler a primeira parte deste artigo

COMO DISSEMOS, ESTE artigo surgiu da recorrência das mensagens de muitos leitores, que nos enviam, insistentemente, comentários mencionando o pedido de perdão do Papa João Paulo II, feito supostamente por "grandes crimes da Igreja". Destas, a maior parte cita a Inquisição, outros o comportamento durante a segunda guerra mundial. A situação de ignorância (e, em muitos casos, de má vontade e/ou malícia) chega a tal ponto que hoje, diante das atrocidades cometidas pelo grupo Estado Islâmico, certos indivíduos que nunca leram sequer a orelha de um livro de História em suas vidas, chegam a dizer que a Igreja cometeu atrocidades ainda piores no passado, e que por isso não teria moral para se pronunciar a respeito...

Ainda mais triste e lamentável é ver certos católicos ingênuos e mal formados acreditando nesse tipo de mentira diabólica, e até ajudando a difundir tais gravíssimas calúnias. Mesmo com a boa quantidade de estudos de que dispomos, hoje, na internet, que demonstram e comprovam (com referências, indicação bibliográfica, etc.) que essa linha de raciocínio é completamente equivocada, de tempos em tempos continuam surgindo comentários que insistem na mesma questão: "a Igreja cometeu atrocidades no passado, tanto é verdade que o Papa João Paulo II precisou pedir perdão". Sendo assim, por consequência, não poderíamos confiar na Igreja. Assim é que surge aquela triste figura do sujeito que diz: "Sou católico, mas não confio inteiramente na Igreja".

A questão precisou ser dividida em duas partes distintas, e, como são longas e de trato delicado, dividimos também este estudo em duas partes. A primeira questão importante respondemos na primeira parte deste estudo (a saber, a indefectibilidade da Igreja), que você pode ler aqui.

Esta segunda parte, que fecha a nossa reflexão, precisa tratar a questão do polêmico pedido de perdão do Papa João Paulo II, feito supostamente por terríveis atrocidades cometidas pela Igreja. As pessoas minimamente informadas (infelizmente, uma pequena minoria) sabem que o famoso "falha nossa" do Papa estava direcionado mais especificamente ao povo judeu, e no contexto da Segunda Grande Guerra. Mas aos ouvidos dos caluniadores, as palavras "guerra", "judeus" e "Papa", juntas numa frase, provocam um efeito no mínimo curioso: sua reação instantânea é acusar o Papa Pio XII de simpatizante do nazismo ou coisa semelhante...

É um fato mais do que comprovado que o Papa Pio XII não foi conivente e nem omisso com relação aos crimes nazistas, como alegam os inimigos da Igreja de plantão, e demonstrar este fato é realmente muito simples: até importantes e famosos judeus da época o atestaram, como o próprio Albert Einstein, que declarou publicamente: “Só a Igreja Católica protestou contra o assalto hitlerista à liberdade”1.



 É fato histórico que, em resposta às calúnias, diversos sobreviventes do holocausto nazista, inclusive destacados rabinos e autoridades israelitas, manifestaram-se em defesa de Pio XII. Não vamos nos aprofundar nesse tema específico, que não é a finalidade  principal deste artigo, mas são tantas as citações e referências históricas que provam a inocência e a coragem de Pio XII na luta contra o nazismo e na proteção do povo judeu, que para tratar do assunto como se deve teríamos que produzir não um, mas alguns artigos especializados e bem extensos. Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas neste artigo de Ralph Mcinerny ao portal "Presbíteros". Deixamos também a indicação de bons livros para aqueles honestamente interessados: "Pio XII, o Papa dos Judeus", de Andrea Tornielli, João César das Neves e António Maia da Rocha (Ed. Civilização), é um destes, e pode ser encontrado na Livraria Ecclesiae (veja aqui). Indicamos ainda aos leitores que desejarem se aprofundar mais neste assunto específico outra obra excelente, que constitui aprofundado trabalho de pesquisa histórica, intitulada "Os Judeus do Papa" (Ed. Geração), de Gordon Thomas, que demonstra com precisão como Pio XII articulou um grande plano humanitário para ajudar os judeus, – em sigilo, para não despertar a ira e consequente retaliação ainda maior de Hitler.

