Fulton Sheen, uma biografia


Biografia exclusiva por Henrique Sebastião
para a obra 'O Eterno Galileu' (Molokai, 2018)


“Se eu não fosse Católico e estivesse procurando a verdadeira Igreja no mundo de hoje, eu iria em busca da única Igreja que não se dá muito bem com o mundo. Em outras palavras, eu procuraria uma Igreja que o mundo odiasse. Se você tiver que encontrar Cristo hoje, então procure pela Igreja que é acusada de estar desatualizada com os tempos modernos, como Nosso Senhor foi acusado de ser ignorante e nunca ter aprendido. Procure a Igreja que o mundo rejeita porque se proclama infalível, pois foi pela mesma razão que Pilatos rejeitou Cristo: por Ele ter se proclamado a si mesmo A VERDADE. Procure a Igreja que é rejeitada pelo mundo assim como Nosso Senhor foi rejeitado pelos homens. Procure a Igreja que em meio às confusões de opiniões conflitantes, seus membros a amam do mesmo modo como amam a Cristo e respeitem a sua voz como a voz do seu Fundador.”
(Dom Fulton Sheen)[1]

NASCEU PETER JOHN Sheen este poderoso evangelizador, em El Paso, no Illinois, EUA, aos 8 de maio de 1895, filho do fazendeiro Newt Sheen e sua esposa, Delia.

Aos 8 anos de idade já servia à Santa Missa como um coroinha, para o bispo John L. Spalding, da cidade de Peoria. Um dia, Sheen deixou cair um galheteiro no chão e o quebrou. Naquela época havia um rigor muito maior do que há hoje para com as crianças, que dirá naquilo que se relacionava às coisas de Deus, e mais ainda numa cidade do interior. O menino, naturalmente, ficou muito assustado. Depois da Celebração, esperava, trêmulo, por uma dura reprimenda. O Bispo Spalding, de fato, veio falar com ele, mas para a sua surpresa, ao invés de lhe fazer uma advertência, sussurrou-lhe duas previsões inesperadas sobre sua vida. Primeiro, o bispo disse que Sheen um dia estudaria em Louvain, na Bélgica, o que naquele momento soava absurdo; segundo, disse-lhe: "Algum dia, você será exatamente como eu sou".

A criança certamente não entendeu muita coisa, naquele momento. Anos mais tarde, viria a cursar o ensino médio no Instituto Spalding, depois prosseguiu seus estudos no St. Viator College, Illinois, e frequentou o St. Paul Seminary, em Minnesota, antes de ser ordenado sacerdote – aos 20 de setembro de 1919.


Brilho jovem e o início do cumprimento da profecia

Em 1920, Sheen vai à Catholic University of America para continuar seus estudos. Ali permaneceu apenas um ano antes de partir para o estudo avançado de Filosofia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, exatamente conforme predito pelo Spalding. Cinco anos depois, voltou à Universidade Católica para ensinar.

Nos 23 anos seguintes, foi na Universidade Católica que o já destacado Padre Sheen aperfeiçoou suas habilidades como acadêmico, educador, orador e evangelista. Ele trabalhou, primeiro, na School of Theology and Religious Studies (Escola de Teologia e Estudos Religiosos) daquela instituição, depois na Escola de Filosofia, ministrando cursos relacionados a ambas as disciplinas, incluindo "Filosofia da Religião", "Deus e Sociedade" e "Deus e Filosofia Moderna".

Já nessa época, não só muitos estudantes como também uma verdadeira multidão de visitantes lotavam a célebre sala 112 (‘McMahon Hall’) para ouvir suas palestras.

Não havia como o singular talento do querido padre Sheen, como orador e pregador, passar despercebido, mesmo em seus primeiros anos, quando ainda amadurecia. Em janeiro de 1927, aos 30 anos e ainda em seu primeiro ano de ensino na Universidade, ele foi selecionado para pregar na Missa Universitária anual. O tema pedido, complexíssimo, foi a vida e obra do santo padroeiro, Santo Tomás de Aquino, o que fez com brilhantismo.

Aos seus 39 anos de idade, Sheen foi feito Monsenhor pelo papa Pio XI, no ano 1934. Um ano depois, foi o Mons. Sheen, e não um administrador de alto escalão, o principal orador da Celebração do Sesquicentenário da Universidade.

Com firmeza, a reputação do jovem professor da Catholic University cresceu, primeiro no campus, depois em círculos cada vez mais amplos, à medida que sua brilhante oratória e capacidade de comunicação atraía mais atenção da mídia. A primeira experiência do Padre Sheen com a radiodifusão foi no ano 1926, quando foi convidado para gravar uma série de palestras, nas noites de domingo, em uma estação de rádio.

