Que deve fazer o fiel católico nestes tempos de crise e apostasia? – parte 4 | terceira posição: o Sedevacantismo

Leia a parte anterior desta série

TRATAMOS NESTA SÉRIE sobre as diferentes posições que se apresentam aos fiéis católicos frente à crise terrível que assola a Igreja – a qual, em nosso entendimento, já avançou muito além da condição de mera crise, assumindo as principais características daquilo que podemos esperar da grande apostasia profetizada desde os tempos antigos e descrita até no novo Catecismo de 1992.


    A primeira posição, já aqui abordada (leia), é a do grande grupo que prefere se comportar como se nada de errado estivesse acontecendo; como se a Barca de São Pedro navegasse em águas tranquilas, com nossos pastores assumindo honestamente os seus papéis e todos os fiéis sendo bem instruídos na Sã Doutrina da Igreja como sempre foi. Já dissemos e demonstramos, também, o óbvio: tal postura é absurda, e isso pode ser notado por qualquer cristão de boa consciência. Isso pode ser notado, sem dúvida, pelos eleitos, aqueles que reconhecem a voz do Bom Pastor (Cristo) e que serão reunidos sob a proteção do seu cajado. Estes, que não se farão de cegos e nem permanecerão impassíveis diante de todos os sacrilégios e toda apostasia que os cerca, não serão dispersados.


    No sentido contrário, uma imensa multidão, a grande maioria, se perderá na tempestade (assim como já está se perdendo, e podemos vê-lo todos os dias), a saber: os que não creem verdadeiramente, não adoram verdadeiramente; os que não amam verdadeiramente a Deus e, não amando o seu Cristo, não se escandalizam ao ver os salteadores que tomaram a sua Casa e que flagelam mais uma vez o seu santo Corpo.


    Na continuidade destes estudos, em sequência, apresentamos a posição denominada “Reconhecer e resistir”, adotada pelos grupos que consideram que não se pode deixar de reconhecer a legitimidade e a autoridade do Papa, assim como também o Vaticano II como verdadeiro e válido Concílio da Igreja, mas... ao mesmo tempo, creem e ensinam que a gravíssima crise torna necessário desobedecer e resistir ao Papa, bem como aos ditames do Concílio. Aliás, uma coisa implica a outra, necessariamente: o próprio Papa já declarou que os que não seguem o Concílio não estão com a Igreja.


    Já dissemos aqui também que a posição “Reconhecer e resistir” inevitavelmente resultará em problemas de difícil resolução. E dizemos ainda mais: em grande medida, esses problemas serão tão graves quanto aqueles que os seus adeptos tentam solucionar. Vejamos agora.


    Todos os muitos grupos (FSSPX, Resistência/União Sacerdotal Marcel Lefebvre, diversos bispos e cardeais – já citamos alguns deles – além de diversas comunidades sacerdotais e leigas ao redor do mundo) alegam que o que devemos fazer é "peneirar" o que é católico daquilo que não é católico, tanto dos documentos do Vaticano II quanto das prescrições, mandados e mesmo documentos emitidos pelo Papa e pelos seus bispos ao redor do mundo.

    Quanto aos presbíteros, o mesmo, é claro. Cite-se aqui que para muitos fiéis católicos que ainda frequentam as Missas dominicais em suas paróquias, a hora da homilia tornou-se uma ocasião de sofrimento; alguns oferecem aquele verdadeiro castigo como penitência, outros recitam mentalmente algumas dezenas do Terço enquanto o padre profere um bocado de asneiras do alto do ambão, ou então ensaia um discurso político-revolucionário, não raro defendendo as mais absurdas pautas de partidos de esquerda.


[Cite-se an passant que a ideia ou concepção da posição 'Reconhecer e resistir', mais ou menos inédita até o advento do Vaticano II, teria sido adotada, ensinada e popularizada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre, mas é muito importante considerar que a situação da Igreja no seu tempo era muitíssimo diferente daquela que temos hoje. Estivesse vivo hoje Dom Lefebvre, diante de 'pachamamas' postas no Altar sagrado e a pregações ensinando que converter os povos é pecado e que os apóstatas e blasfemadores fazem parte da Comunhão dos santos, certamente teria dado um passo além.]


    Pois bem, os adeptos da posição “Reconhecer e resistir” (daqui para diante usaremos a sigla RR), baseiam-se, assim, não mais na condução do Magistério que eles mesmos reconhecem como legítimo, mas sim nos seus próprios julgamentos particulares, para definir se algo está ou não em conformidade com a Tradição e com a Sã Doutrina da Igreja de Cristo. Tudo o que prescreve o Concílio e tudo aquilo que determina o Papa, com seus bispos e seus sacerdotes, eles mesmos analisam e “peneiram” para saber se é ou não é católico(!). Só aquilo que passa nesse crivo é aceito, e o que não passa é descartado. Ultimamente, por motivos bastante óbvios, a maior parte das determinações de Francisco é solenemente rejeitada e/ou completamente ignorada por eles. 

    De fato, em geral esses católicos deixam muito claro o seu completo desprezo pelo "projeto de igreja" de Francisco e seus bispos revolucionários. E quem poderia dizer que estão errados neste ponto? Se o Papa (ou qualquer clérigo) nos diz que fazer aquilo que Cristo ordenou é pecado (sim, Francisco fez e faz isto!), como obedecê-lo? Aqui é que se cria o problema.

    Estamos assim chegando ao ponto crucial de todo o problema, porque aqui vai surgir a pergunta fundamental. Ora é mais do que evidente que temos, então, um sério problema: como é que se pode dizer que se crê no Papa como o Vigário de Cristo, o Sumo Pontífice e o Cabeça visível da Igreja, e ao mesmo tempo desobedecê-lo, resistir a ele e até criticá-lo, mesmo que "respeitosamente"? Como é que um leigo pode reconhecer a autoridade de um Papa e ao mesmo tempo dizer o que ele pode e o que não pode fazer?? Quando Francisco proibiu a Missa de sempre, foi exatamente o que fizeram, ensinando que nenhum Papa pode fazer isso, e definindo a partir de suas interpretações particulares do Magistério o que é que ele poderia ou não fazer. Sendo assim, se cabe aos leigos decidir o que é certo e o que é errado em termos de moral, doutrina e disciplina católicas, para que serve o Papa???

    A resposta pronta que todo integrante da turma do RR têm na ponta da língua para essa pergunta fundamental é: “O Papa só é infalível quando se pronuncia solenemente, ex-cathedra. Fora disso, não somos obrigados a obedecer”.