Assim é revelado que padres e freiras deram abrigo secreto a milhares de judeus em mosteiros e conventos, e que o Papa efetuou doações de ouro do próprio Vaticano para socorrer refugiados em Roma, tendo escondido muitos deles em sua própria residência enquanto os nazistas bombardeavam a cidade. Por fim, os motivos para a alegação da suposta "omissão" de Pio XII, e os bastidores do que estava realmente acontecendo dentro do Vaticano durante o regime nazista, foram magistralmente dissecados na obra de Peter Godman, "O Vaticano e Hitler – a condenação secreta" (Martins Editora).

Entendemos que a questão realmente importante não é simplesmente saber se um Papa simpatizava ou não com o regime nazista. Provar que essa teoria é falsa não é difícil. O fundamental é responder porque, sendo assim, João Paulo II pediu perdão. Ora, se Pio XII não é culpado, por que então se desculpar? A pergunta parece fazer sentido. Vejamos: em primeiro lugar, vale lembrar que esse tal pedido de perdão gerou controvérsia dentro da Igreja. Nem todos concordaram com a atitude do Sumo Pontífice, e para falar a verdade, quem mais a festejou foram a mídia modernista e os adversários declarados da Igreja. Acontece que, se por um lado o Papa assumiu uma postura nobre e de humildade cristã, ele sem querer também deu munição aos caluniadores. Esse pedido de perdão foi e será sempre explorado pelos que sentem prazer em atacar a Igreja, assim como muitas vezes confundiu e por certo continuará confundindo as mentes de muitos católicos mal formados. Afinal, a lógica elementar diz que só pede perdão quem tem culpa.

O que falta é esclarecer que o pedido de perdão foi pelos erros humanos dos filhos da Igreja, e não por supostos erros da Igreja enquanto tal: a Igreja, Casa de Deus, Esposa e Corpo de Cristo, Barca de Pedro, é a irrepreensível condutora dos cristãos no mundo, enquanto Coluna e Sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15). Deste Corpo, o Senhor mesmo é a Cabeça (Ef 5,23), assim ela não erra e nem pode errar, segundo a Promessa divina: "As portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18); “Eis que estou convosco até o fim do mundo” (Mt 28,20).

Vamos então, enfim, esclarecer a questão do pedido de perdão do Papa, de uma vez por todas. – Ocorre que, no início da Quaresma do ano 2000, pela primeira vez, todos os pecados do passado dos filhos da Igreja foram citados em conjunto, num documento intitulado "Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do passado", que agrupou as incorreções em blocos que abrangem toda a história da Igreja, incluindo o tópico "pecados contra os judeus". – Para que possamos entender qual é o sentido da "culpa" que o Papa está assumindo e pela qual pede perdão, em nome dos Papas e clérigos antes dele, faço questão de reproduzir, abaixo, o trecho do documento que trata especificamente deste assunto. Você, que insiste na pergunta, e todos os que tiverem dúvidas a respeito, por favor, leiam com atenção (negritos nossos):

A Shoah (holocausto) foi certamente resultado de uma ideologia pagã, como era o nazismo, animada de um cruel anti-semitismo, a qual não só desprezava a fé mas também negava a própria dignidade humana do povo hebraico. Contudo, deve-se perguntar se a perseguição nazista nos confrontos com os judeus não foi facilitada por preconceitos antijudaicos presentes nas mentes e corações de alguns cristãos. Ofereceram os cristãos toda a assistência possível aos perseguidos e, em particular, aos judeus? (45) Sem dúvida que foram muitos os cristãos que arriscaram a vida para salvar e assistir os judeus seus conhecidos. Parece, porém, igualmente verdade que ao lado destes corajosos homens e mulheres, a resistência espiritual e a ação concreta de outros cristãos não foi aquela que se poderia esperar de discípulos de Cristo.(46) Este fato constitui um apelo à consciência de todos os cristãos, hoje, exigindo um ato de arrependimento, (47) e tornando-se um estímulo a que redobrem os seus esforços para serem 'transformados, adquirindo uma nova mentalidade' (Rm 12,2) e para manterem uma memória moral e religiosa da ferida infligida aos judeus. Nesta área, o muito que já foi feito poderá ser consolidado e aprofundado."
(Documento Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do passado, Comissão Teológica Internacional. – Para ler direto na página oficial do Vaticano, clique aqui)

Interessante como a realidade é completamente diferente do que se pinta por aí. A verdade é que João Paulo II nunca pediu perdão pelos erros de Pio XII, e muito menos por "crimes da Igreja" durante a guerra ou em qualquer tempo. Ele declara, apenas e tão somente, que alguns cristãos poderiam ter feito mais do que fizeram, e outros possivelmente pecaram por se deixarem levar por preconceitos antissemitas. Ele declara ainda que muito foi feito, mas que pode ser aprofundado. Somente isso.


