Método de São Leonardo de Porto-Maurício (Excelências da Santa Missa – XIV)


Leia o primeiro capítulo

Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores

S. Leonardo de
Porto-Maurício
O TERCEIRO MÉTODO para assistir com fruto à Santa Missa é como que a média dos dois precedentes. Não exige a leitura de inúmeras preces vocais do primeiro, nem obriga a um espírito de contemplação tão elevado como o segundo. Bem compreendido, porém, é o mais conforme ao espírito da santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote que celebra.

    Ora, o sacerdote deve oferecer o Sacrifício pelos quatro fins explicados na instrução precedente (imagem abaixo), pois que a Missa, no dizer de São Tomás, é o meio mais eficaz de cumprir os quatro grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, já que exerceis de certo modo o ofício do sacerdote, ao assistir à Missa, deveis aplicar-vos quanto possível à consideração dos ditos quatro fins, que atingis muito facilmente se, durante a Missa, fizerdes as quatro ofertas indicadas a seguir.

    Tomai convosco, durante algum tempo, os escritos deste pequeno livro, até que tenhais aprendido bem estes atos, ou ao menos até lhes terdes penetrado bastante o sentido.


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    Logo que a Santa Missa começa, enquanto o sacerdote se humilha ao pé do Altar, dizendo o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai em vosso coração um ato de contrição sincera, pedindo a DEUS perdão de vossos pecados.

    Implorai, ao mesmo tempo, o auxílio do ESPÍRITO SANTO e da Santíssima Virgem Maria, a fim de assistir à Santa Missa com todo o respeito e devoção possíveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa, para, nessas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes deveres, e isso do modo que segue:

    Na primeira parte, que irá desde o começo até ao Evangelho, cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos. Para isso humilhai-vos em JESUS, abaixando-vos na consideração do vosso nada, e confessai sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade divina. Dize-lho, humilhando-vos não só em vosso coração como também exteriormente, [do modo seguinte], pois importa assistir à Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta:

Ó meu DEUS, adoro-vos e reconheço-vos como meu Senhor e o Mestre de minha alma. Tudo que sou, tudo que tenho, reconheço dever a vós. E, como vossa soberana Majestade merece homenagem e adoração infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente incapaz de pagar-vos esta grande dívida, ofereço-vos os méritos das humilhações e homenagens que JESUS vos tributa sobre o Altar. O que Ele faz, eu tenho a mesma intenção de fazer. Humilho-me e prostro-me com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas próprias humilhações que JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito-me de que vosso FILHO bem amado Vos preste por mim uma homenagem e uma honra infinitas. Amém.

    Fechai agora o livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes: “Sim, meu DEUS, regozijo-me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifício, para Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso.” Não vos preocupeis em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS. Deste modo tereis saldado bem a primeira dívida.

    Durante a segunda parte da Santa Missa, – do Evangelho à Elevação, – desobrigar-vos-eis do segundo dever. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados, e vendo a dívida imensa que por eles contraístes com a Justiça Divina, dizei, com o coração humilhado:

Eis aqui, ó meu DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vós. Infeliz que sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrição, meus enormes pecados, e ofereço-vos em reparação a própria Satisfação que JESUS vos dá sobre o Altar. Ofereço-vos o CRISTO total, com seu preciosíssimo Sangue, e todos os Seus méritos, DEUS e Homem, que na qualidade de Vítima, de novo se sacrifica por mim. Pois que o Senhor JESUS se faz, sobre este Altar, meu Mediador, meu Advogado, e por seu Sangue implora o perdão para mim, eu me uno à voz deste SENHOR tão amoroso, e vos peço misericórdia por tantos pecados tão graves, que tenho cometido. Misericórdia! Clama-vos o Sangue de JESUS. Misericórdia!, clama-vos meu coração desolado.
Ah! Meu adorável SENHOR, se minhas lágrimas não vos comovem, deixai-vos tocar pelos gemidos de JESUS. Por que não obteria Ele para mim, sobre este Altar, o perdão que , na Cruz, mereceu para todo o gênero humano? Em virtude deste preciosíssimo Sangue, espero que me perdoeis, também, todos os meus pecados, os quais não cessarei de chorar até meu último suspiro. Amém."  

    Fechai o livro e repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrição. Daí livre curso a vossos sentimentos e, com confusão de palavras, mas do fundo do coração dizei a JESUS: "JESUS adorável, dai-me as lágrimas de S. Pedro, a contrição de Sta. Maria Madalena, a dor daqueles santos que, depois de terem sido grandes pecadores, se tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Santa Missa, eu obtenha o mais completo perdão de meus pecados. Amém." Fazei muitos atos deste tipo, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim pagareis completamente todas as dívidas que, por vossos pecados, contraístes com DEUS.

    Na terceira parte, isto é, depois da Elevação até a Comunhão, considerai os imensos benefícios de que fostes cumulados e, em troca oferecei a DEUS um Presente de valor infinito: O Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO. Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graças a DEUS, por vós, da maneira seguinte, ou de outra qualquer equivalente:

Eis-me aqui, meu amado SENHOR cumulado de benefícios, tanto gerais como particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheço que vossas misericórdias para comigo foram e são infinitas. Eis aqui, portanto, em reconhecimento e em paga, este Sangue Divino, este Corpo Sacratíssimo, que vos apresento pela mão do sacerdote. Estou certo de que esta Oferenda é suficiente para vos pagar por todos os bens que me tendes concedido. Este Dom de valor infinito vale por si todos os Dons que recebi, que recebo, e que ainda receberei de vós. Ah! Santos Anjos e vós todos, habitantes do Céu, ajudai-me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em ação de graças não só esta Santa Missa, mas todas as que se celebram neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua Bondade tão cheia de Amor seja dignamente agradecida, por tantas graças que me concedeu e que quer conceder-me agora e nos séculos dos séculos. Amém!"

