
PODE NÃO PARECER, já que o tempo realmente dá a impressão de estar passando cada vez mais rápido ultimamente, mas já se foram 50 dias desde a eleição de Leão XIV. E, mesmo assim, no geral ainda não se conseguiu delinear uma imagem clara do que será este pontificado.
Alguns Cardeais e analistas profissionais do Vaticano parecem estar obtendo um perfil mais detalhado do novo Papa (ortodoxo e conservador, dizem alguns; um continuador de Francisco, afirmam outros), mas entre as poucas coisas que já podemos dizer, uma é que ele não será um novo Bento XVI, a ser combatido vigorosamente pela grande mídia ideológica e pela esquerda raivosa.
O novo Papa tem reafirmado a importância do celibato sacerdotal e o papel dos bispos em garantir a muito falada "unidade", embora o significado que ele adote para essa palavra ainda está muito longe de ser claro. No geral, Leão XIV tem adotado uma abordagem muito mais contida quando se trata de lidar com a mídia e não tem se envolvido em entrevistas temerárias, abrindo mão das muitas conversas privadas comprometedoras (que nunca se mantém realmente em privado) das quais tanto gostava o seu predecessor.
As prioridades e posições do novo Papa estão se tornando claras apenas gradualmente. Os grupos de estudo sinodais, destinados a lidar com questões controversas, agora apresentarão seus relatórios em dezembro, em vez de junho, e seu caráter não vinculativo foi enfatizado, enquanto Andrea Grillo, o "ghost writer" da famigerada Traditionis Custodes, foi rejeitado por sua própria universidade. O liberalismo radical pode estar sendo silenciosamente arquivado. Por enquanto, porém, as pessoas que Leão escolhe promover ou não são a indicação mais clara do que este novo pontificado reserva para o futuro da Igreja.
Sinais pouco claros e progresso curial lento
Aparentemente avesso a fazer muita política, o Papa tem sido bastante lento em fazer grandes nomeações. Até agora, sua única nomeação realmente notável foi a de Tiziana Merletti como nova secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, preenchendo uma vaga deixada por Francisco. Uma só, mas já gerou polêmica e discussão: a nomeação de uma religiosa como secretária do Dicastério para a Vida Consagrada pode indicar o desejo de dar continuidade às divisivas "reformas" de Francisco. Mas há ressalvas importantes a se fazer sobre isso.
Ocorre que essa nomeação provavelmente já estava em andamento quando Leão assumiu o cargo e, mais importante, como Francisco já havia nomeado uma mulher como prefeita, nomear agora um bispo para servir como secretário sob uma mulher teria sido, em muitos aspectos, uma decisão ainda mais problemática. Embora a nomeação de uma secretária fosse enquadrada como progressista, se o Papa tivesse um bispo se tornado subordinado explícito de uma pessoa não ordenada (neste caso, uma mulher), a reviravolta teria sido muito maior. O Papa Leão, infelizmente, se deparou com uma situação difícil e escolheu a opção menos terrível.
Mais significativa, porém, é a sua recente nomeação de dezenove novos membros ordinários para o Dicastério. A maioria destes (dez) são bispos (incluindo cinco cardeais) e quatorze são homens. Apesar disso, alguns comentaristas progressistas tentaram apresentar isso como uma medida revolucionária. Isso é estranho, visto que Francisco nomeou sete mulheres para este dicastério em 2019 como parte de um novo conjunto de nomeações, enquanto nosso novo Papa adicionou apenas cinco, pouco mais de um quarto dos novos membros.
Francisco havia, como era do seu feitio, obscurecido e minado essa tradição canônica com a sua constituição Praedicate Evangelium, sem esclarecer todas as implicações. O enfraquecimento da autoridade episcopal e a usurpação de autoridade por não bispos é a grande questão em cheque aí, mais do que a nomeação de mulheres em si, quando se trata de cargos que não bispos ocupam há muito tempo. Isso é ainda mais demonstrado pelo fato de que os dicastérios tiveram subsecretárias mulheres tanto no governo de João Paulo II quanto no de Bento XVI. Não se pode dizer, portanto, que o novo Papa esteja expandindo essa presença proporcionalmente.