    Será que isso faz sentido? Vejamos: segundo essa teoria, o que o Papa ensina e determina só nos obriga se ele: 1) estiver fazendo uso das Chaves concedidas por Cristo, ou seja, a autoridade que lhe foi divinamente confiada; 2) que o objeto do seu ensinamento seja a moral cristã, a Fé ou os costumes; 3) que declare solenemente que está determinando uma lei para toda a Igreja e que deve ser obedecido por toda ela; 4) que manifeste sua intenção de dar uma decisão dogmática, proibindo que se ensine tese oposta.

    De fato, o dogma da infalibilidade do Papa (Concílio Vaticano Primeiro) cita essas quatro condições, as quais definem uma decisão ex-Cathedra. Assim sendo, quando não se pronuncia ex-Cathedra, como doutor privado o Papa pode cometer erros. Muitos adeptos do RR, em suas explicações sobre a crise, até brincam com isso, dizendo algo como: "Não é porque o Papa torce para o Boca Juniors que nós também temos que torcer...".

    Check. Estará assim tudo resolvido? Ora o Papa só é infalível nesses casos específicos, e eu só tenho que obedecer quando ele é infalível; podemos então continuar crendo, rezando e vivendo  nossas vidas em paz, como a Igreja sempre fez até o fatídico desfecho do Vaticano II. Certo?

    Errado. Muito, muito errado.


    Cabe aqui citar o texto do autor Luís Eugênio Sanábio e Souza para o portal Vatican News: o que a Igreja ensina é que "o exercício do carisma da infalibilidade 'pode assumir diferentes modalidades' (Catecismo da Igreja Católica nº 890).  A infalibilidade é exercida através do Magistério extraordinário e também do Magistério ordinário.  O Magistério extraordinário é caracterizado pelos atos solenes e definitivos do Papa ou dos Bispos em comunhão com ele  ('ex-cathedra') e também as proclamações definitivas dos Bispos em comunhão com o Papa num Concílio Ecumênico.  Quanto ao Magistério ordinário, a infalibilidade é exercida quando o Papa ou os Bispos em comunhão com ele, concordam em propor uma doutrina como definitiva. Como exemplo de pronunciamento infalível do Magistério ordinário, pode-se recordar aqui a questão da impossibilidade de ordenação de mulheres.  Neste caso, o Papa pronunciou-se definitivamente de maneira ordinária mas sem recurso solene. A intenção do Magistério ordinário de propor uma doutrina como definitiva geralmente não é ligada a formulações técnicas de particular solenidade; basta que resulte claramente do teor das palavras utilizadas e seus contextos. (...) A declaração de confirmação ou reafirmação por parte do Romano Pontífice não é (em muitos casos), um novo ato de dogmatização (Congregação para a Doutrina da Fé : nota doutrinal explicativa da fórmula conclusiva da Professio fidei nº 9)". 

    Dissemos, antes, que a primeira posição apresentada nesta série ('Tudo está bem') era a mais cômoda. Sim, sem dúvida é. Mas a posição RR deve ser classificada em segundo lugar no rol do conforto entre as posições assumidas nestes dias de exceção. Ora, basta dizer: "Tudo bem, eu não me importo com o que diz este mau Papa; continuo vivendo conforme aquilo que as Escrituras, a Tradição e o Magistério sempre ensinaram"... E parece que tudo vai bem no pequeno mundo à parte dos católicos RR.

    Mas o mundo real, lá fora, está pegando fogo, porque a Igreja, Mãe e Mestra de todos os povos, deixa de influenciar beneficamente, como outrora, às nações e aos seus governantes. Se hoje vemos grassando tantas desgraças – como o femismo, a ideologia de gênero, a apologia ao homossexualismo, a emasculação dos meninos, a sexualização precoce das meninas, o comunismo, o liberalismo, etc, etc, etc... – tudo isso acontece, em grande medida, por conta desse estado de prostração da Igreja perante o mundo, protagonizado por todos os Papas desde o Vaticano II. Enquanto isso, o católico RR continua tranquilamente alheio a tudo, frequentando aquela igreja onde ainda se celebra a Missa em latim (rezada Una cum Francisco, isto é, pelas intenções desse mesmo Papa que prega uma doutrina espúria), rezando o seu Terço e lendo o Catecismo de São Pio X, onde tudo é claro e bem definido. Se o Papa atual ensina heresias e, na sua paróquia, celebra-se uma pantomina estapafúrdia em vez da santa Missa, o problema não é dele.

    Muito cômodo. Sim, o católico RR se incomoda com os escândalos, ele se irrita com as verdadeiras barbaridades que vêm acontecendo no seio da Igreja. Ele ficou particularmente indignado com a recente proibição da Missa de sempre. "Absurdo! Onde vamos parar!?"... Mas, por enquanto, naquela capela que ele frequenta, ainda tem Missa “no rito extraordinário”, então... O jeito é continuar reconhecendo e resistindo. Assistir uns vídeos do Padre Paulo Ricardo aqui, outros do Centro Bom Bosco ali, murmurar consigo mesmo diante dos pecados dos padres, dos bispos, do Papa.... No mais, é vida que segue.

 

    Mas há um problema realmente sério, aí. Um problema dos grandes. Acontece que há uma outra pergunta fundamental, que essas pessoas não estão se fazendo, e é esta:

 

    É – ou alguma vez foi, em toda a história da Igreja – permitido ao fiel católico “peneirar” ou “filtrar” o Magistério e o Papa, para tirar daí o que ele considera legítimo, descartando tudo o que não lhe agrada (ainda que com justa razão)? Ou, dizendo em outras palavras, é permitido ao fiel abster-se de aderir àquilo que um Papa legítimo prega, ensina e manda, em suas pregações públicas e em seus documentos oficiais, desobedecendo sempre que não estiver decretando algo solenemente (ex-Cathedra)?

 

    Os RR dizem que a única coisa intocável é o Magistério solene e suas determinações ex-Cathedra: apenas este é que não pode ser peneirado e deve ser obedecido. Todo o restante, por não ser infalível, poderia ser filtrado pelos fiéis. Sendo assim, pergunta-se:

    • É, então, possível ao católico rejeitar as reformas litúrgicas do Vaticano II?

    • É possível ao católico rejeitar as reformas disciplinares do Vaticano II?

