Educação: um caminho para a eternidade


Artigo do Prof. Erich Ferreira Caputo,
do Oratório Secular de S. Filipe Neri de São Paulo


PODE PARECER estranho para o homem moderno, mas a verdadeira educação deve ter um único fim: o encontro da alma com o que existe de mais eterno e imutável, isto é, Deus. E cabe à família dar o impulso para esse primeiro passo que levará a pessoa em direção à eternidade. Logo, pode-se dizer que a base da educação é a família, e por meio dessa afirmação é possível traçar um pouco dos atuais problemas pelos quais passa não só a nossa pátria como as demais nações do mundo.


As raízes de nossa educação

A Civilização Ocidental tem suas raízes na cultura judaico-cristã. O império romano cristianizado foi o grande difusor da estrutura da civilização cristã. Esse mesmo império, antes de passar pela cristianização de seus costumes pagãos, já entendia a instituição familiar como princípio norteador da vida.

A civilização romana bebeu dos conhecimentos vindos da civilização grega. Os estudos de Aristóteles valem como exemplo da grandeza e profundidade do pensamento grego, pois ele já havia intuído a existência de um Deus Criador. Também não se pode esquecer que nos diálogos socráticos já se falava de uma alma imortal. Toda a educação grega (Paideia) tinha como principal objetivo a formação de um cidadão completo, conhecedor de si mesmo e útil à sociedade.



A família romana mantinha a religião como elemento central em sua vida, e o pai era o sacerdote responsável por ela. O núcleo familiar e sua rotina religiosa expandiam-se, com seus hábitos e costumes, por toda a cidade. Para se tornar um cidadão romano, a criança recebia uma educação familiar religiosa que seria depois aprimorada pelo ensino formal, sendo este voltado em grande parte para sua vida na sociedade. Esse ensino envolvia gramática, matemática, retórica, oratória, música, astronomia e geometria.

Entretanto, como o aspecto pagão tem em seu interior o erro vindo do Pecado original, agravado pela falta da Graça, o comportamento religioso tinha inúmeros preceitos errôneos que levaram à decadência deste povo e ao afastamento gradual da religião antiga, principalmente daquilo que ela tinha de mais correto que era a obediência às leis naturais (entre elas, o amor à própria vida e à do próximo).

A degradação da educação fica visível no pensamento sofístico, que levava a pessoa a uma vida de aparência social e de pura vaidade, o que importava era o destaque que se podia conquistar diante da sociedade, e não mais de uma formação integrada entre a vida social e religiosa.

Com o colapso do império romano do ocidente, em cerca de 476 dC, boa parte da cultura antiga foi perdida. Coube à nascente Igreja Católica recolher, por meio dos mosteiros, toda a cultura ocidental, além de ser a fundadora e, principalmente, a professora de uma nova civilização.

O fim do Império deu origem ao chamado feudalismo, que veio a culminar com a formação de um novo império romano ocidental, porém não mais pagão e sim cristão. Sob a autoridade da Santa Igreja, terá origem a cristandade medieval.



A cultura clássica foi cristianizada pelas escolas monacais e todos aqueles que desejavam uma educação formal seriam então preparados a partir dos chamados Trivium (que reunia estudos de gramática, retórica e lógica/dialética) e Quadrivium, com o estudo das chamadas artes liberais (astronomia, matemática, geometria e música).

É fundamental notar que, nesse tempo, não era a formação do cidadão para o mundo que importava, mas sim sua preparação para buscar o Reino dos Céus (esta visão e este enfoque se concretizavam numa imensa diferença). As artes liberais eram o apoio fundamental para aqueles que almejavam um conhecimento das causas primeiras e para poderem, em vida, contemplar o fim último do homem e chegar à vida eterna.

As famílias que iam abandonando suas práticas pagãs e voltavam-se para a Verdade imutável; em seu seio, buscavam o mais cedo possível trazer a salvação para as almas das crianças.

