MICHAEL J. MATT, jornalista editor do "The Remnant Newspaper" — jornal online norte-americano especializado em notícias e análises da Igreja sob uma perspectiva tradicionalista — tornou pública uma carta que enviou recentemente ao papa Leão XIV. Pediu ainda aos seus leitores católicos que compartilhem e espalhem sua mensagem, a qual reproduzimos aqui, não necessariamente por concordar com tudo o que diz, mas por sua relevância neste momento. Segue abaixo o texto, com tradução de Henrique Sebastião.
Santo Padre, meu nome é Michael Matt. Sou um católico tradicional de longa data e pai de sete filhos, e sou grato à Vossa Santidade e a Deus pelos muitos sinais de esperança nas primeiras semanas do seu pontificado.
Como jornalista credenciado, cobri o Conclave e estava bem na sua frente na colunata quando, da galeria, Vossa Santidade nos abençoou pela primeira vez em latim, rezou o tradicional Confiteor e, mais tarde, liderou o mundo inteiro cantando, em homenagem à Rainha do Céu, o Regina Caeli.
Embora eu esteja repleto de esperança católica de que Vossa Santidade nos conduza a pastos mais verdes, também venho a vós com o coração pesado. Como sabeis, nos últimos doze anos, fiéis católicos têm sofrido escândalos na Igreja como o mundo jamais viu. Na esteira da Fiducia Supplicans, conferências inteiras de bispos católicos foram obrigadas, em consciência, a resistir a Pedro face a face, algo que nenhum fiel católico jamais esperaria ver. Confusão, falta de clareza e até mesmo deserções em massa se tornaram as marcas registradas da época ao longo da última década.
Quando Vossa Santidade abençoou o mundo da galeria, lembrei-me de como meu pai, quando era um jovem soldado americano, recebeu a mesma bênção tradicional da mesma galeria, quando Papa Pacelli abençoou as tropas em 1944. Depois da guerra, meu pai voltou para casa para fundar "The Remnant", o jornal católico tradicional mais antigo dos Estados Unidos.
Rezo para que o Santo Padre ouça a minha voz como a de uma ovelha chorando na noite. Sou um católico tradicional, mas jamais permitirei que escândalos ou qualquer outra enfermidade me expulsem da minha Igreja sofredora. Repito, sou um tradicionalista que nunca abandonou a Igreja. Depois que o papa João Paulo II concedeu o primeiro Indulto em 1984, meu pai obteve permissão do nosso Ordinário local para celebrar a primeira Missa em Latim nos Estados Unidos. Consequentemente, meus filhos receberam os Sacramentos no Rito Tradicional, assistem à Missa em Latim diocesana todos os domingos e são todos católicos praticantes.
Não venho em desafio, portanto, mas em súplica, vivendo em uma Igreja que mal reconheço. Não sou santo, mas sei o que nossa Igreja ensina infalivelmente há dois mil anos. Venho de uma longa linhagem de editores católicos que dedicaram suas vidas à defesa da Rradição e dos ensinamentos infalíveis da Igreja Católica.
Cento e sessenta anos atrás, meu bisavô fundou o jornal semanal católico mais antigo da América atualmente. Por sua vez, meu avô, Joseph Matt, era um imigrante alemão que chegou aos Estados Unidos com apenas 17 anos. Três décadas depois, foi condecorado Cavaleiro de São Gregório pelo Papa Pio XI em uma cerimônia realizada aqui no Vaticano. Após cinquenta anos de serviço leal à Igreja, foi nomeado Editor Emérito da Imprensa Católica nos Estados Unidos.
Por 160 anos, meus pais se ergueram em defesa do grande ensinamento social de seus predecessores. Eles defenderam a Tradição Católica como nosso dever sagrado diante de Deus. Estou diante de Vossa Santidade rezando para que o mesmo. Confio que compreenda a natureza e a extensão do escândalo que todos sentimos em nossos corações. Confio que saiba o que é, para um pai, ter que explicar ao filho que tanta corrupção na Igreja não significa que ela não seja a Igreja fundada por Jesus Cristo.
A primeira vez que tive a honra de conhecê-lo foi em uma coletiva de imprensa no Vaticano, em 2023, durante o Sínodo sobre a Sinodalidade. Fiquei impressionado com o seu manifesto sensus catholicus. Lembro-me da sua clareza de ensino quando disse a uma Iprensa secular que não era possível para a Igreja abandonar dois mil anos de Tradição ordenando mulheres. Suas palavras, naquela ocasião, deram-me esperança. E agora que Vossa Santidade é o 267º Sucessor de São Pedro, rezo para que essa mesma fé e coragem sejam seu guia. Confio que Vossa Santidade compreenda a natureza e a extensão do escândalo que todos sentimos em nossos corações. Confio que Vossa Santidade saiba o que é para um pai ter que explicar ao filho que tanta corrupção na Igreja não significa que ela não seja a Igreja fundada por Jesus Cristo.
Certamente Vossa Santidade sabe que, assim como Raquel chorou por seus filhos, nossas esposas e mães choram por seus filhos, muitos dos quais se perderam no deserto do modernismo e de uma nova ordem mundial sem Deus. Durante quarenta anos naquele deserto, seus predecessores forneceram o maná na forma da Missa em latim para famílias como a minha. Espero que Vossa Santidade entenda que a Missa em latim é tudo o que nossos filhos já conheceram. E, já que ela manteve tantas famílias unidas na Fé Católica, certamente o Papa Leão XIV – papa missionário – não nos tiraria isso.