Quatro anos mais tarde, o jovem Padre foi convidado a apresentar, durante duas semanas, o programa de rádio “The Catholic Hour” (A Hora Católica). A resposta do público foi tão positiva que ele foi convidado a permanecer como palestrante semanal no programa.

De 1930 a 1950, as palestras semanais do então Monsenhor Sheen em “A Hora Católica” apresentaram ao grande público o ensinamento católico de uma maneira como nunca antes havia sido feita. A partir do fundo de sua grande fé e sólida erudição, o Prof. Pe. Sheen abordava tópicos que iam desde a devoção à Maria Santíssima (tema sempre polêmico em uma nação de maioria protestante) até os graves perigos do comunismo.

Enraizado em seus profundos conhecimentos do pensamento filosófico do grande Santo Tomás de Aquino, ele pregou o Evangelho e mostrou como se aplica às decisões morais pessoais e às grandes questões sociais da época.

Em resposta às suas transmissões de rádio, o Mons. Sheen passou a receber um grande e constante fluxo de cartas. Em 1937, escreveu numa carta ao reitor da Universidade, Mons. Joseph Corrigan:

“Durante o ano passado, as cartas que exigiam atenção pessoal corriam entre 75 e 100 por dia... E isso juntamente com aulas que nunca eram dadas com menos do que seis horas de preparação cada. Isso me deixava fisicamente exausto, mas o bem a ser feito e uma tão grande oportunidade de apostolado não se deve deixar de lado.”(Fulton Sheen a Mons J. Corrigan)[2]

Muitas dessas cartas deviam falar. Mons. Sheen viajou por todo o país realizando palestras acadêmicas, participando de missões, retiros, fazendo homilias como convidado, formaturas e conferências em diversas organizações católicas.

O professor vivia eternamente muito ocupado, mas não apenas manteve seu cronograma completo de ensino, como também encontrou tempo para escrever muitos livros. Publicou 34 obras durante seus 23 anos de carreira docente na Universidade Católica, e outros 32 depois que deixou a Universidade.

Todos esses livros viriam a se tornar obras de referência para o estudo do Catolicismo em todo o mundo, traduzidos para os mais diversos idiomas. Além disso, transcrições de suas palestras de rádio semanais foram publicadas (por iniciativa do patrocinador do Conselho Nacional dos Homens Católicos) em dezenas de folhetos, impressos e reimpressos milhares de vezes. Muitas de suas outras palestras e sermões foram também publicados. Sheen foi ainda um colunista de destaque também na imprensa secular.


Transmissão de televisão de 1940

Nas décadas de 1930 e 40, um evento televisivo era um grande acontecimento. No domingo de Páscoa, dia 24 de março de 1940, o Mons. Sheen apareceu na primeira transmissão mundial de TV de um serviço religioso católico – e no maior país protestante do mundo. Ele falou então sobre o simbolismo espiritual da televisão. O programa foi transmitido pela W2XBS, o predecessor da atual WNBC de Nova York. Foi patrocinado pelo Conselho Nacional dos Homens Católicos, em comemoração do seu vigésimo aniversário como organização e pelo décimo aniversário de seu patrocínio da transmissão de rádio "A Hora Católica".

Em 1950, Mons. Sheen deixou a Universidade Católica para se tornar diretor nacional da Sociedade para a Propagação da Fé. A essa época, ele já era um dos católicos mais conhecidos de sua época. O próximo capítulo de sua missão o levaria a ganhar fama e influência sem precedentes para um membro da Igreja.

Fulton Sheen foi consagrado bispo aos 11 de junho de 1951. Terminava de cumprir-se a profecia, nunca esquecida, do bispo Spalding.

No outono daquele mesmo ano, Sheen começa sua famosa série de televisão, “Life is Worth Living” (‘vale a pena viver’). Foi um tremendo e impressionante sucesso, chegando a cerca de 30 milhões de espectadores a cada semana, o que a tornaria a série religiosa mais amplamente vista na história da televisão(!). Ele ganha um prêmio “Emmy” como “Melhor Personalidade de TV”, é destaque na capa da revista “Time” e torna-se um dos católicos mais influentes do século XX.

Acredita-se que o bispo Sheen tenha levantado muitos milhões de dólares para apoiar as missões católicas através da Sociedade para a Propagação da Fé. Por 16 anos, ele liderou esse esforço em 129 dioceses nos Estados Unidos e influenciou a vida de dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Ele também era conhecido por ter levado inúmeras almas a se converterem à Igreja Católica, desde os nova-iorquinos da classe trabalhadora que ele encontrou em sua vida cotidiana até as celebridades, que o procuravam para instrução.

Entre aqueles cujas conversões Sheen influenciou estão o escritor agnóstico Heywood Broun, o político Clare Boothe Luce, o fabricante de automóveis Henry Ford II, o escritor comunista Louis F. Budenz, o designer teatral Jo Mielziner, o violinista e compositor Fritz Kreisler e a atriz Virginia Mayo.