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1.  BETTENCOURT, D. Estevão, OSB. PERGUNTE E RESPONDEREMOS nº 521,  2005, p. 509, em http://pr.gonet.biz/index-catolicos.ph
com
http://www.presbiteros.com.br/site/a-difamacao-de-pio-xii/

Parte deste artigo é baseado em texto de Alice von Hildebrand, Professora Emérita de Filosofia do Hunter College da City University de Nova York. É autora de diversos livros, entre os quais os mais recentes são: “The Soul of a Lion” (Ignatius Press), sobre o seu falecido marido, o célebre filósofo Dietrich von Hildebrand; “The Privilege of Being a Woman” (Sapientia Press); e “By Love Refined” (Sophia Institute Press).

Fonte: Homiletic and Pastoral Review, disponível em:
http://catholic.net/rcc/Periodicals/Homiletic/2000-06/vonhildebrand.html. Acesso em 3 jun 2011
www.ofielcatolico.com.br

7 comentários:

  1. Uma coisa que me deixa brabo, é ver que a Igreja Católica pediu perdão pelos pecados de seus filhos, e o restante não, e ainda utilizam isto para atacar a própria Igreja. Cadê o pedido de perdão dos protestantes pelos pecados de seus fieis que no passado também perseguiram aos católicos como os protestantes ingleses na Irlanda, ou aos alemães que apoiado por Lutero perseguiu os anabatistas; ou os americanos que patrocinaram um verdadeiro genocídios indigina na América do Norte; ou os sul africanos que apoiaram o apartheid; voltando a Alemanha; os luteranos que apoiaram Hitler. Entre os comunistas, cadê o pedido de perdão pelas minhas de vidas ceivadas nas prisões da Sibéria na antiga União Soviética na época de Stalin, ou na perseguição promovida pelo khmer Vermelho no Camboja; fora outras tantas perseguições e mortes ao redor do mundo como ao genocídio ucraniano conhecido como Holodomor entre os anos de 1932-1933, promovido pelos estados comunistas ateus. Aonde estão o pedido de perdão do muçulmanos de seus fieis que deturpam o Alcorão como eles adoram dizer; que também promoveram toda sorte de ataques, mortes, invasões em territórios cristãos no inicio do islamismo, o qual, países e povos inteiros no norte da África como no Oriente Médio que eram cristãos, tiveram, se não por meio de conversões forçadas, mas de maneira sutil, através da retirada da liberdade de professar a fé cristã em público; da cobrança do impostos do infiéis, que não deveria ser nem um pouco barato, nas escravização de cristãos, já que um muçulmano não pode ser escravo de um outro muçulmano, então se escravizavam cristãos mesmo, e o não exercício de cargos públicos, fizeram que muitos cristãos, abandonados a própria sorte, se convertiam ao islamismo, para não serem mais perseguidos de forma tão sutil, fora que os muçulmanos foram os mais responsáveis pelo tráfico de escravos, cujas algumas leis d alguns países, baseados no alcorão, ainda contribuem para a escravidão, fora a submissão das mulheres, que as colocam debaixo de um véu islâmico ou até de uma burca, tornando-as como um capacho, e ainda tem gente que vem dizer que a Igreja Católica é misógina, só porque não ordena mulheres, porque eles não comparam a situação da mulher entres os islâmicos e católicos, para ver se há entre os muçulmanos o nome de algumas mulheres consideradas como santas e vem para Igreja Católica para ver o mesmo, faremos o maior prazer em dar uma listas de Santas Mulheres e outras tantas que muito contribuíram para a fé católica. Cadê o pedido de perdão dos japoneses que na segunda guerra mundial massacraram povos como os coreanos e chineses, e os turcos que insistem em dizer que não houve genocídio armênio e ainda dão chilique porque o Papa Francisco relembrou que o primeiro grande genocídio acontecido no século XX foram a dos armênios. Cadê o pedido de perdão dos judeus que foram os primeiros a perseguir os cristãos como consta nas Sagradas Escrituras, no livro dos Atos dos Apóstolos. Nisto vemos quanto são hipócritas os que julgam a Igreja Católica por todo mau do mundo, mas não enxergam a trave que tem em si, já disse que se tratando como pessoas assim, não deveria haver dialogo algum não adianta dialogo de uma via só, em se falar daqui e vir ofensas o tempo todo do lado de lá. Eles que sigam seus caminhos e nós seguirmos com o nosso.