Não sei quanto mais escândalo nossos filhos podem suportar. Eles ouviram coisas sobre as quais São Paulo nos diz que nem devemos falar – o abuso sexual de crianças, o abuso homossexual de seminaristas, a blasfêmia contra Deus e agora, a Traditionis Custodes dizendo que o Rito Romano Tradicional – o único que os católicos romanos conhecem há mil anos — e que é a coisa mais linda deste lado do Céu —, é, segundo um papa, motivo de divisão e deve ser cancelado.
O que significa "sinodalidade"? Até agora, somos informados de que significa que a Igreja se acomodará às exigências do mundo de que ela se curve à sodomia e se ajoelhe à heterodoxia. Tenho certeza de que não é isso que Vossa Santidade quer dizer com essa palavra. Mas, por favor, entenda que é assim que a sinodalidade tem sido apresentada às nossas crianças, escandalizadas nas missas do arco-íris e nos encontros diocesanos, onde "todos" são bem-vindos, mas ninguém é encorajado a "arrepender-se" e a "não pecar mais".
O seu predecessor disse ao mundo inteiro que deseja abençoar os pecadores que vivem em uniões sodomitas e que deseja que adúlteros públicos impenitentes recebam os Sacramentos. Se a sinodalidade continuar nesse caminho, Santidade, como a história não a descreverá como a enfermeira de um hospício que foi chamada para fornecer cuidados paliativos para uma Igreja Católica moribunda?
Santo Padre, o Sr. está comprometido em ouvir as ovelhas. Então, por favor, ouça isto de um jornalista católico de longa data: o mundo não precisa de um Papa da Igreja Sinodal. O mundo precisa de um Papa da Igreja Católica. E como católico tradicional, posso garantir que a Mãe Igreja nunca nos abandonou. Ela nos acompanha desde antes de nos lembrarmos. Nunca tivemos que trilhar sozinhos caminhos que Ela não trilhasse primeiro, à nossa frente, guiando, encorajando-nos a continuar a seguir Aquele que é a esperança do mundo.
Quando viemos a este mundo, Ela estava lá, pronta para nos receber nas águas vivas da sua pia batismal. Daquele momento em diante, Ela nos acompanhou em todos os momentos de cada dia da nossa vida. Quando éramos crianças, suas freiras nos ensinaram a ouvir a voz da Mãe Igreja. Seus Sacramentos eram nossos ritos de passagem ao longo da jornada da vida. As celebrações de suas grandes festas são nossas memórias de infância mais queridas. Seus padres nos ouviam na escuridão do confessionário todas as manhãs.
O Papa Pio escreveu que “os verdadeiros amigos do povo não são nem revolucionários nem inovadores, mas tradicionalistas”. Eu acrescentaria: os verdadeiros amigos do PAPA não são nem revolucionários nem inovadores, mas tradicionalistas.
A Igreja, que estava conosco quando nossos filhos vieram ao mundo, guardou-nos fielmente no leito de morte de nossas mães e pais. Lá estava ela, de batina preta, estola roxa, santo viático na mão, "Ego te absolvo" nos lábios de seus santos sacerdotes – acompanhando-nos além do porteiro e rumo à vida eterna.
Vivemos nossas vidas como nossos pais viveram, por mil anos — à sombra de seus campanários, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, no nascimento e na morte, Ela sempre esteve lá. Todos os dias de nossas vidas, seus sinos do Angelus nos acordaram de manhã, nos chamaram para o almoço, nos lembravam da hora de rezar e nos preparar para dormir. Ela era nossa companheira constante, com seus catecismos e virtudes, lições e preceitos, seus santos e anjos, estações e sacramentos, jejuns e banquetes, risos e lágrimas.
Ela é a razão pela qual existimos.
Santo Padre, conduza-nos de volta a Ela. Deus o escolheu para conduzir a Sua Igreja a pastos mais verdejantes. Portanto, siga em frente, Leão. E quando olhar pela janela, lembre-se disto: há tradicionalistas em todo o mundo que não são seus inimigos, mas sim seus filhos mais leais, observando e rezando para que a fé de Pedro não o abandone. Se isso acontecer, eles não terão escolha a não ser resistir-lhe face a face. Se isso não acontecer, porém, Pedro não terá maiores defensores no mundo de hoje do que os tradicionalistas.
Estamos com Vossa Santidade e imploramos, Santo Padre, que retorne à Tradição, liberte a Mãe Igreja de suas correntes e nos salve, que salve nossos filhos, salve nossas almas. Se Vossa Santidade levar a luz de Cristo para as trevas de um mundo em guerra com Deus, nós o seguiremos até os confins da Terra e, se Deus quiser, até as portas do Reino dos Céus.
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Fonte:
"Michael Matt's Open Letter to Leo XIV", em The Remnant Catholic Newspaper, disp. em:
https://remnantnewspaper.com/web/index.php/articles/item/7795-open-letter-to-pope-leo
Acesso 1/6/2025.
O Papa sabe de tudo isto. Mas não esperem um papa que chute a porta faça a restauração de uma hora para outra. Acho o Papa Leão XIV esperto demais para fazer isso.
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