    • É possível, em especial, rejeitar as profundas mudanças na Doutrina (falaremos delas no momento oportuno), as quais se refletem diretamente na moral cristã e rompem com a Tradição e os ensinamentos até então vigentes, propostas pelo Vaticano II?

    • É possível ao católico rejeitar e resistir a tudo isto, ao mesmo tempo em que aceita e reconhece o Vaticano II como um legítimo e válido Concílio da Igreja de Cristo, feito sob inspiração do Espírito Santo??

    Aqui é que entra, afinal, a terceira posição, a terceira proposta de solução frente a crise (reconheça-se, cada vez maior), a qual postula que a resposta para todas essas perguntas é  um vigoroso Não. Vejamos: 


3) Terceira posição: o Sedevacantismo – O homem que se parece com o Papa católico romano, que se veste e se apresenta como tal, professa heresia. Ele o fez e faz não por lapso ou mero descuido, ou ainda em algum ato isolado, mas de modo contumaz. Portanto, não pode ser um Papa legítimo e nem o verdadeiro Vigário de Cristo sobre a Terra; pois qualquer um que pregar um Evangelho diferente daquele dos Apóstolos, é anátema (cf. Gl 1,8s): está excomungado, excluído, fora da Comunhão, deixou de ser verdadeiro católico. E quem nem sequer é católico, obviamente, não pode ser o Papa de todos os católicos.


Tal proposição, por motivos que não são difíceis de entender, desperta a priori muita resistência. Queixam-se os sedevacantistas de que não são sequer ouvidos em seus argumentos, e que aqueles que os rejeitam, via de regra, o fazem sem demonstrar onde é que estão errados, ou onde se encontra a falha em sua tese central.

    De fato, como já mencionado, este movimento vem crescendo, tomando vulto e importância, e tem conquistado adeptos importantes em todo o mundo. Poucos sabem, por exemplo, que o diretor do filme "The Passion" (Paixão de Cristo), talvez a mais importante produção cinematográfica genuinamente católica de todos os tempos, Mel Gibson, é um sedevacantista. Ou que há influentes congregações sacerdotais aderindo a esta posição nos últimos anos. Recentemente (2021), os padres italianos Alessandro Minutella, Enrico Bernasconi e Francesco D'Erasmo (Diocese de Civitavecchia-Tarquinia) declararam Francisco é herege e que está excomungado por suas heresias.

    Atendendo, então, aos rogos dos sedevacantistas mais honestos, vejamos, primeiro, uma apresentação completa da sua posição, para ver se tem algum sentido ou não, antes de ponderá-la. Antes de nos debruçarmos sobre a validade ou não desta posição, é preciso apresentá-la e torná-la compreensível, visto que não são tantos os que a conhecem bem. Eis uma tarefa que, para ser bem feita, exigirá a publicação de algumas postagens dentro desta série. Começaremos tomando por base dez pontos principais de um bom artigo de Thiago Santos de Morais (Apologética Católica). Segue.


1. O que é o sedevacantismo?

Sedevacantismo é a tese de que os Papas mais recentes – os que reinaram desde o Concílio Vaticano II – não foram verdadeiros Papas, assim como não é Papa o atual, Bergoglio-Francisco.  Consequentemente, a Cátedra de São Pedro estaria vazia, vaga, vacante. Tal situação é expressa pela fórmula latina “Sede vacante”.


2. Qual a origem dessa tese?

Essa teoria foi concebida em reação à grave crise na qual a Igreja viu-se inserida desde o seu último Concílio, à qual o Arcebispo Lefebvre chamou “terceira guerra mundial”: sua principal causa tem sido a negligência dos Pontífices Romanos, que ensinam ou deixam que se propaguem erros gravíssimos em matérias como o ecumenismo, a liberdade religiosa, a colegialidade dos bispos, etc., sem contar o desleixo para com a moral e a sagrada liturgia. Acrescente-se que, com Francisco, tanto a quantidade quanto a natureza desses erros têm atingido níveis insuportáveis, até para muitos que antes deploravam a tese do sedevacantismo.


3. Diferentes soluções dentro da mesma posição

Há versões diferentes e diversas escolas sedevacantistas, que se podem classificar em dois grupos principais: há os que dizem que o Papa atual é um antipapa, e outros que propõem que é apenas parcialmente Papa, isto é, um Papa “materialiter” mas não “formaliter”.

    Os primeiros consideram a sua posição como uma “opinião”, à qual têm direito em razão de sua objeção de consciência frente aos desmandos da "Igreja conciliar", mas consentem em receber os Sacramentos de padres do Novus Ordo; os demais entendem tal coisa como matéria de Fé, recusando-se a assistir Missa onde se reze pelo Papa atual, porque a Igreja de Cristo não pode rezar pelas intenções de um herege, na medida em que a Luz não compactua com a treva.


4. O que quer dizer ser Papa 'materialiter'?

A principal dificuldade do sedevacantismo é explicar como a Igreja pode continuar a existir de uma maneira visível (já que ela recebeu de Nosso Senhor a promessa de que duraria até o fim do mundo) estando privada de sua cabeça visível. Os partidários da “Tese Cassiciacum” defendem que o corrente Papa foi validamente eleito, mas não recebeu a autoridade papal devido a um obstáculo interior grave (a heresia). Assim, ele pode ser capaz de agir de algumas maneiras para o bem da Igreja, como na escolha dos Cardeais (que são igualmente cardeais 'materialiter'), mas não é plenamente o Papa.


5. Que se diz dessa solução?

Os críticos alegam que essa solução não é baseada na Tradição. Teólogos (como Caetano, São Roberto Bellarmino, João de Santo Tomás, etc.) já examinaram a possibilidade de um Papa herege, mas nenhum antes do Concílio mencionou tal teoria. Dizem ainda que ela não resolveria a principal dificuldade do sedevancatismo: saber como a Igreja continua visível estando desprovida de sua hierarquia visível. 

    Os defensores explicam que tal solução é a única que preenche as exigências dos dogmas católicos e, ao mesmo tempo, admite a realidade objetiva dos fatos, pois garante a permanência da sucessão material de São Pedro, por um lado, e não esconde os inegáveis erros dos últimos pontífices romanos, por outro. Se ela não tinha sido pensada antes, é pelo simples fato de uma situação como a atual nunca ter ocorrido em toda a história da Igreja. 