Um estudioso sério que se proponha a observar os mil anos que decorrem do início da Idade Média até seu fim, vai notar que esse não é um "período de trevas" como certos historiadores iluministas e principalmente protestantes afirmaram, mas sim a época de uma busca incessante para conquistar a vida eterna. E a educação será a base para tal conquista.

A educação medieval atinge seu píncaro com o surgimento das universidades, no período conhecido como baixa Idade Média. Deve-se destacar que a universidade, uma das mais exaltadas instituições criadas pelo homem, teve sua origem na época medieval. E não surgiu por acaso nem de uma hora para outra, mas sim dentro de um processo gradual de preocupação da família e da Igreja Católica. Infelizmente, como num funesto efeito colateral, tal evento será o início da derrocada do próprio ensino medieval e o início da malfadada educação moderna.


O princípio da decadência do ensino e da educação

Seria de se supor que as universidades dariam continuidade ao ensino originado nas escolas monacais, mas tal coisa não aconteceu. O que se viu no decorrer dos anos foi uma formação cada vez mais especifica e especializada. A preocupação não era mais com a formação para o enobrecimento da alma, o conhecimento da verdade e, em última análise, a contemplação de Deus, ma sim com a mera conquista de um diploma que alavancasse uma carreira profissional. Esse fenômeno se alastrou por todas as nações da Europa.

As universidades são difusoras de novas ideias. E ideias por si só não podem causar nenhum dano, a não ser que se tornem perigosas pela ação do homem. Como o objeto principal do ensino (Deus) foi deixado de lado, abriu-se caminho para a entrada das mais diferentes formas de ver o mundo e a eternidade.

Os avanços que hoje vemos em medicina, engenharia, tecnologia, agricultura e outros se devem às universidades. Por outro lado, ideias como controle da natalidade, ideologia de gênero, o ecologismo como bandeira esquerdista, o relativismo religioso, a negação da existência de Deus e de uma alma imortal, o ateísmo militante e as grossas calúnias contra a Igreja também são frutos do ensino universitário voltado exclusivamente para o mundano. Tais ideias foram cada vez mais divulgadas por aqueles que se formavam na universidade, espalhando-se por todos os recantos e atingindo, inclusive, a família, o núcleo fundamental da sociedade.



O ensino e a necessidade de bons professores

Ao lado da família, outro ator importante para a educação é o professor. Seu papel é ser um mediador entre o conhecimento e o aluno. Por vocação, a dedicação dos professores leva a sacrifícios sem igual para se adquirir um conhecimento que será transmitido para os alunos.

Hoje, principalmente em nossa nação, essa é uma das profissões de menor prestígio. Uma das consequências é a falta de professores, já sentida em vários níveis de ensino. Urge o surgimento de bons professores que tenham uma formação completa, que amem o que fazem e, mais do que nunca, amem a Deus e à sua Igreja. Do mesmo modo que um professor ruim pode encher a cabeça dos alunos com ideias erradas, um bom professor pode auxiliar o aluno a alcançar o bom conhecimento e prepará-lo para buscar a vida eterna.

A Igreja, em sua sabedoria, conhece a importância de tais núcleos: família e escola (com seus professores) e também celebra o dia da santa reconhecida como Doutora da Igreja, modelo de professora que ensinou como amar a Deus e buscá-lo incessantemente, Santa Tereza d’Avila,.

Em escola pública do Brasil, alunas dançam o 'funk' em sala de aula – este foi o 'trabalho escolar' pedido por um professor
A restauração do ensino voltado para a contemplação da eternidade não é um caminho fácil. A família foi atacada e continua vindo sendo atacada, de modo especial nas últimas décadas, das mais diferentes formas, enquanto ia sendo esquecido o seu papel fundamental na formação das crianças. Cabe a nós, católicos, assumir esse processo de restauração.

Urge que sejamos exemplos como família e, também, exemplos de professores e fiscais (sim, senhor) dos próprios professores. Não importa em que lugar estivermos, em união com o Santo Padre e a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, precisamos voltar a ser sal da Terra e a luz do Mundo.
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Um comentário:

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