O Sacramento da Extrema-Unção ou Unção dos Enfermos


É POR MEIO dos Sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia) que o homem recebe a vida nova em Cristo. Esta vida nova e gloriosa, porém, mesmo nós, os batizados, trazemos oculta dentro de nós, como “um Tesouro em vaso de argila” (2Cor 4,7). Agora, esta vida está “escondida com Cristo em Deus”: estamos ainda em “nossa morada terrestre” (2Cor 5,1), sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. - E à concupiscência e as tentações. Assim, a vida nova de filho de Deus pode se debilitar e até ser perdida pela ação contínua do pecado.

    O Senhor Jesus Cristo, Médico Supremo da alma e do corpo, que remiu os pecados do paralítico e restituiu-lhe a saúde física (Jo 5,1-18), quis que a sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação também nos seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois Sacramentos de cura: o da Reconciliação ou Penitência e o da Unção dos Enfermos ou Extrema-Unção.

    A Unção dos Enfermos é também um Sacramento de Reconciliação: mediante a oração e a unção com o óleo santo; feita pelo sacerdote, concede ao doente a Graça e o alívio espiritual, e muitas vezes também o conforto corporal. A Unção dos Enfermos concede a saúde da alma e, em muitos casos, também do corpo.

    O óleo utilizado neste Sacramento é um dos óleos que o Bispo abençoa na Quinta-feira Santa. O corpo da pessoa ungida pelo Batismo é santo, pois por meio deste corpo ela comungou com Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sacramento da Unção faz com os Enfermos tenham forças para testemunhar Jesus Cristo em meio ao sofrimento que passam, unindo-se à Obra redentora do Filho de Deus.

    Quem pode receber a Unção? Os fiéis que se encontram em perigo de morte, por doença ou velhice. O mesmo fiel pode recebê-la outras vezes, se houver um agravamento da doença. A celebração desse Sacramento deve ser, preferivelmente, precedida da confissão individual do doente (CIC §1514-1515/1528-1525).

    Para receber a Unção dos Enfermos é preciso, se possível, confessar os pecados ao padre, e recebê-la com fé, esperança e com a aceitação da Vontade de Deus.


    Os sinais sensíveis da Unção são a oração e a unção que produzem a Graça, e são ministrados pelo sacerdote. A matéria usada na unção é o azeite de oliveira ou outro óleo de extração vegetal, que é abençoado na Quinta-feira Santa (Constituição Apostólica Sacram Unctionem Infirmorum, 30/11/1972).

    O sacerdote unge a pessoa na fronte e nas mãos, com o óleo devidamente benzido, dizendo uma só vez: “Por esta santa Unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a Graça do Espírito Santo; para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade alivie os teus sofrimentos. Amém. (Sacramentário - CNBB. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. Pp. 157)”

“Com a sagrada Unção dos Enfermos e a oração dos presbíteros, toda a Igreja recomenda os doentes ao Senhor Sofredor e Glorificado, para que Ele os alivie e salve, e exorta-os a unirem-se livremente à Paixão e Morte de Cristo, e a contribuírem assim para o bem do Povo de Deus” (CIC §1499).

    A doença faz parte da vida, mas é sempre uma experiência dolorosa: ela enfraquece, baixa o moral e revela a impotência humana, nossos limites e a fragilidade das nossas vidas. Em certo sentido, toda doença nos coloca diante da realidade da morte. E há muitos modos de enfrentar a doença: pode-se vivê-la com amargura, com revolta e espírito derrotista, ou pode-se vivê-la com amadurecimento, fé e oração. Para um fiel católico, a doença pode ser um meio de participar da Paixão do Senhor, em benefício de toda a humanidade.

    Assim age o Sacramento: o óleo é símbolo da Graça do Espírito Santo, Espírito de força e consolação (Ele é o Paráclito Consolador). É o Espírito do Cristo Ressuscitado, e dá ao enfermo força para fazer de sua doença um modo de participar da Paixão do Senhor. A Unção dos Enfermos nos une à Páscoa do Senhor, como insiste São Paulo:

“Eu me rejubilo nos meus sofrimentos por vós, e completo na minha carne o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24).

“Cristo será engrandecido no meu corpo, pela vida ou pela morte. Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 20s).

“Fui crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 19-20).