6. Os sedevacantistas são cismáticos?

A resposta para essa pergunta é mais complexa do que parece. De fato e de direito, pode-se afirmar que não são formalmente cismáticos, pois eles não negam o poder de jurisdição do sucessor de Pedro e nem a sagrada instituição do Papado: o que postulam é que pessoas específicas não foram Papas.


7. Os sedevacantistas são hereges?

Não, porque não negam nenhuma verdade de Fé. Sim, é uma dessas verdades que haverá sucessores de Pedro até o fim do mundo, mas não é verdade de Fé que um interregno não se poderia prolongar, como já aconteceu antes. Além disso, lembram os sedevacantistas que os tempos da grande apostasia são tempos de exceção, nos quais coisas impensáveis se tornarão realidade, de tal modo que até os eleitos, se isso fosse possível, se perderiam (cf. Mt 24,24). A esse respeito, diz com assombrosa clareza o Catecismo:

Antes do Advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes (Mt 24,12). A perseguição que acompanha a peregrinação dela na Terra (Lc 21,12; Jo 15,19-20) desvendará o 'mistério de iniquidade' sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne (2Ts 2- 1-8; 1 Ts 5,2-3; 2Jo 7; 1Jo 2,18.22).
(CIC n. 675)


8. Qual a origem do movimento sedevacantista?

Simplificando uma longa história, a origem está em Econe (Suíça, onde, aos 30 de junho de 1988, foram feitas as célebres consagrações ao episcopado dos padres da FSSPX por Dom Lefebvre, em presença de Dom A. de C. Mayer, contra a vontade de João Paulo II – veja), onde havia três tendências entre os seminaristas: 1) A dos que seguiam estritamente D. Lefebvre; 2) a dos que procuravam um reconhecimento oficial para a resistência; 3) a dos que rejeitavam tudo que tivesse relação com Roma, que acreditavam ter apostatado após o Vaticano II. Por algum tempo, essas tendências conviveram sob a mesma estrutura; despois, o primeiro grupo deu origem a atual FSSPX e comunidades fraternas. O segundo, à Fraternidade de São Pedro e similares. O terceiro, aos sedevacantistas.

    O atual distrito da FSSPX nos EUA, entre os anos 1970 e 80, era dividido em dois. Num deles, esse terceiro grupo comandava, e teve muito sucesso em seu apostolado. O primeiro Capítulo da FSSPX deixava livre para cada distrito decidir quais rubricas usar. Com o tempo, D. Lefebvre entendeu que era bom que tivessem uma uniformidade, mas foi surpreendido pela postura dos americanos. Descobriu então que a ligação com as rubricas de S. Pio X estava relacionada com um sedevacantismo velado, e não com uma mera preferência.

    Advertiu então a esses padres, mas eles não aceitaram suas colocações e foram expulsos. Logo em seguida, D. Lefebvre ordenou alguns seminaristas americanos e mais uma vez se surpreendeu com o fato de eles, apenas um dia depois, abandonarem a FSSPX e se juntarem ao grupo de padres expulsos. Esse grupo formou a FSSPV (Frat. Sacerdotal S. Pio V) e se tornou famoso nos EUA pela qualidade acadêmica de suas escolas e pelo apostolado atuante e agressivo. Contudo, havia um sério problema: eles não tinham um bispo.

    Seguiu-se um debate, e o grupo se dividiu; uma dessas partes obteve a sagração pela linha do Arcebispo Thuc (vietnamita): é a dos bispos Dolan e Sanborn, certamente o grupo sedevacantista mais importante e influente do mundo. Este mantém contato com outras organizações no México, Argentina, França, Bélgica, República Tcheca e Itália, e possui um dos melhores seminários da chamada Resistência. O resto do grupo continuou a se denominar FSSPV e acabou conseguindo a sucessão por meio de D. Alfredo Mendez, Bispo de Porto Rico.

    D. Mendez foi sempre um crítico da situação da Igreja no pós-Concílio, ainda que não necessariamente um sedevacantista. Apoiou a FSSPV, financiando um popular programa que esse grupo mantinha na TV americana, ordenou padres e também um outro Bispo (essa ordenação só foi divulgada após a morte de D. Mendez). Anos depois, a FSSPV ganhou mais um novo Bispo (saiba mais).

    Por fim, vale notar que outros grupos sedevacantistas conseguiram a sucessão por meio de bispos vétero-católicos e de bispos com linhagem derivada dos primeiros sagrados na ICAB (de validade inquestionável, portanto). Na República Tcheca temos bispos sedevacantistas que (antes de o serem, obviamente) foram sagrados com autorização de Roma, secretamente, durante o regime socialista naquele país.


9. Algum grande teólogo se tornou ou apoiou sedevacantistas?

Sim; o dominicano Guérard des Lauriers, que ajudou o Papa Pio XII na formulação do dogma da Assunção, fora sagrado bispo. Dele vem a “Tese Cassiciacum”. Também o famoso exorcista sedevacantista, o Bispo Robert Fidelis McKenna (também dominicano), que foi sagrado por Guérard.


10. Existem sedevacantistas no Brasil?

Há grupos de leigos já antigos, formados em grande parte por jovens, mas que, nos últimos anos, com as tempestades do reinado de Francisco, têm apresentado um crescimento numérico e qualitativo constante. Aos 23 de dezembro de 2017, o Padre Rodrigo Henrique Ribeiro da Silva[1], foi ordenado por Dom Richard N. Williamson no Mosteiro da Santa Cruz, Nova Friburgo. Aos 29 de setembro de 2021, foi sagrado Bispo por Dom Mons. Daniel Dolan, Bispo norte-americano de longo histórico de resistência ao concílio Vaticano II (saiba detalhes). Sedevacantista, Dom Rodrigo é reitor do Seminário São José (Juquitiba - SP), organiza grupos de fieis e coordena comunidades religiosas com essa posição em todo o país.

    Nos EUA, há também um seminarista brasileiro, Charbel Sant´Anna, que pertence à sedevacantista Sociedade do Espírito Santo.

    Concomitantemente, temos os casos de muitos padres que não assumem o título de sedevacantistas, mas não deixam de sê-lo na prática, por assim dizer: deste rol, a maioria (ainda) prefere não ter os seus nomes citados, mas podemos lembrar do Padre Ernesto Javier Cardozo (Missões Cristo Rei), argentino, sediado em Contagem (MG), que assume que Bergoglio não é católico, pois é um herege público na medida em que publicamente renega dogmas da Igreja (por isso não reza 'una cum' Francisco, isto é, não reza pelas intenções deste Papa), mas diz que, mesmo assim, não possui autoridade para declarar a Sé Vacante.

