CATEQUESE SOBRE OS PECADOS CAPITAIS: o pecado da preguiça

A PREGUIÇA É UM DOS principais obstáculos para o despertar da alma em direção a Deus. Ela se manifesta principalmente por três vias, ou em três maneiras bem típicas: há a preguiça que busca o conforto, o mínimo esforço, aquela que nos faz querer permanecer estáticos, sempre no mesmo lugar, porque agir daria muito trabalho. Há também a preguiça da alma ou do coração, que acontece quando nos sentimos desencorajados, desestimulados para fazer o que precisa ser feito, por motivos diversos. Por fim, há a preguiça da amargura, que se dá quando nada mais nos importa e já não nos sentimos vivos. É como que um estado de morte em vida.

    Como todo pecado capital, a preguiça leva a cair em outros pecados. “Mas o que é que tem de mais aquela 'preguicinha gostosa'” – perguntariam muitos –, como uma soneca num domingo à tarde ou entregar-se a um relaxar despreocupado num dia de folga, quando não temos nada de urgente para fazer? De fato, temos simpatia pela preguiça, tanto que quando se usa a palavra no Google nos vem à tela imagens de fofos gatinhos cochilando de barriga para cima ou simpáticos bichos-preguiça em sua cômica letargia. Mas não é exatamente esse tipo de preguiça que se enquadra na definição do pecado capital. 

    O pecado em questão é a preguiça espiritual, a inércia voluntária, a recusa em fazer aquilo que se sabe que se deve fazer. E a pior e mais grave preguiça é a de cumprir a missão para a qual fomos chamados neste mundo. Você foi chamado por Deus, para vencer o mundo e se realizar n'Ele; você foi chamado a amar o seu próximo: eis a verdadeira e fundamental vocação de todo cristão. Mas se você tende a achar que o amor é difícil, faz sofrer e dá muito trabalho, então a ideia de amar ao próximo como a si mesmo lhe parece uma missão impossível. Sim, o amor realmente dá trabalho e exige grande paciência. Por isso, assusta os fracos, e é assim que surge a preguiça espiritual.

    A desculpa mais comum dos preguiçosos é aquela do tipo: “Eu nasci assim, eu sou assim mesmo, esse é o meu jeito...”. E por esse caminho vai-se permanecendo na miséria, patinando sempre nas mesmas limitações, saindo do nada e chegando a lugar algum, dia após dia – tudo por pura preguiça espiritual. 

    O grande pecado, assim, está na preguiça de se elevar do mundo, de ir além do lugar comum, de avançar além da sua malfadada zona de conforto, para assumir integralmente a nossa maior vocação, que é a sublime Vocação do Amor de Deus. Precisamos verdadeiramente colocar em Deus nossas esperanças e dizer: “Vou assumir e iniciar de uma vez essa jornada para a qual Deus me chama, vou enfrentar todas as dificuldades para chegar aonde Deus me quer!”. Deixe de lado a preguiça de fazer a Vontade de Deus, este é o único meio para alcançar a real felicidade. Você não foi chamado para a miséria nem para se perder em maus caminhos, mas para ser um filho do Altíssimo: é Ele quem o chama, e a preguiça espiritual o impede de fazê-lo. Impede-o, portanto, de viver plenamente. 

    Basta observar e você verá que o mundo de hoje vive na preguiça espiritual. O mundo diz: “Não adianta, nós somos humanos, somos assim mesmo, o mundo é assim mesmo, as pessoas são desse jeito, não adianta querer lutar por mudanças”... Mas Cristo nos diz que precisamos lutar, sim. É preciso reagir, pois a preguiça nos arrasta para uma vida sem sentido e inútil. 

    Aqueles que se converteram ou retornaram à Igreja há pouco tempo costumam ouvir: “Você está exagerando, está se tornando um 'fanático'”... Eis a tentação da preguiça espiritual batendo à sua porta. E você começa a achar que tem que voltar à velha vida, ao modo de vida antigo. Porém, se o bom Deus assim quiser, já será tarde para isso, porque algo muito importante (e maravilhoso) aconteceu na sua vida: você não consegue mais se alegrar no pecado, como antes, porque já foi atingido pelo Amor de Deus. 

    O preguiçoso espiritual é exatamente este: não consegue achar felicidade no pecado, mas também não quer se elevar para Deus, porque não tem coragem de assumir uma mudança radical na sua vida. E assim vai permanecendo na miséria, mais ou menos como o filho pródigo que, sendo filho de um rei, quis ir viver longe do pai e terminou invejando os porcos, que pelo menos tinham a sua lavagem para comer (cf. Lc 15,11-24). 

    Deixe de ser preguiçoso! Levante-se agora e tome o Caminho de volta para a Casa do Pai. Esse Caminho tem Nome: Jesus Cristo. Conscientize-se de que viver em Deus é a melhor coisa que podemos fazer por nós mesmos nesta vida, porque a Vontade de Deus é sempre o melhor para cada um de nós. Quantas vezes nos decepcionamos por pensar que ter liberdade é viver segundo os nossos impulsos naturais, fazer tudo o que queremos sem nos preocupar com Deus ou com o próximo? E achando que somos livres, caímos em vícios, machucamos as pessoas que nos amam, perdemo-nos em sofrimentos e frustrações. Vencer a preguiça é mudar de direção (converter-se) da frustração de uma existência vazia e sem sentido para uma vida com propósito em Deus.

    Se não se tem preguiça de ir a um bom passeio, àquele churrasco com amigos, ao futebol no fim de semana, menos ainda podemos nos permitir a preguiça de ir à Missa e de buscar a Comunhão com Deus em todos os momentos da vida, pois essa é a melhor coisa que pode existir neste mundo. Bom trabalho para todos. Vencer a preguiça exige disposição, trata-se de um movimento da pura vontade do homem: ninguém sente preguiça de fazer algo que deseja muito. Por isso, não há uma fórmula que se possa dar para superar essa tentação. Só é preciso querer e querer muito. Uma singelíssima dica que poderíamos compartilhar aqui é bem simples: que tal praticar algum esporte, dedicar algum tempo do seu dia à  prática de algum tipo de exercício físico? Não deixa de ser verdade que, em certo sentido, os cuidados com o corpo auxiliam no caminho para as boas e proveitosas práticas espirituais, já que geralmente nos dão mais ânimo e disposição. Mãos à obra! Desejamos um bom trabalho e bom êxito na luta contra a tentação da preguiça para todos.


2 comentários:

  1. Belo artigo! É como um soco bem dado no estômago me deixando sem ar, até chorar. Por inúmeras vezes senti vergonha de expressar minha fé, principalmente quando fui chamado de fanático por, simplesmente, ir à Missa aos Domingos. Quantas vezes senti vergonha da Cruz de Cristo! Um belo soco em meu estômago!

    A Paz de Cristo!

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  2. Muito bom esse texto.
    Muito bem explicado e de fácil entendimento.
    Um alerta total para nós católicos, que achamos que ir a missa é apenas uma obrigação católica.
    Observo uma situação ilusitada:
    Nesse período de pandemia, muita gente não vai a igreja.com medo de se contaminar com o coronavirus, porém os mesmos vão para Balneário e, festas, praças caminhada política e etc.
    Devemos acordar para outra realidade.
    Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
    Para sempre seja louvado.

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