Qual a melhor Bíblia de estudos? – Parte 4: A Bíblia do Peregrino


Este artigo é parte de nossa Formação Integral e Permanente em fascículos (conheça)

FEITOS TODOS ESSES esclarecimentos essenciais, que entendemos por bem apresentar neste exato momento do seu Curso, podemos retomar nossa apreciação sobre as edições da Bíblia de que dispomos em língua portuguesa. A próxima de nossa lista é aquela denominada Bíblia do Peregrino.


    Esta versão é a tradução do padre espanhol Luis Alonso Schökel[1}, famoso por seus conhecimentos em Bíblia, em especial do Antigo Testamento, e mais ainda por sua visão espiritualizada dos textos  sagrados, mantendo-se à parte da corrente materialista que já inundava os ambientes acadêmicos do seu tempo.


    Sua Bíblia do Peregrino fundamenta-se em uma versão-tradução que se caracteriza especialmente na Sagrada Tradição e nos modos que a Igreja sempre teve de interpretar a Bíblia. Em outras palavras, ele interpretou a Bíblia a partir da própria Bíblia, em fidelidade à Tradição Apostólica. Fato é que padre Schökel ousou ler, traduzir e apresentar a Bíblia como um todo, como o conjunto coeso de Livros sagrados que nos apresentam uma mensagem incomparável: a Mensagem divina para o bem dos homens.


    Um bom exemplo está nos Salmos: padre Schökel oferece uma preciosa introdução a cada um deles, dizendo qual o gênero literário, como se pode dividi-lo esquematicamente, etc. Além disso, comenta as dificuldades e possibilidades que envolvem a sua tradução. Ao final, acrescenta uma rica transposição cristã para cada Salmo (como se pode ler e entender o Salmo a partir da perspectiva neotestamentária/eclesial). Esta versão da Bíblia configura-se, portanto, especialmente em suas notas, num valioso auxílio para a vida espiritual dos cristãos.

    A ressalva a esta edição cabe ao miolo dos textos da Bíblia, propriamente dito. Ocorre que padre Schökel, neste seu trabalho, não quis apresentar um texto para uso litúrgico ou oficial da Igreja, e nem uma tradução preocupada com uma estrita fidelidade aos textos originais: sua intenção foi oferecer um texto claro, poético e agradável, que qualquer pessoa dos nossos tempos pudessem ler e compreender bem, mesmo sem nenhuma noção de grego ou hebraico. Procurou especialmente proceder a certas adaptações para que ficassem compreensíveis ao vernáculo as muitas nuances semânticas presentes no texto original. Assim, o autor procedeu a adaptações bastante particulares, as quais, muitas vezes, distanciam-se da estrita literalidade.

    
    Nessa linha, por exemplo a tradução do Pai Nosso desta versão da Bíblia é totalmente original, tanto quanto heterodoxa, mas sem fugir do sentido original (nota-se claramente como tenta traduzir o sentido das frases para o leitor de hoje):


Pai nosso do Céu! Seja respeitada a santidade do teu nome, venha teu reinado, cumpra-se teu desígnio na terra como no céu; dá-nos hoje o pão de amanhã[8], perdoa nossas ofensas como também nós  perdoamos aos que nos ofendem; nãos nos deixes sucumbir à prova e livra-nos do maligno.


    Assim, a principal virtude desta opção encontra-se em suas abundantes notas de rodapé, que são de grande riqueza e proveito espiritual para os fiéis católicos – e que podem ser lidas por todos sem nenhum receio. Quanto à tradução do texto em si, considerando-se todo o aqui exposto, há reservas.

    ** Ver todos os estudos desta série



____________
[1] Luis Alonso Schökel (1920-1998) foi um padre jesuíta especialista em Sagradas Escrituras e  rofessor no Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Sua contribuição mais específica para os estudos da Bíblia foi sua visão do Livro Sagrado como obra literária principalmente mística, com especial atenção à poética hebraica. É autor de uma vasta obra literária, produzida ao longo de cinco décadas. Suas traduções do Antigo Testamento são consideradas por muitos como as mais belas na língua espanhola (MARTINÉZ, 1983).


[2] 8. Em nota, o autor mesmo reconhece que ‘o pão de cada dia’ é a tradução provável, juntamente com o esclarecimento desta sua estranha opção: ‘Sendo duvidoso o significado de epiousion (a Vulgata  traduz de forma diferente a mesma palavra: em Mt supersubstantialem e em Lc quotidianum); propõe-se duas interpretações: o pão empírico cotidiano, ‘que dá pão a todo vivente” (Sl 136,25); o pão do amanhã, escatológico celeste, antecipado na Eucaristia (Jo 6), segundo parece um pouco mais provável (ver Ex 16,19-25 sobre o alimento para o dia de descanso), a não ser que prevaleça a bivalência, e no sustento diário da vida se vislumbre a vida perdurável, o dia eterno.

Um comentário:


  1. Achei muito útil essa série sobre a Bíblia. O sr. vai falar da TEB?

    D.Y.

    ResponderExcluir

** Inscreva-se para a Formação Teológica da FLSP e além das aulas mensais (com as 4 disciplinas fundamentais da Teologia: Dogmática, História da Igreja, Bíblia e Ascética & Mística) receba acesso aos doze volumes digitais (material completo) do nosso Curso de Sagradas Escrituras, mais a coleção completa em PDF da revista O Fiel Católico (43 edições), mais materiais exclusivos e novas atualizações diárias. Para assinar agora por só R$13,90, use este link. Ajude-nos a continuar trabalhando pelo esclarecimento da fé cristã e católica!

AVISO aos comentaristas:
Este não é um espaço de "debates" e nem para disputas religiosas que têm como motivação e resultado a insuflação das vaidades. Ao contrário, conscientes das nossas limitações, buscamos com humildade oferecer respostas católicas àqueles sinceramente interessados em aprender. Para tanto, somos associação leiga assistida por santos sacerdotes e composta por profissionais de comunicação, professores, autores e pesquisadores. Aos interessados em batalhas de egos, advertimos: não percam precioso tempo (que pode ser investido nos estudos, na oração e na prática da caridade) redigindo provocações e desafios infantis, pois não serão publicados.

Subir