O Modernismo resumido

O MODERNISMO, ASSIM COMO afirma o gigantesco Santo e Papa Pio X na Encíclica Pascendi Domini Gregis (1907), é “a síntese de todas as heresias” e leva “à destruição não apenas da Religião católica, mas de todas as religiões” (n. 39). A razão de seu terrível poder destrutivo reside no fato de que ele ataca não esta ou aquela verdade, mas sim a própria natureza da verdade.

    De acordo com o Modernismo, a verdade não é algo externo ao homem (uma realidade objetiva à qual o intelecto humano deve se conformar); em vez disso, é imanente no homem, algo que misteriosamente borbulha das profundezas de seu subconsciente, ou das "suas entranhas", para citar Joe Biden. Quando esse erro filosófico é aplicado à religião, o resultado é que o Catolicismo — o Depósito único de verdades divinamente reveladas — torna-se meramente uma expressão do "sentimento religioso" dos crentes (como São Pio X o chama em toda a Pascendi) que aderem a uma tradição particular, como a uma questão de herança cultural ou de mera preferência pessoal. E uma vez que as culturas e preferências evoluem com o tempo, o mesmo deve acontecer com todo dogma religioso[1].



    Dessa forma, os modernistas “pervertem o conceito eterno de verdade” (Pascendi n. 13) e relativizam tudo o que está fora do âmbito da ciência empírica (e mesmo aí, eles são propensos a tomar certas liberdades, por exemplo, fingindo que os homens biológicos podem de alguma forma 'se tornar mulheres', mantendo seus cromossomos Y). Em essência, o sistema modernista está enraizado no  agnosticismo , isto é, no ceticismo quanto à capacidade do intelecto humano de atingir conhecimento seguro de coisas imateriais.

    O que é, então, a “fé” para o modernista? Em suma, é uma questão de  sentimentos, não de certeza objetiva baseada na razão e na Revelação. Como diria Joe Biden, ela “começa nas entranhas”, enquanto Santo Tomás de Aquino define corretamente a Fé como “ um ato do intelecto que assente na verdade divina, ao comando da vontade movida pela graça de Deus”[2].


    Aqueles com olhos para ver e ouvidos para ouvir reconhecem que a Igreja Católica está em grave crise há várias décadas, desde o encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965). O que muitos não conseguem compreender, no entanto — incluindo a vasta maioria da hierarquia da Igreja — é que o Modernismo está na raiz da crise, razão pela qual eles consistentemente falham em abordá-la de forma significativa. À luz dessa trágica realidade, Kennedy Hall merece ainda mais elogios por ter escrito um livro ('What Happened to Catholicism', Crisis, 2025) que deveria ser lido por todos os católicos.

    Usando a Pascendi de São Pio X como estrutura, Hall explica metodicamente as origens do Modernismo, incluindo todos os principais atores (tanto filosóficos quanto teológicos), e guia os leitores através da refutação sistemática que fez o santo Pontífice dos erros modernistas e métodos enganosos — os mesmos que vemos em exibição em todos os níveis da Igreja hoje, daqueles que subvertem “a velha” Teologia e buscam substituí-la por “uma nova teologia que seguirá os caprichos de seus filósofos” (Pascendi, n. 18).

    Felizmente, após diagnosticar a doença, São Pio X também prescreveu os remédios necessários para expulsar o Modernismo do Corpo Místico de Cristo, que Hall discute no final do seu livro. Se me permitem a ousadia, acrescentarei que o remédio definitivo está contido e resumido em uma frase simples: retornar à Tradição — àquela "que o Senhor deu, que foi pregada pelos Apóstolos e preservada pelos Padres da Igreja", nas palavras de Santo Atanásio em suas Quatro Cartas a Serapião de Thmuis (1, 28). Nesse mesmo sentido, o mesmo São Pio X escreveu aos bispos franceses de sua época esta frase lapidar: "Os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os inovadores: são os tradicionalistas" (carta apostólica Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de 1910). 

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[1] Precisamente por isso São Pio X prescreveu o seguinte no seu Juramento contra o Modernismo (1910): “Aceito sinceramente que a doutrina da fé nos foi transmitida no mesmo sentido e sempre com o mesmo significado pelos Apóstolos através dos Padres ortodoxos; por isso, rejeito inteiramente a teoria herética de uma evolução dos dogmas, isto é, que eles mudam de um significado para outro, diferente daquele que a Igreja tinha anteriormente. Condeno também qualquer erro que substitua o legado divino confiado à Esposa de Cristo, a ser fielmente guardado por ela, seja um sistema filosófico ou uma criação da reflexão humana que se forme gradualmente através do esforço humano e deva ser aperfeiçoada no futuro através de um progresso ilimitado.” ( DH 3541).

[2]
Summa Theologiae II-II, q. 2, a. 9, ênfase acrescentada. São Pio X também enfatizou em seu Juramento contra o Modernismo: “Eu sustento com certeza e sinceramente confesso que a fé não é uma inclinação cega da religião brotando das profundezas do subconsciente sob o impulso do coração e a inclinação de uma vontade moralmente condicionada, mas é um genuíno assentimento do intelecto a uma verdade que é recebida de fora pela audição. Neste assentimento, dado com a autoridade do Deus todo-verdadeiro, consideramos verdadeiro o que foi dito, atestado e revelado pelo Deus pessoal, nosso Criador e Senhor.” (DH 3542). — Definições de uma perfeição absoluta que só poderiam ter sido legadas por um Papa santo e acima de qualquer suspeita.

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Baseado no artigo de Matt Gaspers, "Modernism is a sin", para o One Peter Five, disp. em:
https://onepeterfive.com/modernism-is-a-sin/
Acesso 4/8/2025.

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