    Por fim, mas não menos importante, há o trabalho incansável do Frei Tiago de São José (Mosteiro Santo Elias), ordenado por Dom Aloísio Lorscheider, Arcebispo de Aparecida. Frei Tiago, hoje, está sediado na França, e sua história (heroica, não se pode negar) ele mesmo conta neste vídeo autobiográfico. Ele não reconhece a legitimidade dos "Papas conciliares" e nem o próprio Concílio, mas não se intitula sedevacantista, e sim um monge e sacerdote católico apostólico romano, apenas.


*             *


Apresentar a posição do sedevacantismo, por sua complexidade e importância dentro do cenário atual, como já dissemos, exigirá a publicação de mais alguns artigos complementares a este. Apresentada em linhas gerais a posição, para que a leitura não se torne por demais cansativa, deixamos outras necessárias análises para as próximas postagens – Acesse aqui para ler agora.


** Ler a continuação

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[1] O agora Bispo Rodrigo da Silva iniciou sua preparação ao sacerdócio em 2006 no Seminário Menor da Arquidiocese de Olinda e Recife e a concluiu no Mosteiro Beneditino Tradicionalista de Nova Friburgo e no Seminário São Luís Maria Grignion de Montfort [SAJM], na França.

17 comentários:

  1. EXCLENTE ESTUDOO! muito claro. Aqui ´e onde eu mais aprendo as coisas que eu queria aprender. Obrigada,0 Henrique!

    Lídia

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  2. OS 10 ÚLTIMOS PAPAS ANTE VATICANO II EXCOMUNGARAM AUTOMATICAMANTE, LATAE SENTENTIAE, OS COMUNISTAS E AFINS, CANDIDATOS, PROMOTORES E OS QUE DE ALGUMA FORMA PACTUASSEM COM ELES, COMO OS ELEITORES, PROPAGADORES E QUEM AUXILIASSE O MALIGNO MATERIAL-ATEÍSTA DIABÓLICO SOCIAL-COMUNISMO – PSDB-PT, PCB, PC do B, PSOL, PSTU, PV, PDT, REDE, PDT, PCO, PSB, ETC.
    A crise que assola a Igreja vem desde o iluminista Lutero, passando pela Revolução Francesa e iniciou sua deformação no mais alto grau no Vaticano II adiante, por o ainda papa João XXIII afirmar que a Igreja doravante não condenaria a mais ninguém, sendo isso um alento para, desde 1962, a maçonaria e o protestantismo ficarem à vontade e fazerem o que quisessem com indomável ímpeto contra o catolicismo; assim, ele fragilizou o sistema imunológico da Igreja!
    Dessa forma, infiltraram-na tudo quanto são maus elementos anti católicos, embora disfarçando-se tais em posições de relevo na hierarquia, hoje em dia, possuimos diversos altos eclesiásticos defendendo o indefensável – só não o percebe quem não o quiser, ou fazendo-se de idiota e cego!
    Posteriormente, assumiu àquela época ainda papa Paulo VI, o qual afirmou que seguiria seu antecessor assim a coisa começou dentro da Igreja a declinar ainda mais no tocante à fé de 2000 anos, desafiando ao próprio Jesus que, à Consagração do vinho disse “pro multis effundetur” e o substituiram “pro omnibus effundetur”, dentre mais ações intoleráveis anti doutrinárias, favorecendo as ideologias e infiltração da esquerdista TL e de ideologias marxistas das endiabradas esquerdas, crescendo a cada dia em mais com partidos da bandeira vermelha martelo e foice, cuja cor vermelha representa o sangue dos adversários e da estrela de 5 pontas é o pentagrama satânico!
    Confiram abaixo o que disse o santo Padre Leão XIII a respeito dos ideologistas marxistas que vicejariam brevemente, dando-se na época do V II adiante e hoje, como são camaleônicas, atacam doutros modos diferentes, sendo agora o ecologismo verde, pseudas mudanças climáticas e a “Mãe Terra”, além das propostas ideológicas do T3 do papa Francisco – terra, teto e trabalho – e tudo o mais culminando no inócuo humanismo fraternalista da esquerdista TL-CNBB-PT, sem transcendência alguma – humanismo adotado por pagãos!
    Sabemos que o homem sem uma fé católica assumida e praticada com vigor, torna-se um ser desumanizado, largado às suas próprias paixões, tornando-se pois caótico, catastrófico e animalesco e existe uma advertência jamais cumprida, só piorando do Santo Papa Pio XII: “Enquanto a modéstia não for colocada em prática, o mundo vai continuar a degradar-se” – e como isso está à vista de todos a partir das vestes, não se distingue um mulher de “família” de uma da boemia publicamente, até dentro ousadamente das igrejas parecendo vindas das boites, mesmo os homens semi nus nas ruas, piscinas e praias – as 2 últimas são autênticos campos de nudismo!!
    “N Senhora das Graças, em Cimbres, PE, previu em 1930 uma guerra civil sangrenta no Brasil se ele não se convertesse – disso não há nenhuns perceptíveis indícios – e se supõe por aí que se daria em 2022 ou antes, pois Bolsonaro e os militares não entregariam o poder ao demoníaco comunista Lula ou a um seu poste, pois ele seria o presidentro e Bolsonaro e os militares sabem o que lhes aconteceria se assim eles procedessem: execução sumária em praça pública, porque os comunistas são extremamente vingativos, malvados e assassinos crudelíssimos!
    Existiriam também nessa confusão atual, sob todos os aspectos, acordos secretos do suposto peronista papa Francisco – disse ele, nunca fui da direita – com os pagãos muçulmanos em Abu Dhabi sobre a religião universal do ramo abraâmico, a do anticristo, a ponto de receber do chefão deles, imã Ahmed Al Tayyeb a incumbência e título de protetor mundial dos muçulmanos sunitas e, com a escravagista China comunista, realizando acordos secretos de dar poder que não possui a pagãos para “sagrarem bispos”, como se trata de tudo oculto, mais se pareceria de ações da diabólica maçonaria – ordenando por trás!

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  3. O sedevacantismo é a única posição coerente com a verdade atual!
    O Padre Ernesto Cardozo das Missões Cristo Rei, que exerce um frutuoso sacerdócio, também é sedevacantista "prático" como o Frei Tiago

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    1. Bem lembrado, Carla. Adicionei o caso do Padre Ernesto Cardozo ao texto, obrigado por me lembrar dele.

