Época de mudanças ou mudança de época? – Igreja e Sociedade na Campanha da Fraternidade 2015




Por Evaristo de Miranda

NESTE INÍCIO do século XXI, a sociedade brasileira não vive uma época de mudanças, como a que marcou as décadas de 60 e 70 e o final do século passado. Vivemos sim, uma mudança de época. Quais as características marcantes dessa mudança na sociedade? Como estão hoje as relações entre a Igreja e a sociedade? Esse será o foco da Campanha da Fraternidade 2015.

Sobre essa questão, um primeiro indicador está na religião praticada pelos brasileiros. A cada ano, uma parte significativa da sociedade abandona a Igreja Católica, mesmo se permanece (confessionalmente) cristã. O último censo do IBGE apontou que a Igreja teve uma redução da ordem de 1,7 milhão de fiéis (12,2%) em dez anos. Pela primeira vez, em 500 anos, o número de católicos caiu em termos absolutos. Com essa tendência, em 25 anos, católicos e “evangélicos” terão números iguais na população. – Igualdade e até inferioridade numérica que já é vivida pela Igreja Católica em várias cidades e periferias urbanas.

Esse fenômeno ocorre em toda a América Latina, mas em nenhum país com a intensidade observada no Brasil. Em 1970, 91,8% dos brasileiros eram católicos. Em 2010, eram 64,6%. Os “evangélicos” passaram de 5,2% da população para 22,2% (e, convenhamos, pelo barulho que fazem, parece que são em número bem maior). Além disso, a proporção de católicos é maior em pessoas com idade superior a 40 anos. Os “evangélicos” têm sua maior proporção entre crianças e adolescentes, o que indica também o envelhecimento da população católica (e o fatal crescimento da população dita ‘evangélica’).

Como a proporção dos que se confessam cristãos se mantém a mesma na sociedade (86,8%), há uma clara migração social de católicos para correntes “evangélicas”. O povo não se tornou ateu, em deixou a fé em Cristo. O divórcio é com a Igreja romana.

A Igreja fez uma "opção preferencial pelos pobres"; estes, pelas igrejas “evangélicas”.

Qual a responsabilidade da Igreja frente a esse processo? Este aspecto se reveste de uma forte dimensão quaresmal. Os católicos encontram essa mudança religiosa no seu cotidiano e acostumaram-se à pluralidade religiosa resultante de um trabalho feito na comunidade e nas famílias. Mesmo quando ela se traduz por atitudes agressivas em relação à Igreja. Onde está o teu irmão (, pergunta o SENHOR em Gn 4,9)? Como está o irmão que deixou a Igreja? O que essa mudança trouxe para a sua vida? O que ele encontrou de crescimento e realização pessoal ou familiar nessa mudança? Ninguém responde. Poucos sabem.

A hemorragia de fiéis é cotidiana. Mesmo assim, não há nem mobilização institucional visível face à retração social da Igreja, nem engajamento claro na busca de resultados efetivos para reverter tal situação e seus processos. E o rebanho segue diminuindo.

Os católicos podem ficar indiferentes a esse processo? A quê estará reduzida a Igreja Católica daqui mais 50 anos? Todas essas transformações no relacionamento Igreja-Sociedade suscitam muitas interrogações. (...) O processo de abandono da Igreja e de envelhecimento dos fiéis prossegue e tende a acelerar-se.

O fermento de justiça e fraternidade que tantos documentos episcopais reivindicaram como essenciais na ação da Igreja na sociedade não tem sido capaz de fazer crescer a massa católica. – Haverá para a Igreja na Campanha da Fraternidade 2015 um tema mais relevante a ser debatido do que o declínio do número dos que aderem à fé católica?

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Fonte:

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO, Semanário “O São Paulo” nº 3038, ano 60, p. 2.
www.ofielcatolico.com.br

8 comentários:

  1. O trabalho com os afastados é muito difícil, pelo menos para mim, na minha opinião. Tenho por pensamento pessoal de que o ateísmo cresceu muito numa sociedade paganizada, que considera a Catequese como algo do passado e que sempre busca novidades numa espiritualidade consumista e de seus próprios interesses.

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    1. Para reverter a situação precisamos nos tornar santos. É a santidade que converte os outros. Nas paroquias vive muito o ativismo e pouco a santidade.

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  2. Infelizmente, os padres deixaram de fazer homilias mostrando para o povo que a Igreja de Jesus Cristo é a católica, lamentavelmente tem padre que elogia tanto as seitas, que chega dá vontade de ir pra lá. Enquanto isso, os chamados evangélicos atacam duramente a igreja de Cristo. Resultado cresce os evangélicos e dimunui a igreja católica. Mas isso é para se cumprir a escritura que diz que no final dos tempos iria haver muitos falsos profetas, muitos pecados e pouca fé a ponto de Jesus antecipar a sua vinda.

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  3. Caros,
    Não conheço até que ponto possa ser verdade, mas, segundo comenta-se nos bastidores, que boa parte da arrecadação deste ano para à Campanha da Fraternidade, vai ser destinada para o ressurgimento das Comunidades Eclesiais de Base, as famosas CEBs da Teologia da Libertação e fundadoras do partido do governo atual. Tudo orquestrado pela ala dos Berglorianos socialistas do Vaticano.

    Se realmente for verdade, continuarei na mesma opinião de não dar nenhum centavo para estas campanhas que, na verdade, das verdades de Jesus Cristo não têm nada.

    Seja Sempre Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!