    Desse modo, a doença é vivida com um sentido positivo, pascal, salvífico: o privilégio de participar da Cruz do Senhor, para com Ele chegar à Glória da Ressurreição. Triste na vida não é sofrer, mas sofrer sem ver sentido no sofrimento. O Sacramento da Unção dá um sentido cristológico, um sentido santo à doença. A debilidade humana é transfigurada em Cristo, assume aspecto de força na fraqueza e dá ao enfermo a serenidade de saber que seu calvário terminará na Ressurreição!

    Jesus não somente curou os enfermos, como sinal da chegada do Reino de Deus, como também ordenou que seus discípulos fizessem o mesmo (Mc 6, 7ss; 16, 17s; Mt 10, 8). A Tradição da Igreja, desde os primeiros tempos, reconheceu neste gesto um dos sete Sacramentos. No entanto, o Senhor é soberano para conceder ou não a cura. Às vezes, nem a oração mais insistente a obtém. São Paulo, depois de muito pedir, recebeu do Senhor a resposta de que bastava ao Apóstolo Sua Graça, pois na fraqueza aperfeiçoa-se a Força de Deus (2Cor 12,9). Ninguém pode “forçar” Deus a realizar um milagre de cura. Deus é soberano e sabe o que é melhor para nós! Tristes daqueles cuja fé depende de milagres de cura. Muito cuidado, porém, com aqueles que prometem a cura "em nome de Jesus", até com hora marcada...

    A Igreja busca cumprir a ordem de curar os doentes dada por Cristo, cuidando dos enfermos e intercedendo por eles na oração, com fé na Presença vivificante de Cristo, Médico do corpo e da alma. Ele está presente sobretudo nos Sacramentos e, de modo especial, na Eucaristia. A Igreja, desde os tempos dos Apóstolos, conhecia o rito próprio em favor dos enfermos:

“Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem por ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o levantará; se tiver cometido pecados, estes serão perdoados” (Tg 5, 14-15).

    Quando tivermos alguém da família com uma doença muito grave, devemos rezar para que ela queira chamar o sacerdote, para que faça uma boa Confissão e receba a Extrema-Unção ou Unção dos Enfermos. Não devemos ter medo de ver um padre entrar na casa de um doente, ao contrário: ele não traz a morte, como muitos ignorantes pensam, mas sim a vida, - e a vida eterna!, - que é a Presença de Jesus na alma do doente. Com a Graça de Deus no coração, o doente muitas vezes recupera as forças físicas, mas se não for o caso recupera o mais importante: as forças da alma; passa a rezar e a se preparar para ir para o Céu. É verdade que a morte é muito triste, mas também é verdade que é pela morte que vamos para o Céu, para a felicidade que nunca se acaba e para ver a Deus na Plenitude. Graças a Deus!

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Fontes e bibliografia:

• FABER, Eva-Maria. Doutrina Católica dos Sacramentos. São Paulo: Loyola, 2008, pp. 202-207.

• KEELER, Helen & GRIMBLY, Susan. 101 Coisas que Todos Deveriam Saber Sobre Catolicismo. São Paulo: Pensamento, 2007, pp. 118-121.

6 comentários:

  1. Bom dia,
    Eu gostaria de citar esse link em um trabalho sobre o sacramento da Unção dos Enfermos, mas precisaria do autor do texto. Poderia me dizer? Desde já agradeço.
    Que Deus continue iluminando esse belo trabalho de evangelização. Fiquem na paz de Deus.

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  2. Até hoje não fiquei satisfeito sobre a cor da Estola que o sacerdote deve usar na Administração da Unção dos Enfermos, já que assisti tal Ato com paramento Branco e Roxo. Agradeço se responderem.

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  3. é correto administrar o sacramento da unção dos enfermos em que viajará de avião (por exemplo) porque isso perverte a finalidade do sacramento, isso é correto, se não, qual documento pode refutar, ficaria grato, pois não estou achando.

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    1. Pela sua lógica, esse sacramento poderia ser administrado antes de qualquer risco. Ou seja se sair de casa de manhã, a pessoa pode morrer atropelada, ou assaltada, ou comer algo estragado. E assim viver é um risco. A admnistração da unção dos enfermos é para quem está doente. Se quiser salvar a alma, pode ir antes de viajar na igreja e se confessar.

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