      Apostolado Fiel Católico

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  4. A paz de Jesus Cristo.

    Caro irmão Henrique Sebastião: obrigado por essa sequencia de textos profundos, fortes, como devem ser; sobre a Santa Igreja.

    Caro Geraldo: seu comentário está correto em tudo, infelizmente. Gostaria que você, o Sebastião Henrique, o Clero anti CVII, estivessem errados, mas não estão. Já me posiciono assim tem algum tempo e isso vem crescendo com a passagem do tempo.

    Que a Santíssima Trindade nos fortaleça para a grande luta que se aproxima.

    Salve Maria!

    Abs.

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    1. PREZADO CATÓLICO INTELIGENTE E DE BOA VONTADE!
      Creio que, talvez o começo do Vaticano II, estando à época sob o pontificado do papa João XXIII, teria havido problemas, talvez o pior, a seguir: ... *"A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações".
      Isso não teria sido uma porta aberta aos desafetos e arquiinimigos da Igreja da maçonaria-comunistas-relativistas protestantes para infiltrá-la, enfraquecendo-lhe seu sistema imunológico e um convite indireto ao leigo a se tornar relapso por estar isento de quaisquer condenações?
      O homem de hoje, exacerbado antropocentrista de modo geral, creio eu, urgiria ser severa e rigorosamente admoestado de jamais seguir o caminho das facilidades pois, se julgar que se liberta de condenações, ficando à mercê de seus modos de arbítrios e ações, acabaria mesmo, ao fim da existência terrena é indo para o inferno!
      ** "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram". Mt 1 13-14.
      O mesmo itinerário teria sido também, percorrido pelo à época papa Paulo VI que externou publicamente vários lamentos pós V II que, ao invés de uma maravilhosa primavera, aconteceu foi uma imensa tempestade, culminando no: " a fumaça de Satanás teria entrado por alguma fresta na Igreja" - uma verdade - dentre mais expressões de lamúrias que pareciam atormentá-lo!
      https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council.html
      *VII(parte sétima) COMO SE DEVEM COMBATER OS ERROS
      ** claret.org.br/biblia

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  5. Venho acompanhando essa celeuma que vem se avolumando em torno do papa Francisco e do Concílio Vaticano II. Na minha opinião de leigo, especialmente quanto ao concílio, penso que o mesmo não é uma causa e sim um sintoma! A Igreja não era e nunca foi um mar de rosas antes do Concílio Vaticano II, houveram a reforma protestante, o grande cisma do oriente, fora as inúmeras crises menores doutrinárias que pipocavam aqui e ali por toda Europa. Os primeiros protestantes eram católicos. Antes do cisma, nem se utilizavam os termos católico e ortodoxo.
    Na minha experiência como cristão, vejo que todas as denominações cristãs sofrem de um mal semelhante, o contraste entre o Evangelho e as necessidades, paixões e interesses humanos, as igrejas são e foram conduzidas por homens e ao longo da história foram se moldando as inclinações humanas de cada época. O papa tem hoje uma cidade, mas já governou um país inteiro, no centro da Itália, é uma ambição puramente humana, alheia ao Evangelho, por exemplo. Os líderes evangélicos querem cargos no governo e um cargo no STF, alguém imagina Jesus negociando com Pilatos indicações para o Império, em troca de apoio político? Não consigo. E justo os descendentes da Reforma, que na época buscavam a separação estrita entre Igreja e Estado!
    Acredito que as Igrejas subverteram a ordem. A Igreja é um meio, não uma finalidade em si mesma. Um meio de se conhecer a Deus. A Igreja está para servir o homem e não para se servir do mesmo. Portanto, em algum momento da própria história, as Igrejas trocam de lugar com Deus. Deus passa a ser meio para a obtenção junto aos homens fiéis, de 3 ambições humanas muito peculiares, riqueza, poder e influência. E essa conjugação perpassa toda a história de todas as igrejas. Isso pra mim é muito claro e visível, até por experiências pessoais.
    Acredito que não é o Concílio, ou o que papa faz, que acaba afastando as pessoas da Igreja e até da fé em Deus. Acredito que é, a meu modo de ver, essa grande contradição. Não é necessário ser um expert em Evangelho para ver que a proposta de Jesus está muito distante das realidades e ambições humanas. E que as igrejas acabaram incorporando mais essas ambições humanas do que aquele modo de vida despojado, humilde, entre outras coisas, que Jesus pregou.
    Isto tem solução? A resposta simplista, mas necessária, seria uma grande conversão ao Evangelho. Estamos dispostos? É a grande interrogação!

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    1. Caro Tiago, é verdade que o Concílio Vaticano II foi uma consequência (um sintoma, como você diz), mas também é verdade que se tornou ele próprio uma causa. Claro, a não ser Deus, única Causa incausada, todas as outras causas tiveram suas próprias causas, se é que me entende. No caso do CV-II, claro que ele não é a origem de todo o mal que nos assola, como ingenuamente creem alguns. Mas acabou se tornando a grande causa (ainda que não a única) de toda a desgraça que temos hoje, por meio dos seus textos dúbios, das heresias que contém e, principalmente, do nefando "espírito do concílio", o qual, ao contrário do que muitos imaginam, não foi algo inventado depois pelos revolucionários, mas foi pensado e instituído junto com o próprio Concílio – foi esse "espírito" a sua causa, de fato.

      Dizendo em palavras mais simples, o Concílio foi o grande fruto desse "espírito" anticatólico, que já existia desde muito antes (desde o Jardim do Éden, se quisermos retroceder ao início de tudo), mas tornou-se ele próprio (o Concílio) o grande instrumento para a destruição da Igreja pelos seus piores inimigos, já infiltrados nela.

      Sobre a aparente incompatibilidade entre o Evangelho e a política/economia, a realidade não é assim tão simples. Vide Guerra dos Cristeros, no México. O que teria acontecido se esses bravos guerreiros de Cristo se eximissem da vida política?

