Meditações de Santo Tomás de Aquino sobre os pecados do clero e dos religiosos


"PARECE QUE TEMOS de nos doer, sobretudo, dos pecados daqueles que estão no estado de santidade e perfeição; porque segundo se diz em Jeremias: "O meu coração está feito em pedaços" (Jr 23,9); e também: 'Até o profeta e o sacerdote se corromperam, e mesmo na minha casa encontrei os males que eles lá cometeram' (Jr 23,11). Logo, os religiosos e os outros que estão em estado de perfeição pecam mais gravemente em igualdade de circunstâncias.


   1. Porque o pecado cometido pelos religiosos pode ser mais grave que o pecado da mesma espécie cometido por seculares, de três modos:


   Primeiro, se é contra o voto de religião, por exemplo, quando o religioso fornica ou rouba, porque fornicando age contra o voto de castidade, e roubando contra o voto de pobreza, e não apenas contra o preceito da Lei divina.


   Segundo, peca-se por desprezo, pois por isso parece ser mais ingrato aos benefícios divinos, pelos quais foi elevado ao estado de perfeição. Como diz o Apóstolo, maiores tormentos merecerá o que tiver calcado aos pés o Filho de Deus, tiver considerado como profano o sangue da aliança, com  o qual foi santificado, e tiver ultrajado o Espírito da graça! (Hb 10,29). Do que se queixa também o Senhor: 'Tu, que eu amo, que tens que fazer na minha casa? Velhacarias?' (Jr 11,15).


   Terceiro, o pecado dos religiosos pode ser maior pelo escândalo, pois muitos têm postos nele os seus olhos. Por isso diz o Profeta Jeremias: 'Aos profetas de Jerusalém vi coisas horríveis: o adultério, a mentira; fortificaram as mãos dos malvados, para que nenhum se convertesse da sua maldade' (Jr 23,14).


   II. Alguém peca por desprezo, quando sua vontade se resiste a submeter-se à disposição da lei ou da regra; e por isso procede a agir contra a lei ou a regra. Mas quando, pelo contrário, é induzido por alguma causa particular, como pela concupiscência ou a ira, a executar algo contra os estatutos da lei ou da regra, não peca por desprezo, senão por outra causa. Mesmo quando frequentemente reitere o pecado pela mesma causa ou por outra, como diz também Santo Agostinho, nem todos os pecados se cometem por desprezo ou soberba.


   A frequência do pecado predispõe, no entanto, ao desprezo, como se lê nos Provérbios: 'O ímpio, depois de ter caído no abismo dos pecados, tudo despreza' (Pr 18,3)."



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STO. TOMÁS, Suma Teológica IIª IIæ, q.186, a.10.

Um comentário:

  1. não tenho dúvida que veremos muitos padres e bispos no inferno, sem contar muito papa

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