    Sidnei.

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    1. Sidnei: A "Humanidade" passa por ciclos. Agora mesmo o Estado Islâmico repete erros do passado, sacrificando todos que não seguem suas regras na prática de sua "religião". Deus se alegra com estes "sacrifícios" ou se alegre que finalmente alguém está querendo colocar todos no caminho "correto". Na minha humildade, penso que nem uma coisa nem outra. Falta amor ao ser humano, julgar menos, crer mais, ser mais humilde, ter FÉ. PAZ A TODOS. Alcino Roehrs - S.S.Caí - RS

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    2. "Deus se alegra com estes "sacrifícios" ou se alegre que finalmente alguém está querendo colocar todos no caminho "correto"". Nem uma coisa nem outra, como você falou, porque quem nós teríamos que nos questionar se aceitaria esses sacrifícios seria Alá e não Deus (e aceitaria, diga-se de passagem).
      Concordo que precisamos de mais amor, mais humildade, menos (falso) julgamento e mais fé NO VERDADEIRO DEUS, pois só ter fé (em qualquer coisa) até o Estado Islâmico tem. A paz de NSJC!

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    3. Alcino Roehrs

      A questão não é que a humanidade passa por ciclos, a questão não é que Falta amor ao ser humano, julgar menos, crer mais, ser mais humilde, ter FÉ, a questão não é que Deus se alegra com estes "sacrifícios" ou se alegre que finalmente alguém está querendo colocar todos no caminho "correto".

      O que eu coloquei é que todo mundo baixa sarrafo na Igreja Católica pelos erros cometidos por seus membros no passado, e a Igreja pede perdão por estes erros, mas mesmo assim, todo mundo ainda continua baixando o sarrafo, e estes mesmo que baixam o sarrafo são os mesmo que membros destas organizações no passado também praticaram atos horríveis, mas não querem nem saber disto e o que importa é sempre abaixar mais e mais sarrafo na Igreja Católica.

      É neste ponto que quero chegar. Não se trato de ciclo, do que DEUS quer ou não quer, de ter mais amor, humildade e julgar menos, se for ir por esta caminho, então a Igreja Católica esta fazendo sua parte, está sendo humilde, pois reconhece que muito de seus membros do passado cometeram erros terríveis e por isto ela hoje pede perdão. Tem amor, pois perdoa seus inimigos como CRISTO mandou, e agora, os demais, como ficam?. Só a Igreja é que tem que rebaixar o tempo todo e o resto fica só julgando, apontando os erros da Igreja mas não são capazes de olhar para os seus próprios erros, reconhece-los e pedir perdão?. Quem não está sendo humildo, não tendo fé e não demonstra amor algum?.

      Sidnei.

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  2. Caro Professor Henrique Sebastião, irmão em Cristo Jesus!
    O que dizer deste vídeo, em que o Papa Francisco conclama Igrejas Pentecostais a se unirem via Iphone.

    Recebi de um amigo evangélico por e-mail:

    https://www.youtube.com/watch?v=9H34oCklhOk#t=230

    Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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  3. Com esse pedido de perdão, o Papa São João Paulo II demonstrou um grande gesto de humildade e a humildade agrada muito o nosso Deus, Foi sem dúvida alguma um grande gesto de amor esse comportamento do nosso querido papa. Que o bom Deus nos proteja.

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  4. https://www.facebook.com/rvoxoficial/posts/633923496709657
    .
    CASSAÇÃO DE JAIR BOLSONARO
    .
    Estatizar a Rede Globo, que é concessão pública e abri-la para os movimentos sociais!
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    Estatizar todas as redes, TVs e rádios religiosas, de qualquer confissão.

    documento do PT

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