      Se os cristãos se furtarem da participação na vida social e política, os maus tomarão conta. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo e, ao contrário do que alguns dizem por aí, os períodos em que a sociedade mais evoluiu, e os verdadeiros direitos humanos ganharam força, foram justamente aqueles em que a Igreja deteve grande poder temporal e influência sobre os governos. Foi justamente o que falei neste trecho:

      "O mundo real, lá fora, está pegando fogo, porque a Igreja, Mãe e Mestra de todos os povos, deixa de influenciar beneficamente, como outrora, às nações e aos seus governantes. Se hoje vemos grassando tantas desgraças – como o femismo, a ideologia de gênero, o gayzismo, a emasculação dos meninos, a sexualização precoce das meninas, o comunismo, o liberalismo, etc, etc... – tudo isso acontece, em grande medida, por conta desse estado de prostração da Igreja perante o mundo, protagonizado por todos os Papas desde o Vaticano II."

      É pueril achar que seguir o Evangelho é deixar de se preocupar com as coisas temporais: ao contrário, é preciso que os bons participem, que ocupem espaços, que façam valer a sua voz pelo que é bom e justo. Ou então, os maus dominarão. Os maus dominaram e provocaram todo tipo de barbárie desde que a Igreja perdeu vez e voz na vida social e política das nações. O que precisamos é justamente restaurar o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo aqui e agora, neste mundo; ser cristão não é apenas rezar e manter práticas espirituais particulares.

      O problema da Igreja não é que esteja interferindo na política, e sim as opções erradas que bispos traidores do Evangelho têm feito, interferindo às avessas, combatendo os que têm boa vontade e favorecendo os inimigos de Cristo.

      Apostolado Fiel Católico

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  6. A paz de Jesus Cristo.

    Padre Ernesto Cardozo, muito bem lembrado!

    Sobre o comentário do Tiago, quero colocar a minha opinião: sim, os tais "pastores" Reformistas, pensam em cargos públicos, algo que vai totalmente contra o que Cristo disse mais de uma vez e está muito claro quando Nosso Senhor afirma categoricamente: " a César o que é de César, a Deus o que é de Deus", quem está com Deus não pode ter ambições políticas, principalmente quem declara dedicar à sua vida pelo Evangelho de Jesus Cristo.

    Claro, CNBB+ TL, também tem ambições político-doutrinária, mas no caso dos tais pastores, a coisa é mais gritante.

    Termino dizendo que se a Igreja, se os falsos cristãos que estão no controle da Igreja, têm ambições, isso não diminui a importância da Igreja, de ser Igreja para nós, católicos. Errados estão eles, não a Igreja de Cristo, não os fieis católicos.

    Em uma conversa com um protestante em uma rede social cristã, ele dizia que para ele basta ler a Bíblia, que ele não frequenta nenhuma Igreja Reformista porque isso é desnecessário. Eu lembrei a ele que a grande maioria das pessoas precisam estar fisicamente na Igreja, ter uma direção pastoral, pois caso contrário, elas se perdem no caminho.

    No nosso caso, participar da Santa Missa, de todas elas, é fundamental, vital, pois ali, no Templo Católico, nós podemos receber a Sagrada Eucaristia e viver toda a Mística que tem em um templo católico, principalmente em uma paróquia clássica, não "moderna".

    Claro, na ausência de uma paróquia com Missa Tradicional com essas características, que participemos de uma Missa campal, por exemplo.

    Eu lembro que durante a II GG, nas guerras da Coreia e do Vietnã, os padres celebravam o Santa Missa para os soldados católicos do ocidente, envolvidos nos conflitos, em campo aberto, usando o capô de um jipe como um altar improvisado. Tem muitas fotos mostrando isso.

    Salve Maria!

    Abs.

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    1. Agora mesmo, Catolico, no Oriente Médio e no norte da África, temos milícias católicas formadas por cidadãos que se armam para proteger suas famílias dos terroristas islâmicos e governos persecutórios, e a maior parte do mundo nem sabe disso. Há uma imensa multidão de mártires por amor ao Evangelho, sendo torturados e mortos das maneiras mais cruéis possíveis, todos os anos, incluindo mulheres e crianças, e são solenemente ignorados pela grande mídia ocidental.

      Quando o presidente Bolsonaro em um discurso citou a cristofobia, que ceifa centenas de milhares de vidas por ano e que (segundo a AIS/Observatório da Liberdade Religiosa da Itália) afeta centenas de milhões de pessoas no mundo (sim, isso mesmo!), os canalhas riram e tentaram ridicularizá-lo, como sempre fazem.

      Esses cristãos perseguidos são verdadeiros heróis da Fé dos nossos tempos, que precisam servir de exemplo para os nossos jovens emasculados, que passam seus dias apertando bolinhas em seus "snnipet toys" e aprendendo dancinhas ridículas no "Tik Tok", enquanto as meninas, já em tenra idade, rebolam sensualmente dentro de seus minúsculos shortinhos, aprendendo a seduzir homens tarados, qual prostitutas. Satanás anda muito satisfeito.

      Apostolado Fiel Católico

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  7. A paz de Jesus Cristo.

    Obrigado, caro irmão Henrique Sebastião, pela sua resposta e comentário muito oportuno.

    Creio que me expressei mal: o que eu quero dizer é que o cristão não deve ter pretensões políticas, no sentido de ter o poder, influência, etc., mas sim; o cristão deve participar das eleições e votar em candidatos conservadores e cristãos e aí, teoricamente, eu caio em contradição. Explico: eu disse que cristãos não devem almejar cargos públicos, ser prefeito, governador, etc., mas então, como um cristão votará em políticos cristãos, se um cristão não deve participar da vida política partidária? Pois é, seria a famosa "sinuca de bico", não é?

    Bem: que o cristão que resolver atuar na vida pública, atue com um homem de Deus, como um clérigo responsável e fiel, que vive para defender Cristo, sem almejar riquezas materiais, fotos na imprensa, títulos na sociedade, nome de rua, colégio, praça, etc., mas tenha sim, uma vida simples sem ostentação, algo que para um político, assim como para um artista, é quase impossível.

    Sim, claro! Se não fossem os Cruzados, não haveria Cristianismo, nem Bíblia com fácil acesso para todos. Os poucos seguidores que sobrevivessem, viveriam isolados e apenas eles teriam acesso às Escrituras Sagradas.

    É preciso lutar pelo livre exercício da fé, pela Igreja de Cristo, pelos cristãos perseguidos, pelos valores eternos cristãos, pois o Pai nunca erra, logo, o que está em Gênese até Apocalipse, fora outros escritos inspirados por Deus, jamais mudará.

    Lembrando caro irmão Henrique Sebastião, que na China, os cristãos são extremamente perseguidos e obrigados a seguir uma "igreja estatal católica chinesa", se é que tal espectro é possível existir!