Mais importante é o fato de que a maioria dos bispos e padres nomeados são considerados ortodoxos, segundo o Rorate Caeli. Três em cada cinco novos cardeais membros são moderada ou fortemente conservadores; Marengo e Pizzaballa são ambos muito populares entre os conservadores, e o Cardeal Spengler, do Brasil, não é considerado um progressista, mas um moderado que, no final do ano passado, subitamente pareceu tornar-se mais conservador, opondo-se a um novo rito amazônico e elogiando a tradição apostólica do celibato sacerdotal, algo que foi notado inclusive pelo Lifesitenews . A inclusão do Cardeal Roche, de 75 anos, sugere que o Papa Leão não realizará um expurgo rápido, mas sim aposentará gradualmente os mais idosos.
Os outros cinco bispos são todos das periferias, incluindo três da África e um do Uzbequistão, enquanto um religioso também é africano; assim, a marginalização do clero africano em Roma pode acabar em breve.
Além disso, nomeações realmente importantes, de novos prefeitos curiais e cardeais, ainda precisam ser feitas. Especificamente, um novo prefeito para o Dicastério dos Bispos ainda não foi nomeado e resta saber se o novo Papa nomeará mulheres ou leigos para cargos de prefeito, tradicionalmente reservados aos bispos, ou não. Essa escolha vai dizer muito sobre ele.
O que indicam suas nomeações de bispos
Por enquanto, a nomeação de novos bispos é uma das pistas mais úteis para compreender o curso deste pontificado. Leão XIV retoma gradualmente a nomeação de novos bispos, mesmo sem um novo prefeito neste dicastério, realizando uma reunião com seu antigo dicastério alguns dias após sua eleição.
Quando o Cardeal Prévost serviu como prefeito, teve que lidar com a interferência excessiva de Francisco e do secretário do dicastério, além de Montanari, tratado como pró-prefeito pelo Papa, e de muitos cardeais, todos aliados de Francisco – que ignoravam tanto Prévost quanto o núncio em seu país, como Cupich, Tobin e Omella. Havia até uma rede informal de cardeais progressistas na Espanha que ignorava o núncio conservador e fornecia ao Papa Francisco candidatos mais liberais que poderiam ser nomeados bispos.
Agora já estamos vendo que tipo de nomeações refletem, ao menos parcialmente, as intenções do novo Papa. Liberto dessa verdadeiro aparelhamento criado durante o papado anterior, o atual pontificado rapidamente desmantelou essa rede de cardeais espanhóis progressistas. Isso foi noticiado pela Infovaticana e agora confirmado pelo The Pillar.
Isso não é algo insignificante: mostra que Leão tinha uma perspectiva fundamentalmente diferente daquela de Francisco, a quem serviu como prefeito; monstra que Leão rejeita o exercício excessivamente personalista e autoritário do poder papal e que respeita as instituições. Além disso, demonstra que ele está distante dos cardeais progressistas que foram aliados-chave de Francisco e, em média, tem favorecido bispos mais conservadores.
Nos Estados Unidos, o Papa Leão nomeou quatro novos bispos: dois auxiliares, que se tornaram bispos diocesanos, e dois padres que se tornaram bispos. Nenhum deles é um liberal doutrinário como Cupich, Tobin, Stowe ou McElroy (embora isso não tenha impedido alguns católicos de enquadrar as nomeações como progressistas, já que três dos quatro bispos nasceram no exterior, ainda aparentemente sejam doutrinariamente ortodoxos).