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  4. Olá, irmãos e irmãs! Saudades..
    Não sou esquerdista e muito menos quero levantar bandeira de um ou atacar outro. Mas gostaria de saber se alguém aqui saberia me dizer se existe outro meio mais elouquente de apresentar a Doutrina Social da Igreja, embasada na Gaundiun et Spes, que o projeto desse ano, através do documento base da Campanha aborda?
    Minha gente, sou completamente contra aos princípios da Teologia da Libertação extremada, mas, não estaríamos nós um pouco fechados nas questões sociais e muitos fundamentalistas achando que tudo o que a CNBB e seus bispos nos propõe é insignificante e de nada ajuda a sociedade? Não seria o momento de parar um pouco e dar créditos para o Magistério dos Bispos do Brasil? Será que eles não merecem um pouco mais de consideração de nós, Fiéis Católicos? Afinal, o programa existe a mais de 50 anos e é impossível que isso não seja inspirado pela Santíssima Trindade. Somos Igreja e os problemas que o documento aborda, de maneira espetacular nos apresenta sim grandes problemas que merecem nossos olhares.
    Vamos lá, vamos refletir essa questão.
    Deixemos as questões de arrecadação de lado e apresentemos fatos e argumentos que nos possibilitem crescimento. Será que não há positividade no projeto?
    Abraço fraterno!

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  5. Não quero aqui trazer a baila, as campanhas das fraternidades anteriores, apenas da do ano de 2014, que falava sobre o “Trafico Humano”. Assusta-nos pensar até onde chega a perversidade de traficar seres humanos.
    Em 1948, a Declaração dos Direitos Humanos, começa com uma serie de considerações referentes ao reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis, que é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.
    No Brasil, o governo, está diretamente envolvido com a maior operação de tráfico de pessoas de que se tem notícia no mundo hoje. O Brasil é um grande comprador e a ilha de Cuba comunista e a grande fornecedora.
    A CF 2014 escolheu como tema o tráfico humano (um ato perverso, que nos envergonham), a fim de despertar na consciência dos brasileiros o repudio por tal prática.
    Pergunto: E quais foram os resultados efetivos até o presente momento da CF do ano passado? Quais foram as realizações de ações para solucionar os problemas do trafico humano? Por acaso o Brasil deixou de ser aliciador do trafico de médicos?
    Quanto a este tema dos médicos escravos no Brasil, grande parte da CNBB cala-se, ou melhor, é conivente e o texto base da CF o omitiu. Fato não ocorrido na CF 2002, cujo tema era: “Por uma terra sem males” – Fraternidade dos povos indígenas, onde o seu texto entra na antiga celeuma das demarcações, inclusive, se não estou enganado, de áreas continuas (Raposa serra do sol), em Roraima.
    Eu que faço parte da ponta da linha na escala hierárquica eclesial (humilde agente de pastoral há décadas), nunca vi efetivamente propostas das CF gerar algum fruto visível nas paróquias em que fiz e faço parte. A vida das CF não tem tempo para uma gestação concreta, só dura 46 dias em algumas paróquias, e em outras, não chegam a ser nem reconhecidas, infelizmente! É a pura realidade. Existem padres que não quer nem ouvir falar em CF nas suas paróquias. E não são tradicionalistas nem fundamentalistas.
    Que Deus, bondoso Pai, nos dê forças para uma conversão verdadeira e crermos no Evangelho do Seu amado Filho, Jesus Cristo!

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    1. Olá, amigo André!

      Tenho conhecimento dos fatos que apresentou sobre a CF do ano passado, inclusive denunciei e muito nossa omissão na proposta, causando até mal estar em alguns leigos e clero da minha diocese. Isso ocorreu porque minha diocese também é beneficiada pelo projeto comunista. Não que meu bispo e o seu clero seja, mas o povo infelizmente é.
      Chamo a atenção para o que o Sr. colocou no final da sua argumentação: infelizmente as CFs não tem força por diversas questões e muitas vezes não ficam sendo nem conhecidas. Gostei das colocações e concordo plenamente.

      André, observando o lado tradicionalista, estamos nós também completamente corretos se analisarmos profundamente nossas ações durante a quaresma? Veja, não celebramos nem mais o Catecumenato no Sábado Santo, por exemplo? Mal caminhamos na preparação que o maravilhoso tempo quaresmal nos proporciona. Pelo menos em minha diocese e em algumas que vejo por aí só observo batismo de crianças. Não há mais preocupação nem mesmo de levar as pessoas a uma concreta conversão pessoal durante o período. Acredite, alguns lugares, pasme, cujo padre é tradicionalista, não se executa nem as importantes vias-sacras com a argumentação de que os textos das CFs, principalmente aqui no Sul1 atrapalham. Eles falam que atrapalham e deixam de fazer memória ao Sacrifício de Cristo. Observo que nos fechamos aos propóstitos e deixamos de ser atuantes na transformação.

      Creio que nem todas as ações de evangelizações são coerentes, mas o que vale é a intenção em alguns casos e quando isso existe, sendo ela boa ou má não caberia a nós buscar o lado bom? Padre Paulo Ricardo, em uma de suas aulas disse que não é porque um padre é completamente comunista, da TL que a missa é inválida, mesmo com toda a inculturação. Ele comenta que tal ação geralmente traz a tal intenção e é o que importa. O sacramento é válido e é para isso que faço minha observação em determinadas propostas. A CF sendo ou não 100% eficaz, só o fato de existir a proposta não valeria a pena, mesmo tendo sido criada através de uma novela?

      Como dica, talvez não caberia a nós propor algo que modifique o projeto, como por exemplo o tema: Igreja e Fidelidade e o lema: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará!
      Enfim, irmãos, saibamos que o projeto existe e que bom que ele existe. Talves não caberia a nós tentar somar?

      Abraço fraterno.

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  6. A Igreja Católica nunca perdeu um fiel. É fato amigos, dizer que é católico é uma coisa, mas ser CATÓLICO é bem diferente.

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