    Ah! Quanto agradará a nosso boníssimo DEUS tão afetuoso reconhecimento! Como não ficará pago com esta única Oferta que vale mais que tudo, porque é de valor infinito! E, para mais excitar estes piedosos sentimentos, convidai o Céu a cooperar convosco. Invocai os Santos aos quais tendes devoção e dizei-lhes do fundo do coração: "Ó queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de infinita bondade, não viva e morra eu como ingrato. Peço-vos, suplicai-lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece, por mim, o adorável JESUS. Amém!" Não vos contenteis em dizer isto uma vez, mas repeti-o, e ficai certos de que assim chegareis a pagar completamente esta grande dívida.

    Maior sucesso ainda tereis se a cada manhã fizerdes o ato de oferecimento que começa com as palavras "DEUS Eterno..."1, a fim de com este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro.

    Na quarta parte, depois da Comunhão até o fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote comunga sacramentalmente, fareis a comunhão espiritual como indico no capítulo seguinte. Em seguida, contemplando a DEUS no íntimo de vosso coração, não receeis pedir-Lhe muitas graças, pois neste momento JESUS une-se todo a vós e Ele mesmo ora por vós. Expandi, portanto, vosso coração, pedindo não coisas de pouca importância, mas grandes graças. Já que tão grande é a Oferenda que Lhe fazeis, o seu Divino Filho. Dizei-Lhe, então, com o coração repleto de humildade:

Ó meu DEUS, reconheço-me por demais indigno de vossos favores; confesso minha suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e tão grandes pecados, não mereço ser atendido. Como poderíeis, porém, deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este Altar pede pro mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? Ó meu DEUS Fonte do Amor, ouvi as súplicas deste poderoso Advogado, e, em consideração a Ele, concedei-me todas as graças que sabeis que necessito para realizar o grande trabalho de minha salvação eterna. É agora que ouso pedir-vos o perdão geral de todos os meus pecados e a graça da perseverança no bem.
Mais ainda, inteiramente confiante nas preces de JESUS, peço-vos, meu DEUS, todas as virtudes num grau heroico, e todas as graças eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peço-vos a conversão de todos os infiéis e de todos os pecadores e particularmente daqueles a quem estou unido pelos laços do sangue ou por um parentesco espiritual. Imploro-vos a libertação não só de uma, mas de todas as almas do Purgatório, especialmente as mais necessitadas: libertai-as todas e que, pela eficácia deste Divino Sacrifício, fique vazia aquela prisão. Peço-vos, humildemente, a conversão de todos os vivos, a fim de que este miserável mundo se transforme num paraíso de delícias onde sejais amado, reverenciado, adorado por todos no tempo, para depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. Amém!"

    Pedi, ainda, graças para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e conhecidos; implorai socorro para todas as vossas necessidades espirituais e temporais; rogai para a santa Igreja Católica Apostólica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de todos os males.

    Rezai muito especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa; mais do que todos, ele merece a sua gratidão. Peça ao boníssimo DEUS a perseverança para ele e muito especialmente que faça dele um grande santo. E não o façais com negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas orações, unidas às de JESUS, serão atendidas.

    Terminada a Santa Missa, fazei um ato de agradecimento a DEUS, dizendo-Lhe: Agimus tibi gratias, omnipotens Deus, pro universis beneficiis tuis: Qui vivis et regnas in saecula saeculorum, amen: Graças vos damos, Deus Todo-Poderoso, por todos os vossos benefícios, Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos, amém. Se puderdes, ficai uns minutos em ação de graças, depois saí da Igreja com o coração compungido, como se descêsseis do Calvário.

    Dizei-me agora: se tivésseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado até ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa alma? Oh! Que enormes prejuízos vos causastes, quando assistíeis à Santa Missa olhando para um e outro lado, observando os que entravam e saíam da igreja e, muitas vezes até, conversando ou cochilando, ou, sobretudo, enrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor recolhimento interior.

    Tomeis, portanto, a resolução de adotar este método tão fácil, tão suave, de assistir com fruto à Santa Missa, e que consiste em cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS: não tenhais dúvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de graças especiais, e nunca mais vos virá à ideia dizer: “Uma Missa a mais, uma a menos, que importa!”.

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1. Ato de Oferecimento – Para ser feito todas as manhãs:

"DEUS eterno, eis me prostrado diante de vossa infinita Majestade; adoro-vos humildemente e vos ofereço todos os meus pensamentos, todas as palavras e ações deste dia. Tenho a intenção de tudo fazer por vosso Amor, para vossa maior Glória, para cumprir vossa divina Vontade, para vos servir, louvar, bendizer e adorar, para me instruir nos mistérios da Fé, assegurar minha salvação e alcançar vossa Misericórdia; para satisfazer a vossa divina Justiça por tantos pecados que cometi, para aliviar as almas do Purgatório e para obter a todos os pecadores a graça de uma verdadeira conversão.
Em uma palavra, tenho a intenção de executar hoje todas as minhas ações, em união com as intenções perfeitíssimas que tiveram nesta vida JESUS, Maria e todos os santos que estão no Céu, e todos os justos da Terra. Quisera assinar com meu próprio sangue esta resolução e repeti-la a todo momento, tantas vezes quantos instantes houver na eternidade. Recebei, meu DEUS, minha vontade, dai-me vossa santa benção, com a graça eficaz de não cometer pecado mortal, em todo o tempo de minha vida, muito especialmente neste dia. A vós toda a glória, honra, amor, louvor e adoração, no mais alto grau de perfeição. Amém!"


** Ler o capítulo seguinte


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Fonte:
MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII, pp. 44-51.
www.ofielcatolico.com.br

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