    Claro, Francisco nada faz contra isso e a mídia, como você bem lembrou, ignora totalmente tudo que acontece de ruim para nós católicos, mas vive lembrando sempre da existência dos padres pedófilos, que claro, devem ser punidos com total rigor, mas este grave mal, a pedofilia, não é "exclusividade" da Igreja Católica, mas está em todas as Igrejas, cristãs ou não, e na sociedade, principalmente, na tal sociedade liberal socialista.

    Salve Maria!

    Abs.

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  8. Que grande aula! uma grande crise como essa precisa mesmo de estudos esclarecedores assim. Parabéns! com muito prazer continuaremos a financiar essa obra tão importante.
    Mas como leigo ( no sentido mais amplo da palavra ) ainda tenho algumas considerações/dúvidas iniciais:

    1) O CV2 em seus documentos iniciais , se autodeclarou um concílio pastoral ( e portanto , reformável ) em contraposição a outros concílios que se declararam dogmáticos. Ora, sabendo que o objetivo ( declarado ) de João XXIII era mostrar ao mundo , a verdade católica de sempre, sob um novo prisma , com o fim de despertar uma "primavera católica" em escala mundial; e considerando que a Igreja Católica, ao contrário, iniciou um processo de autodemolição, segundo afirmou seu sucessor, pergunto... porque é ilícito não aceitar as novidades trazidas à baila no CV2?

    2) Existe acaso uma tese sedevacantista que propõe que somente Bergóglio não é papa , mas seus antecessores foram (é)?

    Um abraço a todos que frequentam o blog! Salve Maria!

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    1. Salve Maria, Geraldo. Obrigado pelo elogio. Respondendo:

      1) O que os sedevacantistas defendem é que o Concílio já foi, de antemão, pensado e planejado para ser isso que se tornou, mesmo: o grande marco de triunfo dos revolucionários infiltrados na Igreja.

      De fato, tudo leva a crer que a ideia já era essa mesma, sabe-se hoje que os bons bispos foram literalmente enganados durante o Concílio para a aprovação das "reformas" conciliares. A resposta para essa pergunta que você faz é uma prova disso: se o Concílio foi apenas pastoral e só queria apresentar as verdades de sempre aos homens do nosso tempo, porque ele imediatamente passou a ser tratado por todos (inclusive e principalmente os papas que vieram depois dele), como se fosse o único e mais importante Concílio dogmático de toda a história da Igreja?

      Para saber mais sobre isso, recomendo a leitura do livro "Bombas-relógio Litúrgicas" (Michael Davies, ed. Flos Carmeli).

      2) Até existe sim, mas é minoritária, insignificante. O que o sedevacantismo defende é que depois do Concílio (desde João XXIII, na verdade, que teria ligações com a maçonaria e teria sido eleito ilegitimamente) a Igreja está sem um verdadeiro Papa.

      Deus o guarde!

      Apostolado Fiel Católico

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  9. A paz de Jesus Cristo.

    Dando mais um "pitaco" aqui, lembro que no CVII participaram pastores, teólogos protestantes, não é isso? Ora, eles nos chamam para participar das reuniões pastorais deles? E, penso eu: que cada um fique na sua. Nunca vi, fazendo uma comparação muito menor, palmeirenses chamarem corintianos para participar das reuniões exclusivas de interesse do clube ( claro, neste exemplo, não contam as reuniões de interesse dos clubes de futebol como um todo....), por acaso, eles, os Reformistas, nos chamam para participar em conjunto de alguma festa, organização exclusiva deles? então, por que eles participam da Campanha da Fraternidade, onde, neste ano, teve a coordenação de uma "pastora" pró aborto, pró feminismo, etc.?

    Jamais, em um Concílio Católico, deveria ter participação de quem vê na Igreja Católica, uma Igreja que está errada, que não segue o Evangelho e "inventa", segundo os Reformistas, coisas que não estão na Bíblia?

    O erro do CVII já começa aí, pois uma coisa é uma religião respeitar as outras e outra coisa, muito diferente, é dizer que todas levam a Deus e que devemos praticar o "ecumenismo", com minúscula mesmo. Sabemos que houve, antes do CVII, infiltração da maçonaria, esquerda mundial ( na verdade, tudo isso está no mesmo barco do mal...), e por causa dessa infiltração, como o irmão já explicou aqui, levou a essa deturpação dos valores da Santa Igreja.

    Obrigado, caro irmão Henrique Sebastião pelos textos e agora, pela explicação precisa ao irmão Geraldo aqui.

    Bem, continuo a apreciar esse site, esse Apostolado, Frates in Unum e outros que defendem a Tradição Católica.

    Que Deus lhe dê muita saúde e bênçãos, caro Henrique Sebastião e claro, aos demais comentaristas e leitores desse Apostolado.

    Salve Maria!

    Abs.

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    1. Agradeço, Católico. Sim, foi uma completa aberração a participação (bastante ativa, como demonstrarei mais adiante) desses teólogos protestantes no Concílio; a sua influência foi enorme, especialmente na mudança radical da Missa, tanto que eles saíram comemorando seu grande triunfo, e o reconheceram publicamente:

      "As esperanças dos protestantes para o Vaticano II não só foram cumpridas, mas as realizações do Concílio têm ido muito além do que se acreditava possível", declarou o teólogo luterano Oscar Cullmann na época. Em outras palavras, nem eles sabiam que o terrível movimento infiltrado na Igreja (a 'operação Cavalo de Troia na Cidade de Deus', como chamava o grande Dietrich Von Hildebrand, ele próprio um ex-teólogo protestante converso ao catolicismo), que visava a demolição a partir de dentro, teria tão grande êxito.

      Apostolado Fiel Católico

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  10. Querido Henrique e apostolado, demora muito para continuar essa série de posts? Eu estava gostando muito desses estudos, espero que tenha a conclus~ão ... ;P <3

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    1. Cara Vana,

      Em primeiro lugar sou muito grato por esta série de artigos estar alcançando uma boa penetração e que ajude pessoas como a Sra. a entender um pouco melhor a gravidade da situação em que nos encontramos e as possíveis portas de saída para ela. Na realidade, o artigo subsequente a este já está sendo produzido. Minhas obrigações profissionais me impediram de dar a continuidade semanal que eu pretendia no início, mas creio que o publicarei nos próximos dias, possivelmente amanhã.

      Um fraterno abraço e a Paz de Nosso Senhor
      Frat. Laical S. Próspero

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