Entre 1962 e 1965, o Bispo Sheen participou de todas as sessões do Concílio Vaticano II. Trabalhou em estreita colaboração com o então Padre Joseph Ratzinger e futuro Papa Bento XVI, que era um especialista em Teologia na Comissão Missionária. Em uma entrevista de 2012 para a Rádio Vaticano, o já Papa Bento XVI relembrou, ao vivo, como "Fulton Sheen nos fascinava às noites com suas palestras"[3].

Em 1966, Sheen foi nomeado bispo da diocese de Rochester. Ele renunciou a essa posição em 1969. Em sua carta de renúncia, escreveu: "Não estou me aposentando, apenas recapitulando". O Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo da sede de Newport, no País de Gales.

O arcebispo Sheen permaneceu sempre ativo, passando os últimos anos de sua vida escrevendo e pregando.

Um tema consistente nas pregações do Arcebispo Sheen ao longo de sua vida, e especialmente em seus últimos anos, foi sobre os benefícios de se realizar com frequência uma “Hora Santa” em frente ao Santíssimo Sacramento, isto é, colocar-se em silêncio diante de Nosso Senhor Sacramentado para adorar e falar com Ele em íntima oração. O autor Michael Dubruiel disse: "Não há ninguém na igreja moderna que tenha feito mais para popularizar a prática de rezar e meditar na Presença de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento"[4].

Praticar regularmente a Hora Santa não foi um conselho que Fulton Sheen tenha dado sem o praticar. Ao longo de seus anos na Universidade Católica, ele manteve sempre sua hora santa diária, rezando na Capela Caldwell e na capela particular de sua residência. Muitas pessoas que trabalharam perto dele, ao longo dos anos, atestam que ele nunca deixou de guardar essa Hora Santa, desde o dia de sua ordenação sacerdotal até sua morte, no chão de sua capela privada, na Presença de Cristo.

Aos 2002, a Causa do Arcebispo Sheen para a Canonização foi oficialmente aberta sob a liderança da Diocese de Peoria, e desde então ele é reconhecido como "Servo de Deus".

Aos 28 de junho de 2012, o Papa Bento XVI anunciou que a Congregação para as Causas dos Santos havia reconhecido a vida do arcebispo Sheen como uma vida de "virtude heroica" e o proclamou "Venerável Servo de Deus Fulton J. Sheen".

Aos 6 de março de 2014, o conselho de especialistas médicos que assessorou a Congregação para as Causas dos Santos aprovou unanimemente um milagre relatado, atribuído à sua intercessão. Aos 17 de junho de 2014, a Comissão teológica (de sete membros) que aconselha a Congregação concordou unanimemente com a descoberta da equipe médica.

O próximo grande passo no processo de canonização da Igreja seria a beatificação deste grande trabalhador do Reino de Deus.

Coisas partidas são preciosas. Nós comemos o Pão partido porque partilhamos da morte de Nosso Senhor. Flores partidas dão perfume. Incenso partido é usado em adoração. Um navio partido salvou Paulo e muitos outros passageiros na sua ida para Roma. Às vezes, a única maneira que Deus tem para entrar em alguns corações é partindo-os.”
(Fulton Sheen)[5]
_______________
1. SHEEN, Fulton J. Radio Replies, vol. 1, p.9, ‘Rumble & Carty’, Tan Publishing (tradução de Gercione Lima).

2. Biographical Profile of Fulton J. Sheen do The Catholic University of America, disp. em fulton-sheen.cua.edu/bio/index.cfm

3. Idem.

4. Ibidem.

5. ‘The precious broke bottle’, em DIETERICH, Henry. Through the Year with Fulton Sheen: Inspirational readings for each day of the year. San Francisco: Ignatius Press, 1985, p. 58

______
Ref.:
Biographical Profile of Fulton J. Sheen, do The Catholic University of America, disp. em: http://fulton-sheen.cua.edu/bio/index.cfm
Acesso 29/5/2018
www.ofielcatolico.com.br

7 comentários:

  1. ESTOU BANHADO EM LÁGRIMAS PIEDOSAS COM ESTE ARTIGO LINDO E SANTO. DEO GRATIAS.
    URBANO MEDEIROS - artista católico

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  2. Desconhecia Fulton Sheen. Por acaso em uma lojinha católica vi sua obra Vida de Cristo exposta e comprei. Maravilha! Sem palavras para expressar tal tesouro!

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    Respostas
    1. Se é o Vida de Cristo da editora Molokai, tem capa e projeto gráfico de minha autoria. Não que alguém tenha perguntado...

      A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo

      Apostolado Fiel Católico

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