Apesar de sua ortodoxia, um dos bispos nomeados foi apresentado por comentaristas liberais como um ativista progressista, o bispo Pham, em San Diego, que sucedeu o cardeal radical McElroy, a quem havia servido anteriormente como auxiliar. Ele também era amigo da FSSP, dos educadores domiciliares e mais crítico da homossexualidade, tudo em claro contraste com McElroy. No entanto, ele é enquadrado como progressista por ter assumido uma posição firme em favor dos migrantes que enfrentam deportação, aparecendo com outros clérigos para defendê-los em tribunal. Pham era um refugiado legal que se tornou cidadão americano após escapar do comunismo. Sua postura está em grande parte alinhada com bispos americanos conservadores como Broglio e Gomez, o primeiro visto como um bispo anti-Francisco e o segundo como maldosamente preterido para o cardinalato. Um bispo conservador que também é um ativista pró-migrantes não é algo incomum nos EUA ou em grande parte da Igreja global.
O péssimo Mackinlay na Austrália
Apenas uma nomeação episcopal pode ser, inegavelmente, considerada negativa: a do bispo Mackinlay como novo Arcebispo de Brisbane e sucessor de Mark Coleridge. Portanto, é útil ter um contexto específico para essa nomeação.
Assim como Coleridge, Mackinlay ganhou destaque em 2012, na fase final do pontificado de Bento XVI, inicialmente defendendo a Igreja contra preconceitos anticatólicos e apontando que a revolução sexual havia promovido a pedofilia durante as décadas de 1960 e 1970, além de pressionar pela redução da idade de consentimento. Como Coleridge, ele não se tornou progressista instantaneamente sob o governo de Francisco. Ele desempenhou um papel moderado por anos durante o contencioso Quinto Concílio Plenário da Austrália, no qual atuou como vice-presidente, e os bispos australianos confiaram nele para representá-los no Sínodo da Sinodalidade em Roma, onde inclusive atuou no comitê de redação do documento final.
Então, algo mudou por volta de 2022. Leigos e mulheres liberais organizaram uma greve durante a fase final do Quinto Concílio Plenário, quando os decretos finais não apoiaram suficientemente as diaconisas. Isso foi parcialmente recompensado com um acordo que ainda deixou a decisão final a cargo de Roma. No entanto, Mackinlay acabou expressando consternação por não ter sido feito mais para promover as diaconisas. Em Roma, ele se alinhou aos progressistas moderados, apoiando a Fiducia Supplicans. Mais uma vez, na Alemanha, ele participou de uma sessão do Caminho Sinodal como convidado e apoiou a bênção de uniões homossexuais, e também assumiu uma posição branda em relação à ideologia de gênero. O mesmo homem: um centrista na Austrália, um centro-esquerda em Roma e um esquerdista radical na Alemanha, ao que parece.
As outras nomeações, até agora, não geraram grandes controvérsias ou até se mostraram, aparentemente, ortodoxas. O papel tradicional dos núncios parece estar sendo restaurado. Mas Mackinlay continua sendo um sério problema e um sinal preocupante.
Conclusão: Sinais sutis
Embora enfrente dilemas mais imediatos do que os Papas anteriores, Leão XIV parece determinado a não fazer muitos inimigos logo no início. Aos 69 anos e com boa saúde, ele provavelmente terá tempo para implementar um retorno gradual à normalidade, se assim desejar. Ele pode desejar um certo equilíbrio em relação às suas futuras nomeações curiais, mas não se pode negar que desde o início ele tem feito muita questão de elogiar Francisco sempre que pode, e até expressou "sentir a presença espiritual do Papa Francisco" durante a Missa de início de seu pontificado, afirmando que seu predecessor o acompanhava "do Céu".
Claro, após o desastroso pontificado anterior, tudo o que Prevost fizer será examinado com microscópio. Quem imaginava que ele iria "meter o pé na porta" e reverter agressivamente todas as atrocidades cometidas pelo seu predecessor, que elogia continuamente, já deve ter notado que isso não passava de ilusão. Como um quebra-cabeça, o pontificado de Leão XIII só se tornará claro para a maioria das pessoas quando peças suficientes se encaixarem. Até lá, é preciso ter um olhar atento para não se perder em detalhes periféricos.
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Com informações de Serre Verweijo ao Rorate Caeli, "Leo XIV: The First 50 Days -- an Analysis", disp. em:
https://rorate-caeli.blogspot.com/2025/06/leo-xiv-first-50-days-analysis.html#more
Acesso 